Maria da Graça agricultora familiar do Maranhão afirma que não basta distribuir terras, tem que dar terra de qualidade para trabalhar.
A terra é sagrada para homens e mulheres que trabalham com
agricultura. Sem ela, ficam desprovidos de meios dignos de sobrevivência e
acabam sendo explorados e mantidos em condições precárias, muitas vezes de
miséria, por quem concentra terras - algo comum e histórico no Brasil. Uma
ampla reforma agrária é urgente, e um sonho de muita gente do campo, mas um
sonho distante, sem perspectiva de ser concretizado. "A concentração de
terras é um mal, não só no Brasil mas em toda a América Latina", afirma
Maria da Graça Amorim, agricultora familiar de Alcântara, no Maranhão, e
integrante da coordenação nacional de mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf), nossa terceira
entrevistada na série sobre mulheres, direito à terra e os impactos do
agronegócio na vida das mulheres do campo.
A questão da distribuição de terras no Brasil não se resume a
dar terra a quem não tem, mas também a qualidade dessa terra. "Esse é um
debate: que terra nós estamos acessando? Qual a terra nós queremos para a
reforma agrária? Nós queremos terra de qualidade! Terra boa, produtiva, que
tenha verde, porque na verdade é disso que a gente precisa."
Maria da Graça participou da oficina
que a Oxfam Brasil promoveu em São Paulo no início de maio com 15
mulheres de comunidades rurais, movimentos do campo, agriculturas, quilombolas,
lideranças de povos indígenas e comunidades tradicionais, de diversas regiões
do país para debater a desigualdade no campo. "Para nós, mulheres, o
direito à terra é um direito sagrado. Temos uma relação muito forte com isso,
porque é uma relação de troca."
A desigualdade no campo, principalmente em relação às
mulheres, foi tema de nosso relatório
Terrenos da Desigualdade: terra, agricultura e desigualdades no Brasil rural,
lançado em 2016. Nele há dados que revelam, por exemplo, como as grandes
propriedades rurais brasileiras receberam mais incentivos e tiveram mais acesso
a créditos, pesquisa e assistência técnica, com objetivo de produzir para
exportação ou atender à indústria agroindustrial, em detrimento da agricultura
familiar.
Leia a entrevista:
Você atua em uma comunidade de agricultura familiar no
Maranhão, nos conte um pouco sobre isso.
Fazemos essa militância de resistência no Nordeste, e no meu
caso em Alcântara, no Maranhão, que tem um centro de lançamento espacial.
Lutamos há 30 anos na região, porque a forma como essa base foi implantada
gerou muitos resultados negativos para as comunidades quilombolas locais. Não
somos contra a base espacial, mas contra a forma como ela foi implantada.
Famílias foram realocadas sem critério, sem infraestrutura básica. Um
empreendimento desse, mundial, que lança foguete para o mundo, e as comunidades
naquela extrema pobreza. Isso nos dá base para ajudar também na discussão
nacional da estratégia contra esse modelo geral implementado no Brasil - um
modelo excludente, concentrador de terra e dos recursos naturais.
O Brasil é um país com tanta terra e, com tantos exemplos
como esse de Alcântara, de apropriação das terras e de exclusão. Como é o papel
das mulheres nessa luta pela terra e contra as desigualdades no campo?
Quando falamos de terra, do direito à terra, falamos de um
direito sagrado para as mulheres. É a Mãe Terra, né? Nós mulheres temos uma
relação muito forte, porque é uma relação de troca. A questão da terra é uma
luta constante das mulheres. Para nós, a terra é sagrada e um meio.
Uma reforma agrária é urgente...
A reforma agrária é um sonho que ainda não virou realidade nesse
país. A terra hoje está concentrada nas mãos de poucas pessoas. Temos
muita terra com pouca gente e muita gente com pouca terra. E uma dificuldade
grande também é que, quando a gente consegue ter acesso a um pedaço de terra,
por desapropriação, ela está totalmente devastada, destruída, muitas vezes o
desmatamento causa erosão... Então esse também é um debate: que terra nós
estamos acessando? Qual a terra nós queremos para a reforma agrária? Nós
queremos terra de qualidade! Terra boa, produtiva, que tenha verde, porque na
verdade é disso que a gente precisa.
Do GGN
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