Imagem de presos no MA
Os bispos do Maranhão
divulgaram uma carta responsabilizando o modelo econômico-social construído
como responsável pela violência no estado.
A carta apresenta um
contra ponto à declaração da governadora Roseana Sarney (PMDB) que credita a
escalada da violência ao aumento da riqueza do estado. “É verdade que a riqueza
no Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a
desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem entre os
mais baixos do Brasil. Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que
nós queremos”, afirma o documento, assinado por 13 bispos.
Os bispos do Maranhão
culpam a desigualdade social e a falta de ações de Estado e Justiça pela
recente onda de violência.
O tom crítico da carta
ainda destaca que o Estado conseguiu erradicar a febre aftosa, mas não é capaz
de eliminar doenças como hanseníase e tuberculose, sugerindo que a prioridade
do governo não é tratar da saúde do povo.
CARTA DOS BISPOS DO
MARANHÃO
Ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade “Justiça e paz se
abraçarão” (Sl 85,11).
Ainda estão vivas em
nós a forte emoção e dor, provocadas pelos últimos acontecimentos no Estado do
Maranhão – a morte violenta da Ana Clara, criança de seis anos que faleceu após
ter seu corpo queimado nos ataques a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo
Penitenciário de Pedrinhas; o clima de terror e medo vivido na cidade de São
Luís.
A nossa sociedade está
se tornando cada vez mais violenta. É nosso parecer que essa violência é
resultado de um modelo econômico-social que está sendo construído.
A agressão está
presente na expulsão do homem do campo; na concentração das terras nas mãos de
poucos; nos despejos em bairros pobres e periferias de nossas cidades; nos
altos índices de trabalhadores que vivem em situações de exploração extrema, no
trabalho escravo; no extermínio dos jovens; na auto-destruição pelas drogas; na
prostituição e exploração sexual; no desrespeito aos territórios de indígenas e
quilombolas; no uso predatório da natureza.
Esta cultura da
violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas,
resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria negros e pobres. O nosso
sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a penitenciária
transformou-se em uma universidade do crime. Não nos devolve cidadãos
recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas que veem na vida
do crime a única saída para o seu futuro.
Vivemos num Estado que
erradicou a febre aftosa do gado, mas que não é capaz de eliminar doenças tão
antigas como a hanseníase, a tuberculose e a leishmaniose.
É verdade que a riqueza
no Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a
desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem entre os
mais baixos do Brasil.
Não é este o Estado que
Deus quer. Não é este o Estado que nós queremos! Como discípulos missionários
de Jesus, estamos comprometidos, junto a todas as pessoas de boa vontade, na
construção de uma sociedade fraterna e solidária, sem desigualdades, sem
exclusão e sem violência, onde a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11 ) .
A cultura do amor e
paz, que tanto almejamos, é um dom de Deus, mas é também tarefa nossa. Nós,
bispos do Maranhão, convocamos aos fieis católicos e a todas as pessoas que
buscam um mundo melhor a realizarem um gesto concreto no próximo dia 2 de
fevereiro, como expressão do nosso compromisso com a justiça e a paz. Neste dia
– Festa da Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa Senhora das
Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades uma caminhada
silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às pessoas comprometidas
com esta causa e às que não puderem participar da celebração sugerimos que
acendam uma vela em frente à sua residência, como sinal do seu empenho em favor
da paz.
Invocando a proteção de
Nossa Senhora, Rainha da Paz, rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de
assumirmos nossa responsabilidade social e política para construirmos uma
sociedade de irmãs e irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e na
paz.
Centro de Formação de
Mangabeiras-Pinheiro – MA, 15 de janeiro de 2014
Dom
Armando Martin Gutierrez
Dom
Carlo Ellena
Dom
Élio Rama
Dom
Enemésio Lazzaris
Dom
Franco Cuter
Dom
Gilberto Pastana de Oliveira
Dom
José Belisário da Silva
Dom
José Soares Filho
Dom
José Valdeci Santos
Dom
Sebastião Bandeira Coêlho
Dom
Sebastião Lima Duarte
Dom
Vilsom Basso
Dom
Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges
Do Blog do Cutrim
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