quinta-feira, 11 de outubro de 2018

XADREZ DO GRANDE PACTO NACIONAL CONTRA BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Peça 1 – tem jogo
A pesquisa DataFolha, com a contagem de 58 a 42 para Bolsonaro em relação a Fernando Haddad, mostra que tem jogo.
Motivo 1 – Em outras eleições, com menos volatilidade, houve viradas. A eleição atual é atípica, com mudanças radicais de posição, criação de ondas de tsunami. Por isso mesmo, não há estratificação de votos. Nem mesmo entre aqueles que, no primeiro turno, garantiam votos consolidados.
Motivo 2 – com Bolsonaro se posicionando sobre diversos temas, em cada posição que assume deixa de ser a encarnação irracional da unanimidade antissistema, e passa a ser uma pessoa de carne e osso, sendo desenhada por cada opinião.  Aliás, é curioso que nas duas únicas vezes em que mostrou bom senso – quando disse que a reforma da previdência deveria ser consensual e que o governo não poderia abrir mão do controle sobre a geração de energia – foi alvo de críticas de Carlos Alberto Sardenberg na CBN, filho dessa mistura de liberalismo econômico cego e autoritarismo político míope. Pelo menos a irracionalidade cega do mercado ajuda a dissipar sua adesão irracional a Bolsonaro.
Motivo 3 – a onda de ataques de seus seguidores a adversários por todo o país e a constatação clara de que será um governo de arbítrio, de selvageria, do qual não sairá incólume nenhuma forma de poder, da Justiça à mídia.
O exemplo mais flagrante é o inacreditável ex-juiz Wilson Witzel (PSC), candidato ao governo do Rio de Janeiro, ameaçando prender seu opositor, o ex-prefeito Eduardo Paes e se valendo de um amigo juiz para inabilitar outro candidato, Antony Garotinho. E ainda anunciando que acabará com a Secretaria de Segurança para evitar interferência civil no trabalho da polícia.
Os sinais de fascismo se tornaram tão evidentes que não comportam mais o jogo de cena de fingir que não se vê a guerra. Até o Ricardo Boechat vai se dar conta de que as violências que se espalham por todo país não podem ser comparadas a brigas de torcidas. Entre outros aspectos, pela relevante razão de que nenhuma torcida organizada esteve perto de assumir o poder de Estado.
Já se percebe um movimento nítido da mídia de lançar luzes sobre o bolsonarismo. Nos últimos dois dias, a mídia começa a dar o devido peso a essa onda de violência, sendo oficialmente apresentada a um fenômeno que só existia nas suas fantasias antipetistas: o fascismo em estado bruto.
O sistema Globo é particularmente influente nas grandes metrópoles do sudeste, onde há maior concentração de votos para Bolsonaro. E poderá jogar um pouco de luz nos grupos empresariais, tão primários quanto texanos de fins do século 19.
Resta a outra incógnita da equação: o desafio de reduzir o antipetismo.
O caminho passa pelo grande acordo nacional, que reedite o pacto da Nova República. E, aí, Fernando Haddad poderá ter papel fundamental.
Peça 2 – o fim do ciclo da Nova República
Há vários pontos em comum entre os meses que antecederam a Nova República e o quadro atual.
A Nova República foi um pacto de governabilidade que se seguiu ao fim da ditadura.
Nos últimos anos, o país experimentou um novo tipo de ditadura, o estado de exceção em vigor no país, com perseguição aos inimigos, censura ao livre pensamento, atentados à constituição pelo Supremo Tribunal Federal, abusos de juizes, procuradores e delegados, e a mídia encetando uma campanha de ódio em tudo similar aos anos 60. O resultado foram as explosões de violência, preconceito, intolerância, potencializados pelas redes sociais e de whatsapp.
Agora, se tem a bocarra escancarada da besta, a poucas semanas de engolfar o país. E, ainda que algo tardiamente, vai caindo a ficha de todos os protagonistas políticos, das instituições, mídia, partidos políticos, sobre os riscos de venezuelização do país.
São os gatilhos que dão início a um novo pacto de governabilidade.
Peça 3 – a concertação brasileira
Quando a Espanha estrebuchava no período pós-franquismo, sem conseguir se encontrar, surge a figura de Felipe Gonzales. Primeiro, unificou a esquerda. Depois, fez um movimento importante para o centro, colocando o aprofundamento da democracia como a meta maior. Esvaziou a direita, consolidou a socialdemocracia e acertou um pacto que garantiu a consolidação da democracia espanhola e se manteve por muitos anos.
No Brasil, nenhuma figura pública está mais apta a desempenhar esse papel do que Fernando Haddad. Mas, para tanto, terá que enfrentar um desafio freudiano: matar o pai.
Haddad nutre por Lula o reconhecimento genuíno de um intelectual capaz de entender sua grandeza política. Mas, no novo tempo que se avizinha, terá a missão de enterrar o lulismo. Aliás, o próprio Lula há tempos havia se dado conta da necessidade de superação dessa etapa, quando tentou emplacar Eduardo Campos, quando apostou em Dilma, a gestora, e mesmo agora, quando ensaiou aproximação com Ciro Gomes. Mas, principalmente, quando apostou em Haddad como seu sucessor, por várias razões.
Primeiro, por ter feito carreira no partido que mais se aproximou do desenho social-democrata, o PT. Depois, por sempre ter colocado a negociação, a racionalidade como ponto central de sua atividade como Ministro e como prefeito premiado de São Paulo, abrindo as portas para a contribuição de diversos setores – do MTST a ONGs privadas – sem relação direta com o partido. Finalmente, por uma idoneidade não apenas moral, como intelectual, de jamais ter tergiversado de suas posições políticas, nem cedendo ao populismo, nem aos acenos do mercado.
Ou seja, tem-se as condições políticas para o cargo, um roteiro razoavelmente definido. Resta saber se Haddad e o próprio PT estarão à altura do momento.
Peça 3 – as condições para o pacto
O primeiro ponto é isonomia com essa história da autocrítica.
O PT deve, sim, uma autocrítica por ter enveredado pelas regras do jogo político tradicional. E se a autocrítica é condição para o eleitor ter a garantia de que não repetirá os malfeitos, é de se esperar uma autocrítica da Globo, que não mais estimulará o estado de exceção, como fez de 2013 para cá, processo que resultou na ascensão do bolsonarismo. Haveria necessidade também de autocrítica do STF pela quantidade de vezes que se curvou à pressão da besta das ruas, atropelando a Constituição; da Procuradoria Geral da República, nem se pense em Rodrigo Janot, que não tem dimensão para esses gestos, mas de Raquel Dodge e da cúpula do Ministério Público? Do PSDB por ter abdicado da princípios democráticos e impulsionando o golpe
Para poupar todos esses personagens da profunda irresponsabilidade com que trataram o futuro do país, há uma maneira mais indolor e eficaz de purgar os erros e de mostrar o novo: um grande pacto nacional contra a besta que, desde já, acene para a opinião pública sobre a extensão do pacto, seus compromissos sociais, com o desenvolvimento e com o combate sistemático à violência que está grassando de cabo a rabo no país, no rastro do fenômeno Bolsonaro.
Peça 4 – os personagens
O desenho ideal futuro para o pacto seria um novo partido, da socialdemocracia brasileira, com predomínio do PT – como único partido que se manteve estruturado nesse tsunami, por sua base social e sindical. Mas abrindo as portas para os setores liberais do PSDB, que serão jogados ao mar caso João Dória Jr seja eleito governador. E todos os setores racionais do empresariado, das organizações sociais, do pequeno e micros empresários, da indústria, assim como os legalistas do Poder Judiciário. E, obviamente, da mídia, com ambos os lados tapando suas narinas.
O segundo turno poderá ser a semente dessa movimentação que coloque, em um partido, o Brasil civilizado, institucional, democrático, contra a barbárie.
A Nova República exigiu um novo modelo partidário, desde que o bipartidarismo do regime militar se espatifou. Agora se tem um quadro no qual os dois partidos que garantiram a governabilidade nas últimas décadas, não podem mais caminhar sozinhos: o PSDB morto por inanição; o PT pela constatação de que, sozinho, provavelmente não conseguirá nem a vitória nas eleições, nem a governabilidade.
Esse risco enorme deverá convencer sua executiva a abrir mão do controle absoluto do processo e repartir poderes – dentro da estratégia que vem sendo costurada por Jacques Wagner.
Tem-se, então, o barco com náufrago em um mar coalhado de tubarões. Terão que se acertar.
É nesse clima que poderá emergir a figura de Fernando Haddad. Se bem-sucedido, poderá ser o Felipe Gonzales brasileiro. Malsucedido, afundará junto com a democracia brasileira, a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, a Constituição e qualquer réstia de civilização.
GGN

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A BARBÁRIE CHEGOU, POR MARCELO AULER

A 19 dias do segundo turno, portanto, sem qualquer definição do que acontecerá e de quem presidirá o país nos próximos quatro anos, os adeptos da candidatura do capitão já se sentem donos do país. Respaldados apenas no bom resultado do primeiro turno, demonstram a quem ainda não conseguiu enxergar como pretendem comandá-lo. Não é nada agradável. Ao que parece, sentiram-se livre para demonstrar do que são capazes: impor medo e terror.
O quadro ao lado, recebido pelas redes e ampliado, demonstra apenas alguns acontecimentos ocorridos nos últimos dias nos mais diversos cantos do país. São fatos reais, em cidades diversas, sempre com a mesma marca: foram protagonizados por adeptos da candidatura de Jair Bolsonaro e mostram a violência. O desprezo pela vida. O desrespeito ao diferente ou a quem não pensa igual.
Não é demais lembrar que no dia 6 de setembro, o gesto tresloucado de Adélio Bispo de Oliveira, um mineiro com suspeitas de problemas psíquicos, atingiu o presidenciável Jair Bolsonaro em plena campanha, em Juiz de Fora (MG). Mesmo conscientes de estarem em uma disputa eleitoral acirrada, os demais candidatos se solidarizaram ao deputado federal do PSL, condenaram o gesto e até reduziram, na época, os ataques políticos. Manifestaram repúdio à violência com a qual não tinham qualquer envolvimento.
Nos últimos dias, porém, cenas de violência se repetem com uma frequência grande. Em comum o fato de serem protagonizadas por eleitores ou militantes da campanha do capitão do Exército. Muitas delas gravadas em vídeos. A maioria com registros na polícia. Demonstram que os militantes da candidatura militar – que acabam se confundindo com verdadeiros milicianos – diante dos resultados do primeiro turno, sentiram-se autorizados para, à luz do dia, e mesmo na presença de testemunhas, mostrar a violência que defendem e são capazes de realizar.
O mais impressionante é o silêncio obsequioso – autorizador? – de Bolsonaro. Ele próprio ainda se recuperando de um tresloucado ato de violência. Violência que, há muito, defende e propaga.
Se ele não pode responder pelos gestos de seus seguidores, apesar de muitos deles terem sido incentivados pelo discurso de ódio que sempre pregou, pode sim ser cobrado pelo silêncio diante de tamanha violência.
Silêncio que não se resume ao candidato à presidência. É compartilhado também pelo candidato ao governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzen. Este, mesmo se vangloriando de ser ex-tenente dos Fuzileiros Navais – “onde aprendemos a hierarquia e a disciplina” – e ex-juiz federal, assiste impassível – e aplaude –  discursos de ódio dos candidatos coligados, como se fosse algo natural.
Tal como ocorreu em Petrópolis, cidade serrana fluminense, dias antes do primeiro turno. Ali, em momento lembrou-se de defender a lei e, principalmente, a civilidade. Tal como deveria ter aprendido ao pertencer às Forças Armadas e à magistratura. Em compensação, no debate político com o adversário, tenta se mostrar forte ao prometer dar-lhe voz de prisão diante de possível crime de injúria.
GGN

terça-feira, 9 de outubro de 2018

CONHEÇA AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE BOLSONARO E HADDAD


Foto: Arquivo/Agência Brasil
Programas de governo dos presidenciáveis têm raízes distintas, especialmente para a economia e os direitos humanos. 
O Brasil viverá, no próximo dia 28, a segunda etapa da corrida eleitoral rumo ao Palácio do Planalto, com a realização do segundo turno. Pelos resultados das urnas nesse domingo (7), a escolha dos eleitores é entre o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o candidato Jair Bolsonaro (PSL), que atualmente tem mandato de deputado federal.
O petista tem como candidata a vice à deputada estadual pelo Rio Grande do Sul Manuela d’Ávila (PCdoB), enquanto o líder do PSL conta com o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB) na disputa. O primeiro tem como slogan de campanha “O Brasil feliz de novo”, e o segundo, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
As duas chapas se situam em espectros distintos do cenário político: Haddad é um dos expoentes da esquerda e, portanto, liderança do campo progressista; já Bolsonaro, conhecido pelas ideias reacionárias, representa um projeto político de extrema-direita. Como consequência, os programas de governo dos dois presidenciáveis guardam diferenças fundamentais. Veja a seguir algumas delas.
Economia e emprego
Haddad, que é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (DCP-USP), propõe medidas de valorização do Estado. Entre elas estão a revogação do Teto de Gastos, que limita por vinte anos os investimentos nas áreas sociais, e da reforma trabalhista, ambos de iniciativa do governo Michel Temer (MDB).
Além disso, o ex-prefeito defende o fim do atual processo de privatizações; o equilíbrio das contas da Previdência por meio da geração de empregos e do combate à sonegação; e uma reforma tributária que compreenda, entre outras medidas, isenção de Imposto de Renda (IR) para trabalhadores com renda de até cinco salários mínimos (cerca de R$ 4.770).
No que se refere ao mercado de trabalho, Haddad propõe a criação de novos postos por meio do programa Meu Emprego Novo; o retorno imediato de 2.800 grandes obras que estão paradas em todo o país; e a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida. O petista também defende o fortalecimento da Petrobras.
Já o programa econômico de Bolsonaro prevê a redução da máquina do Estado e faz acenos ao mercado com propostas como: reforma da Previdência; independência do Banco Central; privatização da maioria das estatais, concessões e venda imóveis da União.
Além disso, o candidato defende o fim do monopólio da Petrobras no que se refere ao gás natural e uma tabela de preços da estatal baseada no mercado internacional.
Para o mercado de trabalho, Bolsonaro propõe a criação de uma nova carteira de trabalho, que também terá o contrato individual prevalecendo sobre as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Para sindicatos e outros setores populares, a medida fragiliza ainda mais os direitos da classe trabalhadora.
Segurança
Bolsonaro propõe medidas como flexibilização da legislação sobre o porte de armas; redução da maioridade penal para 16 anos; e tipificação de “invasões de propriedades rurais e urbanas” como terrorismo.
Já Haddad defende mudanças na atual política de drogas, com observação das experiências internacionais de descriminalização e regulação do comércio de entorpecentes; aprimoramento da política de controle de armas; e integração dos serviços de inteligência.
Educação e direitos reprodutivos
Com discurso conservador, o candidato do PSL critica a educação sexual, com referência a uma suposta tentativa de “doutrinação e sexualização precoce” por parte de setores progressistas.
O programa não menciona, por exemplo, a temática do aborto, mas Bolsonaro é conhecido defensor do impedimento de alterações na atual legislação, que libera a prática apenas em casos de estupro e gravidez de anencéfalos. Ele também não faz referência aos direitos do público LGBT, mas por diversas vezes já se pronunciou publicamente com posicionamentos homofóbicos.
Haddad também não faz referência ao aborto, mas destaca a defesa do Estado laico e propõe a promoção da saúde integral da mulher para o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, além do fortalecimento de uma perspectiva “inclusiva, não sexista, não racista e sem discriminação e violência contra o LGBTI+ na educação e nas demais políticas públicas”.  
O petista defende a promoção da cidadania LGBT, a criminalização da LGBTfobia e a inserção desse  público no mercado de trabalho.
Outros
Haddad defende ainda medidas que favoreçam as soberanias nacional e popular; o retorno a uma “política externa altiva e ativa”, com base, por exemplo, na integração latino-americana; reformas do Estado e do sistema de Justiça; promoção da diversidade na mídia; promoção dos direitos dos idosos e das pessoas com deficiência; além da defesa dos direitos dos povos do campo, das florestas e das águas.  
Já o programa de governo de Bolsonaro se manifesta em defesa da aproximação diplomática do Brasil com países como Estados Unidos e Israel, critica países como a Venezuela e não menciona, por exemplo, o Mercosul. Ao contrário, defende “acordos bilaterais”.
O candidato do PSL também não menciona, por exemplo, em seu programa de governo, os direitos das pessoas com deficiência.
Além disso, fala em “imprensa livre e independente” sem mencionar, no entanto, a pluralidade midiática. Ao mesmo tempo, o candidato defende, em discursos e entrevistas, práticas da ditadura militar, conhecida, entre outras coisas, pelo cerceamento da liberdade de imprensa.
GGN

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

SUA TIA NÃO É FASCISTA, ELA ESTÁ SENDO MANIPULADA, POR RAFAEL AZZI

Você se pergunta como um candidato com tão poucas qualidades e com tantos defeitos pode conseguir o apoio quase que incondicional de grande parte da população? 
Você já tentou argumentar racionalmente com os eleitores deles, mas parece que eles estão absolutamente decididos e te tratam imediatamente como inimigo no mais leve aceno de contrariedade? 
Até sua tia, que sempre gostou de você, agora ataca seus posts sobre política no facebook? 
Pois bem, vou contar uma história. 
O principal nome dessa história é um sujeito chamado Steve Bannon. Bannon tinha uma visão de extrema direita nacionalista. Ele tinha um site no qual expressava seus pontos de vista que flertavam com o machismo, com a homofobia, com a xenofobia, etc. Porém, o site tinha pouca visibilidade e seu sonho era que suas ideias se espalhassem com mais força no mundo. 
Para isso, Bannon contratou uma empresa chamada Cambridge Analytica. Essa empresa conseguiu dados do facebook de milhões de contas de perfis por todo mundo. Todo tipo de dado acumulado pelo facebook: curtidas, comentários, mensagens privadas. De posse desses dados e utilizando algoritmos, essa empresa poderia traçar perfis psicológicos detalhados dos indivíduos. 
Tais perfis seriam então utilizados para verificar quais indivíduos estariam mais predispostos a receber as mensagens: aqueles com disposição de acreditar em teorias conspiratórias sobre o governo, por exemplo, ou que apresentavam algum sentimento de contrariedade difuso ao cenário político atual. 
A estratégia seria fazer com que esse indivíduo suscetível a essas mensagens mudasse seu comportamento, se radicalizasse. Como as pessoas passaram a receber as notícias e a perceber o mundo principalmente através das redes sociais, não é difícil manipular essas informações. Se você pode controlar as informações a que uma pessoa tem acesso, você pode controlar a maneira com que ela percebe o mundo e, com isso, pode influenciar a maneira como se comporta e age. 
Posts no facebook podem te fazer mais feliz ou triste, com raiva ou com medo. E os algoritmos sabem identificar as mudanças no seu comportamento pela análise dos padrões das suas postagens, curtidas, comentários. 
Assim, indivíduos com perfis de direita e seu tradicional discurso “não gosto de impostos” foram radicalizados para perfis paranóicos em relação ao governo e a determinados grupos sociais. A manipulação poderia ser feita, por exemplo, através do medo: “o governo quer tirar suas armas”. Esse tipo de mensagem estimula um sentimento de impotência e de não ser capaz de se defender. Estimula também um sentimento de “somos nós contra eles”, o que fecha a pessoa para argumentos racionais. 
Sites e blogs foram fabricados com notícias falsas para bombardear diretamente as pessoas influenciáveis a esse tipo de mensagem. Além disso, foi explorado também um sentimento anti-establishment, anti-mídia tradicional e anti “tudo isso que está aí”. Quando as pessoas recebiam várias notícias de forma direta, e não viam essas notícias repercutirem na grande mídia, chegavam à conclusão de que a grande mídia mente e esconde a verdade que eles tem. 
Se antes a mídia tradicional podia manipular a população, a manipulação teria que ser feita abertamente, aos olhos de todos. Agora, todos temos telas privadas que nos mandam mensagens diretamente. Ninguém sabe que tipo de informação a pessoa do lado está recebendo ou quais mensagens estão construindo sua percepção de realidade. 
Com esse poder nas mãos, Bannon conseguiu popularizar a alt right (movimento de extrema direita americana) entre os jovens, que resultou nos protestos “unite de right” no ano passado em Charlottesville, Virgínia que tiveram a participação de supremacistas brancos. Bannon trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump e foi estrategista de seu governo. A Cambridge Analytica trabalhou também no referendo do Brexit, que foi vencido principalmente por argumentos originados de fakenews. 
Quando a manipulação veio à tona, Mark Zuckerberg foi chamado ao senado americano para depor. Pra quem entendeu o que houve, ficou claro que a democracia da nação mais importante do mundo havia sido hackeada. Mas os congressistas pouco entendimento tinham de mídia social; e quem estaria disposto a admitir que a democracia pode ser hackeada através da manipulação dos indivíduos? 
Zuckerberg estava apenas pensando em estabelecer um modelo de negócios lucrativo com a venda de anúncios direcionados. A coleta de dados e a avaliação de perfil psicológico das pessoas tinham a intenção “inocente” de fazer as pessoas clicarem em anúncios pagos. Era apenas um modelo de negócios. Mas esse mesmo instrumento pode ser usado com finalidade política. 
Ele se deu conta disso e sabia que as eleições brasileiras podiam estar em risco também. Somos uma das maiores democracias do mundo. O facebook tomou medidas ativas para evitar que as campanhas de desinformação e manipulações ocorressem em sua rede social. Muitas contas fake e páginas que compartilhavam informações falsas foram retiradas do facebook no período que antecede as eleições. 
Mas não contavam com a capilarização e a popularização dos grupos de whatsapp. Whatsapp é um aplicativo de mensagens diretas entre indivíduos; por isso, não pode ser monitorado externamente. Não há como regular as fakenews, portanto. Fazer um perfil fake no whatsapp também é bem mais fácil que em outras redes sociais e mais difícil de ser detectado. 
Lembram do Steve Bannon, que sonhou com o retorno de uma extrema direita nacionalista forte mundialmente? Que tinha ideias que são classificadas como anti minorias, racistas e homofóbicas? E que usou um sentimento difuso anti “tudo que está aí”, e um medo de os homens se sentirem indefesos para conquistar adeptos? 
Pois bem, ele se encontrou em agosto com Eduardo Bolsonaro. Bolsonaro disse que o Bannon apoiaria a campanha do seu pai com suporte e “dicas de internet”, essas coisas. Bannon é agora um “consultor eventual” da campanha. Era o candidato ideal pra ele, por compartilhava suas ideias, no cenário ideal: um país passando por uma grave crise econômica com a população desiludida com a sua classe política. 
Logo depois de manifestações de mulheres nas ruas de todo o Brasil e do mundo contra Bolsonaro, o apoio do candidato subiu, entre o público feminino, de 18 para 24 por cento. Um aumento de 6 pontos depois de grande parte das mulheres se unir para demonstrar sua insatisfação com o candidato. 
Isso acontece porque, de um lado, a grande mídia simplesmente ignorou as manifestações e, por outro, houve um ataque preciso às manifestações através dos grupos de whatsapp pró-Bolsonaro. Vídeos foram editados com cenas de outras manifestações, com mulheres mostrando os seios ou quebrando imagens sacras, mas utilizadas dessa vez para desmoralizar o movimento #elenão entre as mais conservadoras. 
Além disso, Eduardo Bolsonaro veio a público logo após a manifestação e declarou: “As mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda. Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene.” Essa declaração pode parece pueril ou simplesmente estúpida mas é feita sob medida para estimular um sentimento de repulsa para com o “outro lado”.

Isso não é nenhuma novidade. A máquina de propaganda do nazismo alemão associava os judeus a ratos. O discurso era que os judeus estavam infestando as cidades alemãs como os ratos. Esse é um discurso que associa o sentimento de repulsa e nojo a uma determinada população, o que faz com que o indivíduo queira se identificar com o lado “limpo” da história. Daí os 6 por cento das mulheres que passaram a se identificar com o Bolsonaro. 
Agora é possível compreender porque é tão difícil usar argumentos racionais para dialogar com um eleitor do Bolsonaro? Agora você se dá conta do nível de manipulação emocional a que seus amigos e familiares estão expostos? Então a pergunta é: “o que fazer?” 
Não adiante confrontá-los e acusá-los de massa de manobra. Isso só vai fazer com que eles se fechem e classifiquem você como um inimigo “do outro lado”. Ser chamado de manipulado pode ser interpretado como ser chamado de burro, o que só vai gerar uma troca de insultos improdutiva. 
Tenha empatia. Essas pessoas não são tolas ou malvadas; elas estão tendo suas emoções manipuladas e estão submetidas a uma percepção da realidade bastante diferente da sua. 
Tente trazê-las aos poucos para a razão. Não ofereça seus argumentos racionais logo de cara, eles não vão funcionar com essas pessoas. A única maneira de mudar seu pensamento é fazer com que tais pessoas percebam sozinhas que não há argumentos que fundamentem suas crenças e as notícias veiculadas de maneira falsa. 
Isso só pode ser feito com uma grande dose de paciência e de escuta. Peça para que a pessoa defenda racionalmente suas decisões políticas. Esteja aberto para ouvi-la, mas continue sempre perguntando mais e mais, até ela perceber que chegou num ponto em que não tem argumentos para responder. 
Pergunte, por exemplo: “Por que você decidiu por esse candidato? Por que você acha que ele vai mudar as coisas? Você acha que ele está preparado? Você conhece as propostas dele? Conhece o histórico dele como político? Quais realizações ele fez antes que você aprova?” 
Em muitos casos, a pessoa tentará mudar o discurso para falar mal de um outro partido ou do movimento feminista. Tal estratégia é esperada porque eles foram programados para achar que isso representa “o outro lado”, os inimigos a combater. 
Nesse caso, o caminho continua o mesmo: tentar trazer a pessoa para sua própria razão: “Por que você acha que esse partido é tão ruim assim? Sua vida melhorou ou piorou quando esse partido estava no poder? Como você conhece o movimento feminista? Você já participou de alguma reunião feminista ou conhece alguém envolvido nessa luta?” 
Se perceber que a pessoa não está pronta para debater, simplesmente retire-se da discussão. Não agrida ou nem ofenda, comportamento que radicalizaria o pensamento de “somos nós contra eles”. Tenha em mente que os discursos que essa pessoa acredita foram incutidos nela de maneira que houvesse uma verdadeira identificação emocional, se tornando uma espécie de segunda identidade. Não é de uma hora pra outra que se muda algo assim. 
Duas das mais importantes democracias do mundo já foram hackeadas utilizando tais técnicas de manipulação. O alvo atual é o nosso país, com uma das mais importantes democracias do mundo. Não vamos deixar que essas forças nos joguem uns contra os outros, rasgando nosso tecido social de uma maneira irrecuperável. 
P.S.: Por favor, pesquise extensamente sobre todo e qualquer assunto que expus aqui, e sobre o qual você esteja em dúvida. Não sou de nenhum partido. Sou filósofo e, como filósofo, me interesso pela verdade, pela ética e pelo verdadeiro debate de ideias.Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada.
GGN

O ÓDIO NÃO ESPERA, CAPOEIRISTA É MORTO NA BAHIA POR ADEPTO DE BOLSONARO

Como já se advertia, não ia demorar. Transcrito a reportagem do jornal A Tarde, o maior de Salvador, publicada minutos atrás:
O mestre de capoeira e compositor Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, conhecido como Moa do Katendê, foi morto a facadas na madrugada desta segunda-feira, 8, após uma discussão política no Bar do João, na comunidade do Dique Pequeno, no Dique do Tororó, em Salvador. 
Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), o autor do crime, que não teve o nome revelado, não concordou com a posição política de Moa, contrária ao candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), e desferiu 12 facadas na vítima.
O suspeito foi preso e confessou o crime à polícia. Segundo a SSP-BA, ele teria se aproximado do grupo em que Moa estava e afirmado que era eleitor de Bolsonaro. O homem reagiu com violência após o mestre de capoeira afirmar que o grupo votava no PT. 
Não é uma “amostra grátis” porque custou a vida de um ser humano, mas um alerta para a loucura do ódio que se despertou e que até ao próprio Bolsonaro atingiu, em Juiz de Fora.
Oxalá possa servir, ao menos, para salvar a vida de muitos.

Tijolaço

domingo, 7 de outubro de 2018

É OFICIAL, O SEGUNDO TURNO SERÁ BATALHA DE CIVILIZAÇÃO CONTRA BARBÁRIE

É definitivo, haverá segundo turno; e será da civilização contra a barbárie; com 95,57% dos votos apurados, o segundo turno está definido; Jair Bolsonaro chegará ao segundo turno com aproximadamente 46% dos votos contra 28% de Haddad; será um segundo turno em condições duríssimas para as forças democráticas, pela força acumulada pelo candidato fascista e pela performance da ultradireita nas urnas.
O PT perdeu o governo de Minas, com o candidato do Partido Novo, Romeu Zema, de extrema-direita, indo ao segundo turno com mais 43% dos votos contra o candidato de direita, Antonio Anastasia, do PSDB. Nomes importantes ficaram fora do Senado, como Dilma Roussef, Eduardo Suplicy, Roberto Requião e Lindbergh Farias. Candidatos de extrema-direita lideram votações para a Câmara dos Deputados em diversos Estados, como Eduardo Bolsonaro, Joice Hasselmann, Celso Russomanno e Kim Kataguiri. O PSL torna-se, de partido inexistente, numa legenda com uma bancada expressiva no Congresso Nacional -pela primeira vez na história do país uma agremiação de corte fascista terá representação organizada na Câmara dos Deputados e Senado.
Ciro Gomes terminará a apuração ao redor de 12% dos votos e a direita (alcunhada de "centro" pela mídia conservadora) dizimada, com Alckmin abaixo de 5% dos votos, Marina e Meirelles com 1%. Outro candidato de extrema-direita, João Amôedo, do Partido Novo, saiu fortalecido do processo, com o candidato do partido como favorito ao governo de Minas. 
A partir desta segunda começam as articulações e as campanhas Bolsonaro e Haddad, com o candidato do PT aconselhando-se com o ex-presidente Lula sobre o cenário de política de alianças para o segundo turno. Ciro Gomes, Boulos e o PSB devem marchar com Haddad, com possibilidade de conversações com líderes regionais do MDB, Rede e PSDB.
247

sábado, 6 de outubro de 2018

PRIMEIRA PESQUISA VOX/247 HADDAD E BOLSONARO FARÃO SEGUNDO TURNO

Pesquisa Vox Populi/Brasil 247, a primeira financiada pelos eleitores, aponta, na véspera do primeiro turno das eleições: Bolsonaro tem 34% das intenções de voto e Haddad, 27%; em votos válidos, 40% a 31%; no segundo turno, por enquanto há projeção de empate, com ligeira vantagem numérica para Bolsonaro: 40% a 37%. Segundo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, a pesquisa é um evento "histórico" pela mobilização para seu financiamento e indica: "chance de não haver segundo turno e próxima a zero"  
Pesquisa Vox Populi/Brasil 247, a primeira financiada pelos eleitores, aponta, na véspera do primeiro turno das eleições: Bolsonaro tem 34% das intenções de voto e Haddad, 27%; em votos válidos, 40% a 31%; no segundo turno, por enquanto há projeção de empate, com ligeira vantagem numérica para Bolsonaro: 40% a 37%. Segundo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, a pesquisa é um evento "histórico" pela mobilização para seu financiamento e indica: "chance de não haver segundo turno e próxima a zero".
Votos estimulados totais
Bolsonaro 34%
Haddad 27%
Ciro 11%
Alckmin 5%
Marina 2%
Amoêdo 1%
Meirelles 1%
Cabo Daciolo 1%
Álvaro Dias 1%
Boulos 1%
Votos válidos
Bolsonaro 40%
Haddad 31%
Ciro 13%
Alckmin 6%
Marina 2%
Amoêdo 2%
Meirelles 2%
Cabo Daciolo 1%
Álvaro Dias 1%
Boulos 1%
Segundo turno:
Bolsonaro 40% x Haddad 37%
Bolsonaro 38% x Ciro 36%
Segundo turno votos válidos
Bolsonaro 52% x 48% Haddad
Bolsonaro 51% x 49% Ciro

A pesquisa é a única patrocinada pelos eleitores, em particular a comunidade reunida ao redor do 247. Todas as demais são patrocinadas por grandes grupos econômicos ou mídias comprometidas com o golpe de Estado e, nesta altura, marchando com Bolsonaro.
Os eleitores participaram da pesquisa contribuindo, além do patrocínio financeiro, com sugestões para o questionário que foi apresentado no dia de hoje. Nas próximas reportagens, serão apresentados os resultados dos temas do questionário.
A pesquisa Vox Populi/Brasil 247 foi registrada no TSE sob número 04071/2018. Foram realizadas 2 mil entrevistas neste sábado (6 de outubro) em xxx municípios. O nível de confiança da pesquisa é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem a realidade, considerando a margem de erro, que é de 2 pontos, para mais ou para menos. O Vox Populi cobrou preço de custo para a realização da pesquisa. Veja a pesquisa completa: AQUI.
247

25 ANOS ATRÁS, BOLSONARO DIZIA AO ‘NYT’ QUE QUERIA SER UM DITADOR, POR FERNANDO BRITO

O Uol presta um grande serviço à informação – infelizmente a poucos dias apenas da eleição – recuperando a entrevista dada por Jair Bolsonaro em 1993 ao The New York Times (cuja publicação original, em inglês, pode ser conferida aqui).
Nela, o ex-capitão já anuncia seus planos para a tomada do poder: a fujimorização do Brasil, com o fechamento do Congresso, demissão em massa de funcionários e várias medidas autoritárias sob o argumento – velhinho, não é? – de combater a corrupção.
Leia e tome consciência do perigo que este país enfrenta.
Aplicando à política a ousadia que certa vez demonstrou como paraquedista do Exército, o congressista Jair Bolsonaro mergulhou em um território inexplorado poucas semanas atrás, quando subiu à tribuna da Câmara dos Deputados e pediu o fechamento do Congresso.
“Sou a favor de uma ditadura”, gritou em um discurso que sacudiu um país que só deixou o regime militar para trás em 1985. “Nós nunca iremos resolver os problemas nacionais sérios com essa democracia irresponsável.”
Falando mais tarde em seu escritório, um cubículo decorado com memorabilia militar e uma grande bandeira brasileira, o esguio congressista do Rio de Janeiro disse estar preparado para a reação que se seguiu: o maior jornal do Rio, o Globo, publicou cartuns na primeira página satirizando-o como um dinossauro de botas, e o presidente da Câmara dos Deputados, Inocêncio de Oliveira, exigiu que a Câmara o cassasse de seu mandato.
Mas duas semanas depois, algo ainda mais interessante aconteceu: o presidente da Câmara fez uma reviravolta abrupta e se reconciliou publicamente com Bolsonaro. Estudante de opinião pública, o líder do Congresso aparentemente leu as colunas de cartas dos jornais brasileiros.
“Em todo lugar que vou, as pessoas me abraçam e me tratam como um herói nacional”, afirmou Bolsonaro. “As pessoas nas ruas estão pedindo o retorno dos militares. Eles perguntam: ‘Quando você voltará?’ “
Ele recebeu, disse ele, centenas de telegramas e telefonemas de apoio, e disso ele extrai uma lição que obviamente acolhe. “As pessoas veem a possibilidade da disciplina militar tirar o país da lama”.
Para deixar tudo claro, os superiores comandantes militares reiteraram sua lealdade ao presidente Itamar Franco,um civil, e a maioria dos colunistas de jornais acredita que o Brasil manterá seu calendário político, que prevê eleições no próximo ano para presidente, representantes do Congresso, governadores estaduais e legisladores estaduais. Mas para muitos defensores da democracia brasileira, o fenômeno Bolsonaro representa uma luz amarela, um sinal de que as pessoas estão impacientes com o fracasso da democracia em conter a inflação e oferecer um estilo de vida melhor, e um aviso de que os políticos autoritários estão ansiosos por aproveitar esse estado de espírito e cultivá-lo.
O modelo de Fujimori
“Na época do regime militar, a economia crescia 6% ao ano, você poderia comprar um carro em 36 meses”, disse Bolsonaro durante a conversa em seu escritório. “Hoje, o país mal cresce 1% ao ano. A inflação é intolerável”. “A verdadeira democracia é a comida na mesa, a capacidade de planejar sua vida, de andar na rua sem ser assaltado”, continuou. De fato, uma recente pesquisa de opinião pública em Recife, uma das cidades costeiras mais pobres do Brasil, relatou que 70% dos entrevistados achavam que a comida era mais importante do que a democracia.
Bolsonaro, que se formou na escola militar em 1973 (o ponto central do último período do regime militar), tem agora 38 anos, um congressista de primeiro mandato com cabelos negros desobedientes que caem sobre a testa. De certa maneira, ele é apenas a mais recente encarnação da longa tentação autoritária do Brasil; no último século, o país viveu sob um regime democrático formal por apenas 25 anos. Mas há uma nova reviravolta. Hoje, um modelo novo e menos odioso para o autoritarismo latino-americano surgiu no presidente do Peru, Alberto Fujimori.
Diante do impasse no Congresso no ano passado, Fujimori, um civil, ordenou ao Exército do Peru que fechasse o Congresso do país e seus tribunais. Um ano depois, Fujimori governa apenas uma Câmara no Congresso, obediente. “Eu simpatizo com Fujimori”, continuou o congressista brasileiro.
Cirurgia política, continuou Bolsonaro, envolveria o fechamento do Congresso por um período de tempo definido e permitiria que o presidente do Brasil governasse por decreto. A justificativa para uma ruptura constitucional, disse ele, seria a “corrupção política” e a inflação do Brasil, que agora está em 30% ao mês.
Com o Congresso muitas vezes travado em batalhas entre seus 21 partidos, a imprensa do Brasil tem demonstrado um fascínio crescente com o modelo de Fujimori. No mês passado, jornais, revistas e programas de notícias televisivas brasileiros realizaram longas entrevistas com o líder peruano.
“Fujimori colocou 400 mil funcionários públicos na rua”, afirmou Bolsonaro. “Como poderíamos fazer isso aqui?”
Quando detiveram o poder nas décadas de 1960 e 1970, as Forças Armadas brasileiras expandiram vastamente o setor estatal do Brasil, implantando uma confusão de empresas estatais e monopólios. Hoje, disse Bolsonaro, os líderes das Forças Armadas preferem trazer o Estado de volta ao básico: defesa, educação e saúde.
“Eu voto em todas as leis de privatização que posso”, disse Bolsonaro. “É a esquerda que se opõe à privatização. Eles só querem preservar seus empregos no governo”.
A trilha da campanha
Sua campanha não se limita ao Congresso. Ele também circula de cidade em cidade, levando sua receita de mudança autoritária para públicos que são ostensivamente compostos por reservistas e aposentados militares. “Eu só viajo para cidades militares”, disse ele. “Não estamos conspirando, porque não há agentes ativos presentes.”
Defensores da democracia suspeitam que há algo mais sinistro acontecendo fora da vista do público. Essas viagens são anunciadas como simples esforços para lançar as candidaturas de um bloco de candidatos militares de reserva de 12 A Fujimorização é a saída para o Brasil. Estados nas eleições do próximo ano para o Congresso. Todos os candidatos concorrem em listas controladas pelo partido de Bolsonaro, o Partido Progressista Reformador (PPR).
Na conversa, Bolsonaro previu que a opinião popular apoiaria esmagadoramente a suspensão do Congresso. Nesse estágio, isso pode ser apenas uma ilusão –outros acham que o país está perto de um consenso para o regime militar– , mas reflete um fato básico da vida política: qualquer restauração do regime militar só seria possível com civis sólidos. Apoio, suporte. Isso porque as Forças Armadas brasileiras somam 300 mil membros, o que dificilmente é suficiente para controlar uma nação continental de 150 milhões de habitantes apenas pela força.
Até agora, o presidente Itamar Franco descartou categoricamente qualquer ambição de ser um Fujimori brasileiro e se refere a campanhas como a de Bolsonaro como golpes de Estado incipientes. No entatno, Bolsonaro pode se inspirar em reportagens de jornais sobre reuniões fechadas entre empresários de São Paulo e oficiais do Exército, e na publicação de outdoors em uma favela do Rio de Janeiro protestando contra a alta taxa de sequestro do Rio e terminando com o apelo direto: “Forças Armadas, assumam o Poder”.
Em outras palavras, se está certo ou não, Bolsonaro acredita que o tempo está agora do seu lado. Ele está convencido de que em outubro os brasileiros enfrentarão o fracasso dos esforços anti-inflacionários de Fernando Henrique Cardoso, o quarto ministro da Fazenda do Brasil em um ano.
Enquanto isso, ele diz: “Estou arando os campos”.
Tradutor: Thiago Varella
Tijolaço

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A MATILHAS JÁ ROSNAM, FERNANDO BRITO

Infelizmente, não estava errado.
A psicóloga Silvia Bellintani narra os episódio acontecidos com dois de seus pacientes.
Não há o que eu possa dizer para sublinhar esta monstruosidade, a não ser que ela está à beira de deixar de ser ameaça e se tornar fato.
Depende de cada um de nós exorcizar os demônios que nos rondam.
Ou soltar de vez as matilhas pelas ruas.
Não sejam cúmplices
Silvia Bellintani, no Facdebook
Eu poderia dizer que estou sem palavras pra descrever o que testemunhei no meu consultório. Mas tive o dever de encontrá-las pra não deixar que algo assim, gravíssimo, ficasse sem registro.
Foram duas situações, ambas na tarde de quarta-feira (3/10). Dois pacientes meus: um menino e uma menina. Ele, gay, 19 anos. Ela, hetero, feminista, 17.
Começo por ele, que entra sem dizer uma palavra e logo começa a chorar. Pergunto o que aconteceu e ele me diz, assustado, que foi abordado por um cara da faculdade com as seguintes palavras:
— E aí, seu viadinho de merda, já viu as pesquisas? Vai aproveitando até o dia 28 pra andar de mãozinha dada, porque quando o mito assumir, acabou essa putaria e você vai levar porrada até virar homem.
E depois a menina, que já entra chorando e me diz:
— Sil, me ajuda… não sei o que fazer… você não vai acreditar no que aconteceu comigo hoje… Eu tava na escola e fui pegar um livro no meu armário… Tinha uma folha de papel (e aí ela me mostra uma foto no celular, porque entregou a tal folha na diretoria) com esta mensagem aqui: “achou mesmo que era só sair gritando #elenão pra parar o bolsomito, feminazi??? perdeu, escrota!! e daqui a pouco você vai ter motivo pra gritar de verdade!!!”.
Perceber o pavor desses dois adolescentes me virou do avesso e despertou uma indignação difícil de descrever; escutei os relatos com a visão nublada pela fúria que senti, seguida por um desejo quase incontrolável de proteger os dois.
O cenário das eleições sequer foi definido, mas já encoraja o sadismo e promete ser palco do terror.
Fico imaginando o que vem pela frente.
A homofobia e a misoginia presentes nas ameaças sofridas por esses dois adolescentes são apenas duas amostras dentre tantas outras atrocidades que Bolsonaro, esse criminoso nazifascista, incentiva e legitima.
E, se você vota nele, é corresponsável: não apenas por essas, mas por todas as outras ameaças que ainda estão por vir.
Não há justificativa para um voto no Bolsonaro.
A menos que você seja fascista como ele — e aí OK, seu voto é compreensível, uma vez que você já é digno de abandono como projeto humano.
Agora, se esse não é o caso e você for apenas liberal ou conservador, tome vergonha nessa sua cara e escolha outro candidato. Ainda dá tempo de preservar alguma dignidade. Há várias opções interessantes que prometem a defesa do seu patrimônio sem contrapartidas humanas.
Um garoto de 19 e uma garota de 17.
Assustados, angustiados, ameaçados em sua integridade física e emocional.
E você, louvável cidadão de bem, subitamente politizado e que quer ver o Brasil “mudar de verdade”, será cúmplice do fascismo e de suas históricas atrocidades físicas e emocionais.
Hoje foram meus pacientes.
Amanhã poderão ser seus filhos.
Ou os filhos de parentes, os filhos de amigos ou amigos de seus filhos.
E tudo lindamente avalizado por vocês, honrados cidadãos de bem, heroicos defensores da pátria.
(*) Silvia Bellintani é psicanalista, psicóloga clínica e jornalista
Tijolaço

NOVA PESQUISA DATAPODER360 REDUZ A EUFORIA DO DATAFOLHA E DÁ 5% ENTRE HADDAD E BOLSONARO


Pesquisa que o  Datapoder360, site do jornalista Fernando Rodrigues, publica esta manhã, mantém como estava a diferença entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RESISTIR PARA VENCER. PESQUISA IBOPE/DATAFOLHA AGORA É SÓ PROPAGANDA, POR FERNANDO BRITO


Qualquer um percebe que se formou um “todos por Bolsonaro” no país, com a vergonhosa entrega da mídia, do Judiciário e de parte dos políticos convencionais ao favoritismo do candidato fascista.
O Datafolha de hoje segue nessa toada, mas sem conseguir, entretanto, dar ao candidato da direita o empuxo necessário para evitar que a decisão fique para o segundo turno.

XADREZ DO SEGUNDO TURNO E A COMUNIDADE AMISH DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Há algumas características a se observar nessas eleições:
Peça 1 – as ondas sucessivas no período eleitoral
Toda eleição prolongada é composta por ondas sucessivas, algumas pequenas, outra que ganham dimensão e refluem, outras que se tornam vitoriosas. Foi assim em quase todas as eleições pós-ditadura, embora o resultado final consolidasse a polarização PT x PSDB.
Nesses tempos todos observou-se o fenômeno breve de Mário Covas e Guilherme Afif em 1988, Garotinho, Ciro, Marina em outros momentos.
Essa eleição teve três ondas nítidas.
A primeira, pró-Bolsonaro após a facada.
A segunda, pró-Haddad depois de oficializado como candidato a presidente.
A terceira pró-Bolsonaro, provavelmente como reação à consolidação de Haddad, aos ataques dos demais candidatos, aos vazamentos da dupla Sérgio Moro-Globo, reavivando o clima da Lava Jato e as fantásticas passeatas das mulheres contra Bolsonaro.
Vamos tentar entender melhor esse motivo final.
Peça 2 –os porões da opinião pública
1.     Há um aspecto interessante nas denúncias. Denúncias de pessoas contra seu próprio campo são mais aceitas que contra o campo adversário. Um analista neutro ou progressista criticando o PT tem mais credibilidade que um Merval da vida. E vice-versa.
2.     Os bolsonaristas são essencialmente anti-sistema. O que seria o sistema? Os partidos políticos, incluindo PT, PSDB e PMDB, é claro. A Justiça, as instituições em geral, a mídia e os chamados leitores incluídos no mercado de opinião pública, aqueles nacos de público moderno, moralmente avançado, refletido nas novelas da Globo e nas manifestações de artistas. A TV Globo é sistema. Qualquer denúncia contra o sistema pega. Contra Bolsonaro, não.
Com ajuda profissional ou não, os bolsonaristas vem montando há tempos seu microssistema de informações através de grupos de WhatsApp, Telegram e Youtube. É um mundo novo, onde notícias falsas se misturam com verdadeiras, com teorias da conspiração, por mais inverossímveis que sejam. Quem define o que é verdade ou não é a própria comunidade. É uma imensa bolha que junta comunidades, tipo amish, apartadas do mundo moderno e vivendo de acordo com seus próprios códigos. Mas, ao contrário dos amish, alimentados em ódio permanente.
E nem se imagine apenas populações pouco instruídas dos sertões. Essa ignorância cívica pega desembargadores de tribunais, pequenos e médios empresários (os grandes estão de longe nos bons negócios que podem se abrir), e uma classe média que ainda acredita no mito do comunista-comendo-criancinha.
Seria apenas uma excrescência não tivesse envolvido metade do país. Tudo isso possível graças ao processo de degradação da notícia que ocorreu com o jornalismo de esgoto dos grandes veículos e os programas sensacionalistas da TV aberta e o caos que se instaurou no mercado de opinião com o advento das redes sociais. Mas, principalmente, pela falência das instituições.
É por isso que uma manifestação épica, como a das mulheres, provoca uma contrarreação maior nas profundezas do país. É bem possível que se encontre aí as explicações para o aumento da rejeição feminina a Haddad.
Mas aí já é tema para os cientistas sociais explicarem mais à frente
Peça 3 – as novas ondas
O que interessa é daqui para frente.
Hoje, a pesquisa IBOPE mostrou alguma estabilização na última onda, com Bolsonaro e Haddad mantendo-se na margem de erro e, no segundo turno, um empate técnico, mas com Haddad levemente na frente. Significa que a segunda onda Bolsonaro pode ter chegado ao pico sem garantir a vitória no 1º turno.
Partindo-se para o 2º turno, haverá  uma nova onda Haddad, juntando todos os atemorizados por Bolsonaro.
Haverá os seguintes atores políticos tentando brecá-la:
Sérgio Moro – não se tenha dúvida que vazará mais delações de Haddad. Moro se tornou o símbolo máximo da desmoralização do Judiciário, enquanto instituição. A cada abuso, a reação são algumas palavras de condenação. E só.
Status quo -  trata-se de um contingente que aderiu a Bolsonaro pensando nas possibilidades futuras. Entram aí bilionários. É curiosa a adesão de parte da comunidade judaica, já que os judeus são alvos históricos do fascismo. Até famílias de bom nível intelectual, como os irmãos Feffer, caíram de cabeça na defesa de Bolsonaro. Não são numericamente significativos, mas tem poder de indução sobre os veículos de comunicação. Mas entram também associações empresariais, comunidade jurídica e outros setores conservadores.
Rede Globo – o editorial de hoje do jornal O Globo confirmou o que antecipamos na 6ª. A decisão do Ministro Luiz Fux, de desautorizar seu colega Ricardo Lewandowski, contou com a cumplicidade de Dias Toffoli e o salvo-conduto da Globo. O editorial faz críticas leve a Moro e pesadas a Lewandowski. Nenhum pio sobre a decisão de Fuxque, além de ilegal, atentava contra a liberdade de expressão e defendia a censura prévia. A Globo incorre na mesma posição de Ministros do Supremo, como Luis Roberto Barroso, políticos, jornalistas, de não se guiar por princípios doutrinários, nem sequer pelos fundamentos da liberdade de imprensa. Aliás, este é o preço maior do subdesenvolvimento brasileiro, a praxi macunaímica de parte relevante da elite. Significa que continuará dando respaldo aos vazamentos de Moro ou à disseminação de factoides.
Por outro lado, haverá os seguintes fatores à favor:
Fim dos ataques de outros candidatos – No 2º turno, rasgam-se as fantasias. No 1º, Haddad foi alvo de vários candidatos, por motivos diversos. Ciro, para tentar substituí-lo como o algoz de Bolsonaro. Alckmin para substituir Bolsonaro como algoz do PT. Marina por ser um poço até aqui de mágoas. E Álvaro Dias por ser um político provinciano de baixíssimo nível.
Clareza sobre a disputa - No 2º turno, esse Brasil mais moderno, espalhado por parte do eleitorado de Alckmin, por Ciro e Marina terá que se decidir entre Bolsonaro e Haddad. Agora, não haverá mais zonas cinzas. A disputa será entre modernidade e atraso, civilização e barbárie.
Tete-a-tete nos debates – Bolsonaro terá que se mostrar, agora. E caberá a Haddad o desafio de domar o bruto, evitando a armadilha de se fixar em temas morais ou de desqualificar o oponente por sua ignorância. Qualquer dessas estratégias será considerada ofensa pessoal a cada bolsominion – já que o candidato tem a mesma dimensão de seu eleitor médio. O desafio será explicitar os efeitos nefastos do liberalismo selvagem de Bolsonaro sobre emprego e renda. Nesse campo, Haddad contará com o apoio inestimável do general Mourão. Espera-se que apenas esconda o Mourão do PT, o ex-Ministro José Dirceu. Terá também que afirmar sua personalidade, para cativar os anti-lulistas.
Serão três semanas de pau puro. Na primeira, será possível esperar o crescimento da onda Haddad. Depois, é torcer.
GGN

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

NOVO IBOPE BOLSONARO TEM 32%, HADDAD CRESCE E VAI A 23%, VENCENDO NO SEGUNDO TURNO DE 43% A 41%


O Ibope liberou hoje mais uma pesquisa de intenção de voto para a eleição presidencial. De acordo com a pesquisa, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, tem 32% das intenções de voto, seguido por Fernando Haddad, do PT, com 23%. Ciro Gomes (PDT) tem 10%, Geraldo Alckmin (PSDB) tem 7% e Marina Silva (Rede) manteve os 4%.