segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

XADREZ DO EIXO BOLSONARO-LAVA JATO, POR LUIS NASSIF


A derrota de Renan Calheiros nas eleições para a presidência do Senado é mais um passo na escalada da violência e na desestabilização do que resta de democracia no país. 
Peça 1 – os paradigmas da transparência e da fisiologia 
A eleição do inacreditável Davi Alcolumbre (DEM-AP) para presidente do Senado, expôs duas hipocrisias que, por força das redes sociais, se tornaram verdades. 
O pararadigma da transparência 
Porque o voto secreto foi considerado um avanço nas modernas democracia? 
Primeiro, por impedir a pressão dos mais fortes sobre os mais fracos. Dois exemplos simples:
·  a pressão das milícias sobre os eleitores dos territórios conquistados;
·  a pressão do Executivo sobre o parlamento, em todas suas instâncias.
Segundo, por reduzir as barganhas. Na votação em aberto, as barganhas são extremamente facilitadas, porque o alvo da pressão é obrigado a comprovar que entregou o combinado.
Houve uma intensa e maliciosa campanha pelo Twitter contra a votação secreta. Tendo sido instituída para impedir as barganhas e as pressões espúrias, nesse circo-hospício brasileiro, se transformou em atentado à transparência. 
Renan saiu da disputa quando o PSDB exigiu que seus senadores abrissem voto. Entre os tucanos, havia dois votos favoráveis a Renan. Com o voto em aberto, recuaram. E por que recuaram? Para não se expor a represálias do Executivo (através do braço armado da Lava Jato), é óbvio. 
O paradigma da fisiologia 
Há duas formas de apoiar o poderoso, visando benefícios: 
1. Defendendo o poderoso contra ataques de terceiros. 
2. Atacando os terceiros, sem explicitar o apoio ao poderoso. 
Peça 2 – o partido da Lava Jato 
E aí se entra no ativismo político e nas relações que se consolidam entre Lava Jato e o governo Bolsonaro.
Há duas formas de apoio: 
1. O apoio explícito, que consiste em defender o governo. 
2. O apoio envergonhado, que consiste em atacar os adversários do governo e se calar antes seus erros. 
A Lava Jato se encaixa como uma luva na segunda forma de apoio. 
Além do articulador político do governo, Onx Lorenzoni – “absolvido” por Sérgio Moro após um pedido de desculpas por financiamento ilícito de campanha – a Lava Jato caiu de cabeça na campanha pró-Alcollumbre. Seu papel consistiu em atacar Renan e defender o voto em aberto. 
E, assim como Sérgio Moro, não se pronunciar sobre as rumorosas ligações de Flávio Bolsonaro com as milícias, nem sobre o risco de se ter as milícias com linha direta com o sistema de poder. 
Além da Lava Jato, Alcolumbre teve o apoio de senadores da Rede, como Randolphe Rodrigues, mostrando que, assim como Aldo Rebelo, assimilou perfeitamente as janelas de oportunidade da política. A demagogia correu solta no Twitter. 
Finalmente, o papel do PSDB, obrigando seus senadores a votar compulsoriamente em Alcolumbre, mesmo sabendo que sua eleição cria um fator adicional de instabilidade no país.
Mais uma vez, o fígado se sobrepõe à lógica, mesmo sabendo que o caminho mais correto para reformas negociadas seria Renan. 
Com sua atitude, o PSDB fortalece a mistura de fundamentalismo religioso com milícias, que caracteriza o governo Bolsonaro, abre caminho para o populismo de direita, e para o mais desbragado fundamentalismo religioso, conforme o Twitter do pecador convertido Onix Lorenzoni.  
Peça 3 – o papel do Senado e o jogo democrático  
O Senado é o primeiro filtro para conter inconstitucionalidades do Executivo. É o algodão entre cristais, para evitar embates maiores com o STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente do Senado tem o papel de interlocução não apenas com o STF, mas com o governo. É função que exige experiência, conhecimento e capacidade de negociar. 
Cabe ao Senado aparar os exageros de projetos de lei draconianos, impedir o avanço de propostas inconstitucionais, fazer a interlocução com os demais poderes. Daí a importância do cargo de presidente do Senado. 
Pelo comportamento nas prévias, o senador eleito, Davi Alcolumbre (DEM-AP) parece do nível de Severino Cavalcanti. Já foi denunciado por incorrer em deslizes do baixo clero, como
falsificar notas fiscais com gastos de combustíveis, e por frequentar escritórios de doleiros.
Com o esquema Bolsonaro conquistando a cidadela do Senado, o próximo passo será a conquista da Procuradoria Geral da República e do Supremo. Essa função será assumida pela Lava Jato que, definitivamente escancarou seu ativismo político. 
Com a retaguarda de Sérgio Moro, a Lava Jato lançou as primeiras escaramuças contra a Procuradoria Geral da República e alimentou Lorenzoni com denúncias conta Renan no dia das eleições. E conta, no STF (Supremo Tribunal Federal), com o apoio de Luís Roberto Barroso, o homem que previu a “refundação” que jogou o país de volta à idade das trevas.  
Em um quadro ideal (para o Bolsonarismo) o desenho final é o de Sérgio Moro avançando na repressão política, tendo na Lava Jato e na Polícia Federal seu braço armado.
Faltou apenas combinar com os russos. E, por isso mesmo, tem a pedra das milícias no meio do caminho.  
Nas próximas semanas, o jogo ficará mais pesado. E ficará cada vez mais difícil à Lava Jato o álibi de que apenas combate a corrupção, sem nenhum viés político.  
Na sexta-feira passada, segundo os Jornalistas Livres, foi nomeado como Secretário Especial para a Câmara dos Deputados, representando a Casa Civil, o médico Carlos Humberto Manato, que fez parte da Scuderie le Coq, precursora das milícias e dos escritórios da morte. A nomeação foi assinada por Jair Bolsonaro e Onix Lorenzoni.
GGN

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

VIDEO MOSTRA QUE BASE DA BARRAGEM SE LIQUEFEZ. ASSISTA

As imagens que acabam de ser exibidas pela Rede Globo deixam bem claro que foi um processo de infiltração de líquido – água ou lama pouco densa – o que derrubou a barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho.
Não um transbordamento, não uma rachadura no aterro, mas uma imensa mancha de umidade que, durante alguns segundos, aparece bem na base da barragem, que tem 40 anos desde o início de sua construção. Em seguida, suas bordas viram um esguicho de lama, alimentado pela “descida” do copro da barragem, semelhante a um das “implosões” de prédios que assistimos tantas vezes.
Quase ao centro da construção, a impressão que se tem é que um lençol de água ou de rejeitos muito pouco densos, subterrâneo (a barragem estava seca na parte de cima, com vegetação, inclusive árvores de pequeno porte) liquefez a parede de terra do reservatório.
O fenômeno parece ser igual em outro ponto, à direita de quem a olha de frente, aproximadamente no mesmo nível do primeiro, ainda que ambos sejam praticamente simultâneos, até porque tudo é muito rápido.
Não foi, portanto, uma acumulação de água rápida, mas um processo de acumulação lento e progressivo.
Como se formou uma camada tão instável e potencialmente desastrosa sem que os instrumentos de detecção não tenham sinalizado parece ser o “mistério”.
O tão citados piezômetros, aparelhos usados no monitoramento de barragens, medem os níveis de acumulação de água em trechos profundos da barragem e não os detectaram.  Existiam, nessa profundidade, correspondente a períodos antigos? Ou foram negligenciados, em razão da barragem estar abandonada já há algum tempo?
O vídeo que registra a queda da barragem tem a importância equivalente à “caixa preta” de aviões acidentados.
Sabe-se o que aconteceu, falta saber por que aconteceu e por culpa de quem aconteceu.
E se querem responsabilizar a quem de direito.
Tijolaço

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A “RETOMADA” DO CRESCIMENTO PARA PIOR, POR FERNANDO BRITO

Duas notícias de hoje chamam a atenção.
Uma a de que os empregos informais – sem carteira ou “por conta própria”, na imensa maioria, os “bicos” –, em 2018, superaram o número de empregos formais, e com folga.
33 milhões de carteiras assinadas, – quatro milhões a menos que em 2014 – contra 11,5 milhões de trabalhadores sem carteira (2 milhões a mais que antes) e 23,8 milhões trabalhando “por conta própria”, também dois milhões a mais que no início da crise, segundo as contas do IBGE.
Não é preciso ser nenhum gênio econômico para saber que, logo adiante, o encontro de contas entre os milhões a menos recolhendo e as aposentadorias e benefícios que, inevitavelmente, terão um dia de receber. Sem falar, é claro, nos direitos de férias, proteções acidentárias, FGTS e tudo o que perdem com a informalidade.
A outra é o fato de que, apenas no ano passado, perdemos cerca de 30% das matrículas de crianças estudando em horário integral no ensino fundamental (até o 9° ano), que caíram de 3,8 em 2017 para 2,55 milhões no ano passado.
Um milhão e meio de crianças, portanto, jogadas na rua nas horas em que seus pais têm de trabalhar, um caminho certo para o descaminho dos adolescentes que serão.
É quase um exercício de sadismo dizer aos brasileiros que é preciso ter uma previdência sustentável e que a educação é o caminho do desenvolvimento e praticar políticas que levam a estes indicadores.
Dizem que estamos saindo do desastre e nos afundam cada vez mais.
Do Tijolaço

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

O PIOR HOMEM QUE JÁ PISOU NESTE PAÍS, POR FERNANDO HORTA

Foto Leonardo Benassatto/Reuters
Na década de 50, nos EUA, no auge das perseguições políticas do Macarthismo, os “condenados” por suas posições políticas eram colocados nas mesmas prisões que os piores criminosos daquele país. Estupradores, assassinos, e criminosos cuja imaginação comum apenas tangencia seus feitos eram mandados para prisões de “segurança máxima” e conviviam lado a lado com professores, trabalhadores e mesmo advogados que eram “julgados” comunistas.
A bibliografia sobre o período está recheada de casos neste sentido. Um condenado a prisão perpétua por crimes de assassinato e estupro, por exemplo, ao receber a visita da mãe ouviu dela um inusitado conselho: “Não se misture com aquela gente”. “Aquela gente”, nas palavras da mãe do apenado, eram os “comunistas”. Pessoas cujo único “crime” era pensar um mundo diferente, econômica e socialmente mais justo. “Aquela gente”, aos olhos da matriarca do apenado, estava abaixo, na escala de pecados, de seu filho que havia matado e estuprado várias pessoas.
A postura desta senhora, nos anos 50, não era um caso isolado. De fato, o macarthismo, através de uma campanha midiática e mentirosa, transformava seus alvos em indivíduos que as massas conservadoras julgavam não deveriam ter o direito sequer de respirar. A bestialidade chegava a tal ponto que não são poucos os casos de linchamento de pessoas nos EUA “suspeitos” de ligação com o comunismo. A violência das massas, legitimadas pela campanha de ódio, não se restringia apenas a comunistas, mas, como mostram os casos de Emmett Louis Till e Harry Hay, a questão racial e de sexualidade também atraíam o ódio e o desprezo.
“Comunista” era ligado narrativamente ao “negro vagabundo e ladino” e ao “homossexual depravado”.
Em 1953, num dos primeiros atos de seu governo, Eisenhower assinou uma lei que bania do serviço público norte-americano pessoas com “condutas sexuais pervertidas”. A designação de Eisenhower durou por quase 20 anos.
Comunistas, negros e homossexuais eram os piores dentre todos os que tinham pisado na Terra. A eles não era permitido que pensassem, que vivessem, que trabalhassem ... A presença da URSS evitou que muitas destas pessoas fossem sumariamente mortas, porque a propaganda seria péssima para o “mundo livre”, como os EUA faziam questão de serem chamados.
Suzanne von Richtofen foi condenada por manda matar os pais para ficar com a herança. Ela e os executores do crime (os irmãos Cravinhos) foram condenados a 39 anos e seis meses de reclusão. Suzanne tem garantidas as saídas da cadeia no Natal e até mesmo no dia dos Pais. Os irmãos Cravinhos, também são receptores da letra da lei e saem da cadeia no dia das mães além de darem entrevistas a jornais e televisões.
O ex-goleiro Bruno Fernandes foi condenado por ser o mandante do assassinato e destruição do corpo da mãe de seu filho, Elisa Samudio. Bruno, em conluio com comparsas, teria não apenas matado Elisa, mas dado seu corpo despedaçado para cães comerem. Em 2013, Bruno foi condenado a 22 anos e 3 meses de prisão. Durante os mais de seis anos que esteve preso, tanto Bruno, quanto seu cúmplice imediato “Macarrão” tiveram seus direitos respeitados quanto à “saída temporária” e até quanto a serem colocados em “regime semi-aberto”.
Numa república, a lei deve ser cumprida e parece que tanto Bruno, quando Suzanne, a despeito do quanto achemos selvagens seus crimes, tiveram respeitada sua humanidade. Humanidade que não lhes é dada (ou retirada) em função de seus comportamentos, mas que é – desde o século XVIII – a base do que se chama de “liberalismo político”. O homem tem direitos naturais que lhe assistem, indiferente ao que possa fazer ou pensar em vida. A base da sociedade contemporânea ocidental é o respeito inalienável a tais direitos como a vida, a inviolabilidade do corpo, à liberdade de pensamento e à propriedade privada.
Contudo, um homem que vive entre nós está na condição de ser o pior dos homens que já pisaram a Terra desde Adão e Eva. Segundo as duas juízas-carcereiras, colocadas para vigiar as portas da prisão do “mal encarnado”, este homem não merece sequer o custo das grades que lhe confinam ou da comida que come. Desrespeitar os direitos de alguém é dizer aberta e claramente que este sujeito não tem humanidade. Carolina Lebbos e Gabriela Hardt decidiram, entre turnos, manter “o pior homem entre nós” trancafiado sem poder sequer comparecer ao velório de seu irmão.
Para o judiciário brasileiro, que tem em Moro o símbolo-esperança e modelo de ação, Luís Inácio Lula da Silva está abaixo, na escala dos pecados, do que Bruno ou Suzanne. Lula está abaixo de Carlinhos Cachoeira, de Pimenta Neves (que em 2000 assassinou a esposa), dos irmãos Cravinhos, de Guilherme de Pádua (assassino de Gabriela Perez), entre outros.
O que fez o “pior dos homens” para merecer este tratamento? Quais crimes cometeu? Certamente crimes de imoralidade e desumanidade absolutas, que indicariam uma repulsa social acima de qualquer argumentação razoável. Que poderes tem este indivíduo, que deve ser proibido visitas, entrevistas e falas à imprensa? Que maldade e pecados encerra o homem a quem o judiciário brasileiro não permite sequer o cumprimento das suas próprias leis?
Lula foi condenado a 12 e um mês de prisão. Não há uma conta com dinheiro ilícito em seu nome. Não há um imóvel, carro, lancha, avião, iate ou joia que tenha sido aprendido ou descoberto em seu nome ou de familiares. Não há um documento seu assinado, uma ligação ou uma gravação telefônica sua ou de familiares que o tenham colocado em posição de ter cometido ato criminoso.
Lula foi condenado baseado num “powerpoint” de um procurador que na argumentação final usou teorias de probabilidade (que ele desconhece) para “provar” que Lula “tinha que ser culpado”.
Lula foi condenado por um ex-juiz que, após oito anos de investigações conseguiu apenas uma única palavra contra Lula. Moro reduziu a pena imposta por ele próprio a Léo Pinheiro, de 26 anos de prisão para pouco mais de dez anos, após Léo ter “colaborado” para a condenaçõa de Lula. Em segundo grau, o desembargador Gebran reduziu novamente a pena do empreiteiro de dez para três anos e seis meses de cadeia. E, enquanto você lê este texto, Léo Pinheiro está em casa, em “prisão domiciliar”.
Lula foi condenado por três desembargadores que, em suas sentenças finais, gastaram não mais do que cinco páginas para discutirem argumentos de acusação e defesa, e mais de quinze para elogiarem o colega ex-juiz Moro.
Lula foi condenado no processo mais rápido da história do TRF-4. Tempo suficiente para lhe retirar do pleito de 2018.
O pior dos homens entre nós, segundo o judiciário brasileiro, foi condenado por ter visitado um apartamento que lhe era oferecido para comprar. As provas se resumem a duas visitas e uma delação.
Este “monstro” precisa ficar enclausurado, longe da imprensa, da sociedade e do mundo, porque ele pode ser capaz das maiores insanidades sociais, como, por exemplo, chorar a morte do irmão ou, talvez, falar. E em falando, Lula pode vir a retirar o Brasil do coma induzido por nossas instituições. O perigo que representa a voz e o pensamento do homem que tirou 40 milhões de pessoas da pobreza, elevou o Brasil à sexta economia do mundo e deu escola e educação superior a mais gente do que todos os presidentes anteriores somados, é dele demonstrar a inaptidão, ignorância e incapacidade do atual governo. Este “inominável ser” deve ser mantido isolado, com focinheira e duas juízas especialmente designadas a ficarem monitorando as portas da cela.
Lula está preso sim ... se não estivesse o Brasil não estaria sendo governado por fascistas, exposto ao ridículo internacional e se submetendo aos desígnios da política externa de outros países.
Lula está preso sim e, graças às duas diligentes juízas, temos a certeza que a “pior criatura” que já pisou neste país não tem o direito sequer de velar seu irmão. E tudo isto pelo pavoroso crime de ter construído um Brasil mais justo e mais igual. Algo que a Justiça brasileira, a bem da verdade, nunca aceitou, em mais de 500 anos de história.
GGN

TOFFOLI É A SEM-VERGONHICE DA VERGONHA: AUTORIZOU UM CORPO A IR ATÉ QUARTEL

Pouco mais de uma hora antes do horário do enterro do irmão mais velho de Lula, o presidente do STF, Dias Toffoli deu uma decisão que se destina apenas a tentar mostrar o que a Justiça é: uma máquina de perseguição ao ex-presidente Lula.
Nem mesmo o deslocamento físico era possível em tão curto espaço de tempo, numa decisão que estava há horas nas suas mãos, depois de doentiamente negada em duas instâncias inferiores.
Mas foi ainda pior: não autorizou Lula a ir ao velório do irmão, mas que o velório, se quisessem, fosse levado para dentro de um quartel, restrito a familiares e fechado a imprensa, para que se cumprisse o supremo dever de, como todos já observaram, de que Lula não seja nem visto, nem ouvido.
Lula poderia, como se disse, ir para um quartel e, vejam, “inclusive com a possibilidade do corpo do de cujos  (sic) ser levado à referida unidade militar”.
Que possibilidade se, poucos minutos depois, o enterro já havia sido feito?
A única finalidade da decisão é fingir que a Justiça não proibiu o ex-presidente de ir ao velório e ao enterro do próprio irmão.
Toffoli deu provas, outra vez, de sua microscópica grandeza moral diante do homem que fez dele ministro do STF, num grande erro, pois a sua lex magna é sua própria carreira.
Foi, para minha sorte, uma das pessoas com quem não cruzei em Brasília. A ultima vez foi, justamente, num velório, o do jornalista Julinho de Grammont, assessor de imprensa de Lula morto tragicamente num acidente em 1998.
Toffoli foi o corolário de uma perversa pantomima, a que protelou a decisão óbvia de permitir, como diz a lei, que Lula desse o último adeus aos irmãos para, afinal, inviabiliza-la, por sem tempo e sem dignidade na sua realização.
Ele é, afinal, um sujeito raro. Pouca gente teria capacidade de ser tão abjeto assim.
Tijolaço

LULA NÃO É SÓ PRESO POLÍTICO, É UM HOMEM QUE NÃO PODE SER MAIS VISTO, POR FERNANDO BRITO


Escrevi, outro dia, aqui, que o comportamento da dita Justiça em relação a Lula era apenas o exercício da maldade.
A ratificação pela Senhora (não me sinto à vontade em chamá-la de juíza) Carolina Lebbos da perversidade da Polícia Federal de Sérgio Moro e impedir Lula de ir ao enterro do seu irmão mais velho é, até para os cegos por outra razão que não seja o ódio mais estúpido, a confirmação de que estamos diante de gente governada pelo ódio mais insano.
Coisa só comparável a campos da Gestapo.
Mas há, no fundo, um sentimento maior a motivá-los: o medo.
É preciso que Lula, em nenhuma hipótese, seja visto ou ouvido.
É preciso que ele morra em vida, na escuridão do silêncio.
Não pode ser entrevistado porque influenciaria as eleições, mesmo depois de meses que a eleição ocorreu e levou ao poder um amigo da milícia.
Mas, desta vez, os limites de qualquer coisa que não provocasse nojo e vômito foram ultrapassados.
Alegar, como alegou a Senhora Lebbos que a ida de Lula ao cemitério de São Bernardo “poderia prejudicar os trabalhos humanitários realizados na região de Brumadinho” é de uma sordidez que ultrapassa todos as fronteiras do que é vergonha.
Lula submeteu-se, inocente, a toda a ferocidade com que o Judiciário o tratou.
Não lhes basta.
Lula está, como as vítimas de Brumadinho, soterrado sob a lama de um Poder Judiciário que acanalhou-se.
A lei, para os que são responsáveis por aplicá-la, é como o laudo que atestou que a barragem, como as instituições, estava funcionando perfeitamente.
O que brota dela, porém, é tão asqueroso quanto o que estamos vendo nas televisões.
Lula é um homem que não pode mais existir e não não pode ser mais visto.
Lula não pode mais existir, pela simples razão que existe.
Tijolaço

sábado, 26 de janeiro de 2019

XADREZ DE HAMILTON MOURÃO, POR LUIS NASSIF

Nas próximas semanas, o grande trabalho da opinião pública será decifrar o general Hamilton Mourão. A probabilidade de substituir Jair Bolsonaro na presidência da República é cada vez maior. Repito: a única incógnita é o prazo para a queda de Bolsonaro.
São vários os fatores de desgaste de Bolsonaro.
Fator 1 - a dinâmica das denúncias
Os indícios contra a família Bolsonaro eram antigos e conhecidos. Mas havia uma espécie de linha divisória psicológica impedindo a mídia de avançar além de certas ilações. O excesso de evidências contra Flávio Bolsonaro fez a imprensa atravessar o Rubicão e aponta-lo como ligado às milícias. Agora, se tornou uma caça ao alvo.
Há várias frentes de denúncias apertando o torniquete no pescoço da família Bolsonaro - por suas relações com as milícias.
A principal delas são os trabalhos do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro - que deverão ser retomados a partir do dia 1o, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) voltar do recesso e o Ministro Marco Aurélio de Mello desfizer o pacto carioca de blindagem, encabeçado por seu colega Luiz Fux. Nos próximos dias, o filho Flávio Bolsonaro e o motorista Fabrício Queiroz serão convocados a depor.
No momento, há uma caçada ampla da Polícia Federa, Interpol e outros agentes ao capitão Adriano Magalhães Nóbrega, principal suspeito do assassinato da vereador Marielle. Flávio Bolsonaro não apenas conferiu a Adriano a Medalha Tiradentes - quando ele já estava preso, sob suspeita de outro assassinato -, como empregou mãe e esposa na Assembleia Legislativa.
A tentativa do governo, de reduzir a área de atuação dos órgãos de controle deflagrará uma nova onda de vazamentos do lado do COAF (Conselho de Controle das Atividades Financeiras), Receita e CGU (Controladoria Geral da União). Recorde-se que a primeira dama, Michele Bolsonaro, entrou na linha de tiro devido ao cheque de R$ 24 mil que recebeu de Fabricio Queiroz, o motorista dos Bolsonaro.
As informações divulgadas nos últimos dias não deixam nenhuma margem a dúvidas de que Queiroz é elo direto da família Bolsonaro com a milícia do Rio das Pedras.
O jogo de assessores indo do gabinete do filho para o pai, a troca de cheques, o fato de Queiroz ser amigo do pai, todos esses fatores tornarão impossível qualquer ginástica para isolar o pai dos malfeitos do filho.
Fator 2 - o desastre internacional
As notícias sobre as relações dos Bolsonaro com as milícias já ganharam mundo. Le Monde, Financial Times, The GuardianThe New York Times.
E não apenas pelas milícias. Diz o NYTimes:
“Três ministros, bem como alguns diretores de nível médio implicados em investigações de corrupção, foram contratados pela administração, apesar da política declarada de tolerância zero de Bolsonaro. O filho do vice-presidente foi promovido e recebeu um triplo aumento em um banco estatal. Mesmo uma multa aplicada contra Bolsonaro pela pesca em águas protegidas em 2012 foi anulada pelas autoridades.
Bolsonaro e seus aliados também continuaram usando privilégios políticos legais, mas muito desprezados, como aceitar as concessões móveis concedidas a legisladores e funcionários federais - mesmo quando eles já moram na capital”_.
O encontro de Davos foi um fracasso retumbante, pela falta de propostas, mas, sobretudo, pela falta de postura de Bolsonaro, descrito de modo fulminante pelo diário italiano La Reppublica:
“O 'duro' da ultra-direita sul-americana, o presidente homofóbico e xenófobo dos tons marciais e a paixão pelas armas, de repente parece um cordeirinho na frente do público rico e poderoso”.
O otimismo do mercado com o Brasil se agarrava na possibilidade do Ministro da Economia, Paulo Guedes, conseguir fazer alguma coisa, apesar do presidente Bolsonaro, de acordo com Brian Winter, correspondente do Americas Quarterly.
Depois de tecer loas a “um homem que parece destinado a mudar o Brasil para melhor”, esclarece que se trata de Paulo Guedes.
Não se esqueça, porém: ele não é o presidente.
Esse seria  Jair Bolsonaro (…)  Desde que assumiu o cargo, em 1º de janeiro, ele cometeu uma série de  gafes e reversões de políticas  em tudo, desde cortes de impostos até uma  oferta  (rapidamente retirada) dos EUA para construir uma base militar em solo brasileiro. Sua família é subitamente  enredada em um escândalo de corrupção  com consequências imprevisíveis e potencialmente terríveis. Bolsonaro e seus aliados parecem mais focados em atacar inimigos imaginários ou irrelevantes - “ marxismo cultural ” , “ ideologia de gênero ”,  globalismo  e imprensa, entre outros - do que oferecer soluções viáveis para os reais problemas do Brasil. As poucas políticas que ele apresentou incluem um afrouxamento do controle de armas  em um país que já tem  mais mortes por arma do que qualquer outro,  movimentos que podem permitir  um desmatamento mais rápido da Amazônia, e um  decreto  para “supervisionar, coordenar e monitorar” ONGs internacionais que operam no Brasil.
Simultaneamente, ganhavam mundo também os diversos aloprados indicados para Ministérios. Em Davos, o chanceler Ernesto Araújo enredava o país nas confusões da Venezuela, mostrando o risco de se manter um estúpido em cargo chave. Por sua vez, a Ministra dos Direitos Humanos escandalizava os holandeses ao sugerir, nas pirações evangélicas pré-governo, que o país estimulava masturbação de bebês.
A semana terminou com a segunda tragédia de Minas Gerais, no início de um governo que se propôs a desmontar os sistemas de fiscalização do meio ambiente.
Além de esvaziar a pasta de Meio Ambiente, indicou para o Ministério pessoa acusada de improbidade visando atender a interesses de mineradoras em áreas de preservação.
Ou seja, não se trata apenas de um presidente de ultradireita, mas de um personagem desqualificado para as funções públicas, que está envergonhando o Brasil perante o mundo.
É aí que entra o fator Hamilton Mourão.
Peça 3 - o fator Hamilton Mourão
Durante a transição, Mourão se tornou o interlocutor preferencial dos empresários pelo fato de ser dos poucos focos de racionalidade dentro do governo.
Teve o bom senso de desqualificar as maluquices de Bolsonaro com a tal missão militar norte-americana, com as pretensões lunáticas do chanceler de invadir a Venezuela. Ou a intenção  de mudar a embaixada de Israel para Jerusalém.
Após o anúncio da desistência  do deputado Jean Willys de assumir o mandato, devido às ameaças recebidas, proclamou que a ameaça a um deputado é atentado contra a própria democracia.
Imediatamente ganhou status de presidenciável junto aos setores mais racionais.
Mas, ao mesmo tempo, foi o interino que assinou um decreto que, na prática, acaba com a Lei da Transparência. O decreto faculta a qualquer funcionário comissionado (isto é, indicado pelo governante de plantão) decretar sigilo para informações requeridas. Hoje em dia, a responsabilidade pelos dados é de Ministros. Estendendo a todos os comissionados, ficará fácil o jogo das gavetas, esconder informações com a censura sendo diluída por vários responsáveis.
Alegou que pretendia apenas desburocratizar. E que a responsabilidade final seria do Ministros. Aventou-se também a hipótese de que eram demandas antigas do Itamaraty e das Forças Armadas. Nenhuma desculpa convincente e todas elas sem respaldo no texto do decreto.
Ao mesmo tempo, surge a proposta do Banco Central de afastar o monitoramento, pela COAF, de parentes de políticos. Mais uma vez, desculpas inverossímeis, de que a medida visava adaptar o país a práticas internacionais contra corrupção. Ora, os parentes são os candidatos naturais a laranjas dos corruptos.
Essas medidas foram anunciadas depois do escândalo Flávio Bolsonaro, passando a suspeita de que Mourão poderia estar se envolvendo para além da prudência na blindagem do primeiro filho de Jair.
Será quase inevitável a substituição de Bolsonaro por Mourão em um ponto qualquer do futuro. Enquanto, em público, Bolsonaro parece um lagarto assustado, Mourão é senhor de si.
A dúvida que fica é sobre a natureza de um eventual governo Mourão. 
Do ponto de vista de mercado, significaria dar chão firme para as formulações econômicas de Paulo Guedes. No plano internacional, significaria tirar o país do centro da galhofa mundial. Mas não se espere nenhum compromisso mais aprofundado com valores democráticos.
GGN