segunda-feira, 15 de maio de 2017

Armando Coelho Neto: Interrogatório de Lula. Generalidades que não vêm ao caso

Defender o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva é tarefa árdua. É atrair para si a lama que há tempos atiram contra ele. Seria mais cômodo endossar a demonização promovida pela dita grande mídia contra ele. É o que se tem feito, até por parte de muitos que se beneficiaram daquela lama.

Sistema podre (“Sempre se soube”), por conta disso ou daquilo, foi possível formar ou acumular grandes riquezas, legislar em causa própria, se beneficiar de Proer e similares, conquistar anistias e perdões fiscais. Dos pixulés aos agrados de gaveta e contas em paraísos fiscais, como poderia o “Trem Brasil” caminhar sem aquela locomotiva? Numa sociedade movida a pedágio, como alguém poderia alguém transitar de graça? Portanto, nenhuma surpresa. O resto é moral hipócrita, mas parece estar fora do contexto.

Com alguma frequência, o ex-presidente Lula destacava ser “preciso mudar a forma de se fazer política nesse país”. Com igual ênfase, sempre apregoou a necessidade de financiamento público de campanhas. Portanto, se não sabia como o “Trem Brasil” trilhava, pelo menos presumia com qual combustível. Suas falas, porém, seriam ou são nítidos sinais de um não endossar a forma de lubrificar a engrenagem. Eis que, “sempre se soube”, não daria para entrar na lama do sistema e dela sair limpo e cheiroso. Até numa guerra pela paz derramar sangue é inevitável. Permito-me, pois, ainda que também fora do contexto, essa leitura romântica sobre “Jararaca viva”. É dela que vem a coragem de defender o ex-presidente Lula.

O contexto é o interrogatório de Lula. Convenhamos, ficou muito antipática aquela história de “senhor ex-presidente”. Parece haver ruídos no protocolo, mas isso verdadeiramente não vem ao caso.

Entremos nas generalidades, pois o juiz Sérgio Moro disse querer contextualizar e tinha a obrigação de fazer perguntas. Sem direito a contextualizações, o réu poderia responder ou não. Moro quis contextualizar as coisas ao seu modo e não queria que o réu se queixasse da imprensa. Entretanto, fez várias perguntas sobre entrevistas concedidas por Lula à imprensa. Moro sabia que o que ali estava fazendo tinha tudo a ver com a imprensa municiada pela Farsa Jato. Sabia também que o clima de mídia forçou a aceitação da denúncia. Uma vez aceita, era preciso seguir o ritual da lei (ouvir o acusado).

A acusação foi pública em razão da pessoa, como disse Moro. Mas, a defesa não poderia ser pública (feriu pesos e contrapesos de um Estado de Direito?). Dar publicidade seria abrir exceções à regra. Mas, fazer interpretações elásticas ou restritas são exceções permitidas, pois servem para acusar (?). Recorrer à imprensa só vale para acusar ou para contextualizar a acusação (?). Criticar a imprensa pelo mesmo motivo pró-defesa não serve(?). O fato é que ao negar, Moro diminuiu o impacto do vexame. Já pensou o Zé Povinho, lá no meio do mato, ouvindo Lula dizer “eu quero saber da prova e do crime que cometi”?

Quem esperava um Lula acuado se surpreendeu com sua objetividade, serenidade, altivez, segurança, firmeza, dignidade. Olho no olho, o “analfabeto” não se acovardou diante de papeis sem assinatura, que poderia até já ter ou não visto. Papeis, aliás, que Sérgio Moro sabe nada valer. Quando muito, sob a perspectiva do direito, corresponderiam aos tais “atos preparatórios”, que pela lei e pacifica jurisprudência, só são puníveis quando inerentes ao tipo penal. Por exemplo, petrechos para falsificação de dinheiro é crime, mesmo que a falsificação não ocorra. Assim, a intenção de compra, ainda que verdadeira e criminosa fosse, não se consumaria com formulários sem assinatura. Mas, Moro tinha a obrigação de perguntar. Foi com base neles que aceitou a denúncia.

Sérgio Moro queria contextualizar. Mas queria a seu modo, sob a perspectiva da acusação. Se imparcial, o faria também sob a óptica da defesa (outro prato da balança da deusa Themis). Lula contextualizou, ao lembrar que ali estava por haver dado meios para a Farsa Jato atuar e “não me sinto vítima disso”. Ainda que assim o tenha dito, aquele réu é, sim, vítima. E da pior forma, pois não tem estado diante da lei em si, mas sim da leitura torpe, tirana, raivosa e política da comoção midiática. A Farsa Jato padece do drama das teses acadêmicas malfeitas: o autor tem uma conclusão e depois sai em busca de justificativas para ela. Mas isso não vem ao caso.

 “Sempre se soube”. A culpa vem por presunção. Daí soar natural que numa explosão de espontaneidade, o réu figurativamente tenha contextualizado: sua mulher já deve ter saído pra comprar sapato, provar trinta e não comprar nenhum (olhei um ‘tripex’, não gostei, não comprei). Disparou pérolas do gênero, o senhor se sente culpado por haver quebrado empresas nacionais e haver desempregado milhares de trabalhadores? E disse mais que “Ninguém sabia... Nem eu, nem a imprensa, nem o senhor, nem o ministério público e nem a PF. Só ficamos sabendo quando grampearam o Youssef”.

Pela lei, o interrogatório não era para ter nada de novo e não teve. Tudo já havia sido dito e contextualizado pela imprensa. Só faltava a explicação pública e formal do réu. Mas, a imprensa, que para Moro não vem ao caso, criou a expectativa nacional sobre o novo, que só poderia ser a prisão que não houve.
Moro queria contextualizar e um detalhe foi esquecido: se o Partido dos Trabalhadores é uma quadrilha, outra já está no poder. Pior, a quadrilha pronta para dar o bote 2018 tem como cartão de visita uma foto ao lado próprio Moro. Mas isso também não vem ao caso.

Armando Rodrigues Coelho Neto - jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Do GGN

O chorume vazado da lavanderia de Reinaldo e Mainard

Reinaldo e Diogo lavam roupa suja em público

"Breve apanhado de correspondência imensa revela que Diogo passou a me considerar um mau sujeito só depois de 'O Antagonista'", escreve Reinaldo Azevedo, divulgando emails do ex-amigo, que disse, num passado recente, que sua vida havia ficado "mais pobre" longe de Reinaldo.

A direita continua lavando roupa suja na internet. Neste domingo, Reinaldo Azevedo publicou em seu blog na Veja e-mails trocados com o ex-amigo Diogo Mainardi.

"Breve apanhado de correspondência imensa revela que Diogo passou a me considerar um mau sujeito só depois de 'O Antagonista', escreve Reinaldo, destacando mensagem de Diogo, num passado recente, que disse que sua vida havia ficado "mais pobre" longe de Reinaldo.

Os dois passaram a divergir desde que Reinaldo Azevedo se tornou crítico dos excessos da Lava Jato. Na última semana, Diogo mandou Reinaldo "dar a bunda" após o colunista de Veja ter criticado o juiz Sergio Moro em razão do depoimento do ex-presidente Lula. 

 Confira  aqui.

As forças progressistas precisam cruzar o Rubicão, Fornazieri

"Aceitemos isso como um sinal dos deuses e sigamos até onde eles acenam, vingando-nos de nossos inimigos hipócritas. A sorte está lançada" (Júlio César).
Quando Júlio César decidiu atravessar o rio Rubicão com suas legiões - algo que era proibido a qualquer general por lei do Senado - a República romana, a rigor, já vivia seus estertores. Ela vinha morrendo desde as derrotas e o assassinato dos irmãos Graco, das guerras civis entre Sila (aristocracia) e Mário (partido do povo) e com a anulação da lei da reforma agrária. Roma era dominada pela aristocracia, que havia transformado a República num simulacro. Já não havia equilíbrio entre o povo e os nobres e o poder estava concentrado no Senado.

O Brasil está muitíssimo longe de ter vivido a grandeza da República de Roma, mas, politicamente, existe hoje uma certa similitude com os tempos em que César decidiu-se a cruzar o Rubicão. O país está dominando por uma elite perversa que destrói direitos e desequilibra o poder em favor dos ricos, impondo pesados confiscos tributários aos pobres. O conflito entre os dois lados chegou a um ponto de não retorno, pois é preciso radicalizá-lo com o objetivo de buscar restabelecer algum equilíbrio, evitando um empobrecimento e uma exploração ainda maiores dos trabalhadores.

O governo aristocrático de Brasília, que vem se tornando cada vez mais uma oligarquia destrutiva e opressora, precisa ser derrotado, seja pela via eleitoral, seja pela via das lutas de rua, de rebeliões sociais. O pacto republicano-democrático foi rompido quando Aécio Neves não aceitou o resultado das urnas e começou a urdir o golpe que resultou no afastamento do governo eleito.

Na última semana, o violento ataque perpetrado contra Lula, partindo de vários meios, comprova que as  forças conservadoras estão dispostas a usar todos os meios da guerra - judiciário, delações, acusações, destruição da imagem pública pela mídia, etc. - para alcançar seus objetivos. A sentença contra Lula já está decidida. A nova onda de ataques surgiu com três objetivos: 1) manter fogo cerrado contra a candidatura Lula; 2) esconder o fracasso de Temer depois de um ano de governo; 3) criar uma cortina de fumaça para levar ao esquecimento as pesadas denúncias que vieram a tona contra líderes do PSDB, Temer e ministros do governo.

Uma batalha campal pela democracia, por direitos e pela candidatura Lula

É preciso reconhecer que as forças progressistas, Lula e o PT não estão com uma nitidez estratégica definida e com definições de iniciativas táticas que indiquem um caminho a ser seguido e objetivos a serem conquistados. Após atos, manifestações públicas de rua e a própria greve geral, os setores populares carecem de solução de continuidade e não sabem qual será o movimento seguinte. Em que pese o momento ser propício para uma virada em favor de uma ofensiva popular, na verdade, persistem elementos de desorganização e de defensiva que vêm se observando desde o início de 2015, quando se iniciou o projeto do golpe conservador.

A rigor, existem três grandes tarefas postas na conjuntura: defender a democracia; lutar pela preservação dos direitos, contra as reformas conservadoras e o desmanche da educação, da saúde, da cultura e da ciência e tecnologia; e exigir que Lula tenha o direito de ser candidato em 2018. Há consenso no campo progressista acerca dos das duas primeiras tarefas. O que falta é organização, tática ofensiva e um cronograma de lutas.

Independentemente de que se venha apoiar ou não a candidatura de Lula, o fato é que o direito de ele ser candidato tornou-se uma questão democrática crucial para enfrentar o condomínio conservador e antipopular estabelecido no governo. Em primeiro lugar, é preciso observar que a cruzada contra Lula é a mais violenta e cruel já levada a efeito contra um político brasileiro. O juiz Moro, a Lava Jato, setores do Judiciário, o PSDB e setores da mídia jogam sem piedade para destruir a personalidade política de Lula e tudo o que ele representa enquanto política popular. Com o linchamento moral recorrente, criaram as condições para a violência política e para o linchamento físico do ex-presidente. Os conteúdos técnicos e jurídicos dos processos contra Lula já estão enterrados e seu julgamento é puramente político.

Se a Lava Jato faz reféns, como disse Gilmar Mendes, as delações forçadas são pagamento do resgate. É espantosa a degradação moral a que o país chegou: um corrupto notório como o marqueteiro João Santana teve a ousadia de afirmar que Dilma sofreu um "apagão moral". A normalidade com que se revestiu a delação de Marcelo Odebrecht e dos outros executivos, descrevendo o roteiro de como o capitalismo brasileiro assalta o Estado e os pobres, prova que a sociedade brasileira já não tem mais alma, não tem mais virtudes, vendeu-se ao demônio. As perguntas sem sentido do juiz Moro, a pavonice estúpida de Deltan Dallagnol, o disse-me-disse sem provas e sem dignidade das delações forçadas transformaram a Lava Jato num comitê de absurdos, numa guilhotina da verdade, num instrumento persecutório, numa proteção da mentira. Na equação perversa que a Lava Jato montou, serão salvos os maiores corruptos, os que causaram mais dano ao Brasil.

A caminho da violência política

A parcialidade da Lava Jato, do Ministério Público, do STF, da Polícia Federal e de setores da mídia está levando o país a uma crise de violência política gravíssima. Histórias de vários eventos políticos e militares mostram que quando se leva determinadas forças a becos sem saídas, elas lutaram até a morte. É isto o que está acontecendo hoje no Brasil com Lula e com os movimentos sociais. Cabe perguntar: o que quer o Ministério Público? A rebelião social? O que querem o juiz Moro e outros setores do Judiciário? A violência política? O que querem setores da mídia? Incendiar o país?

Ate agora não há elementos consistentes que justifiquem a condenação ou a prisão de Lula. Condená-lo ou prende-lo e impedir a sua candidatura,  deixando livres Aécio Neves, vários ministros e o próprio Temer significa jogar dinamite num deposito de pólvora e é inaceitável sob qualquer ponto de vista. Existe um curto-circuito político no país que só será desfeito se a imparcialidade do judiciário e a coincidência temporal dos processo forem estabelecidas. Como a democracia foi quebrada com o beneplácito do Supremo Tribunal Federal, parte da sociedade e um dos lados do conflito perderam toda a confiança em qualquer neutralidade das instituições. O STF está com um estopim acesso nas mãos diante de um mar de gasolina. Cabe a ele decidir se incendiará país ou se permitirá que os líquidos e os humores inflamáveis escoem para alguma saída.

As forças progressistas, se não quiserem sofrer uma derrota ainda mais devastadora, precisam se pôr de acordo, criar uma unidade, cruzar o Rubicão e invadir Brasília. Se não há um César para comandar as legiões, que as comandem outros cadetes. E se não há legiões, que se lute com os trabalhadores da cidade e do campo, com os índios, com as mulheres e com os jovens.

É preciso parar o governo e o Congresso na sua criminosa investida contra os direitos do povo. É preciso exigir do STF e do Ministério Público que recobrem a sobriedade e a responsabilidade constitucional. Nas atuais condições, as forças progressistas devem perceber que não há o que negociar. Para que se estabeleçam condições de negociação é preciso restabelecer o funcionamento da Constituição e o fim do ataque aos trabalhadores e ao povo pobre.

Do GGN, por Aldo Fornazieri 

Um novo golpe estar sendo gestado, por Luís Nassif


Do GGN

Ativista enfrenta Moro em Londres e critica ditadura do Judiciário, no mesmo evento do pretor de Curitiba

Destruída a festa de Sérgio Moro em Londres . Veja a humilhação que a mídia escondeu. Vídeo aqui.

Em evento na London School of Economics, no Reino Unido, a filósofa Djamila Ribeiro questionou o magistrado sobre seus posicionamentos à frente da Operação Lava Jato e disse que os aplausos ao magistrado eram "preocupantes", uma vez que "juiz não deveria ter lado, não deveria ter partido"; assista:

A filósofa Djamila Ribeiro questionou o juiz Sergio Moro sobre seus posicionamentos à frente da Operação Lava-Jato. O magistrado participou ontem (13) de um debate na London School of Economics, no Reino Unido, com a presença do ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo.

Na ocasião, Cardozo afirmou que o impeachment de Dilma Rousseff se tratou de um golpe baseado em "acusações pífias" e foi recebido com palmas. Quando a discussão passou às perguntas da plateia, Djamila, que falará no evento no domingo sobre questões de gênero, criticou o "discurso do populismo penal".

A ex-secretária-adjunta de Direitos Humanos da cidade de São Paulo lembrou que a decisão de interromper as atividades do Instituto Lula foi feita com uma "canetada". "Juiz não deveria ter lado, juiz não deveria ter partido", enfatizou ao comentar a torcida em torno da figura de Moro no evento.

Assista acima.

Do 247

domingo, 14 de maio de 2017

As pedras no xadrez dos autos de delação de dona Candinha Mexericos

Luís Nassif
Autos da Delação de Candinha Mexericos na ação promovida no ano de graça de 2027 pela Procuradoria Geral da República contra Persigo Janota, Egrégio Mouro e os ex-procuradores da Lava Rápido por crime de lesa-pátria.

Dona Candinha foi interrogada de acordo com os métodos desenvolvidos pela Lava Rápido em 2017, a partir do relevante depoimento de Crônica Moura, esposa do marqueteiro de Dilma -- "´Dilma não confia em ninguém e acha todo mundo burro´, diz delatora”" (https://goo.gl/L0srs1) – que definiu um novo padrão de delação, aprimorando em muito a adaptação dos ritos judiciais às pautas da imprensa da época.

Naquele momento, redefiniu-se toda a jurisprudência e os inquéritos ganharam, finalmente, a área nobre de onde nunca deveriam ter saído: as páginas de celebridades e de fofocas dos jornais.

Delação de Candinha Mexericos

Senhores procuradores,

Posso assegurar que é verdadeira na essência, a possível, suposta e eventual existência dos mexericos que passo a relatar, embora não possa garantir que sejam verdadeiros.

Mas como me ensinou meu advogado René Ariel Trote, os mexericos são importantes para mostrar a alma oculta dos réus. E ele falou de um modo tão peremptório, que soltei o palavrório seguindo a sua lição.

Como não há necessidade de jurar por mexericos, sigo a regra criada pela gloriosa equipe da Lava Rápido e pelo insigne Perseguidor Geral: todo exagero é venial, se é para  nos livrar do mal.

(Estou lendo muito depressa, doutores?)

(Continue e pare de lengalenga, fofoqueira).

Continuando
Segundo os mexericos que ouvi, o dr. Pinhossol queria incluir na delação da dona Crônica a história da sapatada que a presidente deu na empregada. Mas ficaram com receio de aparecer a empregada e dizer que era mentira e devolver-lhes a sapatada.

Então falaram para a dona Crônica mexericar sobre o temperamento da dona Dilma. Os procuradores saíram da sala coçando o saco, gargalhando esmurrando o ar e gritando yesss, isso eu vi, mas como estávamos só eles e eu naquele momento, não tenho como apresentar provas.

Um colega perguntou porque essa alegria? E eles disseram, imaginamos uma nova sacanagem contra a Dilma. E, nos seus grupos de WhatsApp, espalharam a mensagem com um kkkkkkkkk no meio, que eles aprenderam com seus colegas de Harvard. E os colegas comemoravam, dá-lhe machão kkkkkkkk.

(Tem provas?)

Isso eu não sei, doutor. Só sei que foi assim.

Eu ouvi muito mais mexericos naqueles tempos.

Me disseram que o dr. Persigo Janota tinha lautos jantares com o Ministro dr. Zé Resguardo. No jantar, falavam da vida, de vinhos e de raparigas. Persigo se jactava de sua casa no lago e da filha com doutorado nos States. Depois da quarta garrafa falavam muita besteira , mas que recuso a contar.

(É bom mesmo, senão sua delação já era).

As risadas era tão ostensivas – e, cá para nós, tão fesceninas – que uma insigne Ministra da Suprema Corte foi indagar da presidente Dilma mexericos sobre as aventuras de Zé Resguardo. Dona Dilma dizia que nada disse e nada diria nem sob tortura. E resistiu mesmo quando a ameaçaram  4 horas trancada ouvindo as pregações religiosas do Dr. Pinhossol.

Ouvi muito mais, que não posso dizer, doutor . Mas como a condição para a aceitação da delação é revelar mexericos, me vejo na obrigação de, mesmo filtrando, mexericar, pois quem não conta o mexerico nunca mais mexericará, nem no ninho dos mafagafos.

Ouvi também que o dr. Memorial de Ayres ligou para a dra. Mefitângela, e disse doutora, em nome de nossa velha relação jurídica, e do presente que nos deu Mefistófeles,  diga ao dr. Egrégio que consegui ser contratado como advogado de defesa de várias delações. Agradeço ao casal. A comemoração vai ser no sábado em casa. Vinhos de primeira.

No jantar, antes de celebrar o vinho, Memorial recitou a oração, com a credibilidade que lhe foi conferida pelos admiráveis religiosos de sua genealogia : "Ao PAE, ao Filho e ao Espírito Santo e ao Egrégio e ao Tio Flávio , que me trouxeram a prosperidade e a pax".

Também diziam na época que venderam para a doutora Mefitângela um aplicativo de espelho mágico, desenvolvido especialmente para os interrogatórios na Justiça de Curitiba.

Toda manhã, o dr.  Egrégio levantava, ligava o aplicativo e perguntava: "Aplicativo meu, tem algum juiz mais durão que eu?".

Um dia o espelho vacilou, porque apareceu em Brasilia um juiz dono de um cursinho – que empregava juizes, procuradores e desembargadores para cursos in Company – e, necessitando de marketing para o curso -- e não há melhor marketing do que convencer recalcitrantes que não se deve dizer não a um juiz armado de raios --, resolveu promover-se fechando o Instituto Crustáceo. O aplicativo ousou dizer que talvez o tal juiz fosse mais durão que o Egrégio.

Imediatamente foi despachado para a cela do Eduardo Mumunha que, toda manhã, perguntava: "Aplicativo, aplicativo meu, tem ego maior que o meu?". E o aplicativo, sem poder fugir da verdade: "O dr. Egrégio".

E vocês me perguntam: como o deputado Mumunha conseguiu um celular?

Isso eu não sei, doutor. Só sei que foi assim. A gente aumenta, mas não inventa.

Ouvi mais, doutor.

Diziam que descobriram que o escritório do dr. Faquinha continuava atuando em ações contra o estado. E que o dr. Glamouroso continuou à frente do seu escritório, ou melhor por trás porque na frente estavam parentes seus.

E tem mais. Me contaram que viram o dr. Vilmar Dentes sair no corredor da Alta Corte e bater os sapatos no chão, para tirar o barro da sola. O dr. Faquinha saiu em desabalada carreira, pensando que era com ele e gritando por socorro.

Repito, doutor, era verdade que havia esses mexericos, embora não possa garantir que nenhum mexerico fosse verdadeiro.

O que? Os senhores estão achando que minha delação não trata a Operação Lava Rápido com a solenidade devida? Mas foram vocês que começaram. E está aí a dona Crônica que não me deixa mentir.

Do GGN

O pensamento do juiz autoritário em 14 pontos, Rubens Casara

Foto: GIl Ferreira/STF

Do Justificando. O pensamento do juiz autoritário em 14 pontospor Rubens Casara

I – Introdução
Em 1950, foram publicadas as conclusões da pesquisa conduzida por Theodor W. Adorno e outros pesquisadores, realizada nos Estados Unidos da América, logo após o fim da 2ª Guerra Mundial e a derrota dos fascistas, com o objetivo de verificar a presença naquele país de tendências antidemocráticas, mais precisamente de indivíduos potencialmente fascistas e vulneráveis à propaganda antidemocrática. Os dados produzidos na pesquisa, tanto quantitativos quanto qualitativos, não deixaram dúvida: a potencialidade antidemocrática da sociedade norte-americana já era um risco presente naquela oportunidade.

Neste breve texto, prévio à elaboração de pesquisa mais profunda sobre a tradição autoritária dos atores jurídicos, a ser conduzida pelo Núcleo de Pesquisa da Passagens – Escola de Filosofia, buscar-se-á, a partir dos caracteres da personalidade autoritária identificados por Adorno, demonstrar que eventual potencialidade fascista de juízes brasileiros é um risco à democracia no Brasil, em especial porque o Poder Judiciário deveria funcionar como guardião dos direitos e garantias fundamentais, isto é, como limite ao arbítrio em nome da democracia e não como fator antidemocrático.

A investigação segue a hipótese formulada por Adorno: que as convicções políticas, econômicas e sociais de um indivíduo formam com frequência um padrão amplo e coerente, o que alguns chamam de “mentalidade” ou “espírito”, e que esse padrão é expressão de profundas tendências de sua personalidade. No caso dos juízes brasileiros, a aposta era de que seria possível falar em uma tradição ou uma mentalidade antidemocrática, que vislumbra o conteúdo material da democracia, os direitos e garantias fundamentais dos indivíduos, como um obstáculo a ser afastado em nome da eficiência do Estado.

Para identificar o espírito ou a mentalidade antidemocrática, para os fins deste pequeno artigo, a proposta é de que o leitor compare artigos, entrevistas e decisões judiciais com sintomas e características identificadas por Adorno em 1950 como tendencialmente antidemocráticos.

II – Dos sintomas antidemocráticos
Em Estudos sobre a personalidade autoritária, Adorno identifica uma série de características que revelam uma disposição geral ao uso da força em detrimento do conhecimento e à violação dos valores historicamente relacionados à democracia. Na lista de Adorno estão, dentre outros:

01. Convencionalismo: aderência rígida aos valores da classe média, mesmo que em desconformidade com os direitos e garantias fundamentais escritos na Constituição da República. Assim, por exemplo, se é possível encontrar na sociedade brasileira, notadamente na classe média, apoio ao linchamento de supostos infratores ou à violência policial, o juiz autoritário tenderia a julgar de acordo com opinião média e naturalizar esses fenômenos. No Brasil, a sociedade foi lançada em uma tradição autoritária e acostumou-se, em especial após o Estado Novo de Vargas e a ditadura civil-militar instaurada em 1964, com o uso da violência em resposta aos mais variados problemas sociais. Atos como linchamentos e arbítrios policiais tornaram-se objeto de aplausos e até de incentivo de parcela dos meios de comunicação de massa, e passam a integrar o repertório de ações aceitas pela classe média e, consequentemente, por juízes tendencialmente antidemocráticos. Ao aderirem a esses valores da classe média autoritária, esses juízes abandonariam a natureza contramajoritária da função jurisdicional, que exigiria o respeito aos direitos e garantias fundamentais, mesmo contra a vontade de maiorias de ocasião, para atuar de maneira populista e julgar de acordo com a opinião média;

02. Submissão autoritária: atitude submissa e acrítica diante de autoridades idealizadas no próprio grupo. O juiz autoritário tenderia a ser submisso com desembargadores e ministros, em relação aos quais se considera inferior e a quem atribui uma autoridade moral idealizada. Essa submissão acrítica faria com que o juiz autoritário aplauda medidas administrativas tomadas por seus “superiores”, mesmo que contrárias às prerrogativas da magistratura, e reproduza acriticamente as decisões dos tribunais, desde que o prolator da decisão seja tido como do mesmo “grupo moral” a que considera pertencer. Assim, repudiaria decisões que ampliem os espaços de liberdade e incorporaria em seu repertório jurisprudencial as decisões que, mesmo contra o texto expresso da Constituição, afastam direitos e garantias fundamentais;

03. Agressão autoritária: tendência a ser intolerante, estar alerta, condenar, repudiar e castigar as pessoas que violam os valores “convencionais”. O juiz antidemocrático, da mesma forma que seria submisso com as pessoas a que considera “superiores” (componente masoquista da personalidade autoritária), seria agressivo com aquelas que etiqueta de inferiores ou diferentes (componente sádico). Como esse tipo de juiz se revela incapaz de fazer qualquer crítica consistente dos valores convencionais, tenderia a repudiar e castigar severamente quem os viola, por ser incapaz de entender a razão pela qual esse valor foi questionado. De igual sorte, não se pode descartar a hipótese de que a vida que esse juiz considera adequada, inclusive para si, é muito limitada, o que faz com que as pulsões sexuais e agressivas sejam reprimidas de tal forma que retornam na forma de violência contra todos aqueles que, por suas posturas, incitam sua ansiedade e o seu próprio medo de castigo. A grosso modo, pode-se supor que o juiz autoritário, convencido que alguém deve ser punido por exteriorizar posições que ele considera insuportáveis, expressa em sua conduta profissional, ainda que inconscientemente, seus impulsos agressivos mais profundos, enquanto tenta reforçar a crença de si como um ser absolutamente moral. Como é incapaz de atacar as autoridades do próprio grupo, e em razão de sua confusão intelectual é incapaz de identificar as causas tanto de sua frustração quanto a complexidade dos casos postos à sua apreciação, o juiz autoritário teria que, a partir de algo que poderia ser chamado de uma necessidade interna, escolher um “bode expiatório”, em regra dirigir sua agressão contra grupos minoritários ou aqueles que considera traidores do seu grupo;

04. Anti-intracepção: oposição à mentalidade subjetiva, imaginativa e sensível. O juiz autoritário tenderia a ser impaciente e ter uma atitude em oposição ao subjetivo e ao sensível, insistindo com metáforas e preocupações bélicas e desprezando análises que busquem a compreensão das motivações e demais dados subjetivos do caso. Por vezes, a anti-intracepção se manifesta pela explicitação da recusa a qualquer compaixão ou empatia. Segundo a hipótese de Adorno, o indivíduo anti-intraceptivo tem medo de pensar em fenômenos humanos e de ceder aos sentimentos, porque poderia acabar por “pensar os pensamentos equivocados” ou não controlar os seus sentimentos;

05. Simplificação da realidade e pensamento estereotipado: tendência a recorrer a explicações primitivas, hipersimplistas de eventos humanos, o que faz com que sejam interditadas as pesquisas, ideias e observações necessárias para um enfoque e uma compreensão necessária dos fenômenos. Correlata a essa “simplificação” da realidade, há a disposição a pensar mediante categorias rígidas. O juiz autoritário tenderia a recorrer ao pensamento estereotipado, fundado com frequência em preconceitos aceitos como premissas, que faz com que não tenha a necessidade de se esforçar para compreender a realidade em toda a sua complexidade;

06. Poder e “dureza”: preocupação em reforçar a dimensão domínio-submissão somada à identificação com figuras de poder (“o poder sou Eu”). A personalidade autoritária afirma desproporcionalmente os valores “força” e “dureza”, razão pela qual opta sempre por respostas de força em detrimento de respostas baseadas na compreensão dos fenômenos e no conhecimento. Essa ênfase na força e na dureza leva ao anti-intelectualismo e à negação de análises minimamente sofisticadas. Não é possível descartar a hipótese de que o juiz antidemocrático reafirma posições duras (“lei e ordem”) como reflexo tanto de sua própria debilidade quanto da natureza da função que ele é chamado a exercer. O juiz autoritário veria tudo em termos de categorias como “forte-débil”, “dominante-dominado”, “herói-vilão”, etc.

07. Destrutividade e cinismo: hostilidade generalizada somada à desconsideração dos valores atrelados à ideia de dignidade humana. Há um desprezo à humanidade de tal modo que o juiz antidemocrático exerce uma agressão racionalizada. Ou seja, o juiz antidemocrático buscaria justificações para agressões, em especial quando acreditasse que a agressão seria aceita pelo grupo do qual participa. Em meio a juízes que aceitam agressões à pessoa, o juiz autoritário busca justificativas, ainda que contrárias à normatividade constitucional que o permitam agredir;

08. Projetividade: disposição para crer que no mundo existem ameaças e ocorrem coisas selvagens e perigosas. O juiz antidemocrático acredita que o mundo está sempre em perigo e que sua função, ainda que insuficiente, torna o mundo menos selvagem. Em suas ações, contudo, vislumbrar-se-ia a projeção de fortes impulsos emocionais inconscientes. Deve-se admitir a hipótese de que os impulsos reprimidos de caráter autoritário do juiz antidemocrático tendem a projetar-se em outras pessoas, em relação às quais ele acaba por atribuir toda a culpa por pulsões e pensamentos que, na realidade, dizem respeito a ele. Se um juiz insiste em “demonizar” uma pessoa (um acusado do crime de tráfico, por exemplo) atribuindo-lhe propósitos hostis para além da conduta imputada, sem que existam provas de nada além dos fatos imputados, existem boas razões para acreditar que o juiz autoritário tem as mesmas intenções agressivas e está buscando justificá-las ou reforçar as defesas da instância repressiva pela via da projeção. Da mesma maneira, deve-se assumir a possibilidade de que quanto maior for a preocupação com a “criminalidade organizada”, o “aumento da corrupção” ou as “forças do mal”, mais fortes seriam os próprios impulsos inconscientes do juiz antidemocrático no âmbito da destrutividade e da corrupção;

09. Preocupação com a sexualidade: preocupação exagerada com o “sucesso” sexual e com a sexualidade alheia. O juiz antidemocrático teria medo de falhar no campo sexual e compensaria suas inseguranças com condutas que acredita reproduzirem a imagem do homem viril. Penas altas e desproporcionais, por exemplo, procurariam compensar a impotência, o medo de falhar e quiçá a insegurança com o tamanho do pênis. Não se pode descartar a hipótese de que juízas procurariam reproduzir a imagem do “homem viril” como forma de se afastar do estereótipo do sexo frágil. Com Adorno, pode-se apostar na força das pulsões sexuais inconscientes do sujeito na formação da personalidade autoritária;

10. Criação de um inimigo imaginário: o juiz antidemocrático, que trabalha com estereótipos e preconceitos distanciados da experiência e da realidade, acabaria por fantasiar inimigos e riscos sem amparo em dados concretos. Nessas fantasias, marcadas por adesão acrítica aos estereótipos, prevalecem ideias de poder excessivo atribuído ao inimigo escolhido. A desproporção entre a debilidade social relativa ao objeto (por vezes, um pobre coitado morto de fome que comercializa drogas ilícitas em uma comunidade como meio de sobrevivência) e sua imaginária onipotência sinistra (“capitalista das drogas ilícitas e responsável pela destruição moral da juventude brasileira”) parece demonstrar que há um mecanismo projetivo em funcionamento. No combate ao inimigo imaginário com superpoderes igualmente imaginários, os sentimentos implicitamente antidemocráticos do juiz autoritário apareceriam por meio de sua defesa discursiva da necessidade do afastamento das formas processuais e dos direitos e garantias fundamentais como condição à eliminação do inimigo e da ameaça;

11. O fiscal como juiz e a promiscuidade entre o acusador e o julgador: a confusão entre o fiscal/acusador e o juiz é uma característica historicamente ligada ao fenômeno da inquisição e à epistemologia processual autoritária. A hipótese é de que, no momento em que o juiz tendencialmente fascista se confunde com a figura do acusador, em que passa a exercer funções típicas do acusador como tentar confirmar a hipótese acusatória, surge um julgamento preconceituoso, uma paródia de juízo, com o comprometimento da imparcialidade que atuaria como condição de legitimidade democrática do julgamento. Tem-se, então, o primado da hipótese sobre o fato. A verdade perde importância diante da “missão” do juiz, que aderiu psicologicamente à versão acusatória, de comprovar a hipótese acusatória ao qual está comprometido;

12. Ignorância e confusão: uma característica da personalidade autoritária é que ela se desenvolve no vazio do pensamento. Assim, o juiz autoritário em suas manifestações deixaria claro a ignorância e a confusão acerca de conceitos políticos, econômicos, culturais, criminológicos, etc. A hipótese, nesse particular, é que se o indivíduo não sabe sobre o que se manifesta, razão pela qual substitui o conhecimento pela força em uma postura anti-intelectual, que ele disfarça como “senso prático” (“eu faço”, “eu entendo porque sou eu que faço”, “eu sei porque passei em um concurso”, etc.”), precisa preencher o vazio cognitivo com chavões, senso comum, preconceitos difundidos na classe média e estereótipos. O pensamento estereotipado, que atua em favor de tendências reacionárias (todo movimento e propaganda antidemocrática busca o ignorante e, por vezes, alcança também o “semi-formado”, aquele que tem uma formação “superior” e diplomas, mas é incapaz de reflexão porque não consegue articular as informações recebidas ou as desconsidera por acha-las desimportantes para suas metas individuais). Impressiona, ainda hoje, o grau de ignorância e confusão observado em pessoas com nível educacional formal relativamente alto. Também não se pode descartar o fato de que a ignorância e a confusão, não raro, são incentivadas e produzidas pelos meios de comunicação de massa e pela propaganda, muitas vezes direcionada a fins antidemocráticos ou pseudodemocráticos;

03. Pensamento etiquetador: o pensamento etiquetador é fenômeno conexo ao pensamento estereotipado. O fundo de ignorância e confusão, mesmo que inconscientemente, gera um quadro de ansiedade, semelhante ao estranhamento e a ansiedade infantil, o que faz com que o indivíduo recorra a técnicas que afastem essa ansiedade e orientem a ação, mesmo que essas técnicas sejam grosseiras e falsas. Os estereótipos e as etiquetas, com as quais divide o mundo e as pessoas (“homem mau”, “pessoas de bem”, “homem do saco”, “personalidade voltada para o crime”, etc.), servem ao indivíduo como um substituto do conhecimento (ou uma forma de conhecimento precária e tendencialmente falha) que torna possível que ele tome decisões e posições (tendencialmente antidemocráticas, uma vez que falta a informação que legitima as escolhas verdadeiramente democráticas). A hipótese aqui é a de que o juiz antidemocrático recorre ao pensamento etiquetador para produzir em si uma ilusão de segurança intelectual ou como forma de buscar apoio popular no meio que também só pensa a partir de estereótipos e outras estratégias de simplificação da realidade;

14. Pseudodemocracia: a personalidade autoritária, por questões ligadas à ideologia, muitas vezes, caracteriza-se por recorrer a distorções de valores e categorias democráticas para alcançar resultados antidemocráticos. Há, nesses casos, um descompasso entre o discurso oficial e a funcionalidade real. Isso ocorre, por exemplo, ao se defender práticas racistas em uma sociedade racista a partir da afirmação do princípio democrático da maioria (“se a maioria é racista, o racismo está legitimado”). A hipótese, portanto, é de que o juiz autoritário recorre ao argumento de estar atendendo às maiorias de ocasião, muitas vezes forjadas na desinformação, para violar direitos e garantias fundamentais.

III – Desafio ao leitor
Agora, cabe ao leitor para ter uma ideia do pensamento e da mentalidade dos juízes brasileiros comparar artigos, entrevistas, decisões e demais manifestações desses importantes atores jurídicos com os sintomas e caraterísticas identificados por Adorno como tendencialmente antidemocráticos.

Importante ter em mente que as características e sintomas descritos por Adorno, em regra, apresentam nexos entre si, mas se referem apenas a uma tendência. As conclusões sobre a aderência, ou não, de cada pessoa às características da personalidade tendencialmente fascista nos servem para refletir sobre a formação da subjetividade de nossa época e a responsabilidade dos atores sociais na defesa da democracia.

Rubens Casara é Doutor em Direito, Mestre em Ciências Penais e Juiz de Direito do TJ/RJ

Do GGN

Haja reforma para financiar a elite, diz Chico Pinheiro

Chico Pinheiro fura o bloqueio da Globo e detona Temer por empregar babá do filho, Michezinho.

Em post no Twitter, o jornalista Chico Pinheiro, do Bom Dia Brasil, da TV Globo, chama Michel Temer de "sem noção" pelo fato de ele pagar a babá de seu filho via Palácio do Planalto; "Sem noção, esse Temer. Pra financiar esse tipo de gasto público das elites dos poderes, não há reforma que dê conta", diz Chico.

 Em post no Twitter, o jornalista Chico Pinheiro, do Bom Dia Brasil, da TV Globo, chama Michel Temer de "sem noção" pelo fato de ele pagar a babá de seu filho via Palácio do Planalto.

"Sem noção, esse Temer. Pra financiar esse tipo de gasto público das elites dos poderes, não há reforma que dê conta", diz Chico.

Registrada como assessora do Gabinete de Informação em Apoio à Decisão, Leandra Brito, babá de 'Michelzinho', ganha R$ 5.194 mensais como funcionária do Palácio do Planalto, sem contar as diárias referentes às viagens em que acompanha o casal Temer.

Do 247

Com o fim da CLT esqueceu-se de comemorar a Lei Áurea

Imagem: Arquivo
Esquecemos de comemorar a criação da Lei Áurea

O linchamento de Lula e Dilma por crimes de corrupção ainda não julgados ocupa espaço demais na opinião pública. Um país criado, durante mais de três séculos, a partir do suor e do sangue negro e indígena deveria destacar os 129 anos da extinção oficial da escravidão, em respeito à própria História.

Lembrar que a escravidão foi abolida através da Lei Nº 3.353, de 13 de maio de 1888, pode despertar a consciência popular a respeito da formação do Brasil. Continuamos tão preconceituosos e violentos quanto no passado escravocrata, principalmente com as reformas do governo Temer que destruiu os direitos trabalhistas garantidos na CLT, retornando-se a uma nova forma de escravidão, afetando sensivelmente os mais pobres.

O negro ganha destaque nos sites de grandes jornais brasileiros quando supera a pobreza e se torna juiz (Globo, Estadão e Folha até o meio da tarde do dia 13/05/17 não citavam o aniversário da Lei Áurea). Vira notícia porque geralmente está associado às profissões subalternas como faxineiro e lixeiro. Negros ocupam apenas 18% dos cargos de destaque no Brasil, embora pretos e pardos sejam a maioria da população, segundo o IBGE.

Mais de 60% da população carcerária nacional é composta por negros (Carta). Não sendo novidade, não rende notícia. Os números indicam que a possibilidade de ser preso é maior do que a dos brancos, diferentemente do direito à ascensão social.

Se na data de hoje lembrássemos que milhões de índios foram “gastos” (conforme expressão da época) no Brasil escravocrata, saberíamos que o massacre contra o povo Gamela, no Maranhão, onde indígenas tiveram as mãos decepadas e os joelhos cortados não foi caso fortuito, mas prática secular de setores da sociedade com a conivência ou apoio direto de parlamentares e ministros de Estado (inclusive do governo Temer). Os vândalos sanguinários não são os índios que se manifestam por sua sobrevivência segurando arco e flecha. O aspecto cultural dos utensílios que carregam é desprezado desde 1500.

Através do resgate da Lei Áurea poderíamos explicar aos jovens quais relações sociais permitiram que se tornassem corriqueiras expressões como “Isso é coisa de preto” ou “Negro quando não caga na entrada, caga na saída”. Por que a maioria das empregadas domésticas que vemos nas novelas da TV são negras. O que levou o Brasil a ser um país que lincha publicamente uma pessoa por dia e por que 77% dos jovens assassinados têm a pele negra.

A Lei Áurea encerrou definitivamente a vergonhosa exploração, submissão e destruição legal de outros seres humanos em território brasileiro. Ela não impede, entretanto, que trabalhadores rurais em fazendas do país inteiro ainda sofram de servidão por dívida, jornada exaustiva e trabalho forçado sob a mira de uma arma. Mudar esse quadro e evitar que o Congresso Nacional aprove projetos (como o PL 6442/2016) que eliminam direitos trabalhistas exige mobilização popular.

As prisões de políticos e empresários corruptos efetuadas ao longo da Lava Jato são motivo de orgulho. O show midiático baseado em vazamentos suspeitos e delações frágeis, por outro lado, deliberadamente atrapalha a compreensão do momento atual (que ultrapassa a Lava Jato) condenando precocemente investigados. Os eventos relevantes da História, entre eles a Lei Áurea, nos surpreendem com seus esclarecimentos sobre o presente quando objetos de reflexão.

Do GGN

Personagens de Veja e Antagonista se digladiam na mídia

Ex-amigo, Reinaldo diz que Antagonistas são detratores profissionais

Depois que Diogo Mainardi o mandou "dar a bunda" no Twitter, Reinaldo Azevedo, de Veja, conta que chegou a ser convidado por ele e por Mário Sabino, com uma "proposta irrecusável", a participar do site O Antagonista, que é metade da corretora Empiricus; ele promete, no entanto, aos leitores: "Não vou deixar de lado as questões sérias sobre o país e o mundo para me ocupar de um site, de uma corretora e de uma dupla de detratores profissionais"

O blogueiro de Veja Reinaldo Azevedo escreveu uma resposta a quem chamou de "dupla de detratores profissionais" - Diogo Mainardi e Mario Sabino -, dona do site O Antagonista, que é metade da corretora Empiricus - que faz campanha terrorista contra o ex-presidente Lula.

A resposta aconteceu depois que Mainardi mandou Reinaldo "dar a bunda". O colunista de Veja promete, no entanto, aos leitores: "Não vou deixar de lado as questões sérias sobre o país e o mundo para me ocupar de um site, de uma corretora e de uma dupla de detratores profissionais".

Confira a íntegra:

Diogo e Mario me queriam como sócio. Recusei. Então virei inimigo
Sim, eles me convidaram. E até lastimaram a minha recusa. Aí passaram a atacar um amigo, sem nem rompimento prévio. Questão de mercadores...)
  
Vejam como são as coisas. No dia 20 de abril, o site de humor & negócios "O Antagonista" — metade pertence a uma corretora chamada "Empiricus" — publicou um de seus costumeiros ataques contra mim. Escrevi um texto em resposta. E não publiquei.

Por quê? Já nos seus primeiros dias, Diogo Mainardi e Mario Sabino deixaram claro que, para se estabelecer, a página precisava investir contra mim. Em vez de ampliar, então, o espaço das ideias não esquerdistas, eles preferiram se comportar como (de)predadores de um amigo antigo, com quem nem mesmo houve rompimento formal.

Responder por quê? Minha mulher e minhas filhas eram, e são ainda, as mais firmes: "Ignore! É visível que eles o atacam só para ganhar espaço". E, mais uma vez, silenciei. Nesta quinta, diante de nova investida, dei uma resposta educada e bem-humorada. E Diogo Mainardi resolveu sacar uma arma política mortal: "Vai dar a bunda, Reinaldo".

Dizem-me que, quando o fez — sempre há alguém que conta —, a estratégia do tuitaço já estava armada. Faz sentido. Um argumento político dessa natureza merece circular nas redes. Não me importo, não! Acho é bom! Quero que saibam que esse é o melhor argumento de Diogo Mainardi e de seu Leporello.

Na sequência, vai boa parte daquele texto que não publiquei e outras coisinhas. E fiquem calmos os leitores! Não vou deixar de lado as questões sérias sobre o país e o mundo para me ocupar de um site, de uma corretora e de uma dupla de detratores profissionais.

Sócio
Os dois que agora me demonizam me chamaram para ser sócio do empreendimento. Fosse essa uma calúnia, teria como provar. Disse "não" por uma penca de razões então silenciadas. Afirmei apenas que já tinha sido patrão, que não havia gostado da experiência e que eu não estava disposto a abrir mão da segurança que tinha.

Naquele texto do dia 20, eu os (leitores) poupava de detalhes da conversa que mantive com Mario ao telefone. Agora revelo porque, acreditem, tem a sua graça. Aquele que nunca se conformou em ter deixado de ser o meu "chefe" (na cabeça dele ao menos) me fez uma proposta irrecusável (rsss), que vinha acompanhada de elogios, ainda que à moda Sabino.

Esse empedernido antagonista da razão sugeriu qual seria a tarefa de cada um: Diogo entraria com o nome (???); ele, Mario, seria o comandante-geral e cuidaria, vamos dizer, do lado empresarial; e eu escreveria — como ele disse então, "Escrever, para você, é fácil". Ainda que eu não tivesse reservas de outra natureza, não poderia aceitar um convite em que um entra com a fama, o outro se dedica a jantares e afazeres sociais, e eu, ao trabalho. Mario queria voltar a ser meu chefe, nem que, para tanto, formalmente, eu fosse um sócio.

De resto, na análise política, quem tinha e tem um nome firmado, gostem ou não, sou eu. Diogo — que escreve muito bem; não me arrependo de elogios que fiz a seu texto e os mantenho — está mais para uma celebridade. Trata-se, reitero, de algo até injusto com sua escrita — quando ele não opta por telegrafar. Mas é visível que ele gosta desse papel. Se eu tivesse topado, seria prudente que cuidasse dos textos. Diogo é muito ruim de análise. Erra todas. Sim, é um cara culto, lido. Mas nada sabe de política.

Testemunha
Fui testemunha de defesa do antigo "enfant terrible" de Veneza (está envelhecendo mal) em dois ou três processos (como não é uma delação premiada, permito-me a imprecisão). Sem que tenha havido briga ou rompimento, começaram a me atacar pouco tempo depois de inaugurada a página. Entendi: "Ou é nosso sócio ou é nosso inimigo". As pessoas fazem suas escolhas. O que falei de ambos até hoje está em arquivo. Consultem no Google. Jamais os destratei. Nem quando me transformaram num alvo diário de baixarias.

Passei a ignorá-los porque entendi que tomavam unilateralmente a decisão de romper uma amizade com o propósito de se estabelecer. Era uma disputa de mercado. Fazer o quê? Eu continuaria a fazer o meu trabalho, como continuei. Não me dedico nem ao humor nem aos negócios.

Lava Jato
Quando surgiu "O Antagonista", eu já havia tornado públicas algumas críticas à Lava Jato. A dupla viu ali a oportunidade de me atacar. Os dois se tornaram lava-jatistas fanáticos, e os que ousassem criticar esse ou aquele aspectos da operação seriam vendidos.

Era tal o ânimo de me perseguir — e parece que o meu silêncio mais lhes assanhava o ódio — que chegaram a inferir, ainda que de forma oblíqua (até onde sei), que as letras "RA" que apareciam nas notas de um aparelho celular de Marcelo Odebrecht designavam "Reinaldo Azevedo". Não. Referiam-se ao executivo da empresa "Rogério Araújo".

Sabino e a Odebrecht
Eles sabiam muito bem que nunca tive nenhuma relação com a Odebrecht ou com o Odebrecht. Não é o caso de Sabino. Quando a revista "Piauí" publicou que ele atuara por algum tempo, na condição de profissional do ramo de assessoria, como conselheiro de Marcelo, indo à sua casa, em companhia de Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, fiquei quieto. E instruí Ricardo Jensen, que cuida dos comentários: "Não publique nada a respeito".

Está relatado na "Piauí" o que teria sido o início de Sabino em sua nova profissão:

"Aconteceu, então, que Sabino começou a trabalhar. Participava de reuniões com clientes da casa, às vezes com o patrão, às vezes sem. Já estava 'do lado de lá'. Mas mantinha o figurino antigo, inclusive na afetação de certa arrogância, comum a quase todos os jornalistas, teatral e exacerbada no caso dele. Um exemplo vazou: na reunião com o principal cliente da casa, Sabino empalideceu os presentes — Marcelo Odebrecht entre eles — ao sugerir, muito senhor de si, que a empresa deveria mudar de nome — como é que ninguém pensou nisso antes? Participava do jantar, no apartamento de Odebrecht em São Paulo, o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto no ano passado."

Sabino foi hábil em espalhar a versão de que a Secretaria de Comunicação da Presidência havia exigido a sua demissão.

Questões e jantar no Gero
Não publiquei nada sobre aquela ocupação de Sabino, mas me perguntei à época e me pergunto agora o que teria feito "O Antagonista" se houvesse sido eu a me encontrar com Marcelo Odebrecht, na casa do próprio, em companhia de Eduardo Campos, que, convenham, vivo ou morto, não faz boa figura na Lava Jato. E não era um encontro de jornalista com a fonte. Era uma reunião, no fim das contas, de negócios.

Há alguns dias, sites de esquerda, históricos detratores de Mario, Diogo e Reinaldo, resolveram explorar o trecho do depoimento de um dos delatores da Odebrecht. Este afirmou ter visto Diogo no restaurante Gero, no Rio, em companhia de Aécio Neves, Alexandre Accioly e Dimas Pimenta. Nesse dia, Dimas teria se levantado da mesa e passado ao delator, segundo seu próprio testemunho, um papel com o número de uma suposta conta secreta de Accioly em Cingapura para depósito de uma parcela de dinheiro que Marcelo Odebrecht teria prometido ao então governador de Minas.

Na sequência, veio a conversa, sobre a qual não me ocupei, de que a empresa do marqueteiro de Aécio estaria na raiz de criação de "O Antagonista". Ignorei, de novo, os dois assuntos, como vocês sabem. Mais uma vez, não permiti que um só comentário vazasse a respeito. Até porque, ainda que fosse tudo verdade — Diogo nega que tenha havido o jantar —, tais eventuais ocorrências provariam o quê, além de nada? Mas me indaguei outra vez o que não teriam feito os meus ex-amigos se, em lugar de "Diogo Mainardi", o delator tivesse pronunciado as palavras "Reinaldo Azevedo".

Mais: eu não faria baixa exploração do episódio, e não estou fazendo agora, porque eu mesmo já disse aqui que a Lava Jato aplica a Aécio Neves critérios e procedimentos distintos daqueles dispensados a outros investigados. A Justiça vai dizer se ele é culpado ou inocente. Eu acho que há um trabalho deliberado e organizado de desconstrução da sua imagem. Rodrigo Janot, por exemplo, pediu a abertura de três inquéritos sobre um mesmo episódio.

Por quê? Obsessão!
Por que eles agem como agem e eu como ajo? Temos moralidades distintas, está posto. A minha não permite fazer com os dois o que a deles permite que façam comigo. E não lembro agora alguns episódios para tentar vinculá-los a isso ou àquilo. Eles se sentem bem no papel de policiais, promotores e juízes — desde que não seja do próprio comportamento. Tanto é que vivem "prendendo Lula amanhã". Eu sou jornalista.

Eles sabem o que é viver sob ataque permanente de uma tropa organizada. Lembro-me da consternação de Sabino quando os sites de esquerda publicaram que ele havia manipulado a lista de "Livros Mais Vendidos" da VEJA.

Sempre que foram atacados, saí em sua defesa. Eles preferiram se juntar aos que me atacam. Um pragmático amoral diria se tratar de "uma questão de mercado".

Acho que é coisa de mercadores.

Do 247