Apenas
250 alunos entre 6,2 milhões conseguiram a nota máxima.
Candidatos
que conseguiram nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
de 2014 contaram seus segredos e agora mostram a íntegra do texto de
sucesso. A reprodução dos textos foi obtida após o Ministério da Educação (MEC)
liberar, na semana passada, a consulta aos espelhos.
O
tema da última redação do Enem foi "Publicidade infantil em questão no Brasil. Como
nos anos anteriores, para ganhar nota 1.000, um texto deve cumprir bem cinco
competências exigidas pelo MEC. O título não é obrigatório. Cada competência
tem cinco faixas que vão de 0 a 200 pontos:
Competência
1: Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.
Competência
2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas
de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto
dissertativo-argumentativo.
Competência
3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,
opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Competência
4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à
construção da argumentação.
Competência
5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando
os direitos humanos.
Veja
abaixo a TRANSCRIÇÃO LITERAL das redações, sem edições:
Antônio
Ivan Araújo, Ceará
Trecho de redação de
Antônio Ivan Araújo. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"A
publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por
considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às
crianças. No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma
questão que envolve interesses diversos. Nesse contexto, o governo deve
regulamentar a veiculação e o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às
crianças, pois, do contrário, elas podem ser prejudicadas em sua formação, com
prejuízos físicos, psicológicos e emocionais.
Em
primeiro lugar, nota-se que as propagandas voltadas ao público mais jovem podem
influir nos hábitos alimentares, podendo alterar, consequentemente, o
desenvolvimento físico e a saúde das crianças. Os brindes que acompanham as
refeições infantis ofertados pelas grandes redes de lanchonetes, por exemplo,
aumentam o consumo de alimentos muito calóricos e prejudiciais à saúde pelas
crianças, interessadas nos prêmios. Esse aumento da ingestão de alimentos pouco
saudáveis pode acarretar o surgimento precoce de doenças como a obesidade.
Em
segundo lugar, observa-se que a publicidade infantil é um estímulo ao
consumismo desde a mais tenra idade. O consumo de brinquedos e aparelhos
eletrônicos modifica os hábitos comportamentais de muitas crianças que, para
conseguir acompanhar as novas brincadeiras dos colegas, pedem presentes cada
vez mais caros aos pais. Quando esses não podem compra-los, as crianças podem
ser vítimas de piadas maldosas por parte dos outros, podendo também ser
excluídas de determinados círculos de amizade, o que prejudica o
desenvolvimento emocional e psicológico dela.
Em
decorrência disso, cabe ao Governo Federal e ao terceiro setor a tarefa de
reverter esse quadro. O terceiro setor – composto por associações que buscam se
organizar para conseguir melhorias na sociedade – deve conscientizar, por meio
de palestras e grupos de discussão, os pais e os familiares das crianças para
que discutam com elas a respeito do consumismo e dos males disso. Por fim, o
Estado deve regular os conteúdos veiculados nas campanhas publicitárias, para
que essas não tentem convencer pessoas que ainda não têm o senso crítico
desenvolvido. Além disso, ele deve multar as empresas publicitárias que não
respeitarem suas determinações. Com esses atos, a publicidade infantil deixará
de ser tão prejudicial e as crianças brasileiras poderão crescer e se
desenvolver de forma mais saudável."
Dandara
Luíza da Costa, Pernambuco
Trecho de redação de
Dandara Luíza da Costa. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"Por
um bem viver
'O
ornamento da vida está na forma como um país trata suas crianças'. A frase do
sociólogo Gilberto Freyre deixa nítida a relação de cuidado que uma nação deve
ter com as questões referentes à infância. Dessa forma, é válido analisar a
maneira como o excesso de publicidade infantil pode contribuir negativamente
para o desenvolvimento dos pequenos e do Brasil.
É
importante pontuar, de início, que a abusiva publicidade na infância muda o
foco das crianças do que realmente é necessário para sua faixa etária. Tal
situação torna essas crianças pequenos consumidores compulsivos de bens
materiais, muitas vezes desapropriados para determinada idade, e acabam por
desvalorizar a cultura imaterial, passada através das gerações, como as
brincadeiras de rua e as cantigas. Prova disso são os dados da UNESCO afirmarem
que cerca de 85% das crianças preferirem se divertir com os objetos divulgados
nas propagandas, tornando notório que a relação entre ser humano e consumo está
“nascendo” desde a infância.
É
fundamental pontuar, ainda, que o crescimento do Brasil está atrelado ao tipo
que infância que está sendo construída na atualidade. Essa relação existe
porque um país precisa de futuros adultos conscientes, tanto no que se refere
ao consumo, como às questões políticas e sociais, pois a atenção excessiva dada
à publicidade infantil vai gerar adultos alienados e somente preocupados em
comprar. Assim, a ideia do líder Gandhi de que o futuro dependerá daquilo que
fazemos no presente parece fazer alusão ao fato de que não é prudente deixar
que a publicidade infantil se torne abusiva, pois as crianças devem lidar da
melhor forma com o consumismo.
Dessa
forma, é possível perceber que a publicidade infantil excessiva influencia de
maneira negativa tanto a infância em si como também o Brasil. É preciso que o
governo atue iminentemente nesse problema através da aplicação de multas nas
empresas de publicidade que ultrapassarem os limites das faixas etárias
estabelecidos anteriormente pelo Ministério da Infância e da Juventude. Além disso,
é preciso que essas crianças sejam estimuladas pelos pais e pelas escolas a
terem um maior hábito de ler, através de concessões fiscais às famílias mais
carentes, em livrarias e papelarias, distando um pouco do padrão consumista
atual, a fim de que o Brasil garanta um futuro com adultos mais conscientes.
Afinal, como afirmou Platão: “o importante não é viver, mas viver bem”.
Giovana
Lazzaretti Segat, Rio Grande do Sul
Trecho de redação de
Giovana Lazzaretti Segati, Rio Grande do Sul. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"Criança:
futuro consumidor
A
propaganda é a principal arma das grandes empresas. Disseminada em todos os
meios de comunicação, a ampla visibilidade publicitária atinge seu principal
objetivo: expor um produto e explicar sua respectiva função. No entanto, essa
mesma função é distorcida por anúncios apelativos, que transformam em sinônimos
o prazer e a compra, atingindo principalmente as crianças.
As
habilidades publicitárias são poderosas. O uso de ídolos infantis, desenhos
animados e trilhas sonoras induzem a criança a relacionar seus gostos a vários
produtos. Dessa maneira, as indústrias acabam compartilhando seus espaços; como
exemplo as bonecas Monster High fazendo propaganda para o fast food Mc Donalds.
A falta de discussão sobre o assunto é evidenciada pelas opiniões distintas dos
países. Conforme a OMS, no Reino Unido há leis que limitam a publicidade para
crianças como a que proíbe parcialmente – em que comerciais são proibidos em
certos horários -, e a que personagens famosos não podem aparecer em
propagandas de alimentos infantis. Já no Brasil há a autorregulamentação, na
qual o setor publicitário cria normas e as acorda com o governo, sem legislação
específica.
A
relação entre pais, filhos e seu consumo se torna conflituosa. As crianças
perdem a noção do limite, que lhes é tirada pela mídia quando a mesma reproduz
que tudo é possível. Como forma de solucionar esse conflito, o governo federal
pode criar leis rígidas que restrinjam a publicidade de bens não duráveis para
crianças. Além disso, as escolas poderiam proporcionar oficinas chamadas de
“Consumidor Consciente” em que diferenciam consumo e consumismo, ressaltando a
real utilidade e a durabilidade dos produtos, com a distribuição de cartilhas
didáticas introduzindo os direitos do consumidor. Esse trabalho seria efetivo aliado
ao diálogo com os pais.
Sérgio
Buarque de Hollanda constatou que o brasileiro é suscetível a influências
estrangeiras, e a publicidade atual é a consequência direta da globalização.
Por conseguinte é preciso que as crianças, desde pequenas, saibam diferenciar o
útil do fútil, sendo preparados para analisar informações advindas do exterior
no momento em que observarem as propagandas."
Júlia
Neves Silva Dutra, Minas Gerais
Trecho de redação de
Júlia Neves Silva Dutra, Minas Gerais. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"A
Revolução Industrial, ocorrida inicialmente na Inglaterra durante o século
XVIII, trouxe a necessidade de um mercado consumidor cada vez maior em função
do aumento de produção. Para isso, o investimento em publicidade tornou-se um
fator essencial para ampliar as vendas das mercadorias produzidas. Na sociedade
atual, percebe-se as crianças como um dos focos de publicidade. Tal prática
deve ser restringida pelo Estado para garantir que as crianças não sejam
persuadidas a comprar determinado produto.
A
partir da mecanização da produção, o estímulo ao consumo tornou-se um fator
primordial para a manutenção do sistema capitalista. De acordo com Karl Marx,
filósofo alemão do século XIX, para que esse incentivo ocorresse, criou-se o
fetiche sobre a mercadoria: constroi-se a ilusão de que a felicidade seria
alcançada a partir da compra do produto. Assim, as crianças tornaram-se um
grande foco das empresas por não possuírem elevado grau de esclarecimento e por
serem facilmente persuadidas a realizarem determinada ação.
Para
atingir esse objetivo, as empresas utilizam da linguagem infantil, de
personagens de desenhos animados e de vários outros meios para atrair as
crianças. O Conselho Nacional de Direitos de Criança e do Adolescente aprovou
uma resolução que considera a publicidade infantil abusiva, porém não há um
direcionamento concreto sobre como isso vai ocorrer. É imprescindível uma maior
rigidez do Estado sobre as campanhas publicitárias infantis, pois as crianças
farão parte do mercado consumidor e devem ser educadas para se tornarem
consumidores conscientes.
Logo,
o Estado deve estabelecer um limite para os comerciais voltados ao público
infantil por meio da proibição parcial, que estabelece horários de transmissão
e faixas etárias. Além disso, o uso de personagens de desenhos animados em
campanhas publicitárias infantis deve ser proibido. Para efetivar as ações
estatais, instituições como a família e a escola devem educar as crianças para
consumirem apenas o que é necessário. Apenas assim o consumo consciente poderá
se realizar a médio prazo."
Lucas
Almeida Francisco, Sergipe
Trecho de redação de
Lucas Almeida Francisco, de Sergipe. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"A
publicidade infantil tem sido pauta de discussões acerca dos abusos cometidos
no processo de disseminação de valores que objetivam ao consumismo, uma vez que
a criança, ao passar pelo processo de construção da sua cidadania, apropria-se
de elementos ao seu redor, que podem ser indesejáveis à manutenção da qualidade
de vida.
O
sociólogo Michel Foucault afirma que 'nada é político, tudo é politizável, tudo
pode tornar-se político'. A publicidade politiza o que é imprescindível ao
consumidor à medida que abarca a função apelativa associada à linguagem
empregada na disseminação da imagem de um produto, persuadindo o público-alvo a
adquiri-lo.
Ao
focar no público infantil, os meios publicitários elencam os códigos e as
características do cotidiano da criança, isto é, assumem o habitus – conceito
de Pierre Bourdieu, definido como 'princípios geradores de práticas distintas e
distintivas' – típico dessa faixa etária: o desenho animado da moda, o jogo
eletrônico socialmente compartilhado, o brinquedo de um famoso personagem da
mídia, etc.
Por
outro lado, a criança necessita de um espaço que a permita crescer de modo
saudável, ou seja, com qualidade de vida. Os abusos publicitários afetam essa
prerrogativa: ao promoverem o consumo exarcebado, causam dependência material,
submetendo crianças a um círculo vicioso de compras, no qual, muitas vezes, os
pais não podem sustentar. A felicidade é orientada para um produto, em
detrimento de um convívio social saudável e menos materialista.
De
modo a garantir o desenvolvimento adequado da criança e diminuir os abusos da
publicidade, algumas medidas devem ser tomadas. O governo deve investir em
políticas públicas que atuem como construtoras de uma 'consciência mirim',
através de meios didáticos a fomentar a imaginação da criança, orientando-a na
recepção de informações que a cercam. Em adição, os pais devem estar atentos
aos elementos apropriados pelos seus filhos em propagandas, estimulando o
espírito crítico deles, a contribuir para a futura cidadania que os
espera."
Lucas
Santos Barbosa, Alagoas
Trecho de redação de Lucas Santos Barbosa, de Alagoas. (Foto: Reprodução/Divulgação)
Trecho de redação de Lucas Santos Barbosa, de Alagoas. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"Desde o fim da Guerra Fria, em 1985, e a
consolidação do modelo econômico capitalista, cresce no mundo o consumismo
desenfreado. Entretanto, as consequências dessa modernidade atingem o ser
humano de maneira direta e indireta: através da dependência por compras e
impactos ambientais causados por esse ato. Nesse sentido, por serem frágeis e
incapazes de diferenciar impulso de necessidade, as crianças tornaram-se um
alvo fácil dos atos publicitários. Por ser uma questão de cunho global, as
ações de propagandas infantis também são vivenciadas no Brasil. Embora a
economia passe por um período de recessão, a vontade de consumir pouco mudou
nos brasileiros. Com os jovens não é diferente, influenciados, muitas vezes,
por paradigmas de inferioridade social impostos tanto pela mídia, quanto pela
sociedade, além de geralmente serem desprovidos de uma educação de consumo,
tornam-se adultos desorganizados financeiramente, ao passo que dão continuidade
a esse ciclo vicioso.
Diante desse cenário, os prejuízos são
sentidos também pela natureza, uma vez que o descarte de materiais gera
poluição e mudança climática na Terra. No entanto, o Brasil carece de medidas
capazes de intervir em ações publicitárias direcionadas àqueles que serão o
futuro da nação, hoje, facilmente manipulados e influenciados por personagens
infantis e pela modernização em que passam os produtos. Em outras palavras, é
preciso consumir de maneira consciente desde a infância, para que se construam valores
e responsabilidade durante o desenvolvimento do indivíduo.
Dessa
forma, sabe-se que coibir a propaganda voltada ao público infanto-juvenil não é
a melhor medida para superar esse problema. Cabe aos pais, cobrarem ações do
governo – criação de leis mais rigorosas – além de agirem diretamente na
formação e educação de consumo dos filhos: impondo limites e dando noções
financeiras ainda enquanto jovens. Ademais, as escolas têm papel fundamental
nesse segmento. É imprescindível, também, utilizar a própria mídia para alertar
sobre os problemas ambientais decorrentes do consumo em larga escala e
incentivar o desenvolvimento sustentável."
Luis
Arthur Novais Haddad, Minas Gerais
Trecho de redação de Luis Arthur Haddad, Minas Gerais. (Foto: Reprodução/Divulgação)
Trecho de redação de Luis Arthur Haddad, Minas Gerais. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"Mais
família e menos mídia
Em
Esparta, importante pólis grega, os meninos eram exaustivamente treinados para
serem guerreiros que defenderiam sua cidade. Hoje, no Brasil, as crianças não
tem essa preocupação: crescem e no futuro, podem escolher suas profissões.
Porém, a publicidade infantil tem influenciado, não só este, mais inúmeros
outros aspectos dos jovens, e não deveria.
No Brasil, é comum que se ligue a televisão e
esteja passando alguma propaganda com teor apelativo aos jovens: publicitários
usam de inúmeros meios para atrair a atenção das crianças, e conseguem. Estas,
cada vez mais conectadas a todo tipo de mídia, acabam se influenciando pelo que
é divulgado na televisão e pedem aos seus pais que compre o que foi ofertado. O
problema é que cabe aos pais escolher qual brinquedo o filho deve ter, por
exemplo, e não ao grande empresário. Este tem como finalidade o lucro, enquanto
aqueles querem o crescimento de seus jovens. Dessa forma, é comum que os donos
de empresas criem brinquedos que não têm a menor intenção de ensinar nada às
crianças. Os pais, pelo contrário, tendem a escolher, por exemplo, os
brinquedos que passem a seus filhos conhecimentos que julguem necessários. Com
a publicidade infantil, os empresários tomam para si, funções que cabem aos
pais, e por isso este tipo de publicidade deve ter fim.
Muitas
pessoas, porém, pensa que esta é uma forma de censura, similar à que Vargas
implantou com o Departamento de Imprensa e Propaganda, mas não é. Crianças
ainda estão na fase de aprendizado básico e, pela falta de maturidade, não
desenvolveram censo crítico: ao verem propagandas fantasiosas, acham que o
produto é maravilhoso e desejam adquiri-lo no mesmo instante. Não sabem, porém,
que o refrigerante possui muito corante – e pode desencadear uma alergia, ou
que o brinquedo é muito frágil, e logo se quebrará. Os pais, por esses motivos,
não irão comprar os produtos, o que, em muitos casos, deixará o filho
desapontado. Sabendo que as crianças não têm censo crítico para selecionar o
que é bom através da publicidade infantil, observa-se que estas devem ser
pouco, ou nada, divulgadas.
Vendo
a questão publicitária sob esta ótica, um implemente à lei deve ser colocado em
prática. Deve partir do Governo uma adequação ao projeto pedagógico brasileiro:
aulas de filosofia e sociologia, colocadas na base da escola, ensinariam aos
jovens como a mídia de comporta. Com o tempo, e a maturidade, as crianças verão
que os pais estão, na maioria dos casos, corretos na formação que lhe deram.
Dessa forma, a sociedade irá crescer e se desenvolver de forma mais humana e
menos financeira."
Maria Isabel Viñas, Rio de Janeiro
Trecho de redação de Maria Isabel Viñas, do Rio de Janeiro. (Foto: Reprodução/Divulgação)
Trecho de redação de Maria Isabel Viñas, do Rio de Janeiro. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"Amor
à venda
A
vitória do capitalismo na Guerra Fria gerou muitas consequências para o mundo,
sendo uma delas a competição desenfreada das multinacionais por novos mercados.
Um dos principais alvos desse cenário são as crianças, indivíduos facilmente
manipuláveis devido a sua pequena capacidade de julgamento crítico. Sua
inocência é, dessa forma, cruelmente convertida em lucro, fato que não deve ser
permitido nem tolerado.
A
infância é uma fase de formação e aprendizagem, sendo necessário, portanto, que
os bons costumes sejam cultivados. É, também, uma fase em que tudo é novo e
interessante. Dessa forma, os produtos apresentados em comerciais
inevitavelmente seduzirão meninos e meninas que, por sua vez, passarão a pautar
sua felicidade naquilo que podem adquirir.
A
ausência cada vez maior dos pais na vida dos filhos é outro fator que torna
urgente a intervenção do Estado nos meios de comunicação. A presença
constante o carinho paterno são, hoje, raros às crianças e, cientes
disso, tentam compensar o desfalque lhes dando tudo o que pedem, desde
carrinhos de controle remoto a iPhones. Mal sabem que o que estão fazendo é
fomentar uma indústria que, aos poucos, aprisiona seus filhos ao materialismo e
escraviza-os aos gostos do capitalismo.
A
proteção das crianças brasileiras quanto às investidas do mercado deve,
portanto, ser promovida não apenas pelo Estado, mas também por aqueles que são
responsáveis por sua formação. Ao primeiro cabe apresentar projetos de lei que
limitem o teor persuasivo das propagandas. Sua aprovação contaria com a
aprovação da população. Além disso, disciplinas extras poderiam ser criadas com
o respaldo na atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), para que
houvesse a conscientização desses 'pequenos cidadãos' no que se refere a
problemática do consumo excessivo. Vale ainda citar o papel dos pais, aos quais
cabe a importante função de ser um bom exemplo, afinal, a verdadeira felicidade
não pode ser mediada por elementos materiais e sim pelo amor."
Paula
Lage Freire, Rio de Janeiro
Trecho de redação de
Paula Lage Freire, do Rio de Janeiro. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"Responsabilidade
social
A
Revolução Técnico-Científica do século XX inaugurou a Era da Informação e
possibilitou a divulgação de propagandas nos meios de comunicação,
influenciando o consumo dos indivíduos de diferentes faixas etárias. Nesse
contexto, a publicidade destinada ao público infantil é motivo de debates entre
educadores e psicólogos no território nacional. Assim, a proibição parcial da
divulgação de produtos para as crianças é essencial para um maior controle dos
pais e para um menor abuso de grandes empresas sobre os infantes.
Os
indivíduos com idade pouco avançada, em sua maioria, ainda não possuem
condições emocionais para avaliar a necessidade de compra ou não de determinado
brinquedo ou jogo. Isso porque eles não desenvolveram o senso crítico que
possibilita uma escolha consciente e não impulsiva por um produto, como já
observou Freud em seus estudos sobre os desejos e impulsos do homem.
Consequentemente, os pais, principais responsáveis pela educação dos filhos,
devem ter o controle sobre o que é divulgado para eles, pois possuem maior
capacidade para enxergar vantagens e desvantagens do que é anunciado.
Além
disso, pela pouca maturidade, as crianças são facilmente manipuláveis pela
mídia. Isso ocorre por uma crença inocente em imagens meramente ilustrativas,
que despertam a imaginação e promovem o deslocamento da realidade, deixando a
sensação de admiração pelo produto. Como consequência, empresas interessadas na
venda em larga escala e no lucro aproveitam esse quadro para divulgar
propagandas enganosas, em muitos casos.
Portanto,
é fundamental uma regulação da publicidade infantil, permitindo-se o controle
de responsáveis e impedindo-se ações irresponsáveis de muitas empresas. Faz-se
necessário, então, que propagandas com conteúdo infantil sejam direcionadas aos
responsáveis em horários mais adequados, à noite, por exemplo, evitando-se o
consumo excessivo dos anúncios pelas crianças. Ademais, o Governo Federal deve
promover uma central nacional de reclamações para denúncias de pais, via
internet ou telefonema, que avaliem determinada informação como abusiva ou
desnecessária na mídia. Assim, infantes viverão com maior segurança e
proteção."
Victoria
Maria Luz Borges, Piauí
Trecho de redação de
Victoria Maria Luz Borges, do Piauí. (Foto: Reprodução/Divulgação)
"Em
meio a uma sociedade globalizada, é evidente o crescimento dos recursos capazes
de estimular a adesão ao consumo. Em meio a esse contexto, encontram-se as
propagandas destinadas às crianças, que, por possuírem seu caráter em processo
de formação, tornam-se alvos fáceis desses anunciantes. A regulamentação da
publicidade infantil constitui, assim, um fator imprescindível, visando à
preservação da integridade mental desse público.
Com
o advento do capitalismo e, principalmente, do modelo liberal introduzido pelo
pensador iluminista Adam Smith, as pessoas encontram-se inseridas em uma
sociedade de consumo, na qual o apelo à adesão popular é realizado de
diferentes formas, como, por exemplo, por meio da mídia. Diante disso, estão as
crianças, que ao possuírem, muitas vezes, fácil acesso a veículos de
comunicação massivos, são estimuladas a construírem um ideal de consumismo
desenfreado, tento em vista que não possuem o discernimento entre o que é
necessário e o que é supérfluo.
Imersa
nessa logística, encontra-se a participação de famosos em propagandas ou mesmo
a alusão a desenhos animados, que visam ao convencimento da criança de que
aquele produto anunciado é essencial. Isso evidencia a falta de regulamentação
no setor de propagandas do país, já que não há sequer determinação de horários
para a veiculação delas, proporcionando uma recepção massiva daquilo que é
divulgado para o público infantil. A par disso, aqueles que são responsáveis
pela promoção de tais propostas de adesão ao consumo mostram-se contrários à
concretização da proposta, ratificando a preocupação exclusivamente econômica
com a realização de uma publicidade desregulamentada.
É
certo que a mídia constitui um instrumento de massificação da sociedade e, por
serem indivíduos que ainda estão em processo de construção do caráter, as
crianças necessitam de medidas protecionistas, que garantam sua integridade
mental. Nessa perspectiva, deve-se proibir a veiculação de propagandas infantis
em determinados horários, como naqueles em que há uma programação destinada a
esse público; com a instituição de leis federais. Dessa forma, anunciantes e
emissoras devem ser fiscalizados e punidos com aplicação de multas em caso de
desrespeito ao estabelecido. Além disso, é necessária a introdução de
disciplinas de educação financeira e direcionada ao consumo, visando à formação
de consumidores conscientes. Assim, a criança deixará de ser alvo dessas
práticas apelativas."
Do G1