sábado, 19 de fevereiro de 2022

NÃO É ILEGAL, MAS É IMORAL E ENGORDA, DR. MORO. POR FERNANDO BRITO

Um dos velhos sucessos do “rei” Roberto Carlos perguntava se “será que tudo que eu gosto e ilegal, é imoral ou engorda?”

Como Dody Sirena, que cuida dos contratos de Roberto Carlos, é o “empresário” do candidato Sérgio Moro – eu confesso que nunca vi “empresário de candidato” – é o máximo, não é? – diante da notícia de que um grupo de operadores financeiros negociou um pagamento de R$ 77 mil à empresa do ex-juiz para que ele expusesse, em petit comité, os seus projetos para o Brasil, cabe lembrar disso.

E ler a história, em detalhes, apurada pelo The Intercept.

Como Dody, como intermediário, embolsou R$ 33 mil pelo arranjo, certamente terá pronto um “e daí” sobre a mutreta.

Como não é oficialmente candidato, provavelmente não é ilegal que Moro receba esta “bufunfa” dos empresários. Mas é imoral e engorda a já adiposa “caixinha” do moralista, já lotada pelos R$ 3,5 milhões (se é que foi “só” isso) que recebeu da multinacional encarregada de administrar os cadáveres da Odebrecht e da OAS.

Moro não está à míngua, muito ao contrário. Recebe R$ 22 mil mensais do partido Podemos para representá-lo e a grana gringa é suficiente para bons investimentos. . Mas, como prova o The Intercept, usa a plataforma de candidato para ganhos privados e secretos.

Se não fosse candidato em campanha, mas apenas um cidadão, poderia cobrar o que quisesse e achasse trouxas para pagar. Mas fazer isso como candidato uma completa falta de ética, que a grande mídia jamais perdoaria, por exemplo, a Lula, Ciro Gomes ou mesmo a Jair Bolsonaro, se quisermos descer ao poço mais profundo de falta de escrúpulos.

A gula do ex-juiz não conhece limites e certamente está ganhando muito não só neste, mas em outros “compromissos de campanha”.

Tijolaço.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

MELLO FRANCO: DEMOROU A CAIR A FICHA DE BARROSO. POR FERNANDO BRITO

Tenho tratado com insistência aqui do perigo que os punhos de renda de milord Luís Roberto Barroso, na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, criou ao convidar as Forças Armadas para dentro da organização das eleições presidenciais, achando que assim evitaria o uso dos militares por Jair Bolsonaro para ameaçá-las.

É risco que ainda não passou, porque o sucessor de Barroso, Luís Edson Fachin parece querer seguir nas ilusões de que gentilezas bastariam para acalmar um presidente golpista e já disse ontem que “estenderá a mão” para o presidente, desde que ele não ameace a Justiça Eleitoral. É um erro, doutor Fachin, porque o TSE não tem de se relacionar com os poderes presidenciais ou com as instituições a ele subordinadas, sobretudo as que detém o monopólio da força. A relação do TSE, como corte eleitoral, é com seus jurisdicionados – eleitores, partidos e candidatos – sempre aberto a ouvir a sociedade – note a palavra, doutor – civil.

Bernardo Melo Franco hoje, em O Globo, escreve com clareza este erro (aqui, na íntegra) e de seu artigo trago o trecho conclusivo:

Em Moscou, o capitão [Bolsonaro] disse que o Exército determinará os “próximos passos” do processo eleitoral e que as Forças Armadas serão “fiadoras da lisura das eleições”. A tarefa nunca esteve prevista na Constituição. Mas o TSE tem sua parcela de culpa pelo engodo.
Em dezembro, a Corte ofereceu o cargo de diretor-geral ao general Fernando Azevedo e Silva. Ele aceitou o convite e marcou a data da posse. No início da semana, anunciou sua desistência. Alegou razões de saúde e deixou o tribunal com um abacaxi.
O general não tinha credenciais para atuar como guardião da legalidade. Como ministro do governo Bolsonaro, celebrou o golpe de 1964 como um “marco para a democracia”. Os defensores da sua presença sonhavam atrair a simpatia dos quartéis. Na prática, legitimaram a ideia da tutela militar sobre a eleição.
O TSE ainda abriu as portas ao general Heber Portella, indicado pelo ministro Braga Netto para um certo comitê de transparência. O militar apresentou um questionário sobre o voto eletrônico. Com base nele, Bolsonaro inventou que o Exército teria identificado “dezenas de vulnerabilidades” no sistema.
“Estou presumindo que as Forças Armadas estão aqui para ajudar a democracia brasileira. E não para municiar um presidente que quer atacá-la”, disse ontem o ministro Barroso. Talvez a ficha tenha caído tarde demais.

Se é que caiu, Bernardo, se é que caiu, porque pavões não olham seus pés.

Tijolaço.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A ARMADILHA DOS GENERAIS DA URNA. POR FERNANDO BRITO

A notícia mais importante do dia para o processo eleitoral foi a desistência do general Fernando Azevedo e Silva em ocupar o cargo de diretor geral do Tribunal Superior Eleitoral.

Com todo o respeito às suas justificativas de ordem pessoal (seriam alegados problemas de saúde, corre nos bastidores), o seu exercício naquele cargo seria, numa palavra, uma amoralidade, no mínimo.

O general foi, durante 26 meses, ministro do governo Jair Bolsonaro, condição que deveria fazer qualquer pessoa dar-se ou ser tida como impedida de gerir um processo eleitoral onde o mesmo presidente a quem serviu como ministro está disputando o pleito e, ainda pior, disputando no exercício do cargo que lhe dá o comando supremo das Forças Armadas, às quais, ainda que na reserva, Azevedo e Silva ainda pertence.

E isso é ainda pior, porque era por intermédio de Azevedo e Silva que Jair Bolsonaro intentava arrastar as Forças Armadas para um confronto com a Justiça Eleitoral.

Se foi, depois de tanto tempo, que levou a sua saída do Ministério da Defesa, mais grave ainda: o general sabe que seu ex-chefe tenta embrulhar os militares numa intervenção ou desvirtuação do processo eleitoral e, sendo um homem de caráter reto, jamais poderia ser levado, mesmo contra a vontade, a ser uma cabeça-de-ponte para isso ou, ao recusar-se, participar de um conflito de lealdades envolvendo uma instituição armada.

É infantil e perigosa esta confrontação que só existe porque o TSE, sob o comando do pavão Luís Roberto Barroso quis bajular os militares com esta indicação e com a designação de um representante das Forças Armadas para a tal “Comissão de Transparência Eleitoral” destinada a examinar a segurança das urnas eletrônicas.

Estamos brincando com “pegadinhas”, para que Bolsonaro use as perguntas militares como argumento e Barroso use a resposta pública – ainda que algo desaforada e “tecnocrática” para desqualificar o questionamento que só ocorreu porque ele próprio convidou a que fosse feito?

Bolsonaro não teve escrúpulos em usar esta representação como sendo “o nosso pessoal” e, ainda pior, com as pretensões dos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto de que um dos dois venha a ser o candidato a vice-presidente, virtualmente colocá-los como “chefes” de um representante militar que opina ou que levante suspeitas sobre a higidez da votação e da apuração das urnas.

Se não teve, porque teria para pressionar, em nome da lealdade castrense, para pressionar o militar que seria o diretor do Tribunal que as deveria garantir?

E, ainda pior, que seja sucedido pela estultice de Luiz Edson Fachin, aceitando uma provocação barata e insinuando, indiretamente, que hackers de Putin possam atacar nossas urnas, usando o método “Moro” do “não tenho provas, mas tenho convicção”?

Bolsonaro não chamou os ministros de “adolescentes” à toa.

Estão agindo como quem quer aparecer, em lugar de usarem o poder que têm com discrição e prudência, porque não só este é o correto como é o mais eficiente.

Porque Bolsonaro sabe usar isso para torná-los “suspeitos” daquilo que absolutamente não são: de serem “lulistas”, quando foram os dois ministros que mais se associaram à perseguição judicial ao ex-presidente.

O que resta a Bolsonaro em matéria de viabilidade eleitoral é questionar as urnas e ele fará isso todo o tempo com a “popularidade” de seus eventos para fanáticos transformando-se em “consagração pelas ruas” para confrontar-se ao favoritismo nas pesquisas que Lula exibe.

Tijolaço.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

TRAGÉDIA MOSTRA DE NOVO FALTA DE SISTEMA DE SOCORRO A DESASTRES. POR FERNANDO BRITO

Petrópolis agora, Franco da Rocha há duas semanas, Minas, há um mês, Bahia há dois.

Tragédia após tragédia, alem da falta de prevenção de desastres, fica evidente a incapacidade do país em reagir depressa e eficientemente a desastres “naturais” (naturais, nada, provocados pela precariedade da ocupação urbana ou pela exploração predatória de recursos naturais, como em Brumadinho e Mariana).

Temos Força Nacional de Segurança, Batalhões de Choque, pelotões disto e daquilo e nenhum mecanismo de reação rápida a estas tragédias que se repetem a todo instante. No máximo, Corpos de Bombeiros mal-equipados e com carência de pessoal que, independente da dedicação pessoal admirável com que muitos se comportam, não têm meios para agir na extensão que estes desastres ocorrem.

Viraliza na internet a imagem de uma mulher de meia-idade, a cavar com um enxada à procura da filha e da neta sobre o barreiro que virou o lugar onde estavam em Petrópolis, quase 24 horas depois de um deslizamento. No início, desesperada, dizia que os bombeiros não haviam chegado. Claro, por conta de serem mais de 50 as quedas de barro e de casas e eles, muito poucos.

54 mortes até agora e certamente muitas mais, porque não há sequer contagem dos desaparecidos.

Em todas as imagens que se vê são muitos os voluntários, mas sua capacidade de sondar as áreas de desastre, sem treinamento e sem equipamentos de resgate é, claro, muitíssimo menor.

Será que num país de tantos recursos não é possível termos forças de defesa civil (e até militar) capazes de intervir rapidamente, enquanto há possibilidade de salvar vidas? Duzentos ou trezentos resgatistas poderiam fazer toda a diferença e certamente não faltariam meios de colocá-los onde necessário em três ou quatro horas, dependendo do local a ser atendido.

Mas temos apenas um Secretaria Nacional de Defesa Civil sem meios de atuação direta e mais voltada para repasses de verbas após catástrofes, o que é necessário mas não responde aos momentos agudos destes eventos.

Tijolaço.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

PUTIN MOVE AS PEDRAS PRIMEIRO. FERNANDO BRITO

Ao anunciar que encerrou parte dos exercício militares próximos à fronteira com a Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin moveu peças no tabuleiro geopolítico do Leste Europeu e, politicamente, obriga os Estados Unidos a algum gesto de boa-vontade na crise provocada pela entrada do vizinho do coração da Rússia – são poucas centenas de quilômetros da fronteira até Moscou.

Apesar de manter uma retórica catastrofista (ainda ontem à noite a Casa Branca repetiu o mantra de uma semana de que uma invasão russa à Ucrânia poderia acontecer a qualquer momento) não será fácil para Biden não devolver o gesto de boa-vontade perante seus aliados europeus, exceto o Reino Unido, que pode continuar na escalada belicista dos “primos” norte-americanos.

O mapa aí de cima, publicado hoje pelo NYTimes (e completado pelo blog) mostra a razão pela qual a Europa continental vai pressionar por uma atitude que alivie a tensão com a Rússia: a sua dependência do gás russo – 45%, aproximadamente, de todo a importação da União Europeia. O gasoduto Nordstream, construído pelos russos sob o Mar Báltico, tira dos países do Leste Europeu – e muito especialmente da Ucrânia, o controle (e a cobrança de pesadas taxas de passagem) sobre as exportações russas.

Faz tempo que os russos tentam se livrar das pressões da Otan contra o aumento de suas exportações de gás. A primeira alternativa, o Southstream que, como o nome indica, usaria uma rota pelo Sul até a Itália foi barrado quando a Bulgária, por pressão dos EUA, não autorizou a passagem dos dutos por seu território o que, em parte, tenta-se “driblar” através da Turquia, Grécia e Macedônia.

A Europa, portanto, está espremida entre seu óbvio interesse em ter suprimento de energia (o gás, em boa parte, é usado para mover usinas elétricas) e a dependência político-militar-econômica dos Estados Unidos.

Quando você ouvir a palavra guerra, lembre logo de outra: dinheiro.

Tijolaço.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

PRESIDENTE DO BC FAZ SINAL A LULA. POR FERNANDO BRITO

A linguagem é cifrada, mas o sentido da mensagem – e a escolha da mensageira, Miriam Leitão – não poderiam ser mais evidentes.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse a ela que “diminuiu temor do mercado com vitória de Lula“, porque a perspectiva de vitória do ex-presidente não está criando pavor na cotação dos ativos financeiros.

As palavras são do estilo “não me comprometa”, mas dizem claramente que não há “efeito Lula” entre a turma do dinheiro:

“Nos preços de mercado, o que tem acontecido mais recentemente é uma eliminação de vários preços que mostram o risco da passagem de um governo para outro. Mais recentemente, a gente vê, quando olha esses preços, que eles atenuaram. Caíram um pouco. Significa que o mercado passou a ser menos receoso da passagem de um governo para o outro. “

Nada de estranho nisso, porque a “turma da bufunfa” tem uma década de experiência com os governos petistas ganhando muito dinheiro. Uns 80% desta turma não tem ideia do que foram os anos 80 e 90. Lula nunca foi-lhes um desastre e, se não fossem tão medíocres, veiram que ganha-se mais num país próspero do que num arruinado.

Mas há outra razão: Campos Neto ficará na presidência até 31 de dezembro de 2024 e é de todo prudente que ele sinalize ao provável sucessor de Bolsonaro que está disposto a ter uma relação respeitosa.

A ver se esta postura perdura, o que é conveniente para Lula, até porque teria de achar um “moderadíssimo” para colocar no BC, como teve de fazer em 2003, no seu primeiro mandato, com Henrique Meirelles.

Da parte dele não parece ser seu plano o “entrar de sola” nas políticas do Banco Central, a menos que este não chegue a janeiro de 2023 comandando uma trajetória de baixa na taxa de juros. Também isso está no radar do “mercado” e o ex-presidente certamente não fará o erro de forçar uma baixa abrupta, se ela estiver acontecendo em ritmo gradual.

O foco da baixa dos juros será pela via dos praticados pelos bancos públicos nas operações reais de financiamento, sempre muito acima da remuneração do dinheiro via Selic. E o primeiro biênio – que corresponde ao mandato de Campos Neto – certamente não será de pé no acelerador monetário.

A economia em ruínas que Lula herdará não enseja estas velocidades. Na segunda parte do mandato, sim, será hora de pisar no acelerador com a “casa arrumada”.

Tijolaço.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

BARROSO ADMITE SER CORDEIRO PARA O LOBO BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Em entrevista a a O Globo e ao Valor (aberta para não assinantes) o ministro Luís Roberto Barroso descreveu o comportamento do presidente Jair Bolsonaro diante da segurança do processo eleitoral de forma idêntica ao que, ontem, foi dito aqui: o presidente do TSE, ao convidar as Forças Armadas para uma comissão de avaliação das urnas eletrônicas teve uma atitude como a do cordeiro diante do lobo da fábula, querendo convencer alguém que não aceitaria ser convencido.

Quando o presidente diz que encontraram vulnerabilidades antes mesmo de receber as respostas às indagações, ele está adiantando, desavisadamente, a estratégia que ele pretende adotar. Para falar a verdade, ele queimou a largada. Ele lança mão dos questionamentos feitos pelo representante das Forças Armadas, quando, na verdade, tudo o que foi feito foram algumas perguntas e, antes de ter recebido as respostas, já disse que tem vulnerabilidades. Ele antecipou a estratégia dele, que é: não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que o sistema eleitoral eletrônico tem vulnerabilidades. Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta.

Mas, doutor Barroso, o senhor não sabia disso no final do ano passado, quando convidou as Forças Armadas para examinar as urnas, o que compete à sociedade civil e aos partidos políticos, sabendo como Bolsonaro estava disposto a usar os militares como fator de desestabilização do processo eleitoral?

O presidente já não tinha mandado desfilarem os tanques fumacentos da Marinha na Praça dos Três Poderes para pressionar por um voto impresso maroto como o que deseja, com contagem manual? Já não tinha convocado o “Setembraço” que só não contou com forças militares porque a pandemia deu-lhes a oportunidade de, em razão dela, cancelar-se?

Ministro do Supremo e presidente de Corte Eleitoral não tem o direito de ser “bobinho”.

E estamos indo pelo mesmo caminho com esta história do Telegram. Achar que vai proibi-lo por lei, a esta altura, passando pelas duas casas do Congresso e por um provável veto de Bolsonaro à rede predileta de seus asseclas, faltando sete meses e meio para as eleições vai ser transformar a rede que não se submete à lei brasileira em bandeira das “liberdades cibernéticas” acenadas como bandeira por Bolsonaro.

O aplicativo há seis meses dá uma banana para a ordem do STF para retirar do ar publicação de Jair Bolsonaro com informações falsas sobre as urnas eletrônicas e a coisa está por isso mesmo. E Barroso diz que se estuda um projeto de lei para exigir que o aplicativo, sediado em Dubai, cumpra as leis brasileiras.

Ah, tá.

Tijolaço.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

O CORDEIRO BARROSO E O ‘LOBOLSONARO’ DAS URNAS, POR FERNANDO BRITO

Desculpem-me os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, mas são eles os culpados pela nova crise que Jair Bolsonaro está abrindo sobre a segurança do processo eleitoral.

Ao convidarem “especialistas” das Forças Armadas para o que seria um grande meeting técnico para aperfeiçoar a segurança das eleições já não tinham, depois da ameaça golpista de Sete de Setembro, o direito de se iludirem com a expectativa de que Jair Bolsonaro mandaria o Exército para este trabalho sem tentar transformá-lo em agente da confusão.

Não se acusa, claro, os profissionais recrutados para esta cooperação, mas a índole de quem os envia e a subordinação que estes têm não ser apenas à códigos e programas, mas aos ditames de seus superiores hierárquicos.

Os “esclarecimentos” fracos e gentis que a corte eleitoral deu às afirmações insidiosas de Jair Bolsonaro em sua live caberiam se fossem dados pelos militares, porque é a eles que caberia repor a verdade de que “são apenas pedidos de informações, para compreender o funcionamento do sistema eletrônico de votação, sem qualquer comentário ou juízo de valor sobre segurança ou vulnerabilidades”, como informou a nota do TSE.

Se é assim, caberia ao próprio Ministério da Defesa esclarecer que não foram, como disse Bolsonaro, “várias, dezenas de vulnerabilidades”. O Exército empurrou os esclarecimentos para o Ministério, que empurrou para o TSE, como se o presidente não tivesse dito que elas foram encontradas pelo “nosso pessoal”, frisando que ele era o “chefe supremo” das Forças Armadas inclusive nisso.

Mesmo quando as questões levantadas pelos militares forem respondidas, é claro que Bolsonaro não se dará por satisfeito, porque seu objetivo, com ou sem elas, é desacreditar as urnas que, provavelmente, lhes serão madrastas.

A conversinha do Ministro Luiz Roberto Barroso à época em que fez o convite, alegando que a presença das Forças Armadas na comissão eleitoral iria “esvaziar o discurso de golpe” é uma tolice.

Coisa de carneirinho que acha que vai convencer o lobolsonaro.

Tijolaço.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

SÃO PAULO SERÁ HADDAD X TARCÍSIO. FERNANDO BRITO

No brasão de São Paulo há a inscrição latina: non ducor, duco, “não sou conduzido, conduzo”.

Pois não é o que parece que acontecerá nas eleições paulistana de outubro, que serão conduzidas pelo confronto entre Lula e Jair Bolsonaro, cada um deles representado por um de seus mais próximos aliados, Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, no 2° turno e, talvez, já mesmo no 1° turno, a depender de Guilherme Boulos, decidir manter sua candidatura a governador.

Não há outros candidatos em São Paulo para “puxar” votos para candidatos a presidente, isto é, não é a decisão sobre o candidato ao Governo do Estado que definirá o candidato ao Governo.

Não se votará em Sérgio Moro porque “Mamãe Falei” o apoia, nem em Dória porque tem o apoio de Rodrigo Garcia e nem em Ciro Gomes porque Guilherme Boulos venha a aceitar o apoio do PDT .

O “palanque”, em São Paulo, é o nacional, não o local, em maior grau, até, ato que acontecerá em todo o país.

E a direita paulista fechará, salvo um improvável desmoronamento completo do “Mito”, com Bolsonaro.

O recuo de Dória à disputa estadual pela reeleição, embora não totalmente impossível, é inviável, porque entrará no jogo como um derrotado,.

e o mesmo aconteceria com Márcio França, se viesse a concorrer sem compor-se com Haddad e o PT.

Pesquisas podem mostrar este quadro com menos definição, mas estão a indicar a esta tendência, que é parte da política perceber.

Tijolaço.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

BOLSONARO DIZ QUE ‘ALGO’ VAI ACONTECER E SALVAR O BRASIL. VEJA. FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro, em meio ao cercadinho de fanáticos que todos os dias se monta no Palácio da Alvorada, disse hoje que “nos próximos dias vai acontecer algo que vai nos salvar no Brasil”.

Não disse o que nem o porquê, exceto que “acredita em Deus”, o que não se sabe o que tem ver com isso.

Mas a frase anterior, que a ditadura “das canetas” é igual à ditadura das baionetas sugere que está certo meu bom amigo Tales Faria quando disse, no UOL, que, embora sem apoio para virar a mesa institucional, “a ameaça de que venha a promover um golpe ajuda a manter a solidez do núcleo de seu eleitorado -esse bolsonarismo mais raivoso – iludido de que um dia as instituições democráticas acabem fraquejando diante do “Mito”, que é como o chefe é chamado.”

Isso é o “lógico” da falta de lógica presidencial, a de alimentar crises permanentemente.

O problema é que Bolsonaro assume cada vez mais esta personalidade de líder fanático, uma espécie de Jim Jones que ninguém sabe até onde pode chegar, ainda mais que se encontra blindado por uma maioria parlamentar e um Ministério Público que lhe garante a impunidade.

Bolsonaro tornou o Brasil inteiro uma área de risco para seus cidadãos.

Tijolaço.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

FEDERAÇÕES ATÉ O FIM DE MAIO DEIXAM ELEIÇÃO PRESIDENCIAL EM ÁGUA MORNA. POR FERNANDO BRITO

A decisão de permitir o registro de federações partidárias até o dia 31 de maio vai prorrogar, por mais 110 dias, a definição das alianças para a campanha presidencial.

Não creio, entretanto, que a mais adiantada delas – PT, PSB, PCdoB e PV – leve todo este tempo para ser concluída, até porque ela paralisa, em parte, a movimentação de Geraldo Alckmin, provável vice da chapa de Lula e favorece uma indefinição que se transforma em arestas internas e externas ao PT.

Entre elas, a aliança já de primeiro turno com o PSD de Gilberto Kassab, cada vez mais próxima e admitida.

No MDB, são tantas as divisões que é praticamente impossível que consigam fazer uniões internas, que dirá externas, embora Simone Tebet possa ser uma candidata conveniente para partidos que não queiram ter candidatura que os desgaste.

Com o PSDB, improvável, até porque João Doria é irremovível do lugar de candidato e tem a legitimação formal das prévias internas.

A estagnação de Moro também não dá cacife ao Podemos, ao contrário. E como casa em que falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão, há entre os podemistas quem queira “empurrar” o ex-juiz para o União Brasil, para que os recursos do fundo eleitoral não sejam dissipados na campanha presidencial.

Mas no União Brasil, depois de um período de marchas e contramarchas, no qual Luciano Bivar ensaia querer o lugar de vice-presidência e ACM Neto bate o pé em não sujeitar sua campanha ao governo baiano ao desgaste da vinculação a Sergio Moro.

Quatro meses de pesquisas quase que totalmente estáveis vão minando as chances de um segundo pelotão de candidaturas – Moro, Ciro e Dória – vir a oferecer perigo a Bolsonaro e muito menos Lula. É possível que Simone Tebet, se o MDB lhe der as inserções partidárias na televisão, sim, tenha chances de se juntar a este grupo, o que não é ainda entrar no jogo sucessório.

Portanto, as chances de outras federações entrarem em pauta se limitam a pequenos partidos: o Cidadania com o PSDB, o que esbarra no desejo do senador Alessandro Vieira, que prefere Moro, por enquanto; e a Rede, na qual o senador Randolfe Rodrigues terá dificuldades em arrastar para um apoio a Lula, mas nem tanto em liberar o voto presidencial. O PSC tenta tratativas com João Doria, mas a bancada evangélica torce o nariz para isso.

O fato é que a prorrogação de 2 de abril para 31 de maio da data-limite para a formalização das federações, de modo geral, esfria a fervura das definições de alianças das campanhas presidenciais. E, portanto, deve estender também o tempo em que pouco ou nada muda.

E isso é uma grande vantagem para os que a lideram que, se pudessem, gostariam que as eleições fossem amanhã.

Tijolaço.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

KAMIKAZE NÃO GANHA GUERRA, MAS FAZ ESTRAGO. POR FERNANDO BRITO

Não haverá carnaval, por conta da Ômicron, mas há muita folia e desfiles de fantasias nos mercados financeiros.

Não há, senão por curto período, possibilidade de seguirmos em queda, ainda que moderada no câmbio, porque o fluxo de dólares, caudaloso em janeiro, não seguirá assim com a alta dos juros do Tesouro norte-americano, mesmo com as generosas taxas arbitradas aqui pelo Banco Central (que, aliás, avisou que as subirá mais e por mais tempo).

Nem este fluxo seguirá forte como foi na Bolsa, onde as compras externas (R$ 37,4 bilhões, em janeiro e primeira semana de fevereiro) fizeram a festa, ainda que modesta, dos investidores.

As projeções para o IPCA de janeiro, que o IBGE divulga na manhã desta terça feira andam perto de 0,6, o que elevará o acumulado em 12 meses para cerca de 10,5% e as previsões para fevereiro são de que este total permaneça por aí.

Mas e os planos de que lá para abril ou maio estas taxas baixem e apontem para uma prevista redução da inflação a 5%?

Noites de verão são boas para sonhar, e assim vamos, mas a ata da reunião do Copom, publicada hoje pelo Banco Central é preocupante por vários motivos.

O primeiro é o de o BC, ainda nos primeiros dias de fevereiro, “jogar a toalha”quanto ao cumprimento da meta de inflação de 2022, fixada em 5%, é absolutamente inusual, porque os fiascos em política monetária só são admitidos quando já estão evidentes e basta ver como foram subindo, ao longo do ano passado, as previsões inflacionárias oficiais.

Além do mais, as variáveis “boas” – queda mundial do preço das commodities – não estão acontecendo e as “ruins”, o possível descontrole fiscal do país , habitam as telas de todos os portais de notícias, com a “PEC Kamikaze” que tem o evidente apoio do Governo e é apenas o primeiro dos pacotes de bondades eleitorais que se repetirão até às vésperas da eleição presidencial.

O que se tem de informação sobre a atividade econômica do início do ano parece inverter o levíssimo otimismo dos dois meses finais de 2021 e vai se refletir numa piora ainda maior nas previsões de expansão do PIB. O otimismo do mercado fica numa alta de 0,3%, mas os já nem tão resguardados cochichos já consideram um recuo de até 1%.

E tome dinheiro para frear esta queda, o que é necessário mesmo. Mas não como tudo indica será feito, atabalhoada e superficialmente, com um “vota em mim, o rombo a gente vê depois”.

Kamikazes, como se sabe, fizeram muito estrago, mas não ganharam a guerra.

Tijolaço.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

ONDE ESTÃO AS OUTRAS NOTAS, MORO? POR FERNANDO BRITO

Fora da grande mídia, corre nas redes o embrulho da nota fiscal exibida por Sérgio Moro na live em que tentou provar que a empresa à qual, ficticiamente, prestou serviços enquanto trabalhava para a Álvarez e Marsal norte-americana nada tinha a ver com a Álvarez e Marsal que, no Brasil, gerencia a recuperação judicial da Odebrecht e da OAS, quebradas pela ação da Operação Lava Jato que o ex-juiz chefiava.

Dizendo estar “tudo direitinho, tudo bonitinho”, Moro exibiu o que seria uma nota de pagamento da empresa que “provisoriamente” arcaria com sua remuneração, a Álvarez e Marsal Disputas e Investigações, CNPJ 38.235.111/0001-50. Segurou até um cartaz com estas informações.

Mas, ao exibir uma nota fiscal do que seria um dos pagamentos, esta era de uma outra das 13 empresas em que a A&M se divide contabilmente, porque todas dividem o mesmo espaço físico em algumas salas da Rua Surubim, 577, em São Paulo.

Como já se mostrou aqui, é todas as empresas atuam em conjunto – ou promiscuidade, como se vê pela nota fiscal – receitas e despesas fluem entre os vários CNPJ, comforme convenha.

A nota, referente a “serviços prestados no mês de fevereiro” de 2021, o que sugere pagamentos mensais, registra um valor de R$ 811 mil brutos. Se eram “atrasados”, nada na nota o indica. Se este era o valor mensal, como a nota indica, o valor em 11 meses é muito maior que os R$ 3,5 milhões admitidos pelo ex-juiz. Tem apenas o 7 como número de nota, e é preciso saber desde quanto tempo a empresa havia emitido outras seis notas, o que é muito pouco, principalmente para quem lida com estes valores altíssimos.

O candidato do Podemos atribuiu a um “erro material” a emissão da nota pela empresa de engenharia do grupo, o que é um difícil de acreditar, ainda mais neste valor. Já a empresa dá outra versão à revista Veja: a contratação de Moro “teve sua prática originalmente estruturada no Brasil na A&M Consultoria em Engenharia e em seguida foi transferida para A&M Disputas e Investigações”.

Neste caso, deve existir um segundo contrato e outras remunerações, pagas pela A&M Disputas e Investigações. Outra – ou outras – notas, além de explicações sobre coo se deram os pagamentos e benefícios que recebeu nos Estados Unidos que, se foram através da empresa do ex-juiz, também tem a obrigação de ser registrado em notas fiscais.

Moro também não exibiu o contrato que lastrearia este pagamento e suas características e, assim, é impossível saber a que serviços e período se refere, ficando assim valendo o que está escrito na nota: pagamento de um mês, o de fevereiro, curiosamente pago ainda na metade do período (dia 17), o que é totalmente incomum.

Salvo se houver – como deve sugerir o Tribunal de Contas da União – uma investigação fiscal, Moro não é obrigado a mostrar quanto e como ganhou, é verdade. Mas, neste caso, seu discurso de “transparência” e “moralidade” está sujeito a tudo o que se disser dele.

Tijolaço.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

SÓ OS QUE ACHAM QUE SÃO RICOS PERMANECEM COM BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Bruno Boghossian, em ótima compilação de dados, mostra na Folha que, comparando-se pesquisas de intenção de voto, em vários segmentos da população. Lula inverteu, com sobras, a situação que Jair Bolsonaro tinha frente a Fernando Haddad em 2018.

Reuni, aí em cima, os gráficos que o jornal apresenta separadamente: entre os jovens (até 24 anos), o que foi uma desvantagem expressiva (35% Bolsonaro e 18% Haddad). hoje são acachapantes 54% para Lula contra 17% de Bolsonaro.

Na Região Sudeste, que tem 43% do eleitorado do país, onde Bolsonaro tinha, em 2018, mais que o dobro de Haddad (40 a 16%) agora é Lula quem dobre com folga a intenção de voto presidencial , com 43% contra 21% do atual presidente.

Entre os com escolaridade superior completa, onde – Deus nos perdoe – o “Mito” teve 3 por um 1 sobre Fernando Haddad (45% contra 15%), agora a situação quase se inverte: Lula tem 39% e Bolsonaro apenas 24%.

Esta “virada” vai se repetindo por quase todos os segmentos em que se disseque as pesquisas, menos dois.

Os evangélicos, ainda assim num virtual empate, ainda que com vantagem numérica para Lula e em outro, que está à espera de análises sociológicas: os que ganham mais de cinco salários mínimos por mês, que representam 14% da população. Entre eles, dependendo da pesquisa, a vantagem ainda é de Bolsonaro. Embora mais estreita que em 2018, ainda é grande, em algumas pesquisas, perto de ser o dobro.

Se tivesse de ser definido sumariamente, o reduto restante a Bolsonaro é o das classe B e C, o “empresário” (em geral trabalhador por conta própria), homem e de meia idade.

O “cara” que ascendeu, justamente, com Lula e que está falindo com Bolsonaro.

Eu disse que era uma análise sociológica? Desculpe, errei: é uma análise psicológica que merece a subelite brasileira.

Tijolaço.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

O MARKETING DO MORO. POR FERNANDO BRITO

Em longa entrevista à Folha, o marqueteiro da campanha de Sergio Moro diz que seu “alvo” são os “bolsonaristas decepcionados”.

Com todo o respeito, é uma bobagem sem tamanho em matéria de estratégia.

Bolsonaro teve, em 2018, 55,13% dos votos válidos e 49,85% dos votos totais. Portanto, caso tenha perdido metade dos seus votos, os “bolsonaristas arrependidos são apenas 25% dos eleitores.

Para um candidato a presidente da República escolher falar para um quarto, apenas, dos eleitores é suicídio. Quem quiser provas, veja se Lula fala o tempo todo de Bolsonaro. Claro que não, na maior parte do tempo está fazendo crítica social e econômica do país, coisas que afetam 100% – ou quase – dos cidadãos.

Agrava-se isso quando se deixa de considerar a grande praga que assola quase todos os outros candidatos: o fato de terem dado seu aval ao ex-capitão. É como alguém vender a você um carro “bichado” e, tempos depois, vir te oferecer outro, garantindo que “aquele era ruim, mas este é bom”.

Dizer que vai tratar dos problemas econômicos e sociais e fazer isso dizendo que adotará “forças-tarefa” – versão policialesca das antigas “comissões de alto nível” típicas dos que não tinham soluções, porque “não dá para passar ao largo” é quase uma confissão de que aquelas questões são uma aborrecida necessidade quando se pretende essencialmente o poder.

Nada, porém, é tão sincericida quanto a frase “O Bolsonaro está no nosso espectro”.

Sim, é isso: está no mesmo campo, no mesmo grupo de pensamentos, no mesmo espectro ideológico, apenas apresentando-se de outra maneira, como se as grosserias e os modos chulos do atual presidente fossem o seu problema e não a postura odiosa e as políticas que nos levam ao caos.

Moro tinha um ponto eleitoralmente muito forte e que usou para ajudar Jair Bolsonaro: a sua imagem midiática de campeão da integridade. A ‘boca” no governo, o desejo frustrado de ir para o STF, os diálogos da Vaza Jato, a decretação pela Suprema Corte de que foi um juiz parcial e, finalmente, o fato de ter ido trabalhar para uma empresa norte-americana que se encarregou de enterrar os ossos das empreiteiras que a Lava Jato quebrou acabaram com esta imagem e “sobrou” disso a própria razão de toda a sua trajetória judicial: o ódio a Lula.

Será este, nenhum outro, o mote de sua campanha eleitoral, se ela for até o final. Seu argumento central é de que ele “será o melhor” meio de derrotar o ex-presidente e, por isso, seu antibolsonarismo só tem esta razão de ser.

E, claro, o ódio que tem do atual presidente por não ter dado o que ele queria, o que é tão evidente que até João Dória, do alto dos seus 3% de intenções de voto, manda recados de que lhe poderia dar: um cadeira no Supremo.

Tijolaço.