Foto de ilustração
Equivale
a dizer que Rodrigo Janot irresponsavelmente direcionou as investigações da
dita operação, para personagens do governo (PT) e procrastinou deixando de
investigar Aécio e sua turma (PSDB), com participação no recebimento de
propinas em valores iguais ou maior que os demais, a exemplo do caso de FURNAS, em que o PGR, finge em não ouvir.
Em
direito existe o que se chama de "estorvo do processo". Todo cidadão
está sujeito a ser processado, do mais humilde ao presidente da República.
Mas
existe também o conceito da repercussão política do processo, princípio que
rege muitas decisões judiciais.
Por
exemplo, por mais justo que seja determinado pleito, nenhum Ministro do STF vai
votar a favor de uma ação que implique na quebra do país.
O
mesmo princípio vale para processos com repercussão política. Um juiz deverá
tomar duas vezes mais cuidado para expor o presidente da República ao
"estorvo do processo". Não significa que deva poupá-lo, mas que
tomará cuidado redobrado antes de expô-lo e com a própria exposição em si.
Porque expor a presidência da República significa expor o país.
O
Procurador Geral da República tomou a decisão de expor ao "estorvo do
processo" campanhas de Lula e Dilma. Dilma é a presidente da República.
Lula é
um ativo nacional, o político que representa a esperança de milhões de
brasileiros e - queiram ou não os opositores - o brasileiro que melhor
representa a face legítima do país perante o mundo. Ele está para o Brasil como
Mandela para a África do Sul, Ghandi para a Índia, Luther King para os Estados
Unidos.
Já
Aécio Neves é um senador, candidato derrotado a presidente da República.
Geraldo Alckmin é o governador de um estado importante, assim como José Serra,
um ex-governador, os três sem um centésimo da representatividade de uma
presidente da República ou de uma personalidade internacional como Lula.
Todas
as empreiteiras citadas na Lava Jato colaboraram com a campanha de Aécio, seja
por dívidas passadas, seja por promessas futuras. A não ser que se acredite que
empreiteiro pague dízimo para ir para o céu.
Contra
Aécio pesa uma delação premiada com todas as peças de esquemas de financiamento
eleitoral ou de enriquecimento pessoal: os valores recebidos (US$ 150 mil
mensais), a ponta pagadora (Furnas), a empresa que lavava o dinheiro (a
Bauruense) e a destinatária (a irmã de Aécio).
Mesmo
assim, Janot não julgou adequado expor Aécio ao "estorvo do
processo".
As
empreiteiras implicadas na Lava Jato têm obras em Minas Gerais e São Paulo.
Algumas delas têm mais obras com os respectivos governos estaduais do que com a
própria Petrobras. No caso paulista, há em curso uma denúncia de suborno do
cartel dos trens abafada pela cúpula do Ministério Público Estadual.
No
entanto, Janot teve cuidado para não submeter ao "estorvo do
processo" os ex-governadores Aécio Neves, José Serra e o governador
Geraldo Alckmin.
No
caso mineiro, Janot aceitou a denúncia contra o mais insuspeito dos políticos:
o ex-governador Antonio Anastasia. Aparentou uma neutralidade discutível,
porque quem conhece Minas, Aécio e Anastasia sabe onde o calo pega - e não é em
Anastasia.
Que
a lava Jato faça o PT purgar seus erros, sim. Arreglos políticos que permitiram
descontroles de tal ordem, a ponto de um mero gerente acumular mais de US$ 100
milhões em dinheiro desviado, merece toda punição do mundo. E se o partido não
tem a mínima capacidade de se defender de manobras políticas, problema dele.
Quando
investe contra o instituto da presidência e contra o brasileiro mais reputado
do planeta e, ao mesmo tempo, poupa todos os próceres do PSDB do "estorvo
do processo", Janot patina.
Não
adianta alegar que o processo será isento, dando todas as oportunidades para as
partes se defenderem. O efeito político é imediato. O "estorvo do
processo" é combustível para campanhas de impeachment, para
desestabilizações políticas mesmo que, ao final, absolva o investigado. Ao
poupar Aécio, a Lava Jato abre espaço para que a oposição amplie a campanha do
impeachment, com Aécio posando de grande cruzado da ética.
A
opinião pública que conta - aquela realmente bem informada - sabe que o rei
está nu. O que se pretende com essa blindagem?
Não
adianta os bravos Intocáveis da Lava Jato sustentarem que seu foco são apenas
os malfeitos na Petrobras. Não faz lógica que, tendo à mão a possibilidade de
interrogar os maiores financiadores de campanha do país, aceitem ouvir apenas
as denúncias contra um lado. Se podem passar o país inteiro à limpo, porque não
aproveitam a possibilidade? De posse da denúncia, que se abram novos inquéritos
para outros procuradores tocarem, permitindo à Lava Jato manter o foco.
GGN
– Luís Nassif