domingo, 12 de junho de 2022

A LEI DA SELVA DE BOLSONARO É A MORTE. POR FERNANDO BRITO

Parece aproximar-se o desfecho do caso do desparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips, e da pior forma possível, agora com a revelação de que pertenciam a eles os objetos mantidos amarrados a um tronco num igarapé.

Não só por eles e suas famílias, mas para nosso país.

Não só pelo fato de que verifica-se, na prática, que a Amazônia está entregue a gangues de ilegais, armados e violentos.

Não só pelo fato de que são grupos que contam com a simpatia assumida do presidente desta triste república.

Mas porque, há mais de dois anos, as regiões mais remotas daquela imensidão estão entregues à autoridade do Exército, sem que isso tenha representado qualquer redução no desmatamento, no garimpo, caça e pesca ilegais e nem sequer na existência de farto armamento nas mãos daqueles ilegais, e nem sequer imposto a eles o medo de ameaçar e matar qualquer um que se meta à “aventura perigosa” – como diz Jair Bolsonaro – de meter-se nos seus “territórios”.

Sim, porque para eles se demarca a bala, o que orgulhosamente o presidente diz que não se demaracará, um palmo sequer, pela lei, para os povos indígenas.

A política oficial para a Amazônia é a da morte.

Como falar da “soberania” sobre a Amazônia se não se exercem ali as funções do Estado brasileiro, que seja apenas e somente a de zelar pela lei e pela ordem, porque zelar pelas populações ribeirinhas já seria pedir demais para um governo que não consegue cuidar dos “índios”, seminus e famintos, que enchem as calçadas das grandes cidades?

Jair Bolsonaro e a entourage militar de seu governo repetem “A Amazônia é Nossa”, mas ela não é. Não é dos brasileiros “de bem”, como gostam de falar, mas dos que, devastadores e brutais, assumiram seu controle, à margem da lei. Talvez, até, por isso a considerem deles próprios.

Acham que este faroeste tupiniquim é assim mesmo, porque assim devem ser os pioneiros e conquistadores, prontos a fazer os povos indígenas largarem tangas e penas por cartucheiras e chapéus de cowboys e a plantarem soja em lugar da floresta.

A provável morte de Bruno e Dom – já não é possível esperar algo menos trágico que isso – ficarão como uma anátema sobre quem foi incapaz, sequer, de uma palavra de solidariedade, muito menos de indignação, diante do trágico destino dado a dois homens que amavam o Brasil e os brasileiros.

Jair Bolsonaro e os militares que dão suporte a seus crimes são, para nossa vergonha, a antítese da civilização. Que o espírito do Marechal Cândido Rondon, que nunca deixou aquelas brenhas amazônicas, receba os dois para ajudá-los a cuidar da floresta.

Tijolaço.

sábado, 11 de junho de 2022

Lavagem de dinheiro do tráfico com pesca ilegal pode estar ligada ao desaparecimento de jornalista e indigenista

A PF parece ter pistas de que o esquema está ligado ao desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.

O Jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira (chapéu) (Foto: Ministério da Defesa/Divulgação via REUTERS)

A Polícia Federal (PF) investiga um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico por meio da venda de peixes e animais que pode estar relacionado ao desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, no domingo (5) no entorno da Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas. Recentemente, Pereira apreendeu peixes que seriam usados no esquema. Ele acompanhava indígenas da Equipe de Vigilância da União dos Povos Indígenas do Javari (Unijava). A PF tem pistas de que o esquema está ligado ao desaparecimento de Pereira e de Phillips, de acordo com informações publicadas neste sábado (11) pelo jornal O Globo.

Pessoas responsáveis pelas investigações do esquema afirmaram que as apreensões feitas por Bruno e a Unijava em embarcações contrariaram o interesse do narcotraficante Rubens Villar Coelho, que é conhecido como Colômbia, mas tem nacionalidade brasileira e peruana. O narcotraficante usa a venda dos animais para lavar o dinheiro da droga produzida no Peru e na Colômbia.

As suspeitas da PF são de que Colômbia teria ordenado a Amarildo da Costa de Oliveira, o "Pelado", colocar a "cabeça de Bruno a leilão". 

A polícia prendeu Oliveira na quarta-feira (8) por porte de munição e de drogas, após denúncias de que estava envolvido no desaparecimento de Pereira e Phillips. 

A Univaja informou que o embaixador do Peru no Brasil, Rómulo Acurio, pediu às autoridades do país vizinho para colaborar nas buscas.

Sangue e material humano

Uma perícia identificou vestígios de sangue na lancha usada por Amarildo Oliveira, conhecido como "Pelado" 

A PF informou, nessa sexta, ter encontrado "material orgânico aparentemente humano" no Rio Itacoaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte. 

Além de Amarildo, a polícia deteve ao menos outros dois suspeitos pelo desaparecimento do jornalista e do indigenista.

 Brasil 247.

domingo, 5 de junho de 2022

PT APROVA APOIO A FLÁVIO DINO E ANUNCIA VICE NA CHAPA DO PSB NO MARANHÃO

Por unanimidade, partido fechou com a chapa que lança Flávio Dino ao Senado e Carlos Brandão ao governo, com Felipe Camarão na vice.

O PT do Maranhão aprovou neste domingo (5), por unanimidade, o apoio à pré-candidatura de Flávio Dino (PSB) ao Senado e indicou o nome de Felipe Camarão para a vice na chapa de Carlos Brandão, que disputará o governo do estado pelo PSB.

Carlos Brandão vem governando o Maranhão desde que Dino, de quem era vice, deixou o cargo para disputar uma vaga ao Senado. Tanto Dino quanto Brandão lideram as pesquisas no estado.

A decisão no Maranhão faz parte da aliança nacional entre PT e PSB, que prevê que uma sigila apoie a outra em alguns estados.

Do Brasil247.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

LULA, NO RS, FAZ PRIMEIRA BATALHA PELA RETOMADA DO SUL. POR FERNANDO BRITO

Um ato reúne, neste momento, milhares de pessoas, numa casa de espetáculos em Porto Alegre, para ouvir o discurso do ex-presidente Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin.

É o primeiro ato desde o lançamento de suas pré-candidaturas e faz todo o sentido ser entre os gaúchos, um eleitorado que tem tudo para ser recuperado pela esquerda, depois de ter sido transformado em reduto do bolsonarismo.

Hoje, a situação é de um virtual empate e, apesar da falta de entendimento entre PT e PSB, avança favoravelmente a Lula.

Assista, em instantes, os discursos de Alckmin e Lula. 

Tijolaço.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

PESQUISA POR TELEFONE CHEGA PERTO, MAS NÃO REFLETE NÚMERO REAL. POR FERNANDO BRITO

Sexta-feira, no programa Bom Para Todos, da TVT, procurei explicar porque a disparidade das pesquisas sobre as intenções de voto em Jair Bolsonaro e Lula, dependendo do método usado para fazê-las.

Não só o Brasil, apesar da “fartura” de telefones celulares (1,6 por habitante, em média), há uma óbvia distorção no acesso, por este meio, à população mais pobre. Isso, somado à imensa disparidade entre o voto em Lula e Bolsonaro nas classes sociais de baixa renda e de alta renda, resulta em números com uma variação nada desprezível.

O “agregador de pesquisas” do Estadão compilou estas diferenças: entre as pesquisas presenciais (Datafolha, Genial/Quaest, Ipec, Sensus e até a esquisita Paraná Pesquisas, que dá os índices mais altos que Bolsonaro alcança e os mais baixos que Lula consegue), e as telefônicas, a distância do ex-presidente varia de 18 para 11 pontos. 47% a 29%, nas presenciais, viram 44% a 33% naquelas feitas por telefone.

E isso porque a FSB/BTG Pactual divulgada hoje , dando 46% ao ex-presidente deu-lhe mais dois pontos na média, do contrário a diferença ficaria em 9 pontos.

Numa eleição que, pelos números que se dispõe hoje pode ser “resolvida” em primeiro turno por um ou dois por cento de diferença, isso não é uma irrelevância.

Por isso Janio de Freitas, na Folha de domingo, adverte que …

proliferação recente de organizações de sondagem eleitoral, atraídas pela dinheirama do Tesouro Nacional dada aos partidos e candidatos, tanto traz competição saudável quanto implica riscos de manipulação eleitoral. Estamos no Brasil.

Sim, estamos no Brasil e num Brasil onde as ameaças ao processo eleitoral estão longe de ser uma paranoia.

Mesmo que não haja interesse deliberado nisso, distorções estatísticas serviram para alimentar a ideia de que Bolsonaro crescia a ponto de “encostar” no favorito Lula, sendo que nas pesquisas presenciais, salvo pela tal “Paraná Pesquisas”, a diferença nunca esteve abaixo de 14 pontos, na “pior” pesquisa para o petista. Nas telefônicas, esta vantagem teria se reduzido para até meros 5 pontos.

Isto é uma bagatela de cerca de 14 milhões de votos, bem mais que a diferença que Bolsonaro teve sobre Haddad no segundo turno do pleito de 2018, 10,8 milhões de votos.

Não se trata de “censurar” pesquisas telefônicas, mas de reconhecer que têm diferido das face a face, sempre no mesmo sentido de subestimar Lula e hipertrofiar Bolsonaro, em desvios que se somam.

Tirar conclusões de premissas distorcidas é fatal para quem tem compromisso com a verdade. Não é disputa apertada, não há “escolha difícil”, não há que dar segunda chance ao monstro, se é essa a vontade popular.

Tijolaço.

sábado, 28 de maio de 2022

CIRO PEDE VOTOS DE BOLSONARISTAS PARA ENFRENTAR LULA. POR FERNANDO BRITO

Ciro Gomes, para usar a expressão cunhada pelo humorista Gregório Duvivier, é um homem devastado por sua ânsia de protagonismo.

Nada lhe é mais importante que a ribalta.

Até tentou, nos anos em que participou do governo Lula, mas isso é como a história do escorpião: dar-lhe carona é convidar-se à morte.

Agora, ele faz, no Twitter, um apelo para que os eleitores hoje com Jair Bolsonaro o sufraguem como alguém capaz de enfrentar Lula.

Depois de meses dizendo que, pela alegada rejeição a Lula, era ele quem teria melhores condições de enfrentar Bolsonaro, inverte o discurso e pede o apoio dos bolsonaristas como candidato antiLula.

Seu Twitter está cheio destes apelos, não é só o que coloquei na imagem do post:

“Eu sou o único adversário que é capaz de derrotar o Lula e o PT quando o povo brasileiro perceber.”

A arrogância de achar que povo é um tolo que “não percebeu”, enquanto tudo demonstra que o povo percebeu qual é seu instrumento para derrotar Bolsonaro é Lula é tão idiota quanto a do “serve qualquer um” para evitar que os brasileiros se desviem da realidade eleitoral.

Claro que não se estar a dizer que Ciro é bolsonarista, mas que inverte as bolas e coloca “derrotar Lula e o PT” como eixo central da campanha.

Isso vai lhe custar o eleitorado popular e progressista que, embora em pequena quantidade, está com ele.

O resto, vai entra na mira de Simone Tebet, que não vai cometer erros tão crassos assim.

Um final melancólico para quem poderia ser muito e escolheu, devorado pela vaidade, ser nada.

Tijolaço.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

LULA EM LUA DE MEL COM DATAFOLHA. ÚLTIMOS LUGARES NA JANELINHA. DIZ FERNANDO BRITO

Deve estar difícil – embora seja absolutamente necessário – conter a euforia nos círculos mais próximos ao ex-presidente Lula.

Não só porque era difícil imaginar um resultado tão folgado na pesquisa Datafolha que lhe deu 2 pontos de vantagem no 1° turno e 25 num 2° turno, quanto porque ele vem no momento final da definição de alianças e apoio para a eleição que, não custa lembrar, está a apenas 4 meses, o que é a hora de entrar no barco como aliado. Depois é aderente.

Mas também porque se acumulam um série de outros fatores positivos: suas intenções de voto crescem forte (cinco pontos na pesquisa estimulada e 8 na espontânea), seu principal adversário fica estagnado, com pouca elasticidade nos ganhos da espontânea para a estimulada e desta para a de segundo turno (sugerindo um esgotamento de suas fontes de voto), a rejeição cai a 33%, o menor índice entre os registrados nos últimos anos e não surge nenhum candidato em posição intermediária que pudesse servir de alternativa de voto antibolsonaro.

Como e época de seu casório, bem se pode dizer que o ex-presidente está em lua de mel também com a pesquisa Datafolha.

Se Lula vai bem na questão eleitoral, foi melhor ainda o resultado para as questões “não-eleitorais” da eleição: é uma ducha de água fria nas tensões golpistas promovidas por Jair Bolsonaro. O discurso de que o tal “Datapovo” lhe daria vantagem e que as pesquisas apontavam um favoritismo inexistente de Lula foi por terra para qualquer pessoa com um mínimo de racionalidade, embora não seja este o caso do núcleo mais fanático de apoio ao atual presidente.

Alegar fraude numa eleição com favoritismo tão grande é impossível e pretender “melar” um processo eleitoral em que a grande maioria das estruturas políticas está disputando – anulá-las seria anular a vitória de todos os eleitos – é virtualmente impossível. No segundo, preservando os mandatos já conquistados de todas as forças políticas seria, na tese golpista, muito mias fácil.

E, por último, há o inevitável magnetismo do favorito, bem expresso na frase popular do “não vou perder o meu voto”. Ciro, especialmente, vai ter de se ver com esta questão, porque ela independe de campanha por “voto útil”. É uma tradição que todas as eleições confirmam: candidatos menores, que não vêm em tendência de alta tendem a murchar na reta final. Ciro sabe disso: em 2002 tinha 28% em fins de julho, 20% no final de agosto e terminou a eleição com 12%.

O resto é cuidado, porque os ódios são imensos, destes de revirar o lixo à procura de intrigas.

Tijolaço.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA E FOME. POR FERNANDO BRITO

Cada frase da reportagem de Fernando Canzian, na Folha, é uma tragédia, a começar pelo próprio título: Fome no Brasil supera média global e atinge mais as crianças.

A taxa [dos brasileiros a quem faltou meios para comprar comida] saltou de 17% em 2014 para 36% no final de 2021;

Entre as mulheres, a taxa chegou a 47%; e a 45% para as pessoas com idades entre 30 e 49 anos

Entre os 20% mais pobres brasileiros, 75% responderam afirmativamente se havia faltado dinheiro para a compra de alimentos nos últimos 12 meses;

E olhe que os dados, apurados pelo Instituto Gallup e sistematizados pela Fundação Getúlio Vargas, são do final do ano passado e, só até abril o Índice de Preços da Alimentação, subgrupo da inflação medida pelo IBGE, já avançou 7%. Ponha aí o gás de cozinha – para quem ainda usa o fogão a gás, e você terá condições de entender que isto ficou muito pior.

É a realidade do segundo maior produtor de alimentos do mundo: mais de um terço de seus cidadãos com fome, ainda que os intelectuais a prefiram chamar de “insegurança alimentar”.

Não adianta discutir isso apenas com programas de transferência de renda pois, mal ou bem tivemos e temos auxílios sendo praticados – e devem ser.

Mas sem crescimento econômico isso será inútil, como tem sido, enquanto nossa elite discute “polarização” e a sua escolha sempre difícil entre termos um desenvolvimento inclusivo e aquela fantasia de domésticas indo para a Disney.

A pessoas estão indo para as pilhas de ossos e filas de cestas básicas, que a rara caridade, a que ainda sobrevive dos tempos em que andou “prestigiada”, é capaz de lhes dar.

É assim o “Deus, Pátria e Família” que invocam, esquecendo de acrescentar: e fome também.

Tijolaço.

terça-feira, 24 de maio de 2022

ARAS É EXPRESSÃO DO PAÍS IGNORANTE E VIOLENTO. POR FERNANDO BRITO

Não, a cena de Augusto Aras, com seu corpanzil, partindo para as vias de fato com outro integrante do Conselho Superior do Ministério Público Federal é também – mas não só – uma das colheitas malditas do Brasil com o período Bolsonaro.

Também, porque vem de antes dele no MP, pois não se pode esquecer da confissão de Rodrigo Janot de que, em uma de suas bebedeiras, entrou com uma pistola no Supremo Tribunal Federal disposto a descarregar a arma sobre o ministro Gilmar Mendes.

Não é um episódio, antes se constitui numa era que, no MP e em outras instituições que chamaram para si a função que não têm de “salvadoras da pátria” e modelo inquestionável de pureza que, como se sabe, deixou de ser condição humana desde a expulsão do Éden.

O Ministério Público, porém, entre elas, tornou-se mesmo um emblema e olhe que numa dura competição com polícias, militares e juízes que andaram pelo mesmo desvio.

Procuradores, cada vez mais, assumiram a postura do “conosco ninguém pode” e passaram a comportar-se ou a usar o cargo – com honrosas exceções – como donos da lei e não fiscais de sua observância.

Nada menos que um crime, o do artigo 345 do Código Penal, o exercício arbitrário de suas próprias razões: “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite”.

Querendo ou não, este sentimento disseminou-se para a sociedade e nada o reflete melhor do que a campanha armamentista e os milhões de revólveres, pistolas e fuzis que os “cidadãos de bem” foram normalizando e quase que transformando em objetos de “lazer” em seus clubes de tiro.

Num dia de chacinas, aqui e lá nos EUA, onde um garoto de 18 anos matou ao menos 18 crianças numa escola de ensino fundamental do Texas, seria bom que refletíssemos que as armas são o pior para a execução do ímpeto deste autoritarismo que se reveste de “justiça”.

Temos o dever de cortar o suprimento de ódio deste Brasil ignorante e violento, antes que isso se normalize completamente e todos os lugares da vida nacional sejam ocupados por valentões de botequim.

Tijolaço.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

BOLSONARO PÕE A PETROBRAS NA SUA CAMPANHA. FERNANDO BRITO

Não há outra conclusão possível: Jair Bolsonaro colocou a Petrobras no seu comitê e campanha, ao demitir o “novo” presidente da empresa, José Mauro Coelho, apenas 40 dias depois de sua nomeação.

Na verdade, a segunda troca de comando na empresa, porque ela teve Adriano Pires, a Viúva Porcina da estatal – porque foi indicado presidente mas não chegou a assumir o cargo – em 60 dias.

Entra agora um outro Guedes Boy – como Adolfo Sachsida foi para o Ministério das Minas e Energia – absolutamente comprometido para evitar que os preços dos combustíveis continuem pesando nas estatísticas eleitorais para outubro.

Bolsonaro não quer que mude a política de preços – errada! – da empresa, quer apenas que os preços sejam contidos até outubro – primeiro ou segundo turno da eleição, dependendo do resultado – e depois se corrige – como fizeram Sarney, no pós-Cruzado, e FHC, em 1998, com o câmbio.

Mesmo com um mercado financeiro que tolera todas as manipulações do governo, em nome de que Lula não se eleja – o dia será de pandemônio no mercado financeiro e ninguém duvide de quedas de 5% nas ações da empresa, não só porque o garrote de preços está evidente como desapareceu completamente qualquer possibilidade de governança empresarial em nossa maior estatal.

Outros dirigentes devem cair, porque Bolsonaro acha que há um complô contra ele feito por seus próprios nomeados:

“A Bolívia cortou 30% do nosso gás pra entregar pra Argentina. Como agiu a Petrobras nessa questão também? Parece que é tudo orquestrado. O gás, se tiver que comprar de outro local, é cinco vezes mais mais caro. Quem vai pagar a conta? E quem vai ser o responsável? É um negócio que parece orquestrado pra exatamente favorecer vocês sabem quem”

Sim, para ele é conveniente tratar do que fazem as pessoas que ele próprio indicou como sendo lulobolivarianos.

Haverá reflexos, até, na privatização da Eletrobras, porque está evidente que, também na energia elétrica, como na do petróleo, não há mais preço, apenas conveniências eleitorais.

Está claríssimo que na “metritocracia” bolsonariana, a pontuação em capachismo é o que mais conta no currículo.

E que não se muda uma política de preços, mas apenas os dirigentes da empresa.

Para assumir o cargo de presidente da Petrobras já não se necessita capacidade. É preciso ser mau caráter.

É preciso desmoralizar a Petrobras para entregá-la.

Tijolaço.

domingo, 22 de maio de 2022

DORIA MORRE SÓ E NO DESERTO. POR FERNANDO BRITO

João Doria recebe, nesta segunda-feira, os “papa-defuntos” de sua candidatura, já há tempos em rigor mortis, a rigidez cadavérica que tomou conta de sua pretensão presidencial.

A última luz que conseguirá, o homem dos holofotes, já é fraca como a de uma vela.

Tê-lo como vice de Tebet não interessa a ninguém: nem a ele, reduzido a uma condição humilhante, nem a ela e aos algozes do tucano, que, segundo o próprio argumento que usam, terão de carregar-lhe a rejeição, não apenas na chapa presidencial mas, sobretudo, na fraca esperança de que Rodrigo Garcia decole da lama em que está sua candidatura a governador.

Doria já não serve a ninguém.

Tebet serve ao PMDB e ao PSDB como ficção e, também, como “contabilidade”: os poucos gastos de sua campanha servirão para cumprir a cota obrigatória dos 30% do Fundo Eleitoral que devem ser gastos com candidaturas femininas, desobrigando de uma “caça às laranjas” incômoda a seus caciques.

Do ex-governador paulista, não se sabe se tenta faturar o papel de vítima ou se, de fato, isto o absorveu, porque já não se acredita – porque não se vê – que ele reaja ou vá reagir à escancarada armadilha a que foi levado.

Está sendo abatido por Jair Bolsonaro e insiste em fazer do antilulismo o sua mais constante discurso e de si mesmo um Kim Kataguiri do high-society, o que o fez perder o justo protagonismo que conseguiu com as vacinas.

Seu governo em São paulo tem três vezes mais aprovação que ele próprio. Não é o João Governador que o joga tão fundo no desprezo público, é seu comportamento político.

Morre sem ter quem o chore: nem políticos, nem empresários, nem partido, num deserto em que nem abutres o vem rondar, pois nem mesmo carniça lhes pode dar.

 Tijolaço. 

sábado, 21 de maio de 2022

MILIONÁRIOS, VISIONÁRIOS E OTÁRIOS. POR FERNANDO BRITO

Milionários visionários interessados na Amazônia estão longe de ser novidade.

Henry Ford, com a Fordlândia, de onde ia sair, sangrando as seringueiras, a borracha dos pneus de seus milhões de automóveis; o empregado da RandCorporation. O fascistão Herman Khan, que – creiam os mais jovens – pretendia inundar a floresta para ligar o Atlântico ao Pacífico; o bilionário self made man Daniel Ludwig e seu Projeto Jari, com o qual pretendia inundar, metaforicamente, o mundo de papel da celulose de árvores exóticas plantadas no lugar da nossa floresta são só alguns exemplos.

Nem é preciso dizer que todos deram com os burros n’água. A natureza defendeu-se, na falta de brasileiros que a defendessem.

O olho de Elon Musk sobre a Amazônica – ainda não se sabe bem exatamente o que tanto o atrai ali, mas certamente não é levar o Twitter aos indiozinhos de aldeias remotas – não é o primeiro, nem é o único.

Tem uma diferença, porém: tende a controlar a região sem por o pé nela, pelo domínio da informação de sensoriamento remoto, há 30 anos, desde o Sivam, eixo das preocupações nacionais (sobretudo militares) com aquela imensa área do Brasil.

Sem boots on the ground, como diz a expressão cara aos militares norte-americano: dominar pelo poderio tecnológico, sem tropas.

Ou, quem sabe, as nossas próprias.

Na Folha, Janio de Freitas, como sempre, põe o dedo na ferida que se faz sobre nossa soberania. Assim, no grito, bastando um “pulinho” ao Brasil e uma foto de campanha:

“Acordo de boca para empresas de Musk devassarem, por satélite e por meios terrenos, o maior patrimônio natural do território, sobretudo a sua riqueza mineral, de importância decisiva para o amanhã do país. Acordo de boca, de pessoa a pessoa, sem interveniência de qualquer das instituições oficiais ao menos como consulta. Acordo de boca para interesses estrangeiros fazerem na e da Amazônia o que quiserem, como se o território deixasse de ser brasileiro, passando ao domínio de fato de poderes externos, situação de território ocupado. As empresas americanas no exterior estão sob o compromisso, compulsório, de sujeitar-se ao alegado interesse nacional dos Estados Unidos.
Tal acordo é ato de lesa-pátria. Implica violação de exigências constitucionais, contraria os interesses nacionais permanentes (expressão da linguagem militar) e configura violação da soberania sobre parte do território. É a transformação, do hipotético à realidade pretendida, da visão que por mais de meio século, foi geradora do chamado pensamento geopolítico das Forças Armadas. Até a quinta, 19 de maio. Desde de aí, as Forças Armadas estão em contradição, entre sua premissa orientadora e, de outra parte, a tolerância, ou apoio, ou comprometimento com ação oposta, cometida pelo ex-capitão com o qual se identificam”.

Apoiar e sustentar as ambições continuístas de Jair Bolsonaro, de agora em diante, mais que o pendor autoritário, significa para as Forças Armadas um crime de traição à Pátria. Assim, escancarado, aberto, desqualificante. A uns poucos, talvez, reste a atenuante de serem apenas ignorantes e otários, em lugar de acanalhados.

Esta é a diferença perigosa: Ford, Khan e Ludwig não tinham a cumplicidade da maioria do Exército Brasileiro e mosquitos e onças deram cabo dos seus negócios. A Musk, que leva no grito e no mito, nem podem picar ou morder, a 500 km de altitude, em pleno espaço.

Tijolaço.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

O BRASIL DE TANGA CHAMA MUSK DE “BUANA”. POR FERNANDO BRITO

Quando eu era garoto e o “politicamente correto” não existia, os nativos, nos filmes passados na África, tratavam os colonizadores como Buana (na Ásia, eram Sahib).

Livremente traduzido, era Patrão.

Nas cinco horas que passou no Brasil – chegou às 10h e decolou logo após dar 15h – Elon Musk foi, aqui, Buana e Sahib.

Acreditem, é o bastante para que haja gente que acredite que ele vai colocar centenas de satélites sobre a Amazônia e conectar todos os caboclos e índios, das terras mais remotas, à Internet e proteger a floresta dos desmatadores e garimpeiros que a destroem.

Uma plateia de empresários – entre eles o indefectível Luciano Hang – e a nata da República postou-se a sua frente para ouvir ele dizer – o que é que ele disse, mesmo? – coisa alguma e ouvir, do presidente que ele estava ali começando um namoro que ia dar em casamento.

Nem um programa, nem um contrato, nem mesmo um protocolo de intenções, nada.

Apenas um troféu para Bolsonaro exibir, pespegando-lhe no pescoço uma comenda de cavaleiro da Ordem de Não-Sei-o-Quê.

Todos servis e corteses: Buana, Buana, Buana.

Nada contra fazermos negócios com o homem mais rico do mundo. Seria antes um dever e uma oportunidade, mas qual é o negócio e o que ganhamos com isso?

Tivemos apenas uma exibição de vassalagem, do viralatismo rodrigueano clássico a um sujeito que sequer foi ver a região da qual se pretende benemérito.

Nunca senti tanta vergonha de meu país, ao ver a nossa classe dirigente abando o rabo, como um cão, e oferecendo a área mais rica e preservada do planeta a uma bisbilhotice sem disfarces.

Tijolaço.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

RECALQUE NÃO DÁ VOTO. SÓ DOS ‘ODIOLÓGICOS’. FERNANDO BRITO

Sinto informar aos bolsonaristas que estão levando água ao moinho de Lula.

As ameaças de golpe, agora diárias – hoje ele disse que o TSE não pode jogar “no lixo” os palpites do Exército sobre o processo eleitoral e que paira uma “sombra da suspeição” sobre as eleições de outubro – não dão ao sr. Bolsonaro um voto sequer além dos que já tem. Ao mesmo tempo, desobrigam o candidato do PT de atacá-lo por isso, porque a sua ofensiva é tão virulenta e grosseira que obriga os integrantes do Tribunal – e do STF – o façam.

Traz para a cena eleitoral, portanto, quem deveria estar fora dela e, pior, exibe-se como golpista, para agitar e radicalizar seus adeptos, que se sabem ser minoria, embora barulhenta.

Poderia estar, por exemplo, surfando na onda da sanção da lei que tornou permanente o abono do Auxílio Brasil de R$ 400, de fato algo importante e com repercussão – pelo valor e pelo alcance -, mas isso desaparece som o som dos latidos e rosnados que solta contra as eleições.

Sua bancada na Câmara, construída à base de bilhões do Orçamento secreto, com dúzias de questões relevantes a tratar, empenha-se na aprovação do tal homeschooling – o que o cidadão comum nem sequer se dará ao trabalho de entender, porque não tem nem vontade e nem dinheiro para substituir a escola dos filhos por “professores particulares” – que interessa apenas a maníacos endinheirados, decididos a fazer dos filhos gente alienada de qualquer convívio social, devidamente enjaulada em gaiolas de ouro.

E seus apoiadores, nas redes, não fazem outra coisa senão atacar Lula, inclusive e sobretudo, pelo seu casamento. Estão sangrando na veia da saúde, porque qualquer pesquisinha básica mostra que, em especial no eleitorado feminino (o que lhe é mais hostil), amores de outono comovem até as pedras.

Propaganda negativa só atrai recalcados e setores odiológicos, que fazem deles, ao contrário da categoria a que gostam tanto de apelar, “gente do mal”.

Tijolaço.

terça-feira, 17 de maio de 2022

TUCANOS DEIXAM DORIA DECIDIR: SUICÍDIO OU FUZILAMENTO? POR FERNANDO BRITO

A “decisão” da cúpula do PSDB de chamar João Doria para uma reunião, amanhã, na qual ou renuncia à candidatura presidencial conquistada nas prévias tucanas promete, de um jeito ou de outro, ser uma das cenas mais deprimentes da já tão deprimente política brasileira.

É claro que a inviabilidade eleitoral de Doria não está sendo trocada por uma outra candidatura que possa servir de alavanca para candidaturas estaduais de candidatos dos partidos. Simone Tebet não tem, em lugar nenhum, expressão eleitoral que possa servir a isso.

Serve a eles apenas como “fachada” para não assumir o que farão, quase todos, de fato: apoiar Jair Bolsonaro.

Muito especialmente em São Paulo, Minas e nos estados do Sul.

Mas não sem prejuízos, porque serão bolsonaristas de segunda categoria, sem o fanatismo dos “Bolsonaro raiz“.

É impossível prever por onde e como vazará o caldo de ódio que ferve, neste momento, em Dória e em alguns de seu grupo.

Sua ida a Brasília, amanhã, caso ele decida ir, é um convite a transbordamentos. Sua volta a São Paulo, a tentação de sabotar Rodrigo Garcia, a quem – como um dia fez Geraldo Alckmin a ele próprio, Doria – trouxe para o partido prometendo a candidatura.

É provável que, já neste final de semana, o mesmo Alckmin que Doria apunhalou sair a recolher as penas tucanas que voam ao vento no interior de São Paulo.

E que logo Fernando Henrique Cardoso, vendo o que julgou ser o “seu” partido atirado nesta pocilga, acabe por sinalizar mais fortemente o voto em Lula que já disse dar no segundo turno.

Os aprendizes de feiticeiro da 3ª Via, afinal, não tinham a fórmula para criar um candidato, mas acertaram a mão em fazer um veneno que matou vários.

Tijolaço.