Há algumas
características a se observar nessas eleições:
Peça
1 – as ondas sucessivas no período eleitoral
Toda eleição prolongada
é composta por ondas sucessivas, algumas pequenas, outra que ganham dimensão e
refluem, outras que se tornam vitoriosas. Foi assim em quase todas as eleições
pós-ditadura, embora o resultado final consolidasse a polarização PT x PSDB.
Nesses tempos todos
observou-se o fenômeno breve de Mário Covas e Guilherme Afif em 1988,
Garotinho, Ciro, Marina em outros momentos.
Essa eleição teve três
ondas nítidas.
A primeira,
pró-Bolsonaro após a facada.
A segunda, pró-Haddad
depois de oficializado como candidato a presidente.
A terceira
pró-Bolsonaro, provavelmente como reação à consolidação de Haddad, aos ataques
dos demais candidatos, aos vazamentos da dupla Sérgio Moro-Globo, reavivando o
clima da Lava Jato e as fantásticas passeatas das mulheres contra Bolsonaro.
Vamos tentar entender
melhor esse motivo final.
Peça
2 –os porões da opinião pública
1. Há
um aspecto interessante nas denúncias. Denúncias de pessoas contra seu próprio
campo são mais aceitas que contra o campo adversário. Um analista neutro ou
progressista criticando o PT tem mais credibilidade que um Merval da vida. E
vice-versa.
2. Os
bolsonaristas são essencialmente anti-sistema. O que seria o sistema? Os
partidos políticos, incluindo PT, PSDB e PMDB, é claro. A Justiça, as
instituições em geral, a mídia e os chamados leitores incluídos no mercado de
opinião pública, aqueles nacos de público moderno, moralmente avançado,
refletido nas novelas da Globo e nas manifestações de artistas. A TV Globo é
sistema. Qualquer denúncia contra o sistema pega. Contra Bolsonaro, não.
Com ajuda profissional
ou não, os bolsonaristas vem montando há tempos seu microssistema de
informações através de grupos de WhatsApp, Telegram e Youtube. É um mundo novo,
onde notícias falsas se misturam com verdadeiras, com teorias da conspiração,
por mais inverossímveis que sejam. Quem define o que é verdade ou não é a
própria comunidade. É uma imensa bolha que junta comunidades, tipo amish,
apartadas do mundo moderno e vivendo de acordo com seus próprios códigos. Mas,
ao contrário dos amish, alimentados em ódio permanente.
E nem se imagine apenas
populações pouco instruídas dos sertões. Essa ignorância cívica pega
desembargadores de tribunais, pequenos e médios empresários (os grandes estão
de longe nos bons negócios que podem se abrir), e uma classe média que ainda
acredita no mito do comunista-comendo-criancinha.
Seria apenas uma
excrescência não tivesse envolvido metade do país. Tudo isso possível graças ao
processo de degradação da notícia que ocorreu com o jornalismo de esgoto dos
grandes veículos e os programas sensacionalistas da TV aberta e o caos que se
instaurou no mercado de opinião com o advento das redes sociais. Mas,
principalmente, pela falência das instituições.
É por isso que uma
manifestação épica, como a das mulheres, provoca uma contrarreação maior nas
profundezas do país. É bem possível que se encontre aí as explicações para o
aumento da rejeição feminina a Haddad.
Mas aí já é tema para
os cientistas sociais explicarem mais à frente
Peça
3 – as novas ondas
O que interessa é daqui
para frente.
Hoje, a pesquisa IBOPE
mostrou alguma estabilização na última onda, com Bolsonaro e Haddad mantendo-se
na margem de erro e, no segundo turno, um empate técnico, mas com Haddad
levemente na frente. Significa que a segunda onda Bolsonaro pode ter chegado ao
pico sem garantir a vitória no 1º turno.
Partindo-se para o 2º
turno, haverá uma nova onda Haddad, juntando todos os atemorizados
por Bolsonaro.
Haverá os seguintes
atores políticos tentando brecá-la:
Sérgio
Moro –
não se tenha dúvida que vazará mais delações de Haddad. Moro se tornou o
símbolo máximo da desmoralização do Judiciário, enquanto instituição. A cada
abuso, a reação são algumas palavras de condenação. E só.
Status
quo - trata-se
de um contingente que aderiu a Bolsonaro pensando nas possibilidades futuras. Entram
aí bilionários. É curiosa a adesão de parte da comunidade judaica, já que os
judeus são alvos históricos do fascismo. Até famílias de bom nível intelectual,
como os irmãos Feffer, caíram de cabeça na defesa de Bolsonaro. Não são
numericamente significativos, mas tem poder de indução sobre os veículos de
comunicação. Mas entram também associações empresariais, comunidade jurídica e
outros setores conservadores.
Rede
Globo – o editorial de hoje do jornal O Globo
confirmou o que antecipamos na 6ª. A decisão do Ministro Luiz Fux, de
desautorizar seu colega Ricardo Lewandowski, contou com a cumplicidade de Dias
Toffoli e o salvo-conduto da Globo. O editorial faz críticas leve a Moro e
pesadas a Lewandowski. Nenhum pio sobre a decisão de Fuxque, além de ilegal,
atentava contra a liberdade de expressão e defendia a censura prévia. A Globo
incorre na mesma posição de Ministros do Supremo, como Luis Roberto Barroso,
políticos, jornalistas, de não se guiar por princípios doutrinários, nem sequer
pelos fundamentos da liberdade de imprensa. Aliás, este é o preço maior do
subdesenvolvimento brasileiro, a praxi macunaímica de parte relevante da elite.
Significa que continuará dando respaldo aos vazamentos de Moro ou à
disseminação de factoides.
Por outro lado, haverá os
seguintes fatores à favor:
Fim
dos ataques de outros candidatos – No 2º turno,
rasgam-se as fantasias. No 1º, Haddad foi alvo de vários candidatos, por
motivos diversos. Ciro, para tentar substituí-lo como o algoz de Bolsonaro.
Alckmin para substituir Bolsonaro como algoz do PT. Marina por ser um poço até
aqui de mágoas. E Álvaro Dias por ser um político provinciano de baixíssimo
nível.
Clareza
sobre a disputa - No 2º turno, esse Brasil mais
moderno, espalhado por parte do eleitorado de Alckmin, por Ciro e Marina terá
que se decidir entre Bolsonaro e Haddad. Agora, não haverá mais zonas cinzas. A
disputa será entre modernidade e atraso, civilização e barbárie.
Tete-a-tete
nos debates – Bolsonaro terá que se mostrar,
agora. E caberá a Haddad o desafio de domar o bruto, evitando a armadilha de se
fixar em temas morais ou de desqualificar o oponente por sua ignorância.
Qualquer dessas estratégias será considerada ofensa pessoal a cada bolsominion
– já que o candidato tem a mesma dimensão de seu eleitor médio. O desafio será
explicitar os efeitos nefastos do liberalismo selvagem de Bolsonaro sobre
emprego e renda. Nesse campo, Haddad contará com o apoio inestimável do general
Mourão. Espera-se que apenas esconda o Mourão do PT, o ex-Ministro José Dirceu.
Terá também que afirmar sua personalidade, para cativar os anti-lulistas.
Serão três semanas de
pau puro. Na primeira, será possível esperar o crescimento da onda Haddad.
Depois, é torcer.
GGN
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