domingo, 22 de agosto de 2021

BOLSONARO FICOU CARO PARA A TURMA DO DINHEIRO FÁCIL, POR FERNANDO BRITO

O Brasil vive, enfim, a tal “enxurrada de dólares”, tão prometida pelos que se dedicaram, a todo custo, a demolir qualquer pretensão do país ao progresso econômico social.

A Folha, neste domingo. dedica duas reportagens à análise das pioras que o país sofreu no Governo Bolsonaro, a mais completa delas a de Fernando Canzian mostrando que o ”Custo Bolsonaro’ cobra fatura com dólar, inflação, juros e miséria em alta“, de onde reproduzo o gráfico daí de cima expondo a redução violentíssima dos investimentos estrangeiros no país: apenas um terço em um ano (considerado o acumulado em 12 meses).

E não se diga que é a pandemia – o que certamente influiu no início de 2020 – porque a velocidade de retração das inversões externas acelerou-se este ano, quando o cenário econômico internacional já era de reaquecimento.

A análise é ampla e passa por muitos pontos já abordados aqui: inflação e juros em alta, renda em baixa, dólar sobrevalorizado e degradação da condição de vida dos brasileiros, com a entrada de 34 milhões de pessoas nas classes D e E.

Fiquemos só nas origens políticas deste desastre: temos um governo absolutamente carente de credibilidade, previsibilidade, estabilidade e, cada vez mais, legitimidade.

Temos, numa palavra, algo pior que um desgoverno: um não-governo.

Explico: mais do que turbulência, carecemos de rumo e estamos submetidos às flutuações do varejo da política sem chance de controlá-las pela absoluta falta de Norte, de horizonte a se perseguir.

“É uma grande frustração para quem esperava alguma coisa com pé e cabeça do governo Bolsonaro e sua equipe”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Fator.

Mas quem esperava isso de um sujeito que, afora apontar como “Posto Ipiranga” um neoliberal furioso, despreparado e ultrapassado até para as políticas conservadoras, era um sociopata sem pé nem cabeça, com propostas alucinadas como a de “metralhar os petralhas”, industrializar bijuterias de nióbio, liberar o garimpo e a grilagem e distribuir um arsenal de pistolas e carabinas a seus eleitores?

Até certo ponto, para a turma que tem dinheiro e, por isso, parece precisar menos de governo, pois já manda, pouco se lhe importava a incapacidade do governo, desde que ele fosse capaz de não deixar que se aproximasse do leme quem queria dar rumo ao Brasil.

Mas o cara extrapolou e passou a ameaçar até a flutuação do barco e de seus tesouros. Precisam arranjar outro, mas o motim que fizeram para colocá-lo ao timão arruinou os quadros com que achava poder contar.

É por isso que se descabelam atrás de quem possa fazer este papel, trazendo uma novidade por mês, sem que nenhuma emplaque.

A velha máxima de que em política não há vácuo está operando, com o favoritismo de Lula a caminho de tornar-se irreversível.

Tijolaço.

XADREZ DA TEMPESTADE PERFEITA QUE SE FORMOU CONTRA BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Aparentemente, o pesadelo bolsonarista entra na fase agônica. Em breve, será substituído por outros pesadelos, de um país que abdicou do senso civilizatório.

Forma-se a tempestade perfeita. E, desta vez, contra Bolsonaro. Aparentemente, o pesadelo bolsonarista entra na fase agônica. Em breve, será substituído por outros pesadelos, de um país que abdicou do senso civilizatório.

O jogo é simples de entender.

Em qualquer organização criminosa, a coesão depende da capacidade do chefe de se mostrar poderoso.  Quando começa a vacilar, ocorre o desembarque dos aliados de ocasião e, principalmente, daqueles envolvidos em ações criminosas.

Era essa a percepção de Bolsonaro, quando ampliou-se seu conflito com o Supremo Tribunal Federal (STF). Gradativamente, seus principais seguidores foram sendo engolfados por denúncias e ações judiciais – os irmãos Weintraub, Ricardo Salles, general Pazuello. A CPI do Covid acelerou o processo, denunciando os militares envolvidos na esbórnia da saúde.

Montou-se um cabo de guerra, tendo de um lado Alexandre de Morais, MInistro do STF, e de outro Bolsonaro. Entende-se por aí o desespero de Bolsonaro. Se ele não enfrentasse e vencesse a contenda, haveria a debandada de seu grupo.

No desespero, tentou de tudo. Apelou para as Forças Armadas, blefou o quanto pôde, fez paradas de motos, convocou seguidores para manifestações, valeu-se o quanto pôde do Gabinete do Ódio. Nada deteve a marcha do STF.

E aí revelaram-se dois Bolsonaros, o da realidade virtual e o do mundo real.

O da realidade virtual tem a assessoria profissional de Steve Bannon, no objetivo único de animar seguidores. O do mundo real é cercado de uma mediocridade ampla e irrestrita, de generais da reserva oportunistas, sem lastro intelectual e sem conhecimento político. Só um completo analfabeto político faria como o Ministro da Defesa, Braga Netto, de blefar na ameaça ao Congresso, e não ter mais nenhuma carta à mão quando Congresso e STF pagaram para ver.

Paralelamente, o governo Bolsonaro passou a ser totalmente desacreditado no front econômico. No início, Guedes se sustentou com sua conversa de vendedor de biotônico e sua disposição de entregar ao mercado os grandes negócios da privatização. Era uma maneira de disfarçar sua gritante anomia em relação aos problemas reais da economia.

Gradativamente, as magias de Bolsonaro e Guedes foram cansando por falta de inovação. Sempre a mesma coisa, Bolsonaro criando eventos para chocar e Guedes manipulando conclusões econômicas falsas. O avanço inexorável da realidade esvaziou ambos os discursos.

Agora se tem a derrota plena de Bolsonaro nas seguintes frentes:

1.   perdeu a batalha para o STF, depois de uma tentativa desastrada de tentar individualizar os alvos – Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Conseguiu a unanimidade do Supremo em defesa dos seus.

2.   O blefe do impeachment de ambos os Ministros. Teve que voltar atrás na forma mais atabalhoada possível: em uma mesma live, dizendo-se aberto para rever a ambos e, ao mesmo tempo, reiterando as críticas. Um bufão!

3.   O blefe da intervenção militar, claramente exposto pelo cantor Sérgio Reis. Bolsonaro só conseguiria mobilizar as Forças Armadas no bojo de grandes movimentações populares em defesa do golpe. Não conseguiu uma coisa nem outra. Já Sérgio Reis conseguiu um processo do qual não irá se livrar facilmente.

4.   O blefe da ameaça de Braga Netto ao Congresso. Teve que aceitar uma convocação para uma audiência na qual ouviu de um deputado da oposição – Paulo Teixeira, do PT – que, se não acatasse a Constituição, seria preso.

5.   A total desarticulação de Paulo Guedes com a reforma tributária, e tentando se equilibrar entre o auxlio-emergência – essencial para a recondução de Bolsonaro – e a Lei do Teto.

6.   As declarações do presidente do Senado, que desceu do muro para atacar as ameaças às eleições.

7.   O cerco implacável ao Procurador Geral da República Augusto Aras, obrigando-o a atuar com firmeza na denúncia dos quadros bolsonaristas que ameaçavam manifestações no dia 7 de Setembro.

8.   Derretimento gradativo de sua popularidade.

Agora, o primarismo de Bolsonaro, que o habilita no máximo a jogos de porrinha, terá que enfrentar um xadrez complexo.

Se avançar mais, será impichado.

Se não avançar, perderá sua base.

Não tem a menor condição de propor um pacto naciona., por não ter dimensão política, nem credibilidade.

O pior é que, para ele, não há empate. Sendo apeado do poder, será julgado, condenado e amargará prisão por seus crimes. Não apenas ele como todos seus filhos.

Ele não tem nem dimensão política para negociar uma lei da anistia, igual àquela que preservou da Justiça militares sanguinários, que voltaram ao poder com ele.

GGN.

sábado, 21 de agosto de 2021

O IMPEACHMENT DE MOARES É JOGO PARA PLATEIA DE BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

Porque Jair Bolsonaro apresentou o pedido de impeachment apenas contra Alexandre de Moraes e não também, como havia prometido, contra Luiz Roberto Barroso?

É simples: porque dentro em pouco Moraes será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, posto ocupado hoje por Barroso.

O atual presidente não tem a menor ilusão de que seu pedido venha a prosperar, mas atende ao seu desejo de manter o conflito aceso.

Luiz Fux, presidente do Supremo, e Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso, nutriam a ilusão que o presidente entraria numa temporada de “mansidão”, com um rosnado aqui e outro ali, mas não o cravar os dentes nas instituições.

O Supremo reagiu com uma nota, até enérgica; o Senado com água morna.

Ilusão que, anteontem, já se apontava aqui, no blog, sem nenhum dote de visionário, porque, sabe-se, qualquer moderação de Bolsonaro é apenas um falso recuo para avançar mais em seu projeto golpista.

Seu objetivo único é tornar questionável o processo eleitoral do ano que vem e, por isso, não são a prisão de Roberto Jefferson ou as restrições impostas a Sérgio Reis e ao deputado obscurantista Otoni de Paula por suas ameaças ao Supremo.

Não só não há perspectivas de um armistício entre Bolsonaro e o Supremo como é visível que seu conflito irá se expandir para a presidência do Senado e, talvez, até à própria Câmara, quando esgotar a cota de doces que Arthur Lira pretende abocanhar.

Bolsonaro faz mais um avanço, que é respondido, pelo Legislativo, com um mimimi eunuco. Rodrigo Pacheco, o Rolando Lero senatorial deu conta de que apenas dará um encaminhamento ordinário, daqueles em que se exigem três cópias carbonadas e a apresentação das “taxas e emolumentos” correspondentes.

“Deu um desconto” de 50% não atacando Barroso, mas conservou o fogo sobre o “culpado” de sua derrota eleitoral – Moraes, o presidente do TSE.

Mau negócio: Barroso reage com declarações; Moraes, com atos.

Tijolaço.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

AGORA SE PERCEBE O DESASTRE QUE BOLSONARO FEZ COM A IMAGEM DOS MILITARES, NÃO POR FATA DE AVISO, POR FERNANDO BRITO

Os oficiais generais das Forças Armadas brasileiras, em lugar de deixarem que se produzam patéticas operações de intimidação, como aquela dos tanques fumacentos da semana retrasada, deveriam olhar a pesquisa que hoje publica o site Poder360 sobre o que está acontecendo com a imagem dos militares brasileiros.

Pela primeira vez no pós-64, que eu me lembre, nunca foi tão rejeitada a sua participação no governo, depois de 30 anos de reconstrução do prestígio das Forças.

Mais da metade dos brasileiros acham que sua presença no governo e na política é ruim para o país e disparou a quantidade de pessoas que consideram “ruim” ou “péssimo” o desempenho das próprias Forças Armadas como instituição. E ainda pior entre os mais jovens, onde a participação dos militares no governo é repelida por 62%.

É óbvia a ligação entre esta piora veloz da imagem militar está diretamente ligada a cada vez maior identidade do comando militar a Bolsonaro e suas falanges.

Generais que conduzem seus exércitos para a desmoralização os conduzem para a derrota e o enfraquecimento.

Tijolaço.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

JUROS E INFLAÇÃO, AQUI E LÁ FORA, ATRAPALHAM PLANO DO “JAIR NOEL”, POR FERNANDO BRITO

O Estadão abre a manchete do seu site para o alerta do mercado financeiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que o cenário econômico está se deteriorando muito rapidamente.

E é só olhar os indicadores para ver que isso está, mesmo, acontecendo.

Dólar fechando a R$ 5,37 – R$ 5,38 na liquidação dos negócios pós-market -. Bolsa amargando queda de 4,23% no mês, índices de preço mantendo os tristes patamares de julho, quando a inflação chegou a 1%, a maior taxa para o mês em 20 anos e voltando a ter como “puxa fila” a inflação dos alimentos.

Lá fora, o cenário não é de flores. A ata do Federal Reserve divulgada hoje assinala a retirada dos estímulos monetários nos EUA e a preocupação também alta por lá – o dobro da estimada no início do ano – podem ser o início de uma alta de juros por lá.

A China, nosso maior comprador, também sinaliza uma desaceleração e o preço do minério de ferro caiu ao menor nível em seis meses.

Tudo completa-se com o front político nacional: cresce a certeza de que, para implementar seu programa de “bondades” eleitorais, Bolsonaro não vai demorar a “chutar a santa” do teto de gastos, a nova divindade que substitui o velho “tripé macroeconômico” dos liberais do inicio deste pequeno século.

Na reportagem, registra-se que os emissários do dinheiro disseram a Campos Neto que esperam mais juros como resposta: já se fala numa taxa Selic de até 8,5%.

Temos um governo desacreditado, em confronto com o Judiciário, com um ministro da Economia absolutamente patético e, agora, também com dificuldades na Câmara, que parecia estar “controlada”.

Jair Bolsonaro diz que com “fé e crença” se superarão os problemas econômicos:

O povo tem sofrido com isso: tem inflação, tem desemprego. Tem dias, realmente, angustiantes. O que posso dizer aos senhores? Com fé, com vontade, com crença, nós podemos superar esses obstáculos”

Os caras do dinheiro, aqueles que entrariam no céu depois de um camelo passar pelo buraco de uma agulha, vão acreditar, sim…

É capaz de sugerirem Silas Malafaia para o Banco Central.

Tijolaço.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

QUANTO TEMPO DURA A ‘CALMA’ ANIMAL DE BOLSONARO? POR FERNANDO BRITO

O que se disse ontem aqui sobre Jair Bolsonaro ter entrado em modo stand by em seu golpismo furioso foi percebido por muitos, mais bem informados por fontes em Brasília.

Ricardo Noblat diz que os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, e o recém-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira teriam dito ao presidente, na últimas horas, “que sua situação está ficando cada vez mais difícil dentro e fora do Congresso”.

E ontem, ao adiar-se novamente a votação das mudanças tributárias na Câmara, viu-se que nem com o boideiro-presidente e com medidas simpáticas como o aumento da isenção do Imposto de Renda, a coisa não está fácil no mais sólido reduto bolsonarista.

Ao contrário do que se esperava, o último mês de rugidos presidenciais pode ter gerado mais agitação em suas falanges, mas não lhe agregou um pingo de recuperação do apoio, ao contrário.

Gilberto Kassab, no Poder360 exagera ao dizer que “se [Bolsonaro] continuar assim, não disputa nem a (re)eleição”.

Bolsonaro, certamente, tenta fazer ajustes táticos, mas não estratégicos, porque, como descreve hoje em O Globo o jornalista Bernardo Mello Franco, ele “se alimenta do confronto permanente”.

Precisa fabricar crises para agitar a militância e manter a fantasia de outsider. Apesar da aliança com o Centrão, parte do eleitorado ainda acredita que o presidente luta contra o sistema. Ele depende dessa ilusão para se manter no páreo.

Ilusões, Bolsonaro planta muitas – o país está para cair sob o domínio de uma ditadura sinoateia, drogada e abortista que vai incendiar as plantações de soja.

Mas não tem políticas para a realidade de estagnação (traduzida por Paulo Guedes como “recuperação em V”) e por uma inflação que é muito mais sentida no bolso que nos índices oficiais.

Portanto, não é uma questão de crer que os arroubos golpistas não minguar e desaparecer, É apenas uma questão de quando e como reaparecerão.

Se querem um palpite, será logo e mais fortes.

Tijolaço.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

A BOIADA DOS IMPOSTOS DEVE PASSAR. MAS PARA ONDE? PARA O LADO MAIS FRACO? POR FERNANDO BRITO

Arthur Lira tentará – com grandes chances de conseguir – abrir mais uma porteira para sua boiada, com a votação de um arremedo de reforma tributária que, em troca de uma pequena bondade – o reajuste de quase nada na tabela o Imposto de Renda, transformar os impostos brasileiros numa “salada” completamente imprudente, da qual não se tem a menor ideia do que sairá, emendada e remendada para que possa superar as resistências que lhe vem de toda parte.

Lira esmerou-se no arranjo: colocou um relator bolsonarista à testa do projeto, bloqueou a discussão do tema pela sociedade e acelerou uma aprovação a toque de caixa com o argumento insólito de que “tem de votar na terça-feira”, como se votar uma mudança – que só passa, em parte, a valer em janeiro (e depois disso, para a aplicação de outras alíquotas) – hoje, amanhã ou semana que vem fizesse alguma diferença prática.

Faz diferença, sim, e isso motiva a intransigente pressa de Lira, mas na política.

É provável que ele, com seu conhecimento dos humores da maioria dos deputados pressinta que o processo de deterioração da base governista esteja em curso mais rápido do que imaginava e que, daqui a algum tempo, a Câmara esteja em posição de bloqueio ao governo Bolsonaro como já está o Senado, onde há medo de se por em votação até mesmo a antes tranquila indicação de André Mendonça para o Supremo.

Então, é preciso tocar rápido a boiada, para que o pisoteio das regras públicas e a consumação do pacto corrupto de destinação dos recursos públicos, com quase exclusividade, aos interesses eleitorais paroquianos dos parlamentares, num remake da fórmula do Centão mais realista: é recebendo que se dá.

A rigor, ninguém sabe o que vai sair disso. As fontes de compensação das perdas de receita dificilmente passarão ilesas pelo plenário, pois a aprovação do texto-base – cuja versão final nem sequer foi apresentada – serão fortemente “depenadas” na votação de dezenas de destaques, sobre os quais não há acordos.

Será, também, inevitável uma tempestade de questionamentos judiciais. E, a esta altura, disputas judiciais não têm a menor tendência de resultarem em decisões favoráveis ao Governo.

As tais segurança jurídica e estabilidade tão reivindicadas pelo empresariado, pelas mãos de seu escolhido político, estão indo, solenemente, para o brejo.

Tijolaço.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

UMA OPERAÇÃO QUE NEM DE LONGE É “FORMOSA”. POR FERNANDO BRITO

A triste escolha de algo parecido com a trilha da velha série de TV – e depois franquia cinematográfica – Missão Impossível para “dar emoção” a uma modestíssima (sejamos gentis) exibição de força militar da tal Operação Formosa, com direito a Jair Bolsonaro e a um desajeitado Ciro Nogueira disparando canhões foi uma espécie de “Parte 2” da patética “tanqueciata” da semana passada na Praça dos Três Poderes.

Nem se fale do fato de que, como exercício militar basicamente de Fuzileiros Navais – cujo emprego é bem diferente do desempenho de missões em campo aberto de áreas de cerrado, muito mais propício a ações de blindados e de aviação de ataque ao solo – já seja uma exibição da carência e da inadequação do material e do treinamento das Forças Armadas brasileiras.

Uma visita presidencial a operação de treinamento militar deveria ser, é claro, ao posto de comando, para observar a precisão e alcance dos disparos de artilharia, em lugar de disparar cenográfica e desajeitadamente uns poucos canhões de calibre mediano, absolutamente inservíveis para o “fogo de saturação” que o locutor dizia estar sendo treinado.

O único “alvo” exibido, uma casinha de bonecas, feita de madeirite, explodida com uns “traques” de São João, francamente, não contribui em nada para que se dê relevância a um exercício bélico com explosivos.

O que nossos chefes militares querem fazer da imagem de nossas Forças, tão obsoleta nas armas quanto na política de sustentar golpes antidemocráticos?

Nos governos tão odiados por parte das cúpulas militares é que se retomou a modernização de nossa estrutura militar: mísseis para o Exército, ainda que maietados por acordos da era FHC que limitam seu alcança em 300 km – o que é um “cuspe” considerando as dimensões brasileiras -, submarinos (inclusive o primeiro nuclear, o que empresta valor estratégico, pela “invisibilidade” dada pelo tempo de submersão contínua) e caças de 4ª geração com capacidade de construção nacional, única forma de tê-los em quantidades “não decorativas”, porque duas dezenas de aeronaves não existe em matéria de proteção a 8,4 milhões de quilômetros quadrados.

Esta geração de oficiais superiores não absorveu que a requalificação e nacionalização do material bélico brasileiro esteve completamente ligada ao fim do “alinhamento automático” do Brasil e de suas Forças Armadas dos Estados Unidos, o que nos permitiu avançar na capacidade de vender ao mundo a escala do que era necessário pra nós mesmos.

Muitos de nossos generais parece que não se importam com isso e parecem focados na função de nosso poderio militar expressado em soldos vitalícios e tropas para funções repressivas, com base num delírio sobre o “poder moderador” que lhes daria o tal artigo 142 da Constituiçao, que nem perto disso passa.

E, para isso, é mais imortante dar ao presidente da República o poder de “puxar a cordinha” do canhão que talvez valesse algo em Tobruk ou nas Ardenas, não no século 21.

Tijolaço.

domingo, 15 de agosto de 2021

LIBERDADE PARA O ÓDIO, VIOLÊNCIA E MORTE? POR FERNANDO BRITO.

Quem quiser entender porque se alega “liberdade de expressão” para as ameaças armadas e Roberto Jefferson e a prioridade dada por Jair Bolsonaro à edição que, em nome dela, proíba a suspensão de publicações em redes sociais incitem à violência e golpes políticos, leia a reportagem de hoje da Folha de S. Paulo dando conta de uma “escalada de grupos neonazistas e aumento de inquéritos de apologia do nazismo” no Brasil (que saltaram de 6, em 2015, para 110, no ano passado).

Como os inquéritos abertos são só uma ínfima parte dos casos, outros números expressam melhor a ressurgência do extremismo de direita:

“(…) um levantamento na Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos da plataforma Safernet Brasil contabilizou uma explosão de denúncias sobre conteúdo de apologia do nazismo nas redes. Em 2015, foram 1.282 casos, ante 9.004 em 2020 —um crescimento de mais de 600%.
O ano de 2020 também marcou o recorde histórico de novas páginas de conteúdo neonazista e também o maior número de páginas removidas da internet por conta de conteúdo ilegal ligado às ideias do regime de Adolf Hitler. Foram 1.659 URLs (endereços) derrubadas no ano passado, contra 329 em 2015.”

E, é claro, sites, postagens e outras mensagens extremistas, autoritárias e desumanas, feitas sem referências nazistas diretas, são muito mais expressivas.

Nem sempre só na internet, mas também nos grandes jornais, como ironiza e adverte Antonio Prata, hoje, na mesma Folha sobre o “direito de expressão” da estupidez:

Muita gente pensa assim? Pelo menos 20% da população. Os mesmos, imagino, que apoiariam um golpe. Teremos um colunista pró-ditadura, portanto? Se crescer o movimento antivacina, a Folha contratará um representante desses alucinados? O que traz de positivo à arena pública amplificar vozes como estas, além de acariciar os que acreditam na cura gay, na cloroquina, na Terra plana?

A ideia de um jornalismo “neutro”, exacerbada, é igual à da “liberdade de expressão” que acolhe a exibição armada antidemocracia, seja ela de marginais, como Jefferson, ou praticada por agentes públicos, civis ou militares.

O mesmo, é obvio, vale (e com muito mais intensidade) para os órgão judiciais e parajudiciais, como a Procuradoria Geral da República.

O caminho que um juiz de São Paulo recusa-se a abrir um processo criminal contra um empresário que dispara um revólver e ameaça o ex-presidente Lula é o que segue o Procurador Augusto Aras ao dizer que está dentro dos limites da liberdade o bolsonarista Jefferson exibir rifles, pistolas e chicotes em seus vídeos nas redes.

Esta é a aposta dos tiranos e dos bandidos: a de que a democracia é um regime de tolos que, em nome da liberdade, nada veem de mau em exibir armas, sejam pistolas, sejam tanques, contra ele e que só há crime quando se os disparam.

Se disparam, senhores, não há reação possível no átimo em que o gatilho e puxado e a bala mata.

Tijolaço.

sábado, 14 de agosto de 2021

INFLUENCIADOS POR BOLSONARO OS INSTINTOS MAIS PRIMITIVOS ESTÃO NA RUA, POR FERNANDO BRITO

Roberto Jefferson, agora preso por liberar os seus instintos mais primitivos contra as instituições republicanas, já foi alguns anos atrás, glorificado por sua propaganda do ódio, quando isto interessava à mídia e ao restante da elite brasileira.

A selvageria que marca nossos dias, por vezes, é pouco percebida e deixa muita gente passar distraída diante deste processo descivilizatório que assola o Brasil.

Por vezes penso que enfrentamos talibãs de um deus católico, gente que saiu da nulidade para a proclamação de verdades absolutas, aquela que condena à morte todos os que não mugem no mesmo diapasão.

Estes são “comunistas”, “esquerdopatas”, destruidores das famílias, abortistas, isso quando não são gays ou drogados, na estúpida retórica do motoqueiro Jefferson, que se nomeia de Bob Jeff Road King, “cristão, conservador e nacionalista”.

E tome de vídeos com rifles, pistolas, tacos de beisebol e chicotes para “dar uma surra nos satanazes“.

Enquanto nos ocupamos disso, vão se enfiando, a toque de caixa, mudanças terríveis nas leis trabalhistas, nos direitos sociais e na tributação dos dinheiros e empresas grandes; grassa a fome, vendem-se irresponsavelmente a Eletrobras e os Correios e até o Palácio Capanema, sede histórica do Ministério da Educação e marco da materialização dos sonhos de que este viesse a ser o país que acreditava em novas ideias.

Abro aqui um parêntesis de quem, nos dias de calor infernal no Rio, aliviou-se no ar marinho que os dois andares de pilotis deixavam circular entre a Avenida Graça Aranha e a Igreja de Santa Luzia, aquela que dava luz aos cegos que não veem que não se pode vender nossa história. Ali, onde tomou forma concreta a aspiração de intelectuais, arquitetos, pintores, escultores e outros artistas fizeram seu trabalho abertos aos passantes na correria da cidade. Gustavo Capanema, maestro desta reunião, era um conservador, mas não era um primitivo.

Mas há que considerar que Roberto Jefferson foi, de alguma forma, um profeta, infelizmente, destes tempos demoníacos.

Quem mais primitivo que Jair Bolsonaro poderíamos imaginar poucos anos atrás?

Não se iludam com a aparente reação da Justiça para impedir o regresso do Brasil ao passado.

A luta é política e todos os sinais são de que ela será terrível. As convocações das manifestações bolsonaristas para o Sete de Setembro são as mais terríveis que se possam imaginar e há indícios de que setores do agronegócio está disposto a financiar a concentração de caminhões diante do Congresso, misturados a veículos das Forças Armadas.

Não há terceira via entre civilização e barbárie. Nem a luta entre elas tem resultado previamente determinado.

Afinal, instintos precedem à razão e é preciso que a razão prevaleça apelando também a outro instinto, o mais primitivo de todos, o da sobrevivência.

O da sobrevivência de um povo que está, além da Covid, morrendo de fome, inclusive a de sonhos.

Tijolaço.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

ROBERTO JEFFERSON PRESO: BOLSONARO VAI REAGIR, POR FERNANDO BRITO

A prisão iminente do ex-deputado Roberto Jefferson tem, em si, pouca importância.

Até porque o presidente do “PTB” – perdão, mas não dá para deixar de usar aspas – virou um escancarado apologista de uma ruptura armada do sistema político nacional.

Importante é que abre espaço para uma reação violenta por parte do chefe do desmoralizado político, Jair Bolsonaro.

Jefferson não é um ilustre desconhecido como Daniel Silveira ou Sara Winter.

É tudo o que Bolsonaro queria para gritar que seus apoiadores estão sendo perseguidos, reprimidos e encarcerados pelo Supremo Tribunal Federal.

É claro que a cana de “Bob Jeff”, como gosta de se autodenominar, vai durar bem pouco e será transformada em prisão domiciliar e tornozeleira eletrônica.

Mas será tempo suficiente para o circo bolsonarista fazer barulho, muito barulho, como se o pistoleiro aí do lado fosse um anjo de candura, injustamente perseguido pelo “malvado” Alexandre e Moraes.

Que o ex-deputado já está chamando de “canalha” pelo Twitter, porque ainda está livre, na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Tijolaço.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

LIRA VAI SE TORNANDO UM CUNHA SEM IMPEACHMENT, POR FERNANDO BRITO

Seis meses depois de sua chegada à presidência da Câmara dos Deputados, o país começa a perceber que é ter o Poder Legislativo presidido, como nos tempos de Eduardo Cunha, presidido por alguém sem o mínimo de pudor democrático.

Arthur Lira aproveita a situação de fraqueza do governo Bolsonaro – que entregou-se ao Centrão , alucinado por vender patrimônio público e criar artimanhas econômico-eleitorais – e torna-se o fabricante de leis mais rápido da história.

Ou, para ficar na expressão que já se usou aqui: o grande passador de “boiadas”, atropelando qualquer debate.

Em duas semanas da volta do recesso parlamentar, já tivemos a aprovação da privatização dos Correios, da grilagem de terras públicas, uma “reforma” trabalhista, com a supressão de direitos básicos de trabalhadores, a PEC do voto impresso (esta numa derrota apenas formal do Governo), estamos em meio a uma reforma eleitoral (onde estamos comemorando apenas o “podia ser pior”) vamos para um arremedo de reforma tributária tresloucado e logo para uma reforma administrativa com mais do mesmo: tira-se dos pequenos e não se bole com os grandes.

A coisa é tão escandalosa que a opinião pública, que antes achava que Lira e o Centrão se contentariam apenas com cargos e emendas, está despertando para o fato de que eles são uma nuvem de gafanhotos, também, paara toda a organização jurídica do país, em todos os campos: social, político, tributário, administrativo.

O presidente da Câmara está capitaneando – e veloz, com as velas enfunadas – uma nau de insensatos, que parte do princípio que a maioria parlamentar tem o direito de fazer o que quiser, como e quando quiser.

Por trás desta avalanche, não duvide, há comissões e negócios rolando à solta.

Já não lembro onde, mas li hoje cedo a expressão que resume tudo: Lira é o Bolsonaro do Congresso.

Tijolaço.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

ESCALANDO A CRISE, POR FERNANDO BRITO

Derrotados ontem, mesmo, só saíram os militares brasileiros, levados a “pagar um mico” homérico com seu desfile de tanques e ideias velhas de mais de meio século, do tempo em que expelir colunas de fumaça preta indicava a potência de dragões bélicos e não a obsolescência de geringonças para a guerra e para golpes.

Jair Bolsonaro não se importa nem um pouco em parecer saudosista; é isso mesmo o que quer: evocar a memória de um passado que não existiu, o da “felicidade” dos brasileiros nos tempos do regime militar.

Ironicamente, alegando estar defendendo o que a ditadura de seus “heróis” tirou dos brasileiros, o voto para presidente.

E o presidente também não liga em ter exposto as Forças Armadas, pois em relação a elas não tem senão o recalque do mando finalmente conquistado e a certeza que elas se alimentam de poder, soldo e arrogância, e não de profissionalização, capacidade e eficiência.

A batalha política, lamento informar, não foi mal para Bolsonaro, nem tanto por causa dos 229 votos que seu Cavalo de Troia recebeu, mas pelos 211 contrários, quase 100 a menos que os partidos que se opuseram a ele esperavam registrar no painel da Câmara.

Nem se fale em MDB e DEM, mas dos que assumiram posições claras e deveriam, por isso, ter poucas defecções.

Confiram: no PSDB, o voto foram 14 votos bolsonaristas; no PSD, 20; no PSB, 11; seis votos a favor no PDT e três no Cidadania. Quase 60 fotos que, se fossem coerentes, teriam baixado a votação da manobra governista para os 170 esperados e erguido para 270, como esperados, o muro do “não” a Bolsonaro.

Daqui a pouco começará a gritaria e não é difícil prever que o presidente dirá que, apesar de ter tido a maioria – o que, no seu discurso, vai virar “a vontade do povo” -, não conseguiu a marca necessária de 308 por conta das “pressões indevidas” do presidente do TSE, Luiz Roberto Barroso.

E seguirá em sua agitação, usando os militares como alegorias exibidas como fiadoras de suas pretensões continuístas: tem os exercícios da semana que vem como palco e o Dia do Soldado, 25 de agosto, como motivo para uma manifestação de gala para seus apetites.

As instituições civis, que não soltam fumaça, parecem estar em pior estado que os deprimentes tanques do desfile de ontem. Nem soltam roncos ou fumaças: miam diante do aspirante a ditador.

Tijolaço.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

COMANDO DAS FFA POR OBEDIÊNCIA É SÓ MEIO COMANDO, POR FERNANDO BRITO

Thaís Oyama, no UOL, faz um deprimente relato dos questionamentos e desagrados manifestados pelo Alto Comando do Exército com seu comandante, o general Paulo Sérgio Nogueira, ontem, em que pediam ao comando que não participasse da demonstração patética realizada hoje na Praça dos Três Poderes.

“Com maior ou menor eloquência, os generais [do Alto Comando] expressaram seu desagrado à presença do comandante do Exército num evento que, para eles, escancarava a tentativa presidencial de usar as Forças Armadas em seu benefício político — nesse caso, o desejo de intimidar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Alguns se disseram “envergonhados” e “indignados”.”

Nogueira, como se sabe, formou ao lado do presidente para assistir ao fumacento desfile de tanques. Os generais dissiparam de maneira mais discreta a fumaça de seu desagrado, justamente porque não exibem de público o escape de suas frustrações.

O que não quer dizer que o ar esteja limpo e saudável ali.

O comando do Exército, ao mesmo tempo que investe seu ocupante da chefia, não o exime da colegialidade, do exercício da harmonia entre seus pares.

É, aliás, para isso que o Exército, Marinha e Aeronáutica possuem, cada um, seu Alto Comando, para que as Armas sejam dirigidas não apenas pelo comandante, mas também por seus pares mais qualificados e com maiores responsabilidades.

Vai daí a conclusão, óbvia, de que o general comandante do Exército pode, sim, contar com a obediência de seus pares, mas certamente não conta mais com a sua concordância total.

O general certamente sabe que isso é péssimo para um comando: exercer-se não por solidariedade e unidade, mas apenas por necessário dever de disciplina.

E, pior, quando começa a prosperar a ideia de que há mais compromisso com a defesa do posto que da instituição.

O bastão de comando não é uma varinha mágica capaz de substituir a concordância como fonte de legitimidade.

Mas serve para pedir carona no desfile de tanques fumacentos da Marinha e nos arroubos de Bolsonaro e colocar o Exército em uma posição indefensável.

Tijolaço.

BOLSMARO CHAMA LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO PARA SEREM “COIÓS”, POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro chamou os presidentes do Legislativo e do Judiciário se humilharem diante da demonstração militar da manhã este terça-feira, diante das colunas de tanque formadas diante do Palácio do Planalto.

Se forem, estarão legitimando não a continência militar ao poder civil, mas, ao contrário, a submissão do poder civil republicano ante o poder de um simples destacamento militar que o reduz à um mosquito que pode ser expelido com um peteleco.

Transformar um mero e rotineiro exercício militar num evento político é produto de mentes doentias que, sem a reação de seus chefes, transforma as Forças Armadas em “Forças de Ameaça”, que exigem, por meio do presidente da República, que o poder civil se alinhe e bata continência às tropas .

Espera-se que reste ao Legislativo e o Judiciário não se verguem a esta humilhação e faça deste ato o que é: uma patética chantagem militar de Jair Bolsonaro sobre os demais poderes da República.

Sinceramente, não tenho certeza de que o farão, tal é o nível de degradação que se pede a poderes que, embora degradados, ainda têm alguma vergonha de se exporem como tal.

Viraram coiós, bobos, idiotas, palermas, bocós, patetas, nossos parlamentares aceitam ser joguetes do poder miliciano que temos.

Não haverá reação à altura, não só pela maioria de nulidades que domina a Câmara, desesperada por reeleger-se, mas pela pequena disposição da oposição de partir para um confronto mais agudo, valorizando o voto em partidos políticos.

Do contrário, o Legislativo terá como função agarrar-se a verbas públicas e, nos raros momentos em que livrar as mãos, apenas usá-las para bater continência uma coluna de tanques.

Tijolaço.