segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

GSI REVOGA GARIMPO QUE AUTORIZOU NO AMAZONAS. QUEM CAVAR, VAI ACHAR. POR FERNANDO BRITO

A Folha informa que um ato do Conselho de Defesa Nacional revogou, no Diário Oficial de hoje, sete autorizações de “pesquisa mineral” em terras públicas, vizinhas a reservas indígenas e a parques nacionais.

Ótimo, mas estranho que se revogue tão rápida e laconicamente o que havia sido autorizado apenas alguns dias atrás.

Diz o Gabinete de Segurança Institucional que “as novas informações técnicas e jurídicas, apresentadas diretamente ao GSI” levaram à cassação dos “Atos de Assentimento Prévio” à pesquisa mineral na área conhecida como “Cabeça do Cachorro”, no Noroeste amazônico.

Quais “informações técnicas e jurídicas”, não se sabe. Apresentadas “diretamente” por quem, também não se sabe. E como as autorizações saíram sem serem devidamente instruídas? Parte delas é dada a comerciantes de bombas e de dragas para garimpeiros raramente levais. E autorização de pesquisa, em áreas remotas e sem fiscalização é, como se disse no início, garimpo mesmo, não pesquisa simples de potencial minerário.

É mais provável que tenham sido canceladas porque alguém avisou que haveria algo escandaloso que poderia surgir se alguém cavucasse as concessões dadas na correria.

E que não seria ouro, exatamente, o que ia aparecer da lama.

Tijolaço.

domingo, 26 de dezembro de 2021

ENCHENTE NA BAHIA E BOLSONARO COMEMORA “ARMINHAS”. POR FERNANDO BRITO

A Zona da Mata baiana – Ilhéus, Itabuna – está sob as águas de tempestades históricas.

Milhares de desabrigados, muitos mais desalojados, duas dezenas de mortes, comoção nacional.

Menos na cabeça do nominalmente presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que está no Twitter comemorando “mais de um milhão de armas nas mãos de civis, 65% mais que em 2018”.

Certamente devem estar sendo utilíssimas para combater as enchentes.

Tão úteis como estão sendo as Forças Armadas, que deveriam ser as forças de defesa dos civis, que deveriam estar atuando na catástrofe baiana.

Os anfíbios da Marinha estariam melhor lá, mesmo fumacentos, que na Praça dos Três Poderes, embora ali também tenham desempenhado um papel cívico: o de se mostrarem ridículo sustentáculo de uma aventura golpista.

Pode ser que Jair Bolsonaro vá fazer alguma demagogia aérea por lá, antes de voltar às suas dancinhas de férias, agora em Santa Catarina.

Pobre país, pobres brasileiros nas mãos de gente assim.

Tijolaço.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

UM LIBELO CONTRA HERODES. POR FERNANDO BRITO

A entrevista de Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa, ao jornal O Globo é um dos libelos mais duros que já se fez a um governo e, um dia, será usado nos tribunais deste país.

Em três “perguntas” ele atira sobre o governo Bolsonaro e seu ministro da Saúde a responsabilidade consciente pela morte de crianças (e de adultos) por conta da Covid-19.

“O ministério [ da Saúde] precisa apresentar à sociedade a justificativa do porquê de nós mantermos inalterada uma estatística macabra. Nós temos 301 crianças mortas na faixa de 5 a 11 anos desde a chegada da Covid até o início de dezembro. Nesses 21 meses, numa matemática simples, nós teríamos um pouquinho mais de 14 mortes de crianças ao mês, praticamente uma a cada dois dias.”

“Se (a consulta pública, usada pelo Ministério para adiar a vacinação infantil) é uma ferramenta tão necessária, por que não foi usada em relação às outras faixas etárias, às outras vidas?”

A terceira pergunta é sobre as opiniões de pessoas que não trabalham com a análise vacinal: de que maneira isso pode influenciar numa decisão que é eminentemente técnica?

Torres termina as perguntas com uma direta e simples: “o que mais falta” para se iniciar a vacinação das crianças, uma vez que todas as entidades médicas e sanitárias a aprovaram?

Torres responsabiliza diretamente Jair Bolsonaro de instigar as ameaças que os funcionários da Anvisa recebem, todos os dias, e que já somam mais de 170:

Tivemos uma [manifestação presidencial] em 16 de dezembro, que foi o pedido, dito por ele oficioso, quanto a nomes de envolvidos. A frase em si, palavra após palavra, se retirada do contexto, pode parecer apenas o exercício do supremo mandatário do país, no livre direito, de solicitar a informação que julgar necessária. Mas, quando essa frase é colocada no contexto, na entonação e em tudo o que foi dito naquela live, se entende que a intenção não era essa. Não era uma intenção apenas de saber os nomes.(…) No dia 19 de dezembro, o senhor presidente disse que é “inacreditável o que a Anvisa fez”, ou seja, reitera o sentido que deu na declaração do dia 16. Não há dúvida quanto ao que ocorreu nessa sequência de duas declarações, com intervalo de três dias, em que as ameaças se tornaram ainda mais profusas.

Como aqui já se fez, Torres compara as mortes pela Covid com acidentes aéreos;

Nós estamos com um avião caindo por dia de óbitos de Covid-19 em todas as faixas etárias. Imagina você como repórter noticiar na segunda-feira “um avião caiu”. Aí você, na terça-feira, diz de novo: “um avião caiu”. Na quarta-feira, você diz de novo: “um avião caiu”. Na quinta-feira, você diz de novo: “um avião caiu”. Estou sendo repetitivo para que as pessoas entendam o que estamos falando. É irresponsável dizer que a pandemia acabou. Quem diz isso deveria falar à família dos mortos desses aviões que caem todo dia. Todo dia um avião cai em território nacional…

O diretor-presidente da Anvisa diz que não são casuais estas situações inexplicáveis: para ele, há um “perfeito alinhamento político” entre o que faz (e deixa de fazer) o Ministério da Saúde e a vontade do presidente da República.

Em qualquer país do mundo, o que diz Barra Torres tem densidade suficiente para que se abram processo contra Jair Bolsonaro e Marcelo Queiroga por crime de responsabilidade contra o direito essencial à Saúde.

É público, está num grande jornal, o que falta para que o Ministério Público abra inquérito para que se respondam as perguntas formuladas por Barra Torres. É claro, porém, que não irá a lugar nenhum, mesmo que se vá bater ao STF pedindo que se apurem e atribuam as responsabilidade pela inação do presidente e de seu ministro.

Ao menos, não agora. Mas, amanhã, o libelo de Barra Torres há de ser ouvido num tribunal.

Tijolaço.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

PODERDATA: LULA VAI A 40%; BOLSONARO, A 30%. MORO FICA NOS 7%. POR FERNANDO BRITO

A pesquisa PoderData, do site Poder 360, é outra daquelas que, por ser feita por telefone, tende a apresentar algumas pequenas distorções pela forma de abordagem. Mas, ainda assim, é perfeitamente apta a registrar tendência e é o que ela faz, ao mostrar um crescimento de lula, fora da margem de erro, passando de 34% na edição de novembro para 40% na rodada de dezembro, naquela ocasião com João Doria na disputa, o que se confirmou.

Já Bolsonaro passa de 29% no mesmo cenário, para 30% agora, oscilação dentro da margem de erro estatística, de dois pontos percentuais. Moro desce de 8% em novembro para 7% e Ciro perde três pontos, ficando com os mesmo 4% de Dória, que tinha 5% na rodada anterior.

A disputa evidentemente se afunila: todos os outros candidatos, que na pesquisa anterior somavam 27 pontos. agora têm, no total, 19%.

Esta redução aproxima mais uma decisão em primeiro turno. Nestes dados, o percentual sobre os válidos de Lula vai a 49, 38%, a meros 0,63% de uma definição na primeira volta.

Se houver segundo turno, cujos confrontos reproduzo acima, a vitória de Lula permanece com as mesmas diferenças da rodada anterior, considerada de novo a margem de erro. É com lembrar que os percentuais, diferentemente do que ocorre nas eleições, não estão considerados apenas sobre os votos válidos, o que elevaria a preferência por Lula a sempre mais que 60%.

Abaixo vão os resultados completos da pesquisa de primeiro turno.

Tijolaço.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

LULA GANHA APOIO DO PV; MORO, DO ‘MAMÃE FALEI’, POR FERNANDO BRITO

Lula, devagar, vai juntando peças à sua candidatura, encaixando com cuidado os pedaços que tecem o quebra cabeças político, até mesmo aqueles que, como Alckmin, parecia não se encaixar no desenho original e sofre, por isso, o ódio dos “moristas” como Merval Pereira, que pretendiam vê-lo integrado à campanha do ex-juiz.

Que, por sinal, comemora nas redes sociais a adesão do tal “Mamãe Falei”, num momento que, no meu tempo, seria o de Greta Garbo no Irajá, com a figura se habilitando a ser o “candidato de Moro” ao governo paulista, para que se veja o nível.

É que o União Brasil, partido de locação de Luciano Bivar, fechou com Doria o apoio a Rodrigo Garcia. Como já se disse aqui que a parte preferida de Bivar na Oração de São Francisco é o “que se recebe”, a parte do dar ele não aprendeu.

Doria não fecha acordo para depois ir dar apoio a Moro.

O fato concreto é que as forças políticas reais vão migrando para Lula ou, quando não, partindo para um “nem lembro que tem eleição pra Presidente”.

Apoio nominal de PL, PP, Republicanos, sim, o atual presidente terá. Sapato na poeira, santinho, panfleto, só em corpo oito, aquela letra miudinha, porque “candidatos do Bolsonaro” serão os “raiz”, os adeptos do xingamento da fuzilaria, os “tem de matar mais” e os defensores da esquerda “na ponta da praia”, expressão cunhada pelo candidato de 2018 para significar prisão e tortura.

Mas o mundo real, quatro anos depois de devastado pela dupla Moro-Bolsonaro, segue existindo e se movendo, pouco propenso, à vista do desastre que foi, a embarcar em aventuras demagógicas.

Vai se movendo silenciosamente, quase na sombra e recém começa a aparecer nas formas visíveis de movimentação política.

Hoje, Lula recebeu o apoio do PV, um avanço digno de nota para a formação da Federação Partidária da esquerda, da qual vão se aproximando, devagar, também a Rede e o PSOL.

O espaço está se estreitando.

Tijolaço.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

JAIR, O TERRIVELMENTE IDIOTA, POR FERNANDO BRITO

O que acham Silas Malafaia e o Bispo Edir Macedo da “dancinha da cadela” protagonizada pelo presidente da República?

Dar ração na tigela a mulheres, sejam de esquerda, centro ou direita está de acordo com colocar Deus acima de tudo?

Quem sabe se os nossos severíssimos pastores ele a faça com a multidão dando vivas ao “tem mais pelos que cadelas”?

E o senhor, ministro André Mendonça, lá na sua festinha de posse, mandou tocar este funk para o presidente dançar? Quem sabe o presidente a faça no Supremo, em lugar do culto que prometeu por seu intermédio?

Isso incomoda o senhor, general Villas Boas, atrapalha os seus tuítes? Braga Netto o chamará para fazer ante a tropa formada, apenas pedindo que, patrioticamente, leve a mão ao peito e não ao sovaco para falar dos pelos femininos?

E a ministra Damares, vai dar uma de “poderosa”, e rebolar ao som do “Bonde do Tigrãos”?

É da Marinha o barco do bailão marítimo?

Nada demais em que o presidente festeje – embora o mar não esteja para peixe no mundo real dos brasileiros.

Mas, mesmo como homem comum, essa atitude de quem perde todos limites como nas libações de um porre, e mandado publicar por um coronel de estimação, tão atento à hirarquia que se auto enomina “Tenente” apenas para prestar vassalagem ao “capitão” (que, na ativa, foi a tenente, apenas).

Não, Bolsonaro não tem vergonha e faz e fará de tudo para manter consigo os grosseiros, todos os estúpidos, todos os desqualificados como ele. Com o perdão pela expressão, todos os escrotos.

Quanto a vocês, corromperam-se tanto com suas ambições que nem mesmo lhes vem à cabeça a frase que o povo atribui ao Cristo, o “dize-me com quem andas e te direi que é”.

Vocês o criaram e vão para a lama com ele.

Tijolaço.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

O EXTERMINADOR DO PASSADO: ‘RIPA TODO MUNDO’, DIZ BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

O Brasil é governado por um energúmeno, criminoso e que ainda se orgulha de sua estupidez.

E não haveria lugar melhor para a exibição desta imodesta estupidez de Jair Bolsonaro do que a Fiep, a Casa do Pato Amarelo, de hoje ele narrou, como demonstração do “macho” que é que “ripou todo mundo” do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, o Iphan, porque durante as escavações para a construção de um daqueles horrores que são as lojas da Havan, achou-se o que ele chama de “azulejo” de valor arqueológico”.

Provavelmente o “véio”papagaio telefonou e só demorou o tempo de explicarem ao presidente o que era patrimônio histórico – uma bobagem, naturalmente, e ele resolveu o “pobrema”. Nas suas palavras, “ripou” os funcionários que cumpriam seu dever: “Ripei todo mundo lá no Iphan”, bradou sob aplausos dos empresários que foram ao beija-mão presidencial.

É assim que se administra: vai lá e “ripa”.

Isto sim é um homem de atitude, não fica com estes “mimimis”, estas coisas sem lugar no mundo moderno: objetos históricos, ripa!; índio, ripa!; amazônia, ripa!

É por isso que todas as pessoas de bem, que amam seu país e a memória daqueles que o fizeram vamos dizer, daqui a 11 meses: Bolsonaro, rapa!

Tijolaço.

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

OS FATOS NOVOS DA PESQUISA IPEC, POR FERNANDO BRITO

Embora seja uma realidade, a queda nos índices de apoio a Jair Bolsonaro -apenas 21 ou 22% das intenções de voto, conforme o cenário – não é a novidade maior da pesquisa Ipec, o ex-Ibope.

O atual presidente já andava neste patamar – mostrei aqui que perde apenas 1% ou 2% em relação à pesquisa de setembro, dentro da margem de erro, portanto – e dele não sairá sem uma reversão, ainda que parcial, do cenário de recessão e inflação em que o Brasil está.

Por mais que percebamos o bolsonarismo quase como uma seita de fanáticos, Bolsonaro, para a grande maioria da população é “o governo”.

Os fatos que as pesquisa revela e que têm grande influência no cenário eleitoral são dois outros, para os quais a grande mídia não chama e não chamará a atenção.

O primeiro é “a volta dos que não foram” da candidatura Moro, apontada por muitos comentaristas como uma nova situação na disputa e que tenderia a capturar todos os “nem Lula, nem Bolsonaro” que, continuamente, superestimam.

Não são e nunca foram tantos e muito menos são um segmento uniforme e amorfo que escolheria “qualquer um” que não eles. E Moro não mostrou, também, “punch” para corresponder na opinião pública à imagem de grande novidade que a mídia deu à sua entrada na disputa e, assim, arrastar para sia a tal “3ª Via” que, aliás, respira por aparelhos.

O segundo fato é a rejeição atribuída a Lula – o contingente que declara não votar no ex-presidente “de jeito nenhum”.

Ela cai, segundo o Ipec, a 28%, quase igual à soma das intenções de voto de Bolsonaro somadas às de Moro, não mais que isso.

Portanto, em condições de absorver o voto de candidatos que se “desmilinguirem” ao longo da campanha, à medida em que esta vai tornando mais clara a sua natureza plebiscitária: Bolsonaro ou não-Bolsonaro, o que é igual a Lula.

Tijolaço.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

MERVAL E OS ‘BONZINHOS’ QUE FINANCIARIAM CAMPANHA DE MORO, POR FERNANDO BRITO

É instigante o tema da coluna de hoje de Merval Pereira sobre o “Moro com estrutura e dinheiro” que ele vê no cenário eleitoral de 2022.

Na visão dele – temo que Poliana ande pelas estantes da Academia Brasileira de Letras – parece que o União Brasil fusão do PSL e do DEM, presidida pelo “desapegado” Luciano Bivar vai entregar ào ex-juiz a “bolada” dos fundos partidário e eleitoral – coisa de R$ 458 milhões, R$ 320 milhões no fundo eleitoral e mais R$ 138 milhões de fundo partidário – para o ex-juiz fazer sua “cívica” campanha, além do tempo latifundiário de televisão.

Se – e somente “se”, mesmo – o tal União Brasil fechar negócio com Moro, é certo que o tempo de TV virá.

Mas será longe de poder ser chamado de “horário de propaganda eleitoral gratuita”. Desde que o mundo é mundo, na política, entrega-se tempo de televisão a um candidato sempre com contrapartidas, não por mera generosidade.

E, fala sério, Merval, você acha que Bivar e ACM Neto vão entregar os fundos milionários de que seu novo partido dispõe para financiar a eleição de moristas neófitos na política e não para sua rede de apoiadores, candidatos a governos e cadeiras na nas Assembleias, Câmara e Senado?

Nem morta, santa…

Mas Merval escreve baseado no seu próprio desejo, e diz, por isso, que “a boa colocação de Moro nas pesquisas eleitorais servirá de lastro para impedir saídas e agregar possíveis novos deputados à bancada”.

Ora, todo mundo sabe que a trupe bolsonarista, que é, formalmente, do PSL incorporado ao “União – Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF), Onyx Lorenzoni (RS) e Teresa Cristina (MS), só para ficar nos casos notórios – vai para o partido de Bolsonaro se o novo partido apoiar Moro e para isso só esperam a janela de trocas partidárias que os imunize contra a possibilidade de perda de legenda por infidelidade partidária.

Moro não tem e não terá estrutura partidária e nem a extra-partidária com que conta Jair Bolsonaro: não tem as polícias, não tem os militares e não tem as igrejas evangélicas.

Tem apenas aquela cota de apoios incondicionais na mídia, enquanto puder aparecer como um candidato viável.

Mas, podem crer, se depender das “doações” de Luciano Bivar e de ACM Neto para ter “estrutura e dinheiro” que o viabilizem e arrastem votos, pode ir tirando o marreco da chuva.

Tijolaço.

sábado, 11 de dezembro de 2021

A ‘MEIA-DESCULPA’ DO ‘MORISMO’ DA FOLHA, POR FERNANDO BRITO

O leitor fica até animado com o início da coluna do ombudsman da Folha, quando ele abre o texto dizendo que “a mídia nacional aderiu à pré-candidatura de Sergio Moro à Presidência”.

Logo em seguida, porém , diz que isso é “a última certeza das redes sociais e de parte do público que persevera na leitura desta Folha” e que “nada disso se sustenta”.

À parte a ingratidão com os leitores teimosos como eu, o ombudsman se contradiz todo o tempo, quando admite que, ao menos hoje, Moro é competidor que está “lá atrás”, muito mais do que uma imprensa que o trata com mais espaços que aos candidatos que reúnem, sempre, perto de 70% do eleitorado e com grande vantagem de Lula nesta soma.

E sai, então, a conveniente explicação de que isso seria uma ato generoso de uma imprensa que desejaria ardentemente tirar Bolsonaro do horizonte:

Mas, afinal, a mídia está com Moro? Parte dela sempre esteve, isso é fato, mas o que há, não apenas na imprensa, é uma inegável empolgação com qualquer um que possa tirar Bolsonaro da corrida, ainda que Lula sobre no final.

Quer dizer que é parte da esconjuração do feitiço que produziu Bolsonaro incensar o feiticeiro Moro, um dos que mais conjurou os ódios que moldaram a eleição deste sujeito desclassificado?

Tirar um autoritário tosco para colocar um autoritário quase tão tosco?

Com que base se afirma que “uma inegável empolgação com qualquer um que possa tirar Bolsonaro da corrida” quando se vê, nas pesquisas mais recentemente divulgadas que Moro tem uma rejeição eleitoral acima dos 60%, quase tanta quanto tem o atual mandatário?

Que não se descarte o potencial eleitoral de Moro, vá lá, porque não se pode adivinhar, mas dizer, sem qualquer fundamento, que ele goza de simpatia eleitoral, mesmo que tendo, em pesquisas sobre 2° turno, resultado pior que o de Bolsonaro em um hipotético confronto com Lula?

O fato concreto é que Moro, nas pesquisas que lhe são mais generosas e num momento de superexposição – a confirmação de que será candidato e o lançamento festivo de sua candidatura, não chegou à metade de Bolsonaro e a um quarto de Lula.

O resto é confete.

Ou, pior, mistificação. Moro não é o exorcismo de Bolsonaro, é a sua mutação. Como observa Olga Curado, no UOL, “Moro quer ser Bolsonaro, é a mesma via. Não uma outra”.

E ela acerta em cheio: é democracia ou fascismo o que está em jogo no processo eleitoral.

Tijolaço.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

HACKER DA VACINA É TOSCO E MINISTÉRIO, TAMBÉM, POR FERNANDO BRITO

Inacreditável o ataque ao banco de dados da vacinação contra a Covid e imperdoável que o Ministério da Saúde não tenha tomado medidas de segurança quanto à preservação das informações de cadastro e vacinação de mais de 150 milhões de cidadãos brasileiros.

A história está para lá de mal contada, uma vez que, se havia alguém contra a utilização destes cadastros – não se sabe por quantos dias inviabilizada – era o próprio governo, com sua oposição declarada ao passaporte de vacinação.

Mas a forma que ocorreu é absolutamente tosca, com um “bilhete” cheio de erros de português e uma referência a um email @ctemplar, um provedor que se orgulha de aplicar criptografia de ponta a ponta nas mensagens eletrônicas, de tal forma que nem eles podem saber o conteúdo.

Ctemplar é, segundo eles, uma contração das palavras Cryto e Templário, os cavaleiros medievais, aliás, tão ao gosto de grupos de extrema direita.

Óbvio demais, claro, para ser alguma pista. Talvez por isso mesmo, uma pista.

É preciso de respostas rápidas ao caso, até porque todos falam em um violação primária, que, diz a Polícia Federal, nem teria destruído a base de dados e teria deixado o registro da conta usada para o acesso indevido ao sistema.

Impressiona, porém, a facilidade com que se consegue penetrar em sistemas que deveriam ser seguros, com métodos que nada tem a ver com as histórias de “hackers capazes de invadir o Pentágono”.

Dezenas de países no mundo têm arquivos assemelhados com registro de vacinação e não se tem notícia de que algo semelhante tenha acontecido.

Ainda mais num governo com obsessão em segurança e num ministério que montou este cadastro quando era dirigido por um general e com dúzias de coronéis a bordo.

Tijolaço.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

BOLSONARO CHUTA O PAU DA BARRACA DE LIRA E PACHECO, POR FERNANDO BRITO

Os relatores do Orçamento – escolhas pessoais de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco – ficaram em maus lençóis com o decreto publicado hoje por Jair Bolsonaro com a determinação de que o Governo divulgue, em 90 dias, todas as solicitações que fizeram para a liberação de emendas do chamado “orçamento secreto” (as emendas de relator, classificadas sob o código RP-9).

E, formalmente, as solicitações são deles, embora todos saibam que são de deputados e senadores a quem Pacheco e Lira mandaram atender, sabe-se lá em troca de que posicionamento tomariam em votações politicamente importantes no Congresso.

O ex-Secretário de Governo da Presidência, general Luiz Carlos Ramos, diz que “”é de competência legal do relator do Orçamento, e não da Secretaria de Governo”. Tira o Governo da reta e empurra tudo para a Câmara e para o Senado.

Os relatores, é claro, não podem dizer que receberam os pedidos de verbas rabiscados em um papel de pão.

Não importa que o decreto presidencial não determine a autoria inicial do pedido, porque a revelação do destino que as verbas tomaram vai deixar isso claríssimo no meio político e isso será o suficiente para o “ele ganhou tanto e eu só ganhei a metade”.

Numa base governista já trincada pelas disputas eleitorais para reeleger-se daqui a 11 meses, um desastre total.

Bolsonaro sabe que não é daí que lhe virá o apoio eleitoral para outubro de 22 e que a “classe política” dá mais voto apanhando do que apoiando.

Tijolaço.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

A ‘MEIA PEC’ ARRUINA RODRIGO PACHECO. POR FERNANDO BRITO

Vá lá que ninguém levava muito a sério a pré-candidatura de Rodrigo Pacheco à Presidência da República e sua pretensão de apresentar-se como um “novo JK”, sem ter as obras que o criador de Brasília tinha em seu currículo e nem sequer s habilidades de “é de valsa” que este tinha na política e nos salões dançantes.

Todo mundo sabia que ele era apenas um “candidato-tampão” para permitir que Gilberto Kassab cacifasse uma provável aliança de segundo turno com Lula (ou com outro candidato, a ver como viria o vento) na fase decisiva das eleições.

Só que Pacheco, de insosso passou a amargo, quando teve de tomar posição sobre a imoralidade que ocorre no Senado com as emendas secretas do relator do Orçamento – que dão a ele, presidente da Casa, imensos poderes porque, afinal, o relator é escolha sua).

E agora, azedou de vez, porque a confusa promulgação da metade da PEC dos Precatórios descumpriu o acordo feito no Senado para aprovar a proposta, sem prejudicar o Auxílio Brasil mas limitando o emprego de verbas extras em outras ações de governo e em novas liberações de verbas a governistas.

O pré-candidato, que era, como já se disse aqui, “sem sal e sem molho” passou a ser visto como um dos ingredientes do caldo governista que se tornou o Congresso. Aliás, mais expressamente, como caudatário de Arthur Lira, o presidente-da-Camara-e-paupara-toda-obra do governismo.

A briga pública com a senadora Simone Tebet foi tudo o que a imagem do presidente da Câmara não precisava.

É difícil que, sem voto e, agora, queimado perante a opinião pública, Pacheco siga por muito tempo em sua pantomima de candidato a presidência.

O PSD, que parecia aquele personagem do Chico Anísio que dizia que “eu estava quietinho lá em Barbacena”, não está nem um pouco interessado em assumir um protagonismo negativo.

Até para Geraldo Alckmin, a quem não saberia mal uma filiação sem opção definida na eleição presidencial, Pacheco está se tornando não um pequi roído, mas um espinho de pequi e quem já comeu da comida goiana, sabe como dói.

Tijolaço.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

BOLSONARO É O ‘MISTER SINHÔ’ DA TIME, POR FERNANDO BRITO

Não é preciso ser Sherlock Holmes para saber como Jair Bolsonaro foi o nome mais votado na enquete promovida pela revista norte-americana Time: certamente suas falanges cibernéticas trabalharam duro para entupir de votos o site de votação.

Faz lembrar aqueles antigos concursos de “Sinhazinha e Sinhozinho” das festas juninas, que eram ganhos pela criança que mais arrecadasse vendendo “votos”, naturalmente pelas mãos de mães, madrinhas e tias pressurosas em fazer do queridinho ou da queridinha uma “personalidade do arraial”.

Evidente que não será a escolha dos editores, ainda mais se derem a eles as planilhas de votação indicando o “esquema” promocional em seu favor, mas fica a ideia de, quem sabe, fazer um concurso de bocó do século ou de “Meu Malvado Favorito” para ser ganho por quem se tornou uma abominação global.

Este troço é uma ideia fixa da turma e já fizeram circular, até, uma falsa capa da Time com o “Mito” como Person of the Year”.

Vai ser ególatra e provinciano assim lá longe, Bolsonaro.

Devia ter mandado o pessoal ter dado uns votinhos para o Donald Trump, também, porque fica feio com o “chefe” você aparecer com quase o triplo dos votos, justo lá na casa dele.

E, depois, ainda quer tirar onda com a armação no Twitter: “agradeço aos 2.160.000 eleitores que votaram em mim. Esperamos que revista Time nos conceda, de fato, o título respeitando o resultado das eleições”, escreveu.

Não, Bolsonaro, os editores da Time vão exigir voto impresso.

Tijolaço.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

‘VOLKSGERICHTSHOF’: O ‘TRIBUNAL DE EXCEÇÃO’ QUE MORO QUER CRIAR. POR FERNANDO BRITO

O Direito que Sergio Moro defende é uma deformidade.

Ontem, em entrevista ao Correio Braziliense, o ex-juiz voltou a sugerir, com mais detalhes, a ideia de uma “corte nacional anticorrupção”, um tribunal paralelo ao Judiciário que, como o nome indica, julgaria um só e específico crime, o de desvio de dinheiros públicos.

Para este tribunal, quer atrair “os melhores servidores e os melhores magistrados do Judiciário, por meio de um processo seletivo que leve em conta, com procedimentos de devida diligência, não só a integridade dessas pessoas, mas também o comprometimento com o combate à corrupção”.

Um processo seletivo que, como em todos os tribunais superiores depende, afinal, da nomeação presidencial. Dele, portanto.

Nem se vai discutir como será ranqueada a “integridade dessas pessoas” ou se o “comprometimento com o combate à corrupção” será uma espécie de Guiness de condenações, pouco importa se devidas ou indevidas, como foram as dele.

O fundamento desta ideia é odioso – porque pré-define o tipo penal, antes mesmo do exame do caso, sem considerar os critérios de fixação de competência. Exatamente aquilo que, semana passada, levou à anulação, no STJ dos casos de crime eleitoral que, pela vontade do próprio Moro, interessava julgar e condenar no âmbito da Lava Jato.

O “Tribunal da Lava jato”, aliás, era useiro e vezeiro em usurpar a competência da distribuição dos processos e chamava a si, sem protesto possível, todos os casos que pudessem dar a roupagem de um Super-Homem ao juiz que virou ministro do governo que elegeu.

A ideia de uma “corte nacional anticorrupção” é, além de tudo, francamente inconstitucional.

Diz aquele livrinho com que manifestamos “ódio e nojo às ditaduras que “não haverá juízo ou tribunal de exceção” e que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

Autoridade competente, nesta aberração que se criou em Curitiba, com uma “vara especializada em lavagem de dinheiro e corrupção” resultou num juiz com superpoderes, ao qual se incumbiu de julgar todos os crimes, quase ao gosto do freguês, ao ponto de dizermos, na imprensa, que alguém “caiu na Lava jato”, como se ela fosse um ramo do Direito, como são o cível, o criminal, o de Família…

Ou alguém pode deixar de reconhecer que se usou o critério de escolher o foro de acordo com o réu não foi utilizado na raiz do julgamento de Lula no caso que ficou conhecido como o do “triplex”? Ali, a investigação vinha da transferência para a construtora OAS de um condomínio vendido pela Bancoop: todos o caso ficou em São Paulo e terminou com absolvição geral dos acusados, em duas instâncias, exceto para Lula, que foi pinçado do processo e atirado nas mãos de Moro.

É um contrassenso que a criação de varas especializadas possa ser, na pratica, um desaforamento para ela de todo caso em que se possa supor ter havido um crime “especial” que vai ser julgado, seja qual for ou onde for, por um único juiz.

Não poderíamos, então, ter um foro especial para tráfico de drogas, ou para homicídio, ou para estelionato ou um para cada artigo ou grupo de artigos do Código Penal, o que significaria a transformação do juiz em um carimbador de sentenças e penas e não alguém equidistante das partes, capaz de pesar evidências e formular um julgado imparcial.

Quem vai para uma “corte nacional anticorrupção” é, claro, com certeza corrupto, faltando apenas formalizar sua culpa e seu castigo.

A se a isso se chamar eficiência, poder-se-ia aaplaudir o exemplo do Volksgerichtshof, o “Tribunal do Povo”, criado na Alemanha nazista para julgar casos de “traição à Pátria”, crimes contra o Estado alemão e supostos atos de corrupção.

Eficientíssimo, em apenas 12 anos de funcionamento condenou à morte cerca de 5 mil pessoas.

Tijolaço.