Zé Sarney
FORBES
(Revista americana sobre economia)
Para a maioria dos
jovens profissionais brasileiros recém saídos da faculdade, o emprego dos
sonhos é trabalhar para o governo. Só no ano passado, cerca de 12 milhões de
brasileiros foram contratados em 180.000 postos do setor público por meio de
exames seletivos.
Na maioria dos casos,
não é necessária nenhuma experiência anterior nas áreas específicas para as
quais é solicitada a certificação, e o salário inicial pode ser de até US $
5.000 por mês, não incluindo os benefícios, que são normalmente mais elevados
do que o salário.
Um relatório de 2012
publicado no jornal O Globo, com base nos dados do Censo de 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que os funcionários
públicos em 88% dos cargos preenchidos pelo governo podem ganhar muito mais do
que os trabalhadores do setor privado, para não mencionar que, por lei,
trabalhadores do setor público não podem ser demitidos nem sofrem cortes no
pagamento.
Essa concorrência
feroz, resultou em um fenômeno que, em parte, explica o crescimento da educação
privada no Brasil ao longo da década de 2000 -, há pelo menos 500 empresas no
país que oferecem cursos de preparação para funcionário público, uma indústria,
que cresce a uma taxa de 40% anualmente.
Trabalhar para o
governo também é muito gratificante para aqueles que sabem como fazer conexões
com as pessoas certas. Tomemos o caso de José Sarney, ex-presidente do Brasil,
que começou sua carreira política na década de 1950, em seu estado natal, o
Maranhão, que era, na época, e continua sendo até hoje, o estado mais pobre do
país.
A ascensão de Sarney na
política desde seus dias como um jovem congressista só foi ofuscada pelo
incrível crescimento de sua riqueza. Sarney começou na política brasileira ao
longo de cinco décadas atrás, como um membro do partido Arena, que se alinhou
com a ditadura militar da época. Uma vez que o Brasil se tornou uma democracia,
ele deixou a Arena para se juntar ao Partido da Frente Liberal, que ele ajudou
a criar.
Seu grande momento veio
quando ele concordou em concorrer à vice-presidente na chapa de Tancredo Neves,
membro do PMDB, um dos partidos que se opunham ao governo militar. Neves foi
eleito, mas não assumiu o cargo devido a uma doença que lhe tirou a vida alguns
dias antes de sua posse, assim, Sarney tomou seu lugar, servindo como
presidente de 1985 a 1990.
No início, ele era
muito popular entre as massas, mas, em seguida, sua imagem ficou associada a
hiperinflação do Brasil no final dos anos 1980 e início de 1990. Mais
recentemente, Sarney também era o presidente do Senado do Brasil entre 2009 e
2013.
Ao longo dos anos,
Sarney e sua família tornaram-se o clã político mais poderoso e onipresente do
Maranhão, e ele é, sem dúvida, considerado como a síntese do Brasil dos
coronéis rurais.
Em 1973, ele adquiriu
um jornal chamado Jornal do Dia, que, mais tarde, foi rebatizado como O Estado
do Maranhão. O jornal foi a semente de um império de mídia hoje conhecido como
Sistema Mirante de Comunicação, que cresceu consideravelmente, enquanto Sarney
estava como presidente do Brasil.
O sistema agora
compreende as estações de rádio e uma rede de emissoras de televisão afiliadas
à emissora do Brasil líder, Globo, cujo fundador, Roberto Marinho, foi um dos
bilionários originais Forbes e amigo pessoal de Sarney.
Sistema Mirante de
Comunicação é de propriedade dos filhos de Sarney: Roseana Sarney Murad, a
atual governadora do Maranhão, o deputado José Sarney Filho e Fernando Sarney,
que é engenheiro.
Além disso, os Sarneys
também possuem declaradamente uma vasta carteira de imóveis e até mesmo terras
no estado do Maranhão, com potencial de exploração de petróleo. A mídia
brasileira estima seu patrimônio líquido em mais de $ 100 milhões.
E eles ainda faturam
nos grandes dias de pagamento de serviço público. O próprio Sarney ganha R$
26.000 por mês entre o seu salário como senador e duas pensões a partir de
passagens anteriores como governador e um deputado em seu estado natal, o
Maranhão, além de benefícios. A maioria de seus custos pessoais são cobertos
pelo Estado.
Sua filha Roseana
recentemente divulgou o lançamento de uma licitação para escolher um fornecedor
de refeições para abastecer as casas oficiais durante o ano de 2014. A lista de
alimentos a serem prestados inclui 80 quilos de lagosta fresca e 1,5 toneladas
de camarão, que valem, pelo menos, US$ 400.000.
O pregão foi lançado na
mesma época que acontecia a carnificina nas prisões do Maranhão que chamou a
atenção do Escritório da ONU do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, que
para a governadora Roseana é resultado de um Maranhão “enriquecido ao longo dos
últimos anos”.
O mesmo tipo de bonança
ainda está para ser visto pela população do Maranhão. Segundo o Banco Mundial,
o Maranhão é o estado mais pobre do Brasil, e a taxa de pobreza é de 52% da
população. Ele tem uma renda média per capita de menos de US$ 2 por dia. Os
Sarney têm governado o estado desde a década de 1960, apesar de ter sido ligado
a vários escândalos políticos ao longo dos anos.
A fim de continuar no
poder, eles não são tímidos de usar seu império de mídia, o que é
particularmente útil no Maranhão, onde a maioria do eleitorado é analfabeto. O
poder da família também se espalha para outros territórios. Em 2009, um
tribunal brasileiro proibiu um dos principais jornais de São Paulo de relatar
as acusações de nepotismo e corrupção contra Sarney.
Eles contam o
ex-presidente Lula da Silva e sua sucessora, a atual presidente Dilma Rousseff,
como aliados. Eles são, em essência, a imagem final do semi-feudalismo, e também
o passado que os brasileiros estão tão ansiosos para deixar para trás. De
alguma forma eles conseguiram sair ilesos, e seu poder e riqueza ainda não
mostram quaisquer sinais de desaparecimento.
Não admira que muitos
jovens queiram ser como eles.
Do blog do Garrone