Jornal
GGN - Em
ação por danos morais contra o Blog, o deputado federal e atual
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), contesta um artigo de Luis Nassif
que cita seu envolvimento com o chamado esquema PC Farias. Diz a defesa de
Cunha que o texto, de maio de 2013 (leia aqui),
"imputou-lhe falsamente fato ofensivo à sua reputação, uma vez que é
público e notório que o 'esquema PC Farias' dedicava-se à corrupção e à
sonegação fiscal, sendo o próprio PC lembrado como um malfeitor e inimigo
público." Ele quer indenização por constar ao lado do homem que levou
Collor ao impeachment.
O
envolvimento a nível nacional de Eduardo Cunha nos escândalos que orbitaram em
torno de PC Farias, no início da década de 1990, é registrado em reportagens do
jornal O Globo. Em uma delas, de 14 de junho de 1992, o periódico publicou com
exclusividade o nomes de "10 captadores de dinheiro" que formavam a
rede montada por PC para alimentar a campanha presidencial de Collor em 1989.
"Segundo
relatos, a rede de PC era formada pelos ex-secretários de Assuntos Estratégico
Pedro Paulo Leoni Ramos (Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso), Paulo Octávio
Pereira e Luís Estevão de Oliveira (Brasília), o ex-ministro de Educação Carlos
Chiarelli (Rio Grande do Sul), o ex-deputado José Carlos Martinez (Paraná), o
ex-governador João Castelo (Norte do País), o ex-presidente da TVE Leleco
Barbosa, o publicitário Juca Colagrossi e o atual presidente da Telerj, Eduardo
Cunha, do Rio", afirmou o jornal [imagem acima].
O
esquema consistia em escalar um operador em cada região do país, com exceção de
São Paulo, região coordenada única e exclusivamente pelo irmão de Collor,
Leopoldo. No Rio de Janeiro, Cunha era um dos captadores da rede de PC. Segundo
O Globo, à época, informantes relataram que uma parte dos recursos angariados pela
rede de PC não foi usada na campanha de Collor.
"Os
três informantes do Globo concordam com a avaliação feita por Pedro Collor de
Mello, irmão do presidente [que entregou à Veja um dossiê contra PC Farias,
quando este ameaçou entrar no mercado editorial de Alagoas e concorrer com a
família Collor], de que teriam sido gastos apenas 60% ou 70% do dinheiro
captado na campanha. Por essas contas, o saldo ao final do segundo turno teria
sido de mais de US$ 30 milhões", apurou o jornal. Os captadores da rede de
PC aceitavam doações de empresários "preferencialmente em dólares ou em
Certificados de Depósitos Bancário (CDB)".
No
dia seguinte, 15 de junho de 1992, o jornal dedicou uma página inteira para
repercutir a notícia com governadores que passaram a exigir de Collor uma
explicação sobre seu envolvimento com PC, acusado de tráfico de influência,
enriquecimento ilícito, desvio de recursos de campanha, entre outros crimes.
A
manchete principal era "Governadores exigem ação no caso PC" [anexo].
Na mesma página, Cunha, então presidente da Telerj (companhia de telefonia do
Estado), ganhou espaço para se defender. Além de negar todas as informações
sobre ter participado da rede de captadores de PC Farias, Cunha disse ameaçou
processar o repórter que assinou a matéria sem consultá-lo antes.
No
início dos anos 1990, os problemas envolvendo PC Farias não eram os únicos com os
quais Cunha tinha de lidar. Ele também sofreu desgaste com uma série de
reportagens da Folha de S. Paulo sobre sua atuação na Telerj. No período, ele
foi acusado de lançar editais para a contratação de empresa que seria
responsável pela elaboração e comercialização das listas telefônicas do Rio. À
época, o jornalista Janio de Freitas escreveu que Cunha, com as licitações
enviesadas, estava a favorecer empresas como a Listel, do Grupo Abril. Outra
favorecida em decisões de Cunha seria a NEC, do Grupo Globo.
Janio
também é autor de um artigo chamado "Os representantes" [anexo]. No
texto, ele aborda os homens indicados por PC Farias para cargos importantes em
diversos governos. O caso destacado como o mais "espantoso" é o de
Eduardo Cunha, que com dificuldade foi removido da Telerj. Janio cravou que
Cunha foi "escolhido a dedo" por PC para o cargo.
A
VOLTA COM JORGE LA SALVIA
Eduardo Cunha hoje
Quem
defendia PC Farias no escândalo que pipocou no início do governo Collor e
rendeu o impeachment do ex-presidente era advogado argentino Jorge La Salvia,
que também comandava a Secretaria Geral do PRN na campanha de Collor, em 1989.
La
Salvia e Cunha retornaram com força às páginas de Folha de S. Paulo quando o
hoje presidente da Câmara estava na chefia da Cehab (Companhia de Habitação do
Rio de Janeiro), por indicação do deputado evangélico Francisco Silva (PRN). O
jornal fez uma série de denúncias sobre a relação suspeita de Cunha e La
Salvia, e isso custou a cabeça do hoje peemedebista, em 13 de abril de 2000 -
sua mulher, então jornalista da Globo, viveu o constrangimento de noticiar a
demissão da Cehab.
Em
fevereiro de 2000, a Folha publicou a reportagem "Governo do Rio abriga
ex-colloridos" [anexo], na qual sustenta que "Dois personagens do
período Collor voltam a se encontrar, desta vez na Companhia Estadual de
Habitação (Cehab) do governo Garotinho: Eduardo Cunha, tesoureiro no Rio de
Janeiro da campanha presidencial de 89 e ex-presidente da Telerj (91 a 93), e
Jorge La Salvia, ex-procurador de Paulo César Farias e que o teria ajudado
quando fugiu do Brasil para a Tailândia. Eduardo Cunha assumiu a presidência da
Cehab em setembro. Desde então, Jorge La Salvia frequenta o prédio da
companhia, no centro do Rio."
Continua
o jornal: "Ele [Cunha] dirigiu a Telerj de fevereiro de 91 a abril de 93,
quando foi substituído, já no governo Itamar, por José de Castro. Era
considerado, então, do esquema PC, mas sempre negou que tivesse participado do
esquema. Cunha chegou a ser réu em um dos maiores processos do caso PC,
acusado, assim como Jorge La Salvia e outras 39 pessoas, de envolvimento com
Jorge Luiz Conceição, que operava contas fantasmas do chamado esquema PC.”
RELAÇÃO
CUNHA-LA SALVIA É INVESTIGADA
Em
março do mesmo ano, na matéria "Governo do Rio abre sindicância"
[anexo], publicou a Folha: “O governador do Rio, Anthony Garotinho, abriu ontem
sindicância para esclarecer a presença de Jorge La Salvia na Cehab. La Salvia é
acusado de ter participado do chamado esquema PC durante o governo Collor e
responde a vários processos por sonegação fiscal. A Folha informou domingo que
Jorge La Salvia frequentava a Cehab. O presidente da empresa, Eduardo Cunha,
explicou, então, que La Salvia representava os interesses de uma empresa de
administração de crédito imobiliário, a Caci, em uma licitação. Disse ainda que
nunca tinha se encontrado com La Salvia na Cehab e que nunca o recebera em seu
gabinete. Essa informação foi desmentida por um diretor da própria Caci, Sérgio
Mauro Gomes, que informou que foi apresentado a La Salvia no gabinete de
Eduardo Cunha.”
Em
abril de 2000, no texto "Collorido ressurge em duas novas crises"
[anexo]: "O argentino Jorge La Salvia é o ponto comum de três grandes
crises recentes na política brasileira. Ele foi o procurador de Paulo César
Farias, o PC, durante todo o governo Collor. É o estopim das investigações na
Cehab/RJ, pela amizade com outro collorido, Eduardo Cunha. E aparece agora nas
investigações que apuram a autoria dos grampos no BNDES. A Folha apurou que
foram detectadas várias ligações telefônicas entre Temílson Antônio Barreto de
Resende, o Telmo, indiciado como um dos autores do grampo, e Jorge La
Salvia."
Francisco
Silva foi, na época, o deputado evangélico responsável por abrir as portas do
governo Garotinho para Eduardo Cunha. "Eles [Cunha e Francisco Silva] têm
um outro fator em comum: o advogado Carlos Kenigsberg. Foi Kenigsberg quem
representou, em janeiro, [Francisco] Silva no leilão em que o deputado
arrematou [por menos de 20% do valor de mercado] a casa onde Cunha mora, na
Gávea (zona sul).” O escândalo da casa também foi entendido como ocultação de
patrimônio.
Na
ação por danos morais, a defesa de Cunha reclama que o Blog "deixou de
informar que o inquérito [instaurado contra Cunha e La Salvia] desobordou em
ação penal trancada pelo Tribunal Regional Federal em sede de habeas corpus,
por aticipicidade do fato denunciado."
Do GGN
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