quarta-feira, 21 de junho de 2017

Jurista aponta, em parecer, abusos da guerra judicial contra Lula, Por Afranio Silva Jardim



"A chamada 'Operação Lava-Jato' se utiliza do chamado 'processo penal do espetáculo' e, em parceria confessada com a grande imprensa, convence a opinião pública, leiga e desinformada, de que o ex-presidente é culpado de vários crimes e todos ficam cobrando dele a prova de sua inocência, numa total inversão das regras que distribuem o ônus da prova em nossa ação penal condenatória", diz o professor Afranio Silva Jardim, em parecer sobre o "lawfare" contra o ex-presidente Lula.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Operador Lúcio Funaro diz que Michel Temer o mandou pagar propina a Moreira Franco e Geddel Viera Lima

Lúcio Funaro corretor financeiro é apontado como operador do deputado cassado Eduardo Cunha e do PMDB da Câmara, chefiado por Michel Temer, Funaro prestou depoimento à Polícia Federal em que acusa Temer de ter lhe orientado a realizar pagamentos de propina envolvendo recursos do Fi-FGTS. Essas operações, segundo Funaro, geraram "comissões expressivas, no montante aproximado de R$ 20 milhões".

Funaro disse à PF que pagou uma "comissão" ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência e um dos principais aliados do presidente Michel Temer, Moreira Franco. "O declarante [Funaro] pagou comissão desta operação a Eduardo Cunha e a Moreira Franco; os pagamentos foram feitos em espécie, não se recordando dos valores neste momento, mas que posteriormente irá apresentá-los", disse Funaro, segundo o termo de depoimento, divulgado pela Folha.

O doleiro revelou também que pagou, em espécie, R$ 20 milhões para o ex-ministro Geddel Vieira Lima, em "comissões" por liberações de crédito a empresas do grupo J&F. Geddel era então "vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa Econômica" e o grupo J&F, holding que controla a JBS, segundo Funaro, "tinha interesse em obter linhas de créditos junto a esta instituição".

Leia texto do jornalista Fernando Brito, do Tijolaço, sobre o assunto:

Aconteceu o pior pesadelo de Michel Temer e sua turma.

Lúcio Funaro, o operador de Eduardo Cunha resolveu mesmo falar.

E disse à Polícia Federal , segundo a Folha, que Temer fez “orientação/pedido” para que fossem feitas duas “operações” de liberação de crédito junto ao Fundo de Investimentos do FGTS para duas empresas privadas:  BrVias e a LLX.

Essas operações, segundo Funaro, geraram “comissões expressivas, no montante aproximado de R$ 20 milhões”.

O dinheiro, segundo Funaro, foi destinado “principalmente” à “campanha para Presidência da República no ano de 2014” e à campanha do ex-deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012.

Funaro relatou também que ouviu do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que havia “conhecimento do presidente Michel Temer a respeito da propina sobre o contrato das plataformas entre a Petrobras Internacional e o grupo Odebrecht”. Ele afirmou ainda que pagou uma “comissão” ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência e um dos principais aliados do presidente Michel Temer, Moreira Franco.

“O declarante [Funaro] pagou comissão desta operação a Eduardo Cunha e a Moreira Franco; os pagamentos foram feitos em espécie, não se recordando dos valores neste momento, mas que posteriormente irá apresentá-los”, disse Funaro, segundo o termo de depoimento.

No mesmo depoimento, Funaro afirmou também ter pago, em espécie, um total de R$ 20 milhões ao ex-ministro Geddel Vieira Lima por “operações” na Caixa Econômica Federal. Esse dinheiro, segundo o corretor, eram “comissões” por liberações de crédito a empresas do grupo J&F.

Funaro disse que foi ele quem apresentou Geddel ao empresário Joesley Batista, da JBS. O peemedebista era então “vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa Econômica” e o grupo J&F, holding que controla a JBS, segundo Funaro, “tinha interesse em obter linhas de créditos junto a esta instituição”.

“A primeira operação efetuada para a J&F foi a liberação de operação de crédito para a conta empresarial; Após essa [Funaro] fez mais empréstimos e outras operações de crédito para a própria J&F e outras empresas do grupo, como Vigor, Eldorado, Flora e Seara”.

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Acervo apreendido de Márcio Lobão será avaliados pela PF

A equipe da perícia da Polícia Federal prepara as malas para avaliar o acervo de Márcio Lobão, filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA), que teve 1.200 obras apreendidas no Rio de Janeiro. A metodologia pode ter consequências no mercado de arte brasileiro, ao detectar falsificações em galerias, leilões e museus.

“Isso denigre o mercado, os espaços de exposição”, diz a museóloga Patricia Moura.

Com o uso de cinco técnicas diferentes, o trabalho estabelece um parâmetro para avaliar com segurança a autoria e o valor de uma obra de arte, e então estimar o montante e as condições da lavagem de dinheiro.

Assim, confere precisão à imputação do crime.

“Essa precisão nos dá mais segurança para pedir reparação de danos e decretar o perdimento desses bens”, avalia o procurador da República Diogo Castor de Mattos, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato.

Márcio Lobão é figura conhecida no meio das artes do Rio. Sua coleção inclui obras de artistas contemporâneos dos mais valorizados do Brasil, como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes, além do modernista Volpi (1896-1988).

O filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA) que teria recebido propina pela obra da Usina de Belo Monte, conforme delações feitas à Lava Jato, apurou seu gosto pela arte brasileira com o sogro, o advogado Sergio Fadel. Márcio Lobão é descrito como um bom negociador de arte, contaram ao Estado galeristas que atendem a elite carioca.

Em sua delação, Henrique Valladares contou à PGR que foram pagos 5,5 milhões de caixa dois para o então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, codinome “Esquálido”. A contrapartida era a atuação dele em favor da Odebrecht no projeto da usina hidrelétrica de Jirau.

Conforme relato do ex-diretor da Andrade Gutierrez, integrante do consórcio construtor de Belo Monte, entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões foram repassados ao senador Edison Lobão pelas obras de Angra 3 e R$ 600 mil da usina hidrelétrica. De acordo com o delator, o valor relacionado a Belo Monte foi entregue, em espécie, na casa de Márcio Lobão.

Valladares informou que o dinheiro era repassado ao filho do atual presidente da CCJ do Senado, Márcio Lobão, alvo da Operação Leviatã, na qual o nome dele já aparecia como recebedor de pagamentos realizados pela Andrade Gutierrez no âmbito de Belo Monte e de Angra 3.

O filho do ex-ministro de Minas e Energia nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff também foi citado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Em acordo de delação premiada, Machado disse que os valores destinados a Edison Lobão eram entregues em um escritório no Rio indicado por Márcio.


247/MA

Supremo solta irmã, primo e adia julgamento de Aécio

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta terça-feira (20) converter a prisão preventiva de Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), em prisão domiciliar, com monitoramento por tornozeleira eletrônica; com os votos dos ministros Marco Aurélio Mello, Alexandre de Moraes e Luiz Fux.

Os ministros também decidiram que Frederico Pacheco, primo de Aécio, passe à prisão domiciliar com medidas cautelares; na mesma sessão, os ministros adiaram o julgamento do pedido de prisão preventiva de Aécio, que ainda não tem data para voltar ao pleno da 1ª Turma; decisão que beneficiou Andrea e Frederico foi tomada pela Corte no julgamento do ex-assessor do senador Zeze Perrella, Mendherson Souza Lima.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio decidiu hoje (20) adiar o julgamento sobre o pedido de prisão preventiva feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

A decisão foi tomada pelo ministro, que é relator do processo, para decidir primeiro sobre um recurso protocolado nesta manhã pela defesa de Aécio Neves, que pretende ser julgado pelo plenário da Corte. Ainda não há data para a retomada do julgamento.

Na mesma sessão, a Primeira Turma do STF decidiu pela soltura do irmã, Andrea Neves, e do primo de Aécio, Frederico Pacheco. Os dois são investigados no Supremo a partir das delações da JBS. Com a decisão, ambos passam a cumprir prisão domiciliar.

A decisão foi tomada após o colegiado também determinar a libertação de Mendherson Souza Lima, ex-assessor do senador Zezé Perrella (PMDB-MG), acusado de intermediar o recebimento de propina enviada pelo empresário Joesley Batista, da JBS.

Mantendo o mesmo entendimento do julgamento anterior, a maioria dos ministros entendeu que a prisão dos acusados pode ser substituída por medidas cautelares, como entrega de passaporte e recolhimento domiciliar.

Sobre o pedido contra Aécio, na semana passada, a PGR reforçou o pedido de prisão e alegou que Aécio Neves não está cumprindo a medida cautelar de afastamento. Ao reiterar o pedido, Janot citou uma postagem do senador afastado, em sua página no Facebook, no dia 30 de maio, em que ele aparece em uma foto acompanhado dos senadores Tasso Jereissati (CE), Antonio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB) e José Serra (SP), colegas de partido. "Na pauta, votações no Congresso e a agenda política", diz a legenda da foto.

Em nota, a assessoria de Aécio Neves informou que o senador afastado tem cumprido integralmente a decisão do ministro Edson Fachin e se mantém afastado das atividades parlamentares. "Entre as cautelares determinadas não consta o impedimento de receber visitas e discutir como cidadão, e não como parlamentar, assuntos diversos", diz o texto.

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O triplex é da CAIXA por hipoteca desde 2009, nem de Lula, nem da OAS, é do banco há 7 anos, por Cíntia Alves

Nem de Lula, nem da OAS, o triplex é da Caixa há pelo menos 7 anos

"Nem Léo Pinheiro, nem a OAS tinham a disponibilidade do imóvel para dar ou oferecer a quem quer que seja", diz Cristiano Zanin.
Foto: Ricardo Stuckert

A defesa do ex-presidente Lula apresentou, durante coletiva de imprensa em São Paulo, o teor das alegações finais sobre o caso triplex, cujo prazo para entrega ao juiz Sergio Moro termina nesta terça (20). Durante a exposição, o advogado Cristiano Zanin revelou que encontrou novas provas de que "nem Léo Pinheiro, nem a OAS tinham a dispobilidade do imóvel para dar ou oferecer a quem quer que seja".

Isso porque, desde 2010, o triplex, assim como os demais apartamentos do Consomínio Solaris, no Guarujá, foi entregue pela OAS a um fundo controlado pela Caixa Econômica Federal. Como nenhum depósito foi feito em conta bancária sinalizada pela Caixa, o triplex não foi liberado a ninguém, muito menos a Lula. 

"Se o triplex não é nem jamais foi de Lula, sua absolvição é obrigatória. Não só porque o Ministério Público não produziu prova do que diz, mas porque a defesa produziu provas da inocência de Lula", disparou o advogado.

A defesa já havia juntado aos autos do processo que tramita em Curitiba os documentos que atestam que o triplex, que está em nome da OAS, foi dado como garantia em operações financeiras, incluindo pedido de recuperação judicial, a partir de 2009. A revelação tem peso no julgamento porque a Lava Jato insiste que foi naquele ano que a OAS transferiu, de forma velada, a posse do apartamento para Lula.

Os novos documentos, que provam que a Caixa detém o direito financeiro-econômico sobre o triplex desde 2010, foram produzidos de maneira autônoma pela defesa de Lula, após o juiz Sergio Moro negar o pedido de diligência. 
Segundo Zanin, um dos documentos indica a "conta e agência onde os valores referentes aos apartamentos do Solaris devem ser depositados para que haja a liberação do imóvel. Ou seja, esse documento significa dizer que só se houvesse depósito nessa conta e nessa agência é que os imóveis estariam liberados para venda, doação ou qualquer forma de alienação, qualquer forma de transferência da propriedade. Era imprescindível, portanto, que houvesse depósito de valores nessa conta da Caixa."

Ex-OAS, Léo Pinheiro, em março passado, disse a Moro que combinou com Paulo Okamotto e João Vaccari Neto que o triplex seria de Lula a partir de um "encontro de contas" com o PT. O pretenso delator afirmou que reformou o apartamento com dinheiro da OAS Empreendimentos, dentro da legalidade, com o intuito de vender ao ex-presidente. Para sustentar a tese de que não ficaria no prejuízo caso Lula não quisesse adquirir o imóvel, Pinheiro afirmou que deixaria de pagar ao PT propina equivalente ao valor investido nas melhorias.

"Léo Pinheiro esqueceu de dizer [a Moro] que ele próprio, com sua assinatura, havia levado, em novembro de 2009, à junta comercial, um documento que transferiu à Caixa 100% dos direitos economico-financeiros do triplex e dos demais imóveis do Solaris. Então, como ele pode ter dado esse apartamento a Lula se, no mesmo ano, ele deu o imóvel como garantia à Caixa? Para que Léo Pinheiro pudesse afirmar que deu, ele teria de mostrar um recibo de que depositou na conta da Caixa os valores correspondentes a esse apartamento. Isso jamais ocorreu", revelou Zanin.

O defensor ainda disse que essas informações sobre a verdadeira propriedade do triplex poderiam ter vindo à tona há muito tempo, se a Lava Jato não tivesse transformado a investigação contra Lula numa espécie de jogo.

Ele lembrou que o caso triplex nasceu de um inquérito sigiloso e que, quando a defesa tomou conhecimento disso e pediu acesso aos autos, Moro negou. Foi preciso recorrer ao Supremo Tribunal Federal. A defesa sequer teve tempo de analisar o procedimento e pedir produção de provas porque, dois dias após ter acesso ao inquérito, Lula foi indiciado pela Polícia Federal. 

"Mas não foi só na fase policial que a verdade poderia ter sido descoberta", apontou Zanin. Durante a fase processual, conduzida por Moro, a defesa solicitou uma série de provas negadas pelo juiz, que costumava alegar que os pedidos eram abusivos ou que não acrescentariam nada à ação. Zanin destacou, a título de exemplo, os pedidos para produzir provas de que Lula recebeu, como diz o MPF, dinheiro desviado da Petrobras, e a petição para aprofundar o uso do triplex em transações financeiras pela OAS. Tudo negado por Moro.

"Certamente a Polícia Federal e o Ministério Público Federal teriam condições de saber da existência [desses documentos]. Nós havíamos pedido para que fossem produzidas essas provas em perícia, mas os pedidos foram negados. É a defesa que leva ao processo a prova da inocência de Lula. Prova categorica, contundente e que não deixa nenhuma dúvida."
  
OUTROS EIXOS DA DENÚNCIA

Zanin rebateu, ainda, o "contexto" de "macrocorrupção" criado pela Lava Jato para taxar Lula de chefe da organização criminosa. Trata-se do pano de fundo da denúncia do triplex, em que Lula aparece sendo beneficiado pela OAS por ter garantido a manutenção do esquema de corrupção na Petrobras enquanto presidente da República.

"A denuncia, além de veicular a acusação propriamente dita, fala de um contexto, mas esse contexto fala de uma investigação que esta em curso no Supremo e não há competencia da 13ª Vara Federal em Curitiba para tratar do fato", sustentou.

Durante a coletiva de imprensa, Zanin também abordou as violações e abusos praticados por Moro e pela força-tarefa durante a fase processual e lembrou, ainda, que a defesa produziu provas de que Lula não poderia saber de corrupção na Petrobras, a partir de auditorias feitas na estatal.

Em relação à terceira parte da denúncia, que trata de contrato da OAS com a Granero pela manutenção do acervo presidencial, Zanin destacou que o MPF, além de não imputar a Lula qualquer ação relativa a esse contrato, viu sua tese de pagamento de propina cair por terra quando o dono da Granero admitiu que houve um erro dele na produção do documento. A Lava Jato fala em fraude porque a peça fala em armazenamento de materiais de escritório da OAS, e não do acervo de Lula.

O CASO CLÁUDIA CRUZ

Ao final da exposição, Zanin indicou que, diante das provas produzidas, qualquer sentença sobre o triplex que não seja de absolvição para Lula só reforçará que o caso é de perseguição política.

O advogado fez um paralelo com a sentença proferida por Moro em relação à esposa de Eduardo Cunha, Cláudia Cruz, absolvida por falta de provas de sua participação na lavagem de dinheiro.

"Nessa sentença, Moro diz que em crime de corrupção e lavagem de dinheiro, é preciso haver rastreamento dos valores envolvidos", frisou Zanin. "Em relação a Lula, em momento algum houve rastreamento de valores. Nao se aplicou a máxima de seguir o dinheiro, mesmo a defesa tendo feito esse pedido com a certeza de que Lula não recebeu valores provenientes de contratos da Petrobras. É bom lembrar que depois da devassa feita nas contas e vida de Lula e de seus familiares, nenhum valor ilicito foi encontrado", ponderou.

Questionado sobre a possibilidade de Moro usar a teoria do domínio do fato para condenar Lula, Zanin disse que a tese "não pode servir de muleta para Ministério Público que não produz provas."

Acompanhe, abaixo, a coletiva na íntegra. AQUI.

Do GGN

Xadrez do golpe que gorou, não vingou, por Luis Nassif

No início parecia simples, muito simples.

1.     Em momentos de mal-estar generalizado, a personificação da crise é sempre o presidente da República. E se tinha uma presidente impopular que cometeu inúmeros erros.

2.     Com a ajuda da Lava Jato, a mídia completa o trabalho de desconstrução do governo e estimula as manifestações de rua, intimidando o STF (Supremo Tribunal Federal).

3.     No Congresso, PMDB e PSDB travam as medidas econômicas de modo a impedir que a presidente acerte o passo.

4.     Derrubada a presidente, implementam-se rapidamente medidas radicais, a tal Ponte Para o Futuro, que não seriam aprovadas em período de normalidade.

 Caso haja movimentos de rua, aciona-se a Polícia Militar e as Forças Armadas.

5.     Com a Lava Jato, mantem-se a pira acesa e impugna-se Lula.

6.     Com as medidas, haverá uma fase inicial dura, que será debitada na conta do interino. Depois, uma economia em recuperação, em voo de cruzeiro, que será cavalgada pelo campeão em 2018.

7.     E corre-se para comemorar o gol.

Foi esse o plano, tão raso e simples quanto uma análise da Globonews, que estava por trás do golpe. O primarismo desse pessoal foi esquecer que o Brasil se tornou um país complexo, no qual não cabem mais os modelos simplórios de golpismo parlamentar.

Me lembrou a primeira vez que fui cobrir um congresso de economia em Olinda, em 1982.

O candidato apresentava sua tese à banca. Montava seu modelito de país apenas com os atores diretamente ligados ao tema e que não atrapalhassem a tese defendida.

Aí vinham os examinadores, especialmente Maria da Conceição Tavares e indagava: cadê a agricultura? Cadê os consumidores? Cadê o constrangimento externo?

O candidato, então, era obrigado a colocar de volta no modelo os atores extirpados. Quando colocava, o modelo não fechava mais.

Ilusão 1 – a não-solução Temer
Enquanto Dilma Rousseff era presidente, automaticamente também era o alvo preferencial do mal-estar geral. Quando ela sai, o alvo passa a ser o novo presidente, envolvido até o pescoço nas investigações da Lava Jato.

Na pressa em derrubar Dilma e aplicar o golpe perfeito, nem se cuidou de analisar melhor a personalidade do substituto. A mídia julgou possível reconstruir a biografia de Temer com suas pós-verdades. E constatou rapidamente que apostara todas suas fichas em um dos políticos mais medíocres da República.

Até então, tinha feito uma carreira política rigorosamente fora do alcance dos holofotes. Assumindo o posto, levou para o Palácio seus quatro operadores pessoais e enrolou-se até em episódios menores, como o caso da carona no avião da JBS.

Exposto à luz do sol, desmanchou.

Ilusão 2– as reformas sem povo
Só a profunda ignorância de uma democracia jovem para supor ser possível uma organização suspeita se apossar do poder e enfiar na marra reformas radicais contra a maioria da opinião pública.

Pouco a pouco vai caindo a ficha – mesmo dos economistas mais liberais - que não existe saída fora da discussão democrática com todos os setores. A não ser que se pretenda manter o país permanentemente em um estado de exceção. Nesse caso, a escolha do ditador não será deles.

Ao mesmo tempo, a ilusão de que a mera troca de governo e o anúncio de reformas acordaria o espírito animal do empresário trombou com a realidade. A soma de recessão mais juros reais em alta liquida com qualquer pretensão de equilíbrio fiscal. Sem uma atitude ousada, de incremento calculado dos gastos públicos, não haverá recuperação da economia. E esse passo só poderá ser dado em um clima de entendimento entre os principais atores políticos e econômicos.

Ilusão 3 – engarrafando o gênio
Tiraram o gênio da garrafa e ordenaram: os limites são Lula e o PT. Depois tentaram engarrafar novamente, mas o gênio não quer voltar para a garrafa.
Nesse torvelinho, o PSDB foi devorado, seu presidente deverá ser preso nos próximos dias, o outro presidenciável, José Serra, escondeu-se – como sempre fez em momentos críticos -, as demais lideranças se enrolam entre ficar ou sair. E, com isso, obrigaram seu principal porta-voz, Ministro Gilmar Mendes, a se expor mais ainda.

Gilmar é o exemplo mais didático da manipulação da interpretação da lei, peça central do ativismo judicial. Tudo o que estimulou, no período que antecedeu e durante o impeachment, volta-se contra os seus. E Gilmar é obrigado a mudar totalmente seu discurso, mostrando que a posição ideológico-partidária de muitos magistrados antecede sua interpretação da lei. Há uma interpretação para cada ocasião.

Tem-se, agora, um caos total no grupo que se aliou para promover o impeachment.

Ilusão 4 – o poder ilimitado da Globo
A Globo não tem mais a sutileza de outros tempos, de exercitar suas preferências sem deixar digitais. Agora está se imiscuindo até nas eleições para a lista tríplice de Procurador Geral da República.
Em duas matérias seguidas – uma solta, outra cobrindo o debate dos candidatos – tenta comprometer dois favoritos às eleições, sustentando que são apoiados por lideranças com processos na Lava Jato ou pelo próprio Michel Temer.

O Ministério Público é uma corporação composta por pessoas preparadas para os temas jurídicos, mas, em geral, desinformadas sobre as jogadas político-midiáticas. Mas é impossível que esse pacto Janot-Globo passe despercebido da categoria, como uma intromissão descabida nos seus assuntos internos, tão descabida (aos olhos da corporação) quanto uma escolha de PGR fora da lista tríplice.

Todo esse jogo tem como pano de fundo os últimos capítulos das investigações do FBI sobre a FIFA. Com o indiciamento do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, o escândalo finalmente chega à Globo. Será cada vez mais difícil ao MPF – e à cooperação internacional – justificar a inação no fornecimento de informações ao FBI.

Com o acordo com Janot, a Globo tenta se blindar. O escândalo Del Nero está nas principais publicações internacionais, mas continua solenemente ignorado pelo PGR e sua equipe.

Essa circunstância pode explicar o surpreendente pacto Globo-PGR para, de um lado, derrubar Michel Temer, de outro garantir que o candidato de Janot seja o mais votado da lista tríplice.

Ilusão 5 – jogo sem vencedores
A evolução da crise política, econômica e social mostra que será impossível se ter um vencedor nesse jogo. Os principais atores já estão mortalmente feridos ou em vias de.

O PSDB inviabiliza-se como alternativa. O “novo” João Dória Jr se desmancha no ar a cada dia, com provas cada vez mais evidentes da desinformação sobre a montagem de políticas públicas eficazes. Apelando cada vez mais para factoides de redes sociais, para radicalizações inconsequentes, consegue desgastar rapidamente sua imagem.

Do mesmo modo, embora ainda contando com apoio popular, a cada dia que passa a Lava Jato se isola, já que o espaço amplo de que dispunha se devia ao endosso total da mídia e do mercado ao delenda-Lula. Quando extrapolou, deixou de contar com o apoio unânime desses setores. Episódios como as palestras de procuradores faturando em cima do episódio, a desgasta não apenas em muitos setores, mas dentro do MPF.

A própria Globo terá que enfrentar um poder superior, supranacional, em territórios externos, onde sua influência não conta muito.

Chega-se, assim, àqueles momentos de impasse, em que a guerra leva a um jogo de perde-perde.

E, no Paraná, um juiz obcecado, e procuradores partidarizados, pretendem inviabilizar Lula, um dos pilares centrais para uma saída pacífica da encrenca em que engolfaram o país. 

Do GGN

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Nesta quarta, deputados e senadores lançam Frente em defesa da soberania nacional

Foto: Divulgação

Na próxima quarta-feira (21), mais de 200 deputados e 18 senadores irão lançar a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional. O objetivo da frente é unir os parlamentares contra medidas adotadas pelo governo de Michel Temer e que são consideradas um atentado à soberania do Brasil.

Entre as medidas criticadas, estão o desmonte da Petrobras, o esvaziamento da indústria nacional, a permissão da venda de terras para estrangeiros, a internacionalização de serviços públicos como saúde e educação e a abertura do Brasil ao oligopólio internacional de insumos agrícolas, além da adoção de uma política externa classificada como submissa.

Em sua comissão executiva, a Frente Parlamentar conta com os senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e os deputados Patrus Ananias (PT-MG),  Glauber Braga (Psol-RJ), Celso Pansera (PMDB-RJ), Afonso Motta (PDT-RS) e Odorico Monteiro (PSB-CE).

Em manifesto, a Frente defende a exploração eficiente dos recursos minerais, a construção de infraestrutura para desenvolver o país, a contribuição da agricultura para a alimentação do povo e para as exportações, um sistema de crédito que favoreça o capital produtivo nacional, uma política externa independente, entre outros pontos.

Também participarão do ato de lançamento da Frente os ex-ministros Luiz Carlos Bresser-Pereira e Celso Amorim.

Leia a íntegra do manifesto abaixo:
MANIFESTO PELA SOBERANIA NACIONAL

1. O fundamento da democracia brasileira é a soberania, inscrito solenemente no Artigo 1° da Constituição.

2. Este mesmo Artigo Primeiro estabelece solenemente que todo Poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente.

3. A soberania é o direito inalienável e a capacidade da sociedade brasileira de se organizar de acordo com sua história e características sociais para promover o desenvolvimento de todo o seu povo, de forma justa, próspera, democrática e fraterna.

4. Esta soberania não pode ser limitada por políticas ocasionais que a comprometam e que dificultem a autodeterminação do Brasil e sua capacidade de resistir a tentativas de interferência externa.

5. A renúncia a certos direitos invioláveis, tais como o direito de organizar seu Estado e sua sociedade de forma a promover o desenvolvimento, é inadmissível.

6. Assim, cabe ao Congresso Nacional, integrado por representantes eleitos pelo povo brasileiro, garantir a soberania, o desenvolvimento e a independência nacional.

7. A organização de uma Frente Parlamentar de Defesa da Soberania se justifica na medida que Estados subdesenvolvidos como o nosso enfrentam sempre a ação de Estados mais poderosos para que reduzam sua soberania, enquanto esses Estados defendem e preservam com todo o empenho sua própria soberania.

8. Os eixos principais de ação da Frente Parlamentar serão a defesa

· da exploração eficiente dos recursos naturais, entre eles o petróleo, para a promoção do desenvolvimento;

· da construção de uma infraestrutura capaz de promover o desenvolvimento;

· da contribuição da agricultura para a alimentação do povo e as exportações;

· do capital produtivo nacional e de um sistema de crédito que tenha como objetivo seu fortalecimento;

· do emprego e do salário do trabalhador brasileiro;

· de um sistema tributário mais justo;

· de Forças Armadas capazes de defender nossa soberania;

· de uma política externa independente.

Do GGN

No Pará, artistas e movimentos sociais se reúnem contra a violência no campo

Foto: João Roberto Ripper


As atividades visam denunciar a escalada de conflitos que ocorrem no estado paraense, como a chacina de Pau D’Arco.

Ao longo desta segunda-feira (19), movimentos populares do campo e de direitos humanos realizam diversas atividades, em Belém (PA), para denunciar a escalada de violência no campo no estado, como a chacina de Pau D’Arco, no sudoeste do estado, quando nove posseiros e a presidenta do sindicato de trabalhadores rurais do local foram assassinados pela polícia, no mês de maio.

Pela manhã, representantes das organizações se reuniram no Palácio dos Despachos, sede do governo estadual, com o vice-governador do Pará, Zequinha Marinho, e autoridades da área de segurança pública, para debaterem o assunto.
A presidenta da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) no Pará, Ângela Lopes, disse que a violência que assola o campo paraense está relacionada a questões estruturais da lógica fundiária do Brasil, como a alta concentração de terras.

"Eu não quero mais trabalhar nos problemas pontuais. A gente precisa trabalhar as estruturas. Quando falo de estrutura, falo de lei, de medidas. Que o governador Simão Jatene (PSDB) possa ser um aliando nessa mudança estrutural", cobrou a sindicalista.

Os movimentos denunciam o fato de apenas 8% dos proprietários acumularem 69% das terras do estado. Junto a isso, há o alto índice de grilagem de terras públicas, a expansão do agronegócio e o fato do Pará liderar os casos de trabalho escravo e de maior desmatador da Amazônia.

Segundo dados trazidos pelas organizações, nos últimos 15 anos a área plantada de soja para exportação aumentou 15.000%, enquanto a área destinada à produção de alimentos despencou. Para eles, a solução para estes problemas estariam relacionados à democratização do acesso à terra e o reconhecimento de direitos territoriais dos povos do campo e comunidades tradicionais.

Durante a audiência, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá, José Batista, questionou quais as medidas que o estado irá tomar em relação aos familiares das vítimas dos últimos conflitos. Ele lembrou ainda que o Pará "é conhecido nacionalmente e internacionalmente pelos conflitos agrários. O estado irá se adiantar quanto a isso ou teremos que acionar a Justiça? O que será feito?", indagou.

Segundo dados da CPT, dos 307 assassinatos registrados nos últimos 21 anos, poucos foram os casos levados a julgamento, sendo que a maioria dos inquéritos não foi sequer concluída e nenhum mandante encontra-se preso.
   
Também presente na reunião, o ator Osmar Prado disse ser "desagradável vir ao Pará em um momento tão trágico" e relacionou o aumento dos conflitos no campo com a atual situação do Brasil. "Os desdobramentos que ocorrem estão relacionados ao contexto político. Quando se destituiu uma presidenta legitimamente eleita, abriram-se as portas para os desmandos", avaliou.

Além da audiência pública no Palácio dos Despachos, os movimentos ainda realizam dois seminários no auditório do Sindicato dos Bancários e um ato político em defesa da democracia e contra a violência no campo, que acontece no centro da capital, às 18 horas.

As atividades estão sendo organizadas pelo Comitê Paraense de Combate à Violência no Campo e as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

Do GGN

O PSDB e sua decomposição moral, Aldo Fornazieri

Todo organismo político, seja ele um líder, um partido, um movimento ou um Estado tem (ou deveria ter) um fundamento moral, definido pelos seus princípios, e um fundamento ético, definido pelos seus objetivos e finalidades. A corrupção, no sentido amplo do termo, tem se revelado, ao longo dos temos, o mal mortal dos organismos políticos, incluindo os líderes. Ela costuma decompor a substância do organismo nas suas dimensões morais, éticas, políticas e programáticas, transmutando-o daquilo que ele é a aquilo que ele não é.

A História e a Filosofia Política mostram que a corrupção leva os corpos políticos e os líderes a um declínio inexorável, por mais generalizadamente corrupto que seja um sistema e por mais que ele tenha uma vida prolongada no tempo. De modo geral, nos momentos de erosão e de ocaso, o que se manifesta são agudas crises de legitimidade do Estado, do partido ou do líder. Claro que existem possibilidades e mecanismos de regeneração de corpos degenerados, mas esta tarefa sempre é difícil e demanda esforços hercúleos e pouco suscetíveis de serem assumidos pelos entes corrompidos.

Quando se critica um partido, ressalve-se, não se está criticando o conjunto de militantes e das pessoas que o integram, mas aquilo que o partido representa enquanto instituição. Existem pessoas honestas e respeitáveis em todos os partidos, mas nem todos os partidos são expressões institucionais desses valores.

O PSDB e sua autonegação
O PSDB, claro que não algo exclusivo, é um partido que se decompôs, tanto nos seus princípios morais fundantes, quanto em suas finalidades éticas. Na epígrafe do Manifesto de Fundação, que completará 29 anos no próximo dia 25 de junho, está escrito que o partido nascia "longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas". O partido tornou-se o inverso desse princípio. Já no governo Collor, parte do partido tinha assumido a perspectiva das benesses do poder em detrimento do pulsar das ruas. A adesão não se consumou por conta da contundência de Mário Covas. Com o governo Itamar e, depois, com os governos de FHC a perspectiva das ruas foi completamente abandonada. Este é um mal dos partidos de centro-esquerda e de esquerda que chegam ao poder pela via das urnas.

Não se trata de uma recusa da busca de governos pela via eleitoral. Mas a crítica que precisa ser feita é o abandono dos princípios e das finalidades que os partidos sustentavam no seu ideário fundante. Trata-se de uma corrupção de princípios que transforma os partidos em partidos do status quo, da conservação de uma ordem que, no caso do Brasil, é uma ordem que nasceu degradada e se desenvolveu como uma ordem degradada e corrompida pela natureza injusta e iníqua que ela carrega. Esses partidos, na verdade, se tornam partidos das contra-reformas - uma espécie de cereja do bolo do capitalismo predador.

O Manifesto de fundação do PSDB chamava a atenção justamente para o fato de que o povo se encontrava frustrado porque "não foi cumprida a promessa de mudança social e econômica". O partido se tornou a contraparte dessa mudança, transformando-se em principal instrumento a serviço das elites econômicas que nunca foram democráticas, nunca foram modernizantes e nunca quiseram que o país se desenvolvesse, pois a manutenção do atraso é condição do seu domínio, dos seus privilégios e de seu modo de extorquir os recursos orçamentários e os fundos públicos por diversas maneiras.

Ao se tornar o partido das elites e, consequentemente, do atraso, o PSDB denegou várias de sua finalidades que poderiam conferir-lhe algum conteúdo social-democrata: defender as justas reivindicações dos trabalhadores, efetivar a reforma agrária pela via da tributação progressiva e desapropriações, proteger os menores e redistribuir renda e "propugnar pela implantação de uma seguridade social no seu sentido mais amplo e inovador, assegurando a habitação, a saúde, a previdência social básica e complementar, com ênfase para as aposentadorias e pensões, o seguro-desemprego, a proteção à infância e aos idosos".

Na prática, o PSDB tornou-se uma negação escandalosa e desavergonhada de seu programa original, instrumento que é, por um lado, e agente que é, por outro, da perpetuação do mal-estar social no Brasil. O apoio que o partido vem dando a todo tipo de reformas supressoras de direitos e a políticas de violação da dignidade de menores e outros grupos sociais vitimizados e em situação de risco constitui uma veemente confirmação de que o PSDB é um partido anti-social e anti-socialdemocrata.

A democracia e a corrupção
Outro grande contraste entre o que o PSDB se propunha ser e o que é diz respeito à democracia. O Manifesto assevera que o partido surgia para combater o autoritarismo "concentrador de renda e riqueza" e para "defender a democracia contra qualquer tentativa de retrocesso a situações autoritárias". Ora, o partido não teve apenas um papel de coadjuvante no golpe ilegítimo do impeachment. Foi sócio  equivalente de Temer, Eduardo Cunha, Romero Jucá e toda organização criminosa que se agrupou no governo.

Aécio Neves, com a desfaçatez que não é sustentada nem pelos mais renomados hipócritas, foi o primeiro incendiário que levou o país às chamas dessa crise política prolongada. Jogou fogo na gasolina em nome de uma aventura: "para encher o saco do PT". O PSDB ajudou a financiar as manifestações de combate à corrupção e pelo impeachment com a face irresponsável de quem queria chegar ao poder sem a legitimidade das urnas. Efetivamente chegou, junto com Temer. Sem capacidade de convocação das ruas, escondeu-se por detrás dos biombos dos MBLs da vida e deu voz e vez a Bolsonaro e a todos aqueles que incitaram a intervenção armada contra a democracia.

O castigo merecido que os tucanos têm é que Bolsonaro ocupa, ao menos por ora, o segundo lugar nas intenções de voto na corrida presidencial. João Dória é um rebento bastardo desse aventureirismo irresponsável, cuja única ideologia é o assalto ao botim das benesses públicas para fins privados. Conceder a designação de "conservador" ao PSDB seria uma honraria, pois os conservadores se guiam por princípios, conservadores, claro, mas por princípios, coisa que o partido deixou de ter.

Note-se que o partido não deu apenas voz a conspiradores antidemocráticos. No Congresso, conduzindo-se pela irresponsabilidade típica dos aventureiros, apoiando as pautas-bomba, guiado que foi por Eduardo Cunha. E à medida em que o golpe se consolidou e a Lava Jato foi avançando e se deslocando de Curitiba para Brasília, o partido, através de seu presidente, começou a participar de novas conspirações para obstruir a Justiça, controlar o Ministério Público e a Polícia Federal e bloquear as investigações para que o governo e seus aliados continuassem cometendo crimes, como vem sendo revelado.

O Manifesto dizia, ainda, que o povo estava "chocado com o espetáculo do fisiologismo político e da corrupção impune". O PSDB merece a justa ira e o desprezo das pessoas. O que dizer quando se revê as imagens de Aécio Neves, de Dória, de Aloysio Nunes, de Fernando Capez e tantos outros tucanos protestando nas ruas, com suas camisas amarelas e com sua verborragia inflamada, contra a corrupção? O eleitorado brasileiro, com sua baixa cultura cívica, mergulhado na ausência de uma moral social e política, aceita votar em políticos sabidamente corruptos na crença de que eles são espertos e que podem ser eficazes. O que o eleitorado não parece aceitar é a desfaçatez da enganação. Foi isto que o PSDB tentou fazer: passar-se por honesto sendo corrupto. Agora é o principal sustentáculo de um governo cujo presidente chefia uma perigosa organização criminosa, segundo as denúncias que se avolumam na imprensa. Se amanhã o PSDB sair desse lodo, não o fará movido pelos altos princípios e pelos nobres fins, mas pelo oportunismo de que se constitui a sua alma.

Do GGN, Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política.

Luis Fernando Vitagliano: O paradoxo da crise política e a ascensão autoritária que perpassa o Brasil hoje

Junho de 2013 fez emergir a crise da representação, o incômodo generalizado com as coalizões que fundamentaram a governabilidade na Nova República. O golpe não foi resposta positiva à crise política, e o caminho está aberto para uma solução autoritária ou totalitária.
O paradoxo da crise política e a ascensão autoritária

Para aqueles que supõem que a crise política está próxima do seu fim, a resposta positiva é improvável. Pelo contrário, a crise política pode se agravar. Essa verdade desnuda demonstra que uma possível eleição de um aventureiro qualquer pode nos tirar da crise para algo pior. Porque saídas mágicas para a crise política como o afastamento de Dilma não nos livrou de nenhum dos problemas da república e nos acrescentou vários, agravando, ampliando e perpetuando o caos.

A saída da crise política não pode ser posta, principalmente pelo campo progressista, para além da política. Será uma saída política e pela política. Mas, para isso é preciso entender as origens e as causas desta encalacrada situação que começa em 2013.

Parece haver um relativo consenso de que junho de 2013 é um marco. Mas, ainda são contraditórias suas interpretações. De um lado há análises que defendem que a fonte principal daqueles eventos foi o conflito distributivo que aflorava com a ascensão dos pobres à sociedade de consumo, que fez eco nas classes médias incomodadas com o encarecimento dos serviços para a casa grande e a ampliação do status das grandes massas. De outro lado, afirma-se que os movimentos de direita assumiram a pauta e a mobilização. Ambas as análises têm contribuições à interpretação dos protestos, mas o ponto nevrálgico de 2013 é outro: crise e fragmentação e a crise da representação.

Por isso, entender 2013 vai além dos protestos que aconteceram naqueles meses e desde então e pode ser lido como o desenrolar do que se configurou como o sistema político da Nova República – filho pródigo em termos institucionais da ditadura civil-militar de 1964. Defendo aqui que Junho de 2013 não é o começo, portanto, mas o primeiro ato do final da conciliação da classe política que fez a redemocratização com a base social que deu sustentação ao sistema político.

As diretas de 1984 dão início ao momento ótimo da conciliação da política com a sociedade civil pós-ditadura. A constituição de 1988 renovou as esperanças na política como objeto de transformação da realidade brasileira. Todavia, a Nova República se faz à base de conciliação político-partidária que não é exatamente de classe. E como fiador do alicerce desse sistema está o espólio da ditadura.

Sarney assumiu no lugar de Tancredo. Collor governou sem pudores com os coronéis do nordeste. FHC trouxe o PFL de Antônio Carlos Magalhães para a sala de estar do Palácio do Planalto e os Governos Lula e Dilma tinham suas bases no mesmo PMDB que esteve em todos esses governos aos quais se opunham.

Desde sempre a justificativa é a mesma: governabilidade. Pois junho de 2013, para além das passagens de ônibus, a corrupção e a desonestidade política tem como pano de fundo o incômodo generalizado em relação às coalizões que fundamentam a governabilidade. Essa crise de representatividade significa que embora a disputa pelo poder executivo tenha evoluído para uma espécie de binômio entre neoliberais e trabalhistas, a disputa pelo legislativo fragmentou-se de tal forma no pluripartidarismo que muitos dos eleitos representam seu próprio projeto político local.

Como conciliar a eleição de um projeto nacional no plano executivo com a fragmentação do legislativo em interesses mesquinhos e provincianos? Durante boa parte da Nova República isso se manifestou em forma de acordos e de cargos de governo. Junho de 2013, em certo sentido, foi um basta a isso. Seu espólio teve continuidade no crescimento da oposição e fez-se sentir na crise do impeachment, onde os interessados na substituição do projeto político trabalhista enxergam a oportunidade de impor o projeto político derrotado nas urnas.

O que faz o PSDB no governo Temer? Associou-se para dar a direção macro dos rumos do Estado. Aproveitou-se da oportunidade que as urnas não os deu. A história de reconciliação com a política, de tirar a Dilma para as coisas melhorarem, que tudo estava contaminado e a política se renovaria com a saída do PT é apenas cortina de fumaça, só havia dois objetivos no impeachment e nenhum dizia respeito a uma resposta para a crise. De um lado a proposta era estancar a sangria das delações e de outro lado implementar o projeto neoliberal. Nenhuma relação remota com a crise de representação que se agravaria com ambas as pretensões.

O golpe constitucional não foi uma resposta positiva à crise política, nem uma mudança que visava a reformar os termos da representatividade. Pelo contrário, foi uma resposta negativa à crise política: deixou bem claro que as formas de chantagem do legislativo para com o executivo poderiam vencer.

Os critérios pelos quais as pessoas votam no Brasil para o legislativo é, via de regra, mais relaxado em relação ao voto do executivo. Isso nos leva a um paradoxo na política brasileira: a sustentação do governo depende da base fragmentada do Congresso que não tem compromisso com o projeto eleito. A população agora mais atenta e acostumada com a democracia cobra do executivo a coerência que ela própria não tem ao eleger o legislativo. É o Deputado e o Senador com representatividade baixa e que se elege a partir do mesmo clientelismo dos anos 1910 que negocia seu apoio ao governo e impõe seus critérios de adesão.

A partir de junho de 2013 (com pegadas à direita ou não) iniciou-se um movimento na sociedade civil para não tolerar esse tipo de acordo. A mídia e o judiciário aparentemente perceberam o movimento e se tornaram os porta-vozes dessa aclamação. Assim, se sem esses acordos não se governa e com esse tipo de acordo a popularidade não se sustenta, como ter base social para governar sem cair em novas armadilhas?

A atual crise política não deixa espaço para dúvidas: ninguém governará sossegado até que as coisas mudem. Ou seja, é o fim da estabilidade do sistema político da Nova República. O que nos leva a um último ponto: se não há saída sustentada na popularidade nem à direita e nem à esquerda sem ceder aos caprichos da corja clientelista, qual a saída para a crise política?

Historicamente, conhecemos a resposta: autoritarismo ou totalitarismo. Sempre que houve crises de representatividade tão agudas como as que se desenham no Brasil, a resposta foi a ascensão (eleitoral ou não) de figuras que abusaram do poder para dominar a crise. Em nome de uma suposta moralização da política, figuras como Franco, Mussolini, Hitler, Pinochet tomaram as rédeas do poder e usaram de métodos violentos para domar a crise. Isso implicou, entre perdas de direitos civis, perseguições e cassações, ditaduras com maior ou menor grau persecutório.

Luis Fernando Vitagliano - É cientista político e professor universitário. É colunista do Brasil Debate

Do GGN

Luis Nassif: Xadrez de Temer e o caso dos 10 negrinhos

Lembrando o poema “O caso dos dez negrinhos”

Cinco homens no comando
Irmanados em um trato
Levaram Eduardo Cunha
Restaram apenas quatro.

Quatro homens planejando
A grande jogada da vez
Levaram Romero Jucá
Agora, só restam três.

Três homens bem assustados
Com o que a Justiça expôs
Chegou a vez do Padilha?
Restarão apenas dois.
No site de Eliseu Padilha, um rock mambembe conta a vida do “Padilha subindo a ladeira”, com “a chama no peito e de mãos dadas com a esperança brasileira”.

A ladeira rima com um cinco meia meia, seu número de candidato a deputado federal. No meio da música, relatos de Padilha menino “descendo a ladeira”, procurando “faturar um trocado para aumentar o quinhão” e “querendo subir na vida”.

Subiu. Tornou-se Ministro-Chefe interino da Casa Civil e homem mais poderoso da República, posto que o braço direito de um presidente vacilante.

Na condição de Ministro-Chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha mapeou os três pilares da frente que construiu o impeachment: o Judiciário, a base política e a imprensa.

Para o Judiciário, ofereceu aumentos de proventos. Para a base política, cargos e lambança. Para a mídia, toda a publicidade da Secom (Secretaria de Comunicação). E, para o país, ofereceu uma das biografias mais polêmicas da República.

Nos governos anteriores, a Secom servia para filtrar a publicidade, especialmente a que era direcionada para veículos fora do circuito da grande mídia. Pelo menos até o ano passado, trabalhou muito mais para podar campanhas do que para estimular. Mas a decisão da publicidade ficava com cada empresa pública.

Com o interino, a Secom passa a centralizar toda a publicidade.

Isso lhe confere um poder de pressão inédito sobre os veículos de mídia. Nenhum grupo privado conseguirá fazer frente à soma combinada da publicidade da Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Ministérios. Em um momento de crise dos grupos de mídia, trata-se de uma ameaça direta à liberdade de expressão, na medida em que constrangerá inclusive os grandes veículos.

Neste fim de semana, alguns veículos noticiaram a condenação de Padilha a devolver R$ 300 mil ao Tesouro, devido à contratação de uma servidora fantasma.

O caso da funcionária fantasma é o menor envolvendo Padilha.

A seguir, um breve resumo da carreira pública de Padilha.

Caso DNER
O presidente Fernando Henrique Cardoso devia dois favores a Eliseu Padilha. O primeiro, a operação empreendida por ele e por Gedel Vieira Lima, visando impedir a candidatura de Itamar Franco pelo PMDB. A segunda, seu papel na compra de votos para a emenda da reeleição.

Como pagamento, Padilha foi nomeado Ministro dos Transportes em maio de 1997, permanecendo até novembro de 2001.

Saiu no meio de um mega escândalo de corrupção no DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) denunciado pelo então senador Antônio Carlos Magalhães. Ficou conhecido como o escândalo da Máfia dos Precatórios. Consistia em furar a fila dos precatórios do DNER e superfaturar os valores devidos, mediante o pagamento de propinas.

O caso foi investigado internamente, tanto pela Secretaria Federal de Controle Interno como pelo Tribunal de Contas da União. Mas FHC abafou o escândalo. Suas únicas providências consistiram em demitir Padilha e acabar com o DNER, substituído pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) que permaneceu no governo FHC, nos de Lula e Dilma o maior centro de corrupção da União – segundo o depoimento insuspeito de Sérgio Machado.

Em 2002 o Ministério Público Federal abriu inquérito para apurar irregularidades no Ministério dos Transportes. Chegou-se até uma certa Nova Agência de Automóveis Ltda.

Segundo o processo (http://migre.me/u9h8g), Ulisses José Ferreira Leite  recebeu mais de dez milhões em suas contas pessoais, cerca de um décimo dos desvios do DNER. Ao lado de Geraldo Nóbrega e de Olívio Moacir Padilha tornou-se sócio da firma Nova Agência de Automóveis Ltda. Sua parte no negócio consistia em presentear funcionários e o próprio Ministro com automóveis de alto valor.

Nos depoimentos, constatou-se que a própria esposa de Padilha foi uma das presenteadas com automóvel de luxo.

Foi apenas uma das evidências da participação estreita de Padilha no escândalo.
Em 2003 o MPF ajuizou a ação contra Padilha. Apenas em 2013 a ação foi aceita pela 6a Vara Federal do DF. A demora se deveu à questão de competência: a Justiça federal remetendo ao Supremo que devolveu à 6a Vara (http://migre.me/u9hSH).

Na ação, o MPF apontou Padilha como lobista, que usava o cargo para atender "pleitos políticos para pagamentos absolutamente ilícitos e ainda por cima superfaturado.

Em um dos casos, o DNER usou por 82 dias o prédio da empresa Comércio, Importação e Exportação 3 Irmãos. Pelo aluguel, a empresa teria direito a R$ 185 mil. O DNER acertou um acordo extrajudicial elevando o valor para R$ 2,3 milhões.  "Bastaria o bom senso para compreender que 82 dias de uso de um prédio (...) não poderia custar quase o valor do prédio", segundo o procurador Luiz Francisco Fernandes de Souza, autor da ação. (http://migre.me/u9ihE).

Em documentos e depoimentos, Padilha foi apontado como mandante, a pedido do ex-deputado Álvaro Gaudêncio Neto, cujo pleito foi encaminhado ao Ministério por Eduardo Jorge, o influente assessor especial de FHC.

O procurador do DNER Pedro Elói Soares denunciou Padilha pelas falcatruas. E a própria Advocacia Geral da União (AGU) divulgou relatório apontando prejuízo de R$ 122,9 milhões com as fraudes. O documento afirmava expressamente que Padilha tinha conhecimento das irregularidades, assim como o consultor Arnoldo Braga Filho.

A ação do MPF apresentou ofício do assessor especial de Padilha, Marcos Antônio Tozzatti, pedindo “a maior brevidade possível”, por “ordem do excelentíssimo senhor ministro dos Transportes, Eliseu Padilha".

Em sua defesa, Padilha afirmou ter sido vítima de irregularidades cometidas por funcionários do terceiro escalão.

As denúncias de ACM levaram a recém-criada Corregedoria Geral da União à sua primeira investigação: justamente as aventuras de Padilha nos Transportes.

O governo havia instalado uma comissão para analisar as irregularidades no DNER. Mas, das 46 irregularidades constatadas, apenas uma foi analisada, justamente para suspender as punições contra dois funcionários.

Em vista disso, a corregedora Anadyr de Mendonça Rodrigues levantou irregularidades na desapropriação de uma área em Sinop (MT) e produziu um documento com 14 páginas, enviado pessoalmente a Fernando Henrique. Segundo Anadyr, a comissão de inquérito passou por cima de 46 processos conexos que tratavam de desapropriação (http://migre.me/u9ize).

E aí FHC não teve como se abster.

O presidente chamou Padilha em seu gabinete e ordenou-lhe que reabrisse as investigações.

Em vez de punir os responsáveis, FHC tirou o sofá da sala: extinguiu o DNER e substituiu-o pelo DNIT.

A decisão de FHC provocou forte reação de ACM
“Tenta-se calar a grande imprensa, mas V.Exa. bem sabe que não se pode silenciar por todo o tempo a consciência cívica do país. A pura e simples extinção do DNER, como foi a da Sudam e a da Sudene, é insuficiente, pois o necessário é pegar os ladrões do erário".

Nos anexos está a Ação Cautelar de Improbidade do MPF contra Padilha e outros para ser consultado por vocês, para me ajudarem a identificar pessoas e parcerias.

A Operação Solidária
Em 2007 a Polícia Federal decidiu investigar a terceirização do fornecimento de merenda escolas em Canoas RS), na administração Marcos Ronchetti (PSDB). O seu lema de campanha era “administração solidária”, vindo daí o nome da operação.

Descobriu fraudes em licitações para obras de saneamento, construção de estradas e de sistemas de irrigação (http://migre.me/u9dwc).

A empresa-chave na operação era a MAC Engenharia, de Marco Antônio Camino, apontado como o operador do esquema. As escutas identificaram várias chamadas de Carmino para Padilha. Investigações da PF e do MPF indicaram depósito de R$ 267 mil da MAC na conta da Fonte Consultoria Empresarial, de Padilha e de sua esposa.

O inquérito total tinha sete volumes, dos quais seis baseados na operação de escuta. A Operação Solidária apontou indícios de fraude que chegaram a R$ 300 milhões, em valores da época.

As investigações envolveram ainda o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Alceu Moreira (PMDB) e o Secretário Estadual de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano (PMDB), todos da gestão Yeda Crusius.

Todas as licitações importantes de Canoas passavam por Chico Fraga, Secretário-Geral da Prefeitura. A PF apurou ligações estreitas entre Chico a Padilha. Ambos tiveram grande influência no governo Yeda Crusius. E Padilha empregou em seu gabinete, mas lotada em Porto Alegre, a esposa de Chico Fraga, Maria Dolores Fraga.

Essa contratação originou outro inquérito, sobre a contratação da servidora fantasma – divulgada esta semana pela imprensa.

A quadrilha atuou também em obras do Estado. Segundo matéria do jornal Zero Hora, a Secretária Adjunta da Secretaria Estadual de Obras Públicas, Rosi Bernardes, foi apontada como suspeita de repassar informações privilegiadas sobre licitações. O projeto era a principal obra do programa de irrigação do governo do Estado.

A Operação Rodin
Não se ficou no roubo de merenda escolar. As investigações constataram o elo entre a Operação Solidária e a Operação Rodin, que desviou R$ 44 milhões do DETRAN gaúcho.

De acordo com a PF, Padilha e o também deputado Otávio Germano (PP-RS) passaram a Carmino informações privilegiadas sobre recursos do FAT, BNDES e DNIT. E montaram um esquema para desviar recursos das obras do PAC.

Reportagem da IstoÉ, em 25/03/2009, relatava que em uma das conversas Camino dizia a Padilha: "Aquele assunto que nós tratamos na terça feira será viabilizado 100, tá?"

Segundo a PF, a quadrilha se valia de códigos nas licitações para direcionar as obras para empresas ligadas ao grupo.

Em outra conversa, Camino convida Padilha a visitar a empresa e manifesta interesse em licitação na Secretaria de Irrigação.

Segundo alegações dos advogados de Padilha, os R$ 100 mil recebidos seriam provenientes da compra de uma casa e os R$ 267 mil não seriam da MAC mas da Magna (http://migre.me/u9dcx). O argumento era frouxo. A Magna Engenharia também havia sido indiciada pela PF por participação no esquema.

Os diálogos gravados mostravam acertos de Padilha com autoridades estaduais, para direcionar os editais de duas barragens para a quadrilha (http://migre.me/u9dRq).

No dia 14 de fevereiro de 2011 Padilha foi indiciado por crime em licitações e formação de quadrilha, após prestar depoimentos na sede da PF em Porto Alegre (http://migre.me/u9dG6).

O arquivamento das ações
O inquérito terminou anulado no STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto de 2014 porque, ao pedir autorização para o grampo, na 1a Instância, a PF descuidou-se em relação ao foro de Padilha, no cargo de deputado federal.

Padilha assumiu o cargo de deputado em fevereiro de 2007, mas a primeira instância só remeteu o caso ao Supremo em junho de 2008. Devido a esse detalhe, todas as provas colhidas foram anuladas. A autorização teria que ter sido concedida pelo próprio STF. Marco Aurélio considerou que o foro deve ser utilizado inclusive na fase do inquérito (http://migre.me/u9d7X).

Em dezembro de 2014 foi arquivado o segundo inquérito, da contratação da funcionária fantasma.

Uma das medidas propostas pelo Ministério Público Federal visa justamente evitar a anulação completa de processos devido ao chamado “fruto da árvore proibida”.

Consequências
Padilha se safou dos processos meramente por erros processuais.

Mas como fica politicamente? Todas as informações acima foram levantadas da Internet. São informações públicas, que constam de inquéritos da PF, processos do MPF, sentenças do STF, relatórios da AGU.

Padilha não é mais o deputado obscuro montando jogadas e safando-se milagrosamente de processos. Agora, é o homem forte da República. No Executivo, acima dele há apenas o Presidente interino Michel Temer, de quem é carne e unha.

Por suas mãos passam, agora, todas as demandas políticas e ele é a voz de comando sobre todo o Ministério.

Do GGN, Publicado originalmente em 20 de junho de 2016.