Peça 0 – a título de
introdução: com
PGR, com Supremo, com tudo
O
adesismo faz parte do comportamento histórico na vida nacional. Talvez a maior
marca do subdesenvolvimento seja a ausência de caráter público, o conjunto de
valores que deveriam nortear as ações públicas, operando como freio aos
espíritos mais oportunistas.
Exemplos
significativos dessa carência são os Ministros Luis Roberto Barroso e Edson
Fachin, progressistas quando os ventos sopravam para os direitos; impiedosos
quando os ventos enfunaram as velas das galés punitivistas; perdidos quando há
ventos em várias direções.
O
mesmo ocorreu com Procuradores Gerais que eram adesistas, como Geraldo
Brindeiro, oportunistas ocupando vácuos de poder (que o PT chamava de
republicanismo) – como Antonio Fernando de Souza e Rodrigo Janot – ou
subservientes, quando o Poder exigiu subserviência, como Raquel Dodge.
Salve
Cláudio Fontelles, ave rara nessa criação de corvos.
Peça 1 – o fenômeno Lava
Jato
Já
apresentei este mapa esquemático no YouTube para explicar o fenômeno Lava Jato.
É simples.
Poderes
tradicionais – Executivo, Legislativo, Judiciário, mais duas corporações
de Estado, as Forças Armadas e a Procuradoria Geral da República. O 4º poder, a
mídia, articulando uma opinião pública que influenciava os demais.
A
conspiração –juntando STF, PGR, Congresso, PSDB-PMDB e mídia visando
derrubar a presidente da República. A espoleta inicial é a campanha diuturna de
mídia burilando o discurso de ódio em torno do mote histórico de sempre – denúncias
de corrupção – esperando instrumentalizar a ultradireita adormecida.
Lava
Jato – se valendo de vazamentos e delações para alimentar a campanha da
mídia e, através dela, obter adesão popular.
Milícias
digitais –Com o fenômeno das redes sociais, e com boa tecnologia externa,
surgem as milícias digitais, as redes de WhatsApp, conferindo autonomia à
ultradireita, que ganhar vida própria e leva os Bolsonaro ao poder.
Milícias
reais – o país passa a ser comandado, então, por um oficial da
reserva, ligado aos porões da ditadura, e com estreitas ligações com as
milícias reais.
Como
ficarão os demais agentes do Poder? Aí entra a síndrome do adesismo que marca
os centros secundários de poder no país.
Peça 2- o Mapa do Poder
O
Mapa do Poder fica assim, com vários protagonistas enfeixados na caracterização
genérica de Sistema, Oposição, Direita, Ultra Direita, Crime Organizado e
influência de Donald Trump.
Ao
mesmo tempo, com a prisão de Lula e a derrota do PT, dilui-se o tema unificador
do golpe e aparecem os pontos de dissenso e novos pontos de confluência:
Base x cúpula
Democracia x ditadura
Pauta de costumes
Luta de classes
Peça 3 – os dissensos e a
conformação de forças
O
que marca o momento atual é o predomínio de dois dissensos principais que
operam como agentes aglutinadores de uma das divisões.
Cúpula x base
Explica
a recente decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), José Dias
Toffoli, proibindo que o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras)
repasse dados para a Polícia Federal e para os procuradores sem prévia
autorização de um juiz.
A
medida atendeu ao interesse imediato da família Bolsonaro, mas não apenas dela.
Foi uma reação contra um fenômeno grave que emergiu da Lava Jato, a parceria
entre órgãos de controle, como CGU (Controladoria Geral da União), TCU
(Tribunal de Contas da União), procuradores e policiais federais, responsável
por grandes tragédias recentes, como as invasões de Universidades, humilhação
de reitores e professores, além de ter provocado o chamado apagão das canetas,
o receio de funcionários públicos de assinar qualquer documento, dado a
truculência e falta de discernimento dessa frente. Ganhou o apoio dos tribunais
superiores, dos advogados, da oposição.
Após
o aplauso da família Bolsonaro, a primeira corporação a se enquadrar foi a
Polícia Federal de Sérgio Moro. A falta de de solidariedade de Moro à Lava Jato
comprova a subserviência total a Bolsonaro e o clima do salve-se quem puder,
permitindo adotar o vaticínio de Romero Jucá, “com Supremo, com Raquel, com
Moro e com tudo”.
Luta de Classes
O
segundo ponto a mover as alianças é a chamada Luta de Classes, que juntou
empresários, mercado, o clube dos bilionários, Congresso, mídia, Ministros do
Supremo, o silêncio da PGR, setores da alta burocracia pública em torno das
reformas, do desmonte das redes de proteção social, da privatização selvagem.
É
a grande âncora atual do governo Bolsonaro. Cessará de ser quando cair a ficha
de que são falsas as promessas de pote de ouro no final do arco-íris das
reformas.
Peça 4 – a permanência
dos dissensos
Os
embates atuais não fazem submergir os demais dissensos.
De
um lado, Bolsonaro segue o receituário da direita, de Trump a Macri, de criar
factoides diários como estratégia de mobilização das bases, de aprofundamento do
desmanche do Estado e de disfarce da baixa capacidade operacional do seu
governo.
Não
são apenas factoides, mas decisões que afetam interesses setoriais e nacionais
e ameaças explícitas à democracia. Como a história de proibir a Petrobras de
abastecer navio iraniano que veio ao Brasil comprar milho. Ou a sequência
inédita de bizarrices no Twitter ou nas coletivas.
De
qualquer modo, o fisiologismo das corporações brasileiras tornou elástica a
naturalização dos absurdos e a suspensão das investigações sobre as relações
dos Bolsonaro com o crime organizado.
A
oposição a Bolsonaro terá que ganhar mais massa crítica, até que as nuvens da
fisiologia se voltem contra ele. E está ganhando corpo a cada dia que passa de
reiteração de absurdos e de não entrega do combinado: melhoria da situação
econômica.
Do
GGN