Moro nem sequer perguntou ao lobista sobre
Furnas e investigadora da Lava Jato chegou a cortar o depoimento que acusava o
senador tucano.
O juiz Sérgio Moro tinha um foco claro no depoimento do lobista Fernando
Moura: saber o envolvimento do ex-ministro José Dirceu no esquema de corrupção
da Petrobras. Sem querer e de forma meramente exemplificada, o delator citou
como ocorria a divisão de propina na hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais,
com a indicação por Aécio Neves (PSDB-MG) de Dimas Toledo para comandar a
estatal mineira.
Dessa
forma, o caso de corrupção envolvendo a hidrelétrica foi retomado após quase 12
anos, desde as primeiras acusações. Na Lava Jato, a investigação estava
paralisada na delação do ex-senador Delcídio do Amaral e, posteriormente,
confirmada pelo ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado.
Agora,
com visível desinteresse do juiz Sergio Moro, que em mais de 30 minutos de
depoimento não questionou uma única vez sobre o esquema de corrupção que
repassava propina ao PSDB, Fernando Moura retoma o episódio. Também ao acaso,
quando uma procuradora da República, questiona ao lobista sobre o envolvimento
de Dirceu e, de forma exemplificada, o delator cita Aécio.
Foi
realizada uma acareação pelos procuradores da República no caso da Lava Jato na
Justiça do Paraná. Na audiência, o ex-diretor de Engenharia de Furnas, Dimas
Toledo, ouviu a acusação do delator e lobista Fernando Moura que, em 2003, ele
teria garantido dois terços da propina arrecadada ao PT e um terço ao senador
Aécio Neves (PSDB-MG).
No relato, Fernando Moura disse que o
então ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, contou que o tucano
Aécio Neves solicitou a permanência de Dimas Toledo na estatal de energia de
Minas. O lobista foi quem informou Dimas sobre a sua permanência.
À
plateia de investigadores, Moura disse que o acerto da indicação tucana, mais
especificamente do senador, na estatal foi uma forma de retribuir o apoio do
PSDB ao recém empossado governo do PT.
A
confirmação surgiu espontaneamente por Fernando Moura. Em mais de 30 minutos,
todos os questionamentos do juiz Sérgio Moro a Moura eram relacionados à
indicação de Renato Duque para a diretoria da Petrobras e os benefícios
recebidos pelo PT nacional e estadual, de São Paulo e o "grupo político de
José Dirceu", com os contratos da estatal.
O magistrado do Paraná concluiu a suas
perguntas sem questionar sobre o PSDB ou a indicação de Aécio Neves na estatal
mineira de Furnas. Foi quando o juiz federal passou a palavra a uma procuradora
da República é que o tema surgiu, despropositalmente.
"O
senhor mencionou que o senhor saiu do Brasil, quando foi para os Estados
Unidos, porque podia estourar o esquema da Petrobras e o Silvio e o Dirceu
estavam envolvidos. Eu queria que o senhor detalhasse a participação do senhor
José Dirceu", perguntou a procuradora.
"Vou
explicar", respondeu Fernando Moura. "Vou ser um pouco prolixo.
Quando acabou a eleição de 2002, que ganhamos a eleição, foi feito uma reunião
para a definição de, mais ou menos, umas cinco diretorias de estatais para
poder ajudar a nível de campanha posteriormente", inciou.
"Então
foi conversado sobre Petrobras, sobre Correios, Caixa Econômica Federal,
Furnas, Banco do Brasil. Desde que todas as pessoas que fossem indicadas, elas
teriam que estar com 20 anos de casa, ser funcionário da casa, para poder
receber essa indicação, isso foi conversado antes, em novembro de 2002. Aí,
nessa relação, foi indicado o nome do Renato Duque para a Petrobras, foi
indicado o nome do senhor Eduardo Medeiros para os Correios, a princípio eu
levei para o senhor José Dirceu o nome do Dimas Toledo para que continuasse na
Diretoria de Furnas", exemplificou o delator.
A
partir daí, novamente sem que nenhum investigador da Lava Jato questionasse ou
o juiz federal Sérgio Moro, Fernando Moura se estendeu no caso específico da
estatal mineira de Furnas.
"Ele
[Dirceu] usou até uma expressão comigo: 'o Dimas não, porque o Dimas se entrar
em Furnas e colocar ele de porteiro, ele vai mandar em Furnas, é uma pessoa que
já está há muito tempo, 34 anos, é uma indicação que sempre foi do Aécio
[Neves]'", contou.
"Passado
um mês e meio, ele [Dirceu] me chamou e perguntou: qual a sua relação com Dimas
Toledo. Eu disse que estive com ele três vezes, achei ele competente, um
profissional. 'Porque esse foi o único cargo que o Aécio [Neves] pediu para o
Lula, então você vai conversar com o Dimas e diga para ele que a gente vai
apoiar a indicação dele'", teria dito Dirceu a Moura.
"Eu fui conversar com o Dimas, que na
oportunidade me colocou da mesma forma que coloquei o caso da Petrobras, em
Furnas era igual. Ele [Toledo] falou: 'vocês não precisam nem aparecer aqui,
vocês vão ficar um terço para São Paulo, um terço nacional e um terço para
Aécio'", narrou.
E a procuradora interrompeu: "tá, mas
a pergunta que eu fiz para o senhor foi diferente. Eu quero saber qual é a
participação do senhor José Dirceu no esquema da Petrobras".
Do GGN, por Patricia Faermann.
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