Quando Aécio Neves
decidiu comandar o golpe do impeachment, desarticular todo o sistema
institucional brasileiro, abrir as jaulas para a população sedenta de sangue,
devia saber que aquilo deu nisso.
Primeiro, o jacobino
teve seu poder capado, tombando sob mesma lógica que ceifou todos os
sanguinários da história, de Robespierre a Joseph McCarthy e outros vultos
infames da história, a mesma lógica que levou à execução de Marat, e ao mesmo
bordão que inspirou Tomás de Torquemada, apenas trocando a palavra judeu por
petista.
“Se observar que os
seus vizinhos vestem roupas limpas e coloridas no sábado, eles são judeus.
Se eles limpam as suas
casas às sextas-feiras e acendem velas mais cedo do que o normal naquela noite,
eles são judeus.
Se eles comem pão ázimo
e iniciam a sua refeição com aipo e alface durante a Semana Santa, eles são
judeus.
Se eles recitam as suas
preces diante de um muro, inclinando-se para frente e para trás, eles são
judeus.”
Sessão do Supremo Tribunal Federal. Brasilia, 16-08-2018. Foto: Sérgio Lima/Poder 360
Foi poupado pelo
sentimento de solidariedade que acometeu aliados no Supremo Tribunal Federal
(STF) e na Procuradoria Geral da República (PGR).
Mas, despido do manto
de rei, teve que sair dos palácios e enfrentar os pequenos políticos que
passaram a usá-lo de escada, a exemplo do que ele próprio fizera com o
antilulismo. Agora, nas suas próprias hostes, a escada passou a se chamar
antiaecismo.
E foi assim que o
prefeito de São Paulo, o minúsculo Bruno Covas, político que vive
exclusivamente do sobrenome, incapaz de um lance de brilho, de ousadia, uma
marca que o aproximasse do avô ilustre, mira no pequeno Aécio, encolhido em um
canto, e dispara: “Ou
ele ou eu”.
E os aecistas,
revoltados, denunciam o tribunal de exceção do partido que criou o tribunal de
exceção graças a Aécio (aqui).
O deputado Paulinho
Abi-Ackel, cujo pai Ibrahim Abi-Ackel foi vítima de uma campanha infame na
Globo, nos anos 90, um monumento de fake news, mostrou que o mineiro é
definitivamente solidário no câncer e bebeu na sabedoria política do pai: “A
presunção de inocência é uma conquista do Estado democrático de Direito e
no PSDB essa regra não será diferente”. O pai foi acusado de ter colocado
a Policia Federal para investigar um avião que, supostamente traria
equipamentos para a rede Globo. Foi alvo de uma campanha terrível da Globo,
acusado até de contrabandear pedras preciosas. A comprovação da inocência viria
anos depois, quando o mal estava feito.
Agora, Paulinho se
comporta como um grande democrata à brasileira que descobre, depois de muito
sangue derramado, que o devido processo legal é essencial, mas para os nossos;
para os outros, a Lei de Moro.
No início da década, em
um almoço no Massimo, na época o restaurante mais caro de São Paulo, Fernando
Henrique Cardoso se autodefiniu a ele, Aécio e José Serra como os “malacas”, os
espertos, em contraposição a Geraldo Alckmin, o provinciano.
Agora, se tem Aécio
escorraçado por seus pares, Serra escondido e fugindo até de golpe de ar, e
Fernando Henrique se agarrando como náufrago à boia de Sérgio Moro, o juiz que
o poupou por tê-lo como aliado.
É apenas um dos
capítulos que se segue à instauração do caos.
Do GGN
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