segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A capivara do corregedor da UFSC e o estado de exceção

O dossiê dos Jornalistas Livres sobre Rodolfo Hickel do Prado, o corregedor que levou o reitor Luiz Carlos Cancellier ao suicídio, é o mais contundente libelo contra o estado de exceção em vigor no país.
A reportagem mostra o corregedor como uma pessoa totalmente desequilibrada, com uma extensa capivara de abusos, contra condôminos do seu prédio, contra ex-esposas, contra funcionários e alunos da UFSC, um doente social que se valia do fato de ser filho de um oficial da Polícia Militar para toda sorte de abusos.
 Não se trata apenas de um sujeito truculento, mas de um desequilibrado perigoso, que arruinou gratuitamente a vida de inúmeras pessoas. Com diferentes graus de desequilíbrio, não foge muito do arquétipo do moralista revestido de poder de Estado.
No entanto, essa tendência animalesca à destruição de pessoas foi valorizada pela Controladoria Geral da União, e apoiada por uma juíza e uma delegada inebriadas pelo orgasmo da violência de Estado.
Todos aqueles que defendem a universalização da condução coercitiva, que admitem a publicidade de qualquer ato policial, aqueles que, como Luís Roberto Barroso, aderem ao assassinato de reputações para preservar a sua própria reputação, que meditem sobre o Estado que estão criando.
Hickel do Prado seria apenas um truculento a mais, não fosse o poder de Estado do qual foi revestido pelos defensores da exceção.
Confira a matéria completa em  Jornalistas Livres
GGN

Lula já tem quase 60% dos votos do nordeste, diz Ibope

A pesquisa Ibope para 2018, cuja íntegra foi divulgada agora há pouco no site do instituto, revela que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou força em todos os segmentos sociais: em todas regiões, faixas de renda, níveis de escolaridade e idade; no Nordeste, que tem 26% do eleitorado brasileiro, Lula tem 57% das intenções de voto, contra 8% de Bolsonaro e apenas 1% de Alckmin; entre os brasileiros que ganham até um salário, Lula lidera com 49%, contra 5% de Bolsonaro e 5% de Alckmin; esta faixa da população representa 26% do eleitorado; já entre os brasileiros que se declaram negros ou pardos, que representa 60% dos eleitores brasileiros segundo o Ibope, Lula tem 41% das intenções de vota, contra 13% de Bolsonaro e 3% de Geraldo Alckmin; população brasileira responde ao golpe colocando Lula cada vez mais isolado na liderança
O Ibope divulgou nesta segunda-feira, 30, a íntegra da pesquisa contratada pelo jornal O Globo, que mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança isolada para a campanha presidencial de 2018, com 35% de intenções de voto.
Alguns detalhes interessantes revelados pela íntegra da pesquisa mostram que Lula ganhou força em todos os segmentos sociais: em todas regiões, faixas de renda, níveis de escolaridade e idade.
Na região Nordeste, onde Lula realizou uma caravana entre os dias 17 de agosto e 5 de setembro, o líder petista detém na menos que 57% das intenções de voto, contra 8% do deputado Jair Bolsonaro e apenas 1% do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A região Nordeste concentra 26% do total de eleitores do País.
Como lembrou o jornalista Miguel do Rosário, do Cafezinho, entre os brasileiros que ganham até um salário, Lula lidera com 49%, contra 5% de Bolsonaro e 5% de Alckmin. Esta faixa da população representa 26% do eleitorado.
Já entre os brasileiros que se declaram negros ou pardos, que representa 60% dos eleitores brasileiros segundo o Ibope, Lula tem 41% das intenções de vota, contra 13% de Bolsonaro e 3% de Geraldo Alckmin.
No geral, Lula tem 35% das intenções de voto. Nos resultados da espontânea, Lula tem 26% das intenções.
Confira a pesquisa Ibope na íntegra: Clique AQUI. 

 Do 247

Capitão Nascimento, Sergio Moro, Bretas e o sargento da Paraíba, por Armando Coelho Neto

 “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”, disse certa feita Luís Fernando Veríssimo. Se pudesse tentar ir além, eu diria que às vezes, o nome do jornalista que comete o crime de imprensa também. Do mesmo modo, o fato pode ser verdadeiro, embora descontextualizado ou a serviço de golpes de estado. Exemplo: Farsa Jato. Digo isso a propósito de me isentar de alguma responsabilidade sobre o que escrevo. Incrédulo, se eu fosse mais honesto começaria todas as falas com expressões do tipo reza a lenda que...
Fui, com prejuízo, avalista de um aluguel para uma pessoa conhecida, proprietária de uma “lan house” e sorveteria no centro de São Paulo. Eu, que não sou capaz de gerenciar um carrinho de pipoca, seria o proprietário oculto, o que levou a Polícia Federal a bisbilhotar minha riqueza. Tempos depois, eu lá estava, quando baixou a tropa de choque da assassina PM paulista, liderada por um truculento graduado militar, visivelmente inspirado no capitão Nascimento, que parecia fazer sucesso naquela época. Decepcionados com sorvetes, colheres de plástico e casquinhas de waffles, resolveram revistar bolsas e bolsos...
Claro que a truculência foi parar na “serena e imparcial” corregedoria da PM para não dar em nada e ainda ter que ouvir um “aonde o senhor quer chegar com isso?”. A tropa recebeu uma denúncia, deveria fazer o quê? Pergunta que muito a gosto deve ter inspirado um representante da Guarda Metropolitana paulista, que em vídeo declarou que a abordagem de pobre não pode ser igual a de rico e essa é a orientação que dá a seus subordinados. Pode ter inspirado o delegado da Civil que foi procurar droga na casa do filho do ex-presidente Lula e acabou levando computadores e documentos. Portanto, Sérgio Moro já pode até ter mais um papel sem assinatura contra o seu desafeto figadal.
Eis um conjunto inspirador que pode ter servido de mote para o ridículo filme (não vi e não gostei) a “Lei é para todos”, menos para Aécio Neves - bandido de estimação da maioria absoluta da Polícia Federal. Foi nessa onda de inspiração, que durante uma audiência, em Curitiba, os oficiantes da Farsa Jato interpretaram como possível ameaça algumas falas do ex-presidente Lula. O que o senhor quis dizer quando disse isso e aquilo no discurso no lugar tal e tal, perguntou Moro. Em clima de interpretações legais rasteiras, o Ministério Público Federal, para construir a imagem de bandido na figura de Lula, interpretou ações penais legítimas (jus sperniandi) como atos intimidatórios e ameaça.
Voltemos aos jornais e suas datas. Durante uma audiência com o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o juiz Marcelo Bretas sentiu cheiro de ameaça numa fala do réu, que falou de uma suposta loja de bijuterias da mulher do juiz, num contexto em que se falava de joias.  “É no mínimo suspeito e inusitado o acusado, que não só responde a este processo como a outros, venha aqui trazer em juízo informações sobre a rotina da família do magistrado”. Por que jornais? Porque se é verdade o que veicularam, não houve ameaça e mais uma vez impetrou a hermenêutica subjetiva e não me venham dizer que estou defendendo bandido.
Eis que o corporativismo entrou em cena, a associação dos magistrados emitiu nota contra qualquer ameaça a juízes (quem é a favor?). Os mais rígidos observadores do Direito Penal são categóricos no sentido de que, sequer veladamente, o fato configuraria ameaça. Se Cabral precisa ser transferido por razões outras, o juiz da causa escolheu mal o momento. Se o juiz tinha alguma informação de ameaça pessoal, lógico que pegou na palavra no primeiro indício, glamourizando assim, via Rede Globo de Televisão, a audiência com o inimigo público do Rio de Janeiro. 
Esse surto inspirador do subjetivismo do Poder Judiciário causou perplexidade até ao golpismo dos Mesquitas. Em editorial, o jornal O Estado de S. Paulo tratou a postura de Bretas como um exagero - “entrevero menor... inspirado por suscetibilidades pessoais”. Diz ainda que “mesmo excluindo a hipótese mais extrema”, o regime rigoroso da penitenciária de segurança máxima de Campo Grande (MS), “onde se encontram grandes traficantes e líderes de organizações criminosas, prisão federal não se coaduna com o comportamento de Cabral”. Em síntese, alguns olhos parecem se abrir para os descaminhos do judiciário. Inspirado em quem?
Pois bem. Li recentemente que uma estudante do Curso de Letras da Universidade Estadual da Paraíba (Guarabira) escreveu no mural daquela instituição de ensino a seguinte frase: “Seja marginal, seja herói”. A frase é de Hélio Oiticica, fruto de uma série de trabalhos da década de 60/70, que ficaram conhecidos como marginalia. O autor morou na Mangueira, onde viviam também marginais. Ele descobriu um olhar artístico fora do conceito elitizado de cultura. Do plástico ao escrito, havia marcas da violência, crítica e contraponto aos conceitos de então. Chegou-se a falar em arte e cultura na idade da pedrada...
Um policial militar do 4° Batalhão local não gostou da frase e apagou. Ao se deparar com a estudante tentando reescrever, deu voz de prisão por apologia ao crime e dano ao patrimônio público. Ao interceder em favor da jovem, o diretor do Centro de Humanidades também foi enquadrado. A reportagem de 27/10 não fala a patente do policial, mas pela pujança judicante é de se concluir ter sido um sargento...
Ironias à parte, a onda de autoritarismo e de militância subjetivista vem se intensificando. Faz parte da síndrome de ativismo político-judicial, de forma que cada um, em sua esfera de “poder”, quer mostrar seu engajamento com a gelatinosa síndrome “sejumoriana”. O mais grave é que a ela está se somando a cada dia à burrice, à mesma ignorância que imperou entre os adoradores de pato, das panelas silenciosas e que hoje protestam contra museus...
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo



Armando Coelho Neto - Jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

GGN

Porque será que a Globo escondeu o Ibope? Seria para esconder também o resultado ruim de seu pupilo Luciano Huck

Em condições normais, o jornal O Globo teria feito estardalhaço com a sua primeira pesquisa Ibope sobre sucessão presidencial, em que o ex-presidente Lula aparece com chances de vencer a fatura já em primeiro turno; no entanto, como a Globo promove há mais de três anos uma guerra contra Lula que conseguiu arrasar a economia brasileira, a pesquisa foi escondida numa nota lateral na capa do jornal; outro motivo para noticiá-la de forma discreta é o baixo desempenho de Luciano Huck, o candidato de laboratório que a emissora dos Marinho tenta fabricar para governar o Brasil sem intermediários; como dizem os jovens, deu ruim para a Globo
Deu ruim para a Globo, que encomendou sua primeira pesquisa Ibope sobre sucessão presidencial.
Nela, o ex-presidente Lula aparece com chances de vencer a fatura já em primeiro turno (leia aqui). 
Além disso, o apresentador Luciano Huck, candidato de laboratório que a emissora dos Marinho tenta fabricar para governar o Brasil sem intermediários, teve fraco desempenho e apareceu com apenas 5%.
Sobre o projeto da Globo para viabilizar um presidenciável, vale a pena conferir o que disse Lula em sua caravana, na etapa mineira. "Eu vou estampar na testa dele o logotipo da Globo e vou ganhar dele", afirmou (leia aqui).
Como a Globo promove há mais de três anos uma guerra contra Lula que conseguiu arrasar a economia brasileira, mas não destruiu seu adversário político, a pesquisa foi escondida numa nota lateral na capa do jornal.
Um vexame editorial. Mais um.

 247

Desordem Constitucional, Constituinte Exclusiva e Lula, por Aldo Fornazieri

O golpe político que derrubou a presidente Dilma, a sucessão de omissões do STF e a sua desastrada decisão de abrir mão de ser a última palavra no controle da Constituição e em matéria penal levaram o Brasil à mais grave desorganização constitucional desde a redemocratização. Políticos golpistas e ministros do STF, alguns igualmente golpistas e outros covardes e medíocres, produziram esse destroçamento da Constituição.
​As recentes salvações de Aécio Neves e de Michel Temer expressam o absurdo a que se chegou na destruição moral e constitucional do país. A rigor, o STF, o Senado e a Câmara dos Deputados decidiram que é legal que o Brasil seja governado por criminosos e que criminosos podem permanecer em seus cargos até o final de seus mandatos. E, se forem reeleitos ou eleitos para outros cargos, podem continuar isentos do alcance da mão da Justiça. A mesma mão da Justiça que pude os pequenos, os ladrões de galinha, e que tem um viés vingativo contra negros e pobres e outras minorias, e que acaricia os criminosos de colarinho branco e os políticos corruptos e quadrilheiros, acumpliciados com juízes e ministros do STF.
A desordem constitucional chegou a tal ponto que um dos princípios fundantes das repúblicas modernas foi destruído: a Corte Constitucional já não é mais a última palavra e o poder político é um poder supremo, com prerrogativa pronunciar a última sentença quando se trata de crimes de seus membros. Com as recentes decisões do STF, do Senado e da Câmara, deu-se validez à seguinte possibilidade anti-republicana: um presidente honesto e correto, que não tenha maioria parlamentar e que não cometeu nenhum crime pode ser derrubado pelo desastroso mecanismo do impeachment e, um presidente criminoso, denunciado inúmeras vezes, pode continuar como presidente, desde que compre seu mandato obtendo maioria parlamentar. Esta situação é vergonhosa e indigna de uma democracia e de uma república. É esta situação que o Brasil está vivenciando hoje.
O STF tornou-se a casa do arbítrio jurídico, da anarquia constitucional e da indecência moral de alguns de seus ministros. Por meio de sofismas baratos e sem rubor e nem vergonha, os ministros desdizem hoje o que disseram ontem. Aplicam decisões diversas para casos da mesma natureza e julgam aqueles que assessoram e servem, como é o caso notório de Gilmar Mendes, conhecido como conselheiro noturno de Temer e estafeta de Aécio Neves.
O STF é a casa da mãe joana, hoje presidido por uma carmen vai com os outros. Cada um decide ao sabor de seu arbítrio, de suas cumplicidades e de seus interesses, e menos ao sabor da Constituição. Decide por liminares, não decidindo em última instância. É a casa das protelações, da impunidade, do albergue de bandidos de alto coturno. É o antro da permissividade que abriu mão da prerrogativa de proteger a Constituição, deixando-a desprotegida e desguarnecida, o que leva o próprio país à deriva.
Por uma Constituinte Exclusiva e Soberana
O Brasil precisa de uma Constituinte Exclusiva com urgência para restabelecer ou estabelecer uma nova ordem democrática e republicana. A relação de equilíbrios, pesos e contrapesos precisa ser redefinida de acordo com os princípios do Estado Democrático de Direito, da Constituição limitada e do controle constitucional sobre o poder político. A excrescência anti-republicana do Foro Privilegiado precisa ser eliminada. Os fundamentos do sistema judicial e processual precisam ser revistos para impedir que um juiz, a exemplo de Sérgio Moro, tenha o poder absoluto de investigar e julgar, de ser o acusador e o emissor de sentenças.
A Constituição reformada, além de expressar uma nova ordem republicana, precisa abrigar uma concepção de democracia como justiça e igualdade, precisa remover os entraves que consagram a ignominiosa desigualdade de fato e perante a lei, consagrando comandos que permitam levar o Brasil e um desenvolvimento conjugado com a dignidade humana e um efetivo equilíbrio socioambiental. A Constituição que emergir da Constituinte exclusiva precisa ser levada ao referendo popular, pois isto nunca aconteceu no Brasil. Sem o referendo popular da Constituição o povo não será soberano e o poder carecerá de legitimidade.
A candidatura Lula
As pesquisas do Ibope e do instituto Ipsos, divulgada no final de semana, confirmam a liderança de Lula na corrida eleitoral e ascensão de sua respeitabilidade e credibilidade. As lembranças de seu governo em contraste com o desastroso e anticivilizatório do governo que está aí, a autenticidade popular de sua liderança, a falta de provas das acusações lançadas contra ele, a ação persecutória da Lava Jato e a saciedade que as acusações provocaram na opinião pública são fatores que fazem a sociedade rever o seu juízo acerca do ex-presidente.
Mas a possibilidade da candidatura Lula ser barrada pela Justiça não está produzindo as consequências necessárias nos setores democráticos e progressistas, nos movimentos sociais, nos partidos de esquerda e, principalmente, no PT. Independentemente de que se venha votar ou não em Lula, o fato é que o direito à sua candidatura é uma questão democrática crucial para o futuro da democracia. Este entendimento parece fraco na sociedade e mesmo no PT. Pensa-se que se Lula não for candidato, surgirá um plano B qualquer.
A única ação efetiva que está ocorrendo, são as caravanas de Lula. Mas isto é insuficiente. O PT, os partidos progressistas e de esquerda e os movimentos sociais deveriam desencadear uma mobilização nacional pelo direito à candidatura de Lula, criando uma base organizada  para dar-lhe sustentação. Caso contrário, se a Justiça decretar o impedimento da candidatura, o que se verá será a mesma passividade que se viu o processo do impeachment, que se viu na votação da reforma trabalhista e que se viu nas decisões acerca das denúncias contra Temer. Será uma nova derrota histórica das esquerdas e da democracia.
Os progressistas e as esquerdas deveriam se organizar para levar o país a um impasse político caso a candidatura seja barrada. Mas para isto é preciso coragem, liderança, clareza estratégica e organização. Argumentos não faltam: ilegalidades de Sérgio Moro e da Lava Jato, condenação sem provas, perseguição política, desordem constitucional do país, omissão e conivência do STF e de outros tribunais superiores com as arbitrariedades de Moro e da Lava Jato etc.
Diante das arbitrariedades e dos desmandos legais e constitucionais, não se pode aceitar o impedimento da candidatura Lula. Ela se entrelaça com a necessidade da reorganização constitucional do Brasil por meio de uma Constituinte Exclusiva. O direito à candidatura precisa ser sustentado e garantido pelas mobilizações da sociedade e pelos protestos de rua. Se os progressistas, as esquerdas e o PT forem consequentes e corajosos ou arrancarão uma vitória sobre este último ato do golpe ou levarão o país para um impasse a para a desobediência civil. Neste ponto não há meio termo, nem tergiversações e nem protelações. Nele se decidirá não só o futuro dessas forças, mas também o futuro da democracia e do Brasil.

Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

GGN

A máfia das falências do Paraná, por Luis Nassif

No segundo artigo da série sobre a Indústria da Delação Premiada, foram citados dados sobre uma máfia das falências que atuou por anos no Paraná.
Depois disso, recebemos informações sobre a amplitude do esquema. Segundo a reportagem “PF investiga a máfia das falências no PR”,
​Segundo a reportagem: “O teor das conversas entre advogados e magistrados chamou a atenção da PF, da Corregedoria e do Ministério Público. O tom de amizade entre advogados e desembargadores sugere a existência de um conluio. E o receio de magistrados de conversar por telefone, sugerindo encontros reservados, reforçou a suspeita”.
A matéria é de 2013. De lá para cá, pouco se soube. 
Segundo informações que chegaram, os maiores escândalos envolveram as seguintes massas falidas:
Consórcio Garibaldi, do notório Toni Garcia.
Dela Química;
Gronal, empresa têxtil;
Moinho Graciosa;
Tip Top Alimentos.
Quem tiver informações sobre o caso, poderá enviá-las pelos comentários ou então pelo e-mail repauta@jornalggn.com.br, devidamente assegurado o sigilo de fonte.
GGN

domingo, 29 de outubro de 2017

Há meio ano, Rodrigo Maia segura pedido de impeachment de Temer que continua sem definição, por Janio de Freitas

Rodrigo Maia sentou em cima de um pedido de impeachment de Michel Temer, com a chancela da OAB, há meio ano. Quando vai apreciar? A cobrança é de Janio de Freitas, na Folha, que aponta o erro de tal decisão estar a cargo de uma única pessoa, o presidente da Câmara. Mesmo erro apontado por ocasião do impeachment de Dilma, em que a decisão estava nas mãos de um único interessado, Eduardo Cunha.
Janio aponta que o desempenho de Maia, desde tornado presidente da Casa, tem sido surpreendente, sem espalhafato midiático, dentro da Constituição e do Regimento da Câmara. Afirma que isso o fez crescer muito como político, mas que a apreciação do pedido de impeachment o coloca em evidência, com dever de desenterrar a ação contra o governante mais rejeitado do mundo e que sem mantém no cargo e no poder ao custo de dezenas de bilhões do dinheiro público.
O que virá agora com este pedido sendo apreciado? O que fará maia com um governante nas condições de Temer? Há mais que um Temer, todo um povo clama por um Fora, Temer!
Leia o artigo a seguir.
na Folha
por Janio de Freitas
Nem Michel Temer ficou livre do risco de destituição, nem esse risco depende da Procuradoria-Geral da República recém-reformada, e ainda cinzenta sobre acusações criminais que ele e seus controlados na Câmara não desmontaram. Há quase meio ano, um pedido de impeachment de Temer, com a chancela da OAB, aguarda a definição do seu destino, entre a apreciação e o arquivamento.
Por um dos muitos erros de procedimentos institucionais, essa definição está a cargo de uma só pessoa, o presidente da Câmara. Para Eduardo Cunha, no caso de Dilma Rousseff, foi fácil a decisão: bastou a recusa da presidente à chantagem de acionar o PT para defendê-lo da destituição, ou daria andamento ao impeachment presidencial. Para Rodrigo Maia, a decisão é um problema funcional e uma encruzilhada política.
O desempenho de Maia tem surpreendido mesmo entre seus colegas. Até agora, manteve-se com rigor, e sem espalhafato midiático, nos limites da Constituição, do Regimento da Câmara e do uso da autoridade. Cresceu muito como político, um salto da zona sombria para o nível pouco habitado das vozes procuradas –nem todas por boas qualidades.
Os meses em que Maia retém a iniciativa da OAB coincidem com a conveniência de não sobrepor, por seu efeito tumultuoso, duas ações contra Temer, sendo a outra a da Procuradoria-Geral da República. Esta, porém, foi vencida. E Rodrigo Maia deve a decisão pendente.
Quem está em jogo nessa decisão é o político agora honrado com a classificação de governante mais rejeitado do mundo. E olha que a consultoria internacional Eurasia deu a Temer 7% de aprovação, explicados como índice obtido na pesquisa CNI/Ibope. Nesta, porém, a aprovação de Temer está em 3%, e no Datafolha em 5%. Mesmo com o índice caridoso, Temer está longe dos 18% de aprovação do segundo pior, Jacob Zuma, da África do Sul. Nicolás Maduro, com 23%, tem mais de três vezes a aprovação de Temer.
Um governante com 3% ou 5% de aceitação tem, na prática, a unanimidade do país contra sua presença no cargo que não usa. Ou só usa em seu proveito, seja para atividades que o põem sob acusações de crimes de corrupção e formação de quadrilha. Seja para a imoralidade criminosa com que usa cargos e verbas públicas na compra de deputados que protelem os processos criminais. Operação em que foi exposta uma falta de escrúpulos como jamais vista em governos deste tão pouco servidos de escrúpulos.
Por duas vezes, ao custo de dezenas de bilhões do dinheiro público, Temer reteve na Câmara a ação que o retiraria da Presidência. O que fará, na terceira ocasião ameaçadora, para que Rodrigo Maia reproduza o que antes coube ao plenário de metade comprada? E o que fará Rodrigo Maia com um governante nas condições policiais, judiciais, imorais e repelido nacionalmente como Temer?
O pretexto das reformas, em favor de Temer, está eliminado pelo próprio Rodrigo Maia e por Eunício Oliveira: os presidentes da Câmara e do Senado reiteraram com ênfase, ao final da semana, não haver condições para que o Congresso venha a aprovar reformas. Além de mais um desmentido ao que estão dizendo Temer e Henrique Meirelles, que anuncia aprovações dentro de uns 30 dias, os dois presidentes declaram a plena inutilidade de Michel Temer mesmo para os que o amparam por esperança em reformas.
No jogo a ser decidido pelo presidente da Câmara há mais do que Michel Temer. Há também a imagem feita por Rodrigo Maia, com o desempenho na crise, e sua relação com o povo que pede "Fora Temer!". 

GGN

Lula vai a 35% e vence todos adversários, diz nova do Ibope

Uma nova pesquisa presidencial feita pelo Ibope confirma: se as eleições fossem hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria novamente eleito presidente da República.
Em qualquer cenário apresentado ao eleitor, Lula fica com o mínimo de 35% e o máximo de 36% das intenções de voto. O o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece em segundo lugar, com 15%, enquanto Marina Silva, da Rede, tem 11%.
Em terceiro lugar; tanto os candidatos tucanos Geraldo Alckmin e João Doria, assim como o apresentador Luciano Huck, nome de laboratório que vem sendo preparado pela Globo, têm percentuais ao redor de 5%. Sem Lula, quem mais se beneficia é Ciro Gomes, que vai a 11%.
Abaixo, mais informações: Explica a coluna de Lauro Jardim no Globo.
Lula e Jair Bolsonaro iriam para o segundo turno se as eleições presidenciais fossem hoje. É o que mostra a primeira pesquisa feita pelo Ibope para medir o pulso da corrida presidencial de 2018.
Em qualquer cenário apresentado ao eleitor, Lula fica com o mínimo de 35% e o máximo de 36% das intenções de voto. Bolsonaro aparece com 15% quando enfrenta Lula. E cresce para 18% se o ex-presidente for substituído por Fernando Haddad (neste caso, está empatado com Marina Silva).
A pesquisa foi feita entre os dias 18 e 22, com 2.002 pessoas em todos os estados brasileiros, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Marina Silva é a terceira colocada em qualquer cenário com Lula, com índices entre 8% e 11%, dependendo dos adversários. Se Lula ficar de fora, Marina lidera, empatada com Bolsonaro.
Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e João Doria surgem embolados num pelotão abaixo, com percentuais entre os 5% e 7%. Ciro sobe até os 11% quando Lula é substituído por Haddad (que tem a preferência de 2%).
Quando o Ibope não apresenta ao entrevistado uma cartela com os nomes, ou seja, a citação sobre o candidato é espontânea, Lula aparece com 26% das intenções de voto (no Nordeste tem 42%) e Bolsonaro com 9%.
O pelotão seguinte fica muito distante entre 2% (Marina) e 1% (Ciro, Alckmin, Dilma, Temer, Doria).
PS: o nome de Luciano Huck foi testado. Ele aparece com 5%, empatado com Doria e Alckmin, na disputa com Lula. Sem Lula, vai a 8%, também junto com os colegas tucanos
Do 247

sábado, 28 de outubro de 2017

A república dos golpitas ou o reino absoluto da esbórnia, por J. Carlos de Assis

Não temos mais crise no país, e sim a  esbórnia, a putaria, o salve-se quem puder. Michel Temer conseguiu misturar seus odores putrefatos de criminoso comum com o fedor condescendente da maioria do Congresso. Mas não é tanto isso que importa. Importam, sim, a exibição  da utilização abusiva da máquina pública para comprar votos com cargos de governo, ministérios, emendas parlamentares, tudo para impedir a investigação criminal, tudo apresentado pela indefectível Rede Globo como atividade política normal.
Afinal, o que é obstrução da Justiça? Não seria obstrução de Justiça a compra de votos na Câmara para impedir a investigação dos crimes de Temer denunciados pela Procuradoria Geral da República? Onde está a corporação de juízes e de promotores, tão prontos a se insurgirem com veemência contra o projeto de lei do abuso de autoridade, quando se revelam cinicamente indiferentes ao crime que se comete contra o povo e contra a Nação nesse espetáculo dantesco de carnificina de todos os valore s da República? Há maior abuso de poder do que o feito por Temer na despudorada compra de votos na Câmara?
A permanência de Temer é um risco para a Nação porque no curto período que lhe resta ele pode vender a mãe para atender os interesses das multinacionais do petróleo e da energia, como está acontecendo neste momento com o pré-sal, ou os interesses do “mercado”, como é o caso da Previdência. Nossa esperança é que a pequena rebeldia observada na Câmara sinalize um limite para as ações da quadrilha do Planalto. Se isso acontecer, a eventual saída, cassação ou impeachment  são indiferentes. Nos encontraremos com a quadrilha em 2018 com boas perspectivas.

A política, arte de organização dos homens e da Nação, é a mais nobre das atividades. Mas quando ela cai nas mãos de quadrilheiros toda a moral pública desaba. Roubar, agredir, matar, mentir, manipular, desconhecer critérios de educação e perder o sentido de solidariedade, tudo passa a ser lugar comum, ou normal. Nesse contexto, floresce o neoliberalismo - ou simplesmente liberalismo (como costuma de corrigir o senador Roberto Requião) -, quando se entende a liberdade como ausência de limites. A isso se contrapõe a democracia, situação em que a sociedade, desde que ausente a manipulação da mídia, estabelece os próprios limites. É essa liberdade democrática que está sendo degradada na era Temer. Estamos no jogo duro em que as classes dominantes e as elites dirigentes não tem qualquer limite na sua atuação, exceto o que se pode esperar da incipiente rebeldia de parte da Câmara e do Senado ou o que vier a ser imposto nas eleições dos próximo ano.
GGN

Gilberto Kassab está destruindo o sistema de inovação e metrologia do país, por Luis Nassif

Duas das mais relevantes instituições brasileiras, na área de tecnologia, estão sendo destruídas pela organização criminosa alçada ao poder: a CEITEC e o Inmetro. E esse crime contra o futuro está sendo aceito passivamente pelas duas organizações que garantiram a ascensão desse grupo ao poder: mídia e Ministério Público.
CEITEC
A CEITEC começou suas operações em 2011, sendo incumbida de fabricar semicondutores brasileiros. A fábrica foi instalada no Rio Grande do Sul e encara como empresa estratégica.
Durante os Governos Dilma Rousseff a empresa foi protegida de nomeações eminentemente políticas, apesar de tentativas de várias correntes partidárias de indicarem correligionários para lá, inclusive do PMDB (leia-se Eliseu Padilha).
Assim que mudou o governo e o Ministério da Ciência e Tecnologia foi assumido por Gilberto Kassab, começou o desmonte. O comando da CEITEC foi entregue ao seu correligionário do PSD gaúcho, Darlei de Deus Hinterholz, ex-goleiro do Grêmio.
Totalmente jejuno em temas tecnológicos, Darlei levou dois meses para encontrar alguém nomeáveis para a presidência da empresa. Apelou então para os profundos conhecimentos de seu chefe de gabinete, o Joca, que tinha socirdade como uma pequena firma de informática de um certo professora da Universidade Federal de Santa Catarina, de nome Paulo de Tarso Mendes Luna.
Em setembro de 2016 Paulo Luna tomou posse da presidência da CEITEC, substituindo uma das maiores autoridades em semicondutores do país, Marcelo Lubaszewski. Mais um mês para tomar pé e começam as mudanças para acomodar a turma do deputado.
O Ministro Eliseu Padilha emplacou o diretor mais poderoso, após o presidente: Luiz Fernando Salvatore Zacchia, que já foi preso devido a irregularidades que cometeu à frente do DETRAN gaúcho no governo Yeda Crusius.
A tal Lei das Estatais, anunciada com alarde pelo governo Temer, assim que assumiu, foi substituída pela lei Eliseu Padilha.
Com os dois cargos principais sob controle, o aparelhamento foi rápido. Paulo Luna já enfiou no CEITEC quase trinta pessoas, de “soldados rasos” (Salários de R$ 8 mil) a alto comando: dois superintendentes técnicos, com salários de R$ 31 mil por mês e outros, na faixa de R$ 15 mil.
Curiosamente, o deputado goleiro votou duas vezes contra o presidente Michel Temer, nas duas denúncias.
Esse quadro dantesco é de responsabilidade do Ministro Kassab, que assumiu um mega ministério, decorrente da fusão de dois Ministérios, com 29 estatais sob sua guarda.
O Inmetro
O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia) é peça chave em todo processo de normatização do país. Cabe a ele aferir de postos de gasolina a balanças industriais, de produtos de exportação a brinquedos.
Nos últimos anos, foi submetido a um esvaziamento. Agora, o novo presidente Carlos Augusto de Azevedo, também indicado por Kassab, envolveu-se em operações suspeitas. Em julho, a Controladoria Geral da União (CGU) identificou irregularidades na contratação de terceirizados. Com uma empresa do setor de limpeza e manutenção, a Cardeal Gestão Empresarial de Serviços, assinou um acordo no valor de R$ 3,3 milhões, sem justificativa.
Internamente, fiscais do Inmetro estão reduzindo a assinar contratações de terceirizados, por suspeitas de irregularidade, segundo o boletim Relatório Reservado.
No próximo ano, grande parte dos 40 laboratórios do Inmetro serão submetidos à avalaição quadrienal do Bureau International de Poids et Mesures (BIPM). Há grande possibilidade de que, nessa fiscallização, seja constatado o colapso do sistema de rastreabilidade dos padrões brasileiros de pesos e medidas.
Se o diagnóstico for de “não conformidade” para o Inmetro, comprometerá todo o sistema de exportaçlões brasileiro, de manufaturados ao agronegócio. O laudo do BIPM é a lei para os 58 países que integram o Bureau.
Segundo fontes ouvidas pelo boletim, "dos mais de 3,5 mil serviços prestados pela Inmetro, aproximadamente dois mil estão suspensos. No Laboratório de Metrologia Óptica, várias atividades foram paralisadas pela proliferação de fungos nas lentes. O Laboratório de Elétrica tem diversos medidores fora de uso. Mais grave ainda é a situação do Laboratório de Massas, que dá rastreabilidade aos padrões de referência nacionais. Vários serviços de medição tiveram de ser suspensos por conta da elevada umidade no local”.
O Inmetro é uma autarquia que cobra por seus serviços. Este ano, deverá faturar R$ 1 bilhão. Mas sua dotação orçamentária não passa de R$ 400 milhões, que estão sendo alvos de ataques por parte dos políticos. 

GGN

Prédios do Instituto Chico Mendes e Ibama são incendiados em Humaitá no Amazonas

   Prédios do Instituto Chico Mendes e Ibama são incendiados no Amazonas 
Os prédios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidde (ICMBio) e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram incendiados em Humaitá, no Amazonas, nesta sexta-feira, dia 27. Um grupo de garimpeiros é suspeito do ato criminoso.
O crime aconteceu após deflagração da Operação Ouro Fino, uma ação conjunta do Ibama e ICMBio, na quarta-feira, dia 25. A ação fiscaliza a extração ilegal de ouro no Rio Madeira. Até agora, 37 balsas de garimpeiros foram apreendidas. Os garimpeiros protestaram contra a ação e contra o fato de algumas balsas terem pegado fogo, daí invadiram e incendiaram os prédios.
A Força Nacional tentou conter os manifestantes, e houve confronto. Eles estão na cidade para acompanhar a Operação, em apoio ao Ibama.
Os manifestantes também invadiram o prédio do Incra, onde funciona o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), sendo contidos. Como não conseguiram seu intento, atearam fogo em veículos que estavam na área.
Segundo o G1, os garimpeiros culparam o grupo de agentes da Operação Ouro Fino pelo fogo nas balsas. O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Aldo de Campos Costa, que acompanha a situação no local, afirmou que os órgãos ambientais atuaram dentro da legalidade.
"No início e durante a operação o Ibama agiu estritamente dentro da legalidade, no exercício do poder de polícia que é atribuído ao órgão ambiental (...). Em momento algum houve incêndio provocado pelos órgãos ambientais. O que ocorreu foi o desmonte e apreensão de balsas que estavam posicionadas irregularmente na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Madeira", declarou ele ao G1.
Em entrevista ao G1, o procurador reforçou que a atividade realizada por garimpeiros no Rio Madeira é ilegal. "Houve uma retaliação a uma operação legítima e legal dos órgãos ambientais. O Rio Madeira está sendo alvo de uma atuação, por parte desses garimpeiros, bastante nociva e há muito tempo, o que tem ocasionado sérios prejuízos ao meio ambiente. Eles têm ciência de que é uma atividade irregular. Mais do que isso, é uma atividade criminosa", afirmou.
O procurador afirmou que os responsáveis pela depredação estão sendo identificados e serão processados, e podem, se condenados, cumprir pena de até três anos de detenção por dano ao patrimônio da autarquia. 
Fotos: Raolin Magalhães/Rede Amazônica

GGN

O elo entre a indústria da delação premiada e a máfia das falências no PR: a mulher de Moro, por Joaquim de Carvalho

Esta é a terceira reportagem da série sobre a indústria da delação premiada na Lava Jato, feita em parceria entre o Jornal GGN e o DCM e financiada através de crowdfunding. As anteriores estão aqui. Fique ligado.
Rosângela Moro e o marido, Sergio
Rosângela Maria Wolff de Quadros Moro é conhecida por sua atuação em defesa da APAE do Paraná, a ponto de ela mesma se anunciar em uma audiência pública no Congresso Nacional como representante do então vice-governador do Estado, Flávio Arns, do PSDB, que era (e é) presidente da federação das associações no Estado.
Isso antes da fama do marido, Sergio Moro.
Com a fama dele, a partir de 2014, alçado à condição de herói da Lava Jato, Rosângela também se tornou conhecida em promover o marido — criou no Facebook a página Eu MORO com ele, em que reproduz matérias elogiosas.
Pouco se sabe da atuação de Rosângela no sentido estritamente profissional do direito.
Ela apareceu na lista de advogados a quem o doleiro Rodrigo Tacla Durán fez pagamentos por serviços (não especificados) prestados, teve seu nome divulgado no site do escritório de um amigo de Moro, Carlos Zucolotto Júnior, como profissional da sociedade. Mas, no cadastro nacional da OAB, aparece como integrante de outro escritório de Curitiba, o Andrade Maia.
Ao portifólio particular de Rosângela, podem-se acrescentar serviços prestados também à família Simão, apontada em uma CPI de 2011 como integrante da Máfia das Falências do Estado, uma organização que se desenvolveu no seio do Poder Judiciário do Paraná.
Quem estava na linha de frente da defesa da família Simão é Marlus Arns, sobrinho do ex-vice-governador Flávio. A mulher de Moro também aparece como advogada de uma das massas falidas administradas pela família Simão, só que com menor destaque do que Marlus. É a da GVA, fabricante das famosas placas madeirit.
A GVA, ao quebrar, deixou as páginas de economia para entrar nas de polícia.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Guarapuava, no interior do Paraná, Sirlei César de Oliveira, se lembra bem do caso da GVA, até porque até hoje luta para que os trabalhadores recebam algo das verbas rescisórias.
Marlus Arns
“Ninguém recebeu nada. A verba está depositada em juízo, mas eles não têm interesse em buscar a solução. Enquanto isso, vão administrando os bens e desviando o dinheiro que entra”, afirma.
O esquema da Máfia das Falências, revelado pela CPI, é engenhoso.
Pelas contas do então deputado estadual Fábio de Souza Camargo, presidente da CPI, pelo menos R$ 400 milhões foram desviados de empresas que quebraram e deveriam ser usados para o pagamento do Fisco, trabalhadores e credores.
A CPI foi encerrada antes do relatório por decisão da Justiça, mas Fábio e alguns deputados continuaram a investigar, com audiências públicas pelo interior do Estado, onde a máfia deixou rastro. Uma dessas audiências foi em Guarapuava, cidade da GVA. Marlus representou a família Simão.
Cobrado por não ter pago os trabalhadores, o advogado fez uma acusação séria. Disse que o sindicato tinha recebido honorários no valor de R$ 1,1 milhão, como adiantamento por honorários devidos — 10% sobre o valor da dívida total.
“Era mentira. O sindicato teria, sim, direito a honorários, mas assim que todas as verbas fossem quitadas, ou seja, 10% do total de R$ 11 milhões”, disse ao DCM.
Alguns meses depois de instalada, a CPI foi proibida de continuar funcionando pelo Tribunal de Justiça do Paraná, a pedido da Associação dos Magistrados do Estado. Na ação, a AMAPAR afirmou que agia em nome dos juízes de sua base, que estariam se sentidos ameaçados pelos parlamentares.
A AMAPAR não apresentou os nomes desses juízes. Ainda assim, como entidade de classe, teve o pedido de encerrar a CPI aceito pelo tribunal.
O argumento da associação é que a CPI foi criada sem que houvesse fato determinado que justificasse sua instalação. Para o presidente da Comissão, Fábio de Souza Camargo, era um pretexto. A CPI, segundo ele, estava chegando ao coração de uma verdadeira máfia.
Filho de um ex-presidente do Tribunal, desembargador Clayton Camargo, e irmão de uma juíza que atuava na vara de falências, Fábio disse que, ao contrário do que imaginava no início, a máfia não estava fora do Judiciário.
“Não era um esquema qualquer. Fosse um esquema montado com o fim exclusivo de fraudar os juízes e o Judiciário, um esquema ‘de fora para dentro’, ele já teria sido desmantelado. Ficou claro para mim, cada vez mais, que o esquema é de ‘dentro para fora’, ou seja, os operadores reais estão dentro das entranhas do TJPR”, escreveu ele, no livro “Poder, Dinheiro e Corrupção – Os Bastidores da CPI das Falências”.
Fábio diz que o livro, escrito e editado por ele, foi a alternativa que encontrou para revelar o que havia apurado na CPI. A obra chegou a ser proibida pela Justiça, e recolhida das livrarias, mas ainda assim é possível encontrar exemplares em alguns estabelecimentos.
Para esta reportagem, comprou-se um exemplar numa livraria da Universidade Federal do Paraná.
Rosângela Moro aparece como advogada da massa falida da GVA em pelo menos seis ações trabalhistas. Segundo o deputado Fábio, a contratação de advogados, com honorários a peso de ouro, era uma das formas utilizadas pela máfia para desviar recursos das massas falidas.
Não se pode afirmar que este tenha sido o caso de Rosângela.
“Nós chegamos a bloquear alguns pagamentos de honorários”, recordou o presidente do sindicato dos trabalhadores, que se lembra de Marlus, mas não de Rosângela.
“Era o Marlus que comandava toda a assessoria jurídica da família Simão, informou o sindicalista. Segundo a CPI, Marlus respondia ao mesmo tempo pela assistência jurídica da massa falida da GVA e também da Gran Comp Insumos e Compensações, uma das empresas que celebraram contrato de arrendamento da massa falida, a preço vil, segundo o deputado.
O conflito de interesses era evidente.
O então deputado Fábio Camargo autografa seu livro, recolhido pela Justiça
Marlus estava no dois lados do balcão e, mais tarde, a polícia civil descobriu que a arrendatária representada por Marlus nos negócios jurídicos tinha como proprietário um motorista, possivelmente laranja da família Simão.
Massa falida, arrendatária e advogado formavam um bolo só.
Rosângela advogar para uma quadrilha que fraudava a administração de massas falidas não é, em si, crime. Advogados costumam trabalhar para pessoas acusadas de ultrapassar a linha da legalidade.
O problema está na sua relação com Marlus Arns. Criminalista, Marlus se tornou um dos principais advogados das delações premiadas homologadas por Sergio Moro, na Justiça Federal.
Ele entrou para esse ramo mesmo depois de criticar, publicamente, o expediente.
Segundo a Folha de S.Paulo, Arns criticava o instituto da delação premiada nas aulas que dava na Academia Brasileira de Direito Constitucional.
Arns se tornou especialista em delação sem ter conhecimento específico nesse tipo de negociação — como, de resto, ninguém tem —, assim como foi advogado de administradores de massa falida mesmo tendo como especialidade o direito criminal.
O que pode explicar o destaque de Arns tanto em uma quanto em outra especialidade é as relações que possui.
Marlus defende as APAEs em diversas ações no Tribunal de Justiça de Justiça. Não custa lembrar: a responsável pela procuradoria jurídica da Federação da APAE, presidida por Flávio Arns, é Rosângela.
O elo não termina aí. O irmão de Marlus, Luiz Carlos, é dono de um curso de especialidade em direito à distância, onde pelo menos um integrante da Força Tarefa da Lava Jato deu aula.
Com a revelação de que Marlus atuou na linha de frente da defesa de integrantes da Máfia das Falências e Rosângela Moro foi um das advogadas contratadas, o juiz Sergio Moro fica numa situação, no mínimo, incômoda.
O que o deputado Fábio Camargo descobriu e publicou em seu livro é que a Máfia das Falências teve origem na prática de indicar sempre os mesmos advogados para gerir as massas falidas — com ações que, segundo ele, consistiam em lesar credores, trabalhadores e o Fisco.
O deputado apontou cinco escritórios que controlavam a maior parte das massas falidas em todo o Estado — a família Simão, à qual Marlus era ligado, tinha o maior número.
Com as delações premiadas, acontece a mesma coisa.
Basta olhar para o quadro de advogados que têm sido bem sucedidos nas delações em Curitiba para descobrir que eles se contam nos dedos de uma única mão.
Marlus estava fora desse clube fechado até que Beatriz Catta Preta, de São Paulo, desistiu da Lava Jato depois de costurar a maior parte dos acordos.
Alegando ameaças, disse que deixaria o Brasil. Chegou a anunciar Miami como seu novo endereço, mas é vista em São Paulo e, segundo advogados, até atende alguns clientes.
O clube restrito de especialistas em delação lembra o das falências, mas isso não significa que, na Justiça Federal, haja práticas criminosas.
Para afastar esse risco, advogados entendem que seria prudente abrir a caixa preta das delações e definir um protocolo de acordos, com regras claras e transparência, para que amanhã não se descubra que o instituto foi excelente para advogados que buscam fortuna e péssimo para a Justiça.
Depois de aparecer na Máfia das Falências, os Simão protagonizaram outro escândalo. Fábio Zanon Simão, irmão de Marcelo, era alto funcionário do Ministério da Agricultura desde 2015, por indicação do PMDB, e foi preso na operação Carne Fraca.
A acusação contra ele: cobrar propina para conseguir facilidades no Ministério da Agricultura.
Em 2015, quando foram divulgadas por blogs uma suposta ligação de Rosângela Moro com o PSDB, ela foi ao Twitter para dizer, em mais de um post:
Atenção tuiteiros. Não sou, nunca fui advogada de partido político algum, seja do pt, psdb, pdt, pqp. Tampouco sou filiada a partido politico. Não sou, nunca fui advogada de qualquer político. Fui, em meados de 2009-2010, advogada da uma massa falida na área trabalhista, cujos síndicos, aliás, me passaram o calote, nunca pagaram os honorários, razão pela qual pedi renúncia em TODOS os processos.
Na época, ficou sem sentido a referência à massa falida. O que tem a ver massa falida com os partidos?
Mas agora se sabe: ela estava falando da GVA.
Rosângela disse que renunciou à defesa das ações trabalhistas da massa falida, mas Marlus continuou, firme, na defesa dos Simão.
Marlus e Rosângela ainda se encontraram profissionalmente nos caminhos jurídicos da APAE e agora, de uma forma indireta, na Vara de Sergio Moro.
Quando se olha para a família Simão, vê-se Marlus na sombra. Quando se olha para Marlus, é impossível não enxergar pelo menos o vulto de Rosângela Moro. No cenário onde os dois atuam, destacam-se os pilares da Justiça.
.x.x.x.x.
PS: Encaminhei e-mail para Rosângela Moro com perguntas para esta reportagem. Até agora, ela não respondeu.
 GGN/DCM

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Todo poder à Odebrecht e aos procuradores contra Lula, por Cíntia Alves do Jornal GGN

Um documento divulgado pelo Estadão em reportagem divulgada nesta sexta (27) mostra que a defesa de Lula terá muita dificuldade em mostrar que ele não consta entre os beneficiários de propina da Odebrecht.
A reportagem "Criador do ‘Drousys’ entrega a Lava Jato lista com 73 usuários do sistema" aborda uma resposta à Polícia Federal dada pela empresa que criou o software usado pela Odebrecht no exterior. O jornal destacou a lista com os apelidos das pessoas que tinham acesso ao sistema e alguns ditos "beneficiários" de pagamentos no exterior. Lulka não figura na lista, mas o Almirante Othon e Rodrigo Tacla Duran, sim.
Nesta mesma resposta, contudo, a empresa que criou o Drousys conta que a Lava Jato de Curitiba exigiu da Odebrecht a contratação de uma empresa estrangeira para ter acesso exclusivo ao sistema, após o acordo de delação premiada. A fundadora do sistema perdeu o controle pouco depois de dar detalhes operacionais aos membros da força-tarefa.
Algo semelhante foi feito à Procuradoria-Geral da República, de modo que apenas os procuradores envolvidos com a Lava Jato têm poder total sobre o Drousys. Eles agora utilizam de executivos (e delatores) da Odebrecht para "traduzir" os dados que ali estão. 
Isso significa que o que os procuradores da Lava Jato disserem, com apoio dos delatores da Odebrecht, dificilmente será contestado, já que há inúmeros obstáculos impostos às defesas que querem acessar o sistema.
Evidência nesse sentido é que a banca que defende Lula já demandou isso ao juiz Sergio Moro, e encontrou resistência dos procuradores de Curitiba, que agora alegam que não possuem acesso "integral" aos sistemas, somente a PGR. 
No documento à PF assinado por um dos criadores da empresa Draftsystems, que vendeu o Drousys para a Odebrecht, há a informação de que a parceria entre ambas começaram em 2007 e 2008.
Em 2014, com a Lava Jato já em evidência,  Odebrecht pediu que a estrutura migrasse da Suíça para a Suécia. Segundo Paulo Sérgio da Rocha Soares, da Draftsystemns, isso feito feito com a alteração do apelido (nickname) de todos os usuários, "porém com total preservação dos dados existentes no antigo Drousys dos servidores instalados na Suíça".
Em tese, só não são mais acessíveis as informações de pessoas que deixaram de ser usuários, por uma questão muito simples: foram deletadas para não ocupar espaço nos servidores.
Paulo ainda relatou que precisamente em 23 de junho de 2016, ele e um sócio acompanharam a Odebrecht em visita à força-tarefa de Curitiba, "objetivando prestar esclarecimentos relativos ao envolvimento e responsabilidade técnica com o ambiente Drousys. Nesta reunião foi detalahado o histórico de criação do Drousys, assim como informados sua exata localização na Suíça, declarada sua movimentação e exata localização na Suécia. Toda rotina de utilizaçã por parte dos usuários e as rotinas de backup foram detalhadamente explicadas."
 O encontro com a PGR se deu dias antes, em 14 de junho. 
No mês seguinte, em 12 de julho de 2016, a Draftsystemns acompanhu a Odebrecht ao Datacenter na Suécia, para entrega técnica formal dos servidores para a empresa FRA (Forensic Risc Alliance Groups), "escolhida pela Odebrecht de acordo com o disposto pelo Ministério Público Federal brasileiro."
"Nesta oportunidade", continou Paulo em mensagem à PF, "toda estrutura do ambiente foi explicada para as empresas Quinn Emanuel e Norton Rose, que ficariam responsáveis pela extração segura das informações do mabiente. A partir desta data,  a Draftsystems nunca mais tece vondições de acesso aos servidores entregues, não dispondo de cópia dos mesmos. 
Ao final, o empresário apresenta uma lista de "usuários com beneficiários e empresas pagantes".
O documento está em anexo.  Arquivo:

GGN