Mefistófeles
levou os procuradores e o juiz para o alto da montanha e ofereceu a eles a
celebridade. Em troca, teriam que entregar a condenação de Lula. Saíram como
vendedores de Bíblias do velho oeste, garantindo a condenação sem ter os
elementos. E ambos ficaram presos à armadilha: a mídia perante seus
espectadores; a Lava Jato perante a mídia.
Artigo
publicado originalmente em 11/05/2017, Por Luis Nassif
Peça 1 – a desconstrução
dos heróis midiáticos
Não
há armadilha maior do que a ilusória sensação de poder que a mídia proporciona.
Como
dona do palco, ela define o roteiro. Quando calha do personagem estar adequado
ao roteiro, ela o alça ao Olimpo das celebridades. O que o sujeito fala,
repercute. Em um primeiro momento, passa uma sensação única de onipotência. Os
mais espertos, entendem o jogo. Os neófitos não se dão conta de que o espaço
tem data de validade, não é coisa líquida e certa como um concurso público.
Essa
falsa percepção liquidou com o PSDB. Desde a ascensão de Lula, o partido
limitou-se a ser caudatário da mídia brasileira. E a mídia brasileira só
consegue destruir. De repente, um partido que se orgulhava de seus
intelectuais, passou a ter a cara raivosa de um José Serra, Aécio Neves,
Aloysio Nunes, José Aníbal, todos vociferantes, raivosos, salivando como cães
hidrófobos. E liquidando com a imagem do partido.
Quando
a muleta foi recolhida, o partido acabou. Suas esperanças repousam, agora, nos
inacreditáveis João Dória Jr e Huck.
Esse
mesmo castelo de cartas foi erigido com a Lava Jato. Hoje houve a hora da
verdade. E o castelo desmontou.
Cara
a cara com Lula, não havia mais a blindagem das edições seletivas. Não havia
mais a liberdade para construir teses abstratas, suposições alinhavadas com
ilações, sendo oferecidas para um cardápio viciado dos órgãos de imprensa.
Agora,
seria ferro contra ferro.
E
o que se viu foi um espetáculo constrangedor.
Do
lado do juiz Sérgio Moro, pegadinhas, levantamento do que Lula disse em 2005,
em 2007, meramente para fornecer leads para o Jornal Nacional – já que não
havia nenhuma relação com as denúncias formuladas. Da parte dos procuradores,
um apego a detalhes irrelevantes, próprio de quem não tem elementos
consistentes.
O
mais relevante: durante anos, a opinião pública se viu ante duas posições
taxativas. De um lado, a Lava Jato garantindo ter todos os elementos para
incriminar Lula. De outro, Lula sustentando que não havia um só elemento
sólido.
Fizeram
um pacto com o demônio.
Mefistófeles
levou os procuradores e o juiz para o alto da montanha e ofereceu a eles a
celebridade. Em troca, teriam que entregar a condenação de Lula. Saíram como
vendedores de Bíblias do velho oeste, garantindo a condenação sem ter os
elementos. E ambos ficaram presos à armadilha: a mídia perante seus
espectadores; a Lava Jato perante a mídia.
O
deslumbramento de Moro e dos procuradores fê-los apostar tudo em uma partida de
poker. Quando abriram as cartas, não dispunham sequer de um par de 4.
E
Lula dominou a cena no discurso final, no qual deu dados precisos da campanha
intransigente da mídia, controlou as tentativas do juiz de cortar sua palavra e
produziu uma denúncia que, nas redes sociais, espalhar-se-á pelo mundo.
Peça 2 – o segundo
nascimento de Lula
Moro
montou o cenário, mas o espetáculo foi de Lula.
Primeiro,
pela impressionante corrente de pessoas que foram a Curitiba apoiá-lo. Depois,
pelo depoimento em si. O entusiasmo, a maneira como mobilizou pessoas de todo o
país, através das redes sociais, o acompanhamento de perto da mídia
internacional e, ao final, um comício consagrador, tudo isso torna Lula mais
que nunca o candidato para 2018.
No
julgamento, a pessoa que saiu do governo consagrada internacionalmente, por seu
trabalho de inclusão social e pela dimensão assumida pelo país no seu governo
se apresentava, não como líder popular, nem como o estadista consagrado, mas
como uma pessoa que perdeu a esposa, vítima dessa campanha implacável, que teve
a casa invadida, sua intimidade estuprada por Sérgio Moro, as casas de seus
filhos arrombadas e os netos sendo alvos de bulling na escola.
Nenhum
de seus acusadores resistiria a dois dias de campanha de mídia. E, agora,
frente a frente com eles, cobrando provas que não apareceram, documentos que
nunca existiram
Depois,
no comício, apresentou-se como a pessoa que poderia salvar o país, entregue
pela Lava Jato e pela mídia às mãos de um presidente corrupto e medíocre e de
uma grupo de poder que jamais conseguiu chegar perto de um desenho minimamente
viável de país.
Um
otimista diria que o evento de hoje, somado ao fastio de parte da mídia com as
arbitrariedades da Lava Jato, poderia ser o início de uma tentativa de busca de
consensos mínimos, visando impedir que o país caia na barbárie completa.
Um
pessimista olharia para a Globo, para a maneira como radicalizou e avançou no
mar revolto da subversão institucional, e ponderaria que ainda há uma longa
luta pela frente, até que o bom senso se espraia pela nação.
GGN
0 comments:
Postar um comentário