Três candidatos têm chance de chegar ao segundo turno, mas Roseana pode levar já no primeiro.
As eleições no Maranhão nunca na história ocorreram sob um cenário de indefinição tão grande quanto em 2010. Não há certezas se o pleito será definido no primeiro, no segundo turno ou quais candidatos participariam de um eventual segundo turno.
A governadora Roseana Sarney (PMDB) lidera as pesquisas de intenção de votos no Estado e é a única garantida em um possível segundo turno e com chances de liquidar a fatura em turno único. Conforme o último levantamento Ibope/TV Mirante, divulgado quinta-feira, a peemedebista tem 47% das intenções de voto. O deputado federal Flávio Dino (PCdoB) vem em segundo com 23% e o ex-governador Jackson Lago (PDT), em terceiro, com 18%. Lago e Dino acreditam que as eleições no Maranhão vão para o segundo turno e os dois disputam uma eventual segunda vaga. Pela primeira vez na história política do Maranhão, três candidatos diferentes têm chances reais de chegar a um segundo turno em uma eleição para o governo estadual.
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Durante a campanha desse ano, houve muita indefinição quanto à validade ou não da candidatura de Jackson Lago. A confirmação do nome de Lago, no entanto, somente ocorreu na quinta-feira quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deferiu o registro do pedetista.
Lago teve o seu registro de candidatura impugnado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) do Maranhão com base na Lei Complementar 135/2010, a Lei da Ficha Limpa. O raciocínio do MPE é que Lago tornou-se inelegível automaticamente quando ele teve seu mandato cassado em abril do ano passado. A defesa de Lago contestou o argumento do MPE afirmando que a sanção de inelegibilidade não está prevista nos acórdãos da cassação do pedetista.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MA) deferiu o registro de Lago por unanimidade, ainda em agosto, alegando que a lei não poderia ser aplicada em 2010 sob pena de ferir princípios constitucionais, como o da não retroatividade penal (art. 5º da Constituição). Até a quarta-feira passada, ainda não se sabia se a candidatura de Lago iria ser julgada pelo TSE. Esse clima de instabilidade propiciou o surgimento de conversas no sentido de convencer Lago a desistir da sua campanha em prol da esposa, Clay Lago, ou que ele abdicasse da sua candidatura em prol de Flávio Dino.
O medo da oposição era que ocorresse em 2010, o que aconteceu em 2002. Na época, o candidato do grupo Sarney, José Reinaldo Tavares (hoje adversário da família) iria para um segundo turno contra Jackson Lago. Ricardo Murad, líder do governo Roseana na Assembleia em 2010 e hoje candidato à reeleição, também disputava aquele pleito mas teve sua candidatura impugnada pelo TRE-MA por ser cunhado de Roseana, que na época tentava uma vaga ao Senado. Depois do primeiro turno, a eleição foi para o segundo turno entre Tavares e Lago mas Murad desistiu de sua candidatura. Com os votos de Murad anulados, Tavares liquidou a fatura em turno único.
Mas, na quinta-feira, o TSE liberou por quatro votos a três a candidatura de Jackson Lago. No quartel general do pedetista, houve sentimento de alívio principalmente porque, segundo a defesa do pedetista, houve uma correção “moral” no deferimento da candidatura pedetista. “Agora o dr. Jackson pode fazer a sua campanha tranquilamente”, apontou o advogado de defesa de Lago, Daniel Leite.
Campanha
Os três principais candidatos ao governo do Estado do Maranhão apostaram em estratégias diferentes na campanha eleitoral de 2010. Roseana vinculou a sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e prometeu um governo de continuidade, com a ampliação de programas sociais, mais investimentos em saúde e educação. Ela também focou seu discurso em grandes obras, como a construção de três grandes hospitais de alta complexidade no interior e uma ponte de 4,1 quilômetros, cujo prazo de conclusão seria de quatro anos.
Ao contrário de 2006, Roseana conseguiu uma grande coalizão em prol de sua candidatura. Um total de 93% dos prefeitos do Estado manifestou apoio à candidata peemedebista. Além disso, 17 partidos integram a base de sustentação da governadora nas eleições desse ano (PMDB, PT, DEM, PTB, PMN, PTdoB, PRP, PV, PSL, PP, PRTB, PSDC, PTN, PHS, PR, PRB e PSC) na coligação “O Maranhão não pode parar”. No entanto, o apoio do PT à candidatura Roseanista, foi construída a custa de muitas divergências internas do partido. Metade dos integrantes do PT no Maranhão não aprovou o apoio ao PMDB e fazem palanque a Flávio Dino.
Dos apoios, o mais importante foi do presidente Lula. Lula gravou duas chamadas de apoio a Roseana. Em uma delas, em forma de entrevista, ele aconselhou Roseana a não baixar o nível da campanha na reta final. Além disso, a campanha de Roseana foi a mais rica dos candidatos ao governo: R$ 4,4 milhões arrecadados segundo o TSE.
Lago focou a sua campanha no discurso da injustiça, tentando mostrar ao eleitor a importância de voltar ao poder para que ele fosse julgado por “quatro anos de mandato e não por dois”. A propaganda pedetista na televisão apostou na ridicularização da imagem da governadora como forma de ataque. Até mesmo um sósia do senador José Sarney foi usado para fazer críticas à Roseana Sarney.
Ainda com base no discurso da retomada do governo interrompido, Lago prometeu continuar aquilo que tinha iniciado, como a construção de hospitais de urgência e emergência no interior e 300 escolas. A campanha de Lago também foi marcada pela falta de recursos financeiros. Dos três principais candidatos, ele foi o que menos arrecadou conforme dados da Justiça Eleitoral. Algo em torno de R$ 105 mil.
Os problemas da candidatura de Jackson iniciaram, na realidade, já na fase de composição de chapa. A intenção de Lago após ter saído do governo em abril do ano passado era reeditar a “Frente de Libertação do Maranhão”, que ajudou a elegê-lo em 2006. O máximo que conseguiu foi a promessa de um apoio de outros partidos da oposição em um eventual segundo turno, se ele chegasse lá. Por isso, a coligação de Lago, “O Povo é maior”, partiu para a disputa eleitoral apenas com o PDT, legenda do ex-governador, com o PSDB e com o PTC.
A candidatura de Flávio Dino focou sua estratégia no sentimento de mudança. Ele propôs um governo “honesto, sem o ódio do passado”. Prometeu construir 100 escolas técnicas e cinco universidades. Até o início de setembro, tinha dificuldades em incorporar esse discurso. Mas nas últimas três semanas, foi o candidato que mais cresceu nas pesquisas de intenção de votos no Estado, tanto que hoje está tecnicamente empatado com Jackson Lago.
Com recursos financeiros limitados, mas não tanto quanto os de Jackson Lago, Dino apostava no início da corrida eleitoral em um apoio formal do PT. Assim, poderia trabalhar melhor sua imagem à do presidente Lula. Sem o apoio formal do partido, ainda tentou vincular sua imagem ao do governo PT. Mas foi barrado pela Justiça Eleitoral maranhense por uso indevido de som e imagens de arquivo de Dilma Rousseff.
Além disso, a falta de apoio oficial do PT prejudicou parte de suas estratégias no tempo em rádio e televisão. A coligação “Muda Maranhão” conta, assim como a de Lago, com apenas três partidos (PCdoB, PPS e PSB). Também apostou em críticas e em ironias para tentar tirar votos de Roseana Sarney e, na reta final, Dino enfrentou duas polêmicas. A primeira de ter eventualmente desrespeitado a governadora ao chamá-la de onça em um comício e depois de estar tentando articular, nos bastidores, a desistência da candidatura de Lago. O comunista negou tanto o desrespeito à governadora, quanto uma ação reivindicando a desistência do pedetista.
Além de Roseana, Dino e Lago, também disputam a eleição o professor da Universidade Federal do Maranhão, Saulo Arcangeli (PSOL), o eletricista Marcos Silva (PSTU) e o também professor Josivaldo Corrêa. Ao senado, serão 11 candidatos. O ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), é o grande favorito a uma das vagas.
O outro candidato da coligação “O Maranhão não pode parar”, João Alberto (PMDB), aparece na segunda colocação nas pesquisas de intenções de votos ao senado no Estado. Também disputam uma vaga ao senado, o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB); o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal (PSDB); o deputado federal Roberto Rocha (PSDB); os professores Adonilson Lima (PSB), Socorro Silva (PSOL) e Paulo Rios (PSOL), o eletricista Charles Eletricista (PCB) e os militares de esquerda Claudicéia Durans (PSTU) e Luíz Noleto Chaves (PSTU).
Wilson Lima, iG Maranhão