Para
Platão, os sofistas rejeitavam a verdade e relativizavam a realidade resumindo
o universo a partir, somente, de seus aspectos fenomenais.
Truque 1 – o conceito de
interesse nacional.
Trate
como antinacional toda medida econômica que não beneficie seu grupo. Esse
truque existe desde a República Velha. O custo das políticas de sustentação do
café era tratado como benefício para o país. O custo de políticas econômicas
para outras regiões, como sendo contra o interesse nacional.
Truque 2 – o conceito de
populismo.
Com
todos seus equívocos, a vantagem da democracia é permitir que o interesse geral
se sobreponha aos interesses particulares. É a única força que induz
governantes a implementarem políticas universais em áreas essenciais.
Historicamente, populismo se referia a medidas de alcance imediato visando
conquistar eleitores, sem nenhuma preocupação com a construção do futuro.
Com
o tempo, todas os recursos que voltam ao cidadão, na forma de serviços, mesmo
os essenciais, passaram a ser tratados como populismo.
O
ápice dessa manipulação foi o brilhantíssimo ex-Ministro da Educação Cristovam
Buarque afirmando que Lula abriu inúmeras universidades federais com propósitos
eleitorais.
Truque 3 – o sucesso e o
truque da defasagem.
Um
governante adota uma série de medidas desastrosas, que impede a economia de
crescer. Entra outro governante que toma uma série de medidas reativando a
economia. O discurso passa a ser que o primeiro se sacrificou, trabalhando com
responsabilidade, para que o segundo levasse a fama.
É
histórico. Campos Salles renegociou a dívida externa brasileira,
irresponsavelmente ampliada por Ruy Barbosa, em condições ultrajantes. Com o
país quebrado e, portanto, em condições de negociar deságios, aceitou todas as
imposições da Casa Rotschild. E ainda levou na comitiva de beija-mão
jornalistas que reportaram os elogios do banqueiro à seriedade do futuro
presidente. Ou seja, no seu beija-mão a Donald Trump, Bolsonaro teve
antecedentes ilustres.
Depois,
Rodrigues Alves fez um governo vitorioso. A história, segundo o mercado, foi de
que a virtude maior foi de Campos Salles, preparando o terreno para seu
sucessor.
Do
mesmo modo, Fernando Henrique Cardoso implementou uma política monetária
ruinosa, que jogou o nível de endividamento público e privado nas nuvens, provocou
a estagnação da economia, comprometeu o ganho de mercado obtido com a
estabilização da moeda. No período em que adotou uma política econômica
pró-ativa, Lula conseguiu índices de crescimento inéditos, em plena crise
global.
Mas
o sucesso de Lula é atribuído ao trabalho prévio de FHC.
Truque 4 – o fracasso e o
truque da defasagem
O
segundo governo Dilma Rousseff foi um desastre. O pacote Joaquim Levy afundou
ainda mais a economia, quebrou as pernas políticas do governo que, a partir
dali, foi sufocado pelas pautas-bombas do Congresso. Ponto.
Entre
Henrique Meirelles, pelo governo Temer, Paulo Guedes, pelo governo Bolsonaro, e
mantem as mesmas políticas restritivas anteriores. Ou seja, tudo passou a ser
de sua estrita responsabilidade, mesmo tendo apoio expressivo do Congresso.
Depois
de quedas do PIB, a recuperação costuma ser rápida, porque há capacidade
instalada a ser ocupada. No entanto, até hoje não ocorreu a recuperação da
economia brasileira, configurando o mais longo período sem recuperação da
história.
Mas
a culpa continua sendo da Dilma.
Truque 5 – o golpe da
lição de casa.
Foi
aplicado sistematicamente, de Pedro Malan a Henrique Meirelles, com a
contribuição luxuosa de Antônio Palocci e Joaquim Levy.
Consiste
em impor um conjunto de medidas amargas – para os outros -, acenando com o pote
de ouro no final do arco íris. Se tirar o leite das crianças, a aposentadoria
dos idosos, se reduzir os direitos trabalhistas, se reduzir os gastos com saude
e educação, a economia voltará a ser pujante e todos ganharão.
Começa
o ano com tais promessas. Chega-se ao final com os sacrifícios impostos e nada
de aparecer o pote de ouro. Alega-se, então, que o sacrifício foi insuficiente
e toca a apertar mais ainda o torniquete em cima da rapa.
Como
garantia o sábio Ministro Luis Roberto Barroso: se a legislação trabalhista
tirar os torniquetes sobre as empresas, haverá abundância de emprego. Mudam-se
as regras, o emprego cai por conta da recessão e a informalidade explode, por
conta da nova legislação.
Truque 6 – o golpe do fim
do mundo.
Utilizado
desde tempos imemoriais. Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o
Brasil. Ou o Brasil acaba com esses velhinhos que sugam a Previdência, ou esses
malandros que teimam em ficar doentes para conseguir o auxílio-doença, ou eles
acabam com o Brasil.
Imposto
sobre grandes fortunas? Não, porque é de difícil aplicação. Sobre ganhos
financeiros? Não, porque irá desestimular os investimentos. Contenção da
engenharia fiscal dos grandes grupos? Não, porque embotará o empreendedorismo.
Truque 7 – a
impossibilidade do impossível
Analise-se
o pacote Joaquim Levy-Dilma. Aplicou simultaneamente choque tarifário, choque
monetário, restrição de crédito, corte drástico de despesas prometendo a
quadratura do círculo: se cortar toda a demanda, haverá o equilíbrio fiscal e
instantaneamente os investimentos voltarão para a economia.
O
resultado óbvio seria: se cortar toda a demanda, com a economia em queda,
acelerará a queda do consumo. Com isso não haverá a volta do investimento, mas
a queda vertiginosa da atividade econômica.
Alegação
do mercado: o ajuste não foi suficientemente severo.
O
mesmo ocorrerá com a reforma da Previdência. O Congresso vai entregar uma parte
da reforma e a economia continuará em profunda recessão. A alegação futura do
mercado será a de que a reforma não foi suficientemente radical.
Truque 8 – o truque do
denominador
O
país tem uma receita fiscal de 100 e uma dívida pública de 50. Aí, implemento
uma política recessiva que derruba a receita em 10%. E uma política de juros
que custa 6% ao ano. Mantidos todos os demais fatores, em apenas dois anos a
relação dívida/PIB passará de 50/100 = 50% para 56/90 = 62%. Mas, aí, explico
que a culpa do déficit foi das despesas.
É
o que acontece com todos os cálculos de déficit primário e déficit da
previdência. O déficit seria menor se as políticas econômicas não tivessem
derrubado a receita.
Truque 9 – o truque da
relação causal no déficit
É
primo irmão do Truque 7. O país tem 100 de receita e 100 de despesa primária,
portanto orçamento primário equilibrado. Aí derruba a receita que cai para 90.
As despesas continuam as mesmas. Dir-se-á que a causa do desequilíbrio são as
despesas.
Truque 10 – o golpe da
identidade contábil
Os
manuais de economia costumam recorrer a identidades contábeis para medir os
fatores econômicos. Uma das identidades consiste em estimar que o gasto privado
corresponde ao total produzido, menos o gasto público. É apenas uma medida.
Por
ser apenas uma conta não leva em consideração, por exemplo, que gasto público
significa ganho privado. Se o governo paga salários, ou contrata serviços, ou
adquire bens, esse dinheiro será injeção na veia das empresas privadas, que
produzem bens de consumo, bens de investimento e serviços. Se corta o gasto
público, automaticamente diminui a renda privada.
Mas
os cabeções sacam impavidamente a identidade contábil e garantem que bastará
cortar o gastos público para o lugar ser imediatamente ocupado pelo setor
privado.
Truque 11 – a falsa
eficiência
Parte
do pressuposto de que se um gasto é mal aplicado, basta corta-lo para melhorar
a eficiência do serviço. O SUS (Sistema Único de Saúde) é um milagre
brasileiro, porque consegue determinado nível de universalização pagando
merreca pelos procedimentos médicos. A lógica dos cabeções é simples. O aumento
da eficiência de qualquer serviço, especialmente os serviços públicos, depende
de modelos gerenciais, implementação eficiente, criação de indicadores. Para os
cabeções a lógica é outra. Se um serviço não é suficientemente eficiente, basta
reduzir seu orçamento que a eficiência aparece.
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GGN