Milionários
visionários interessados na Amazônia estão longe de ser novidade.
Henry
Ford, com a Fordlândia, de onde ia sair, sangrando as seringueiras, a
borracha dos pneus de seus milhões de automóveis; o empregado da RandCorporation. O
fascistão Herman Khan, que – creiam os mais jovens – pretendia inundar a
floresta para ligar o Atlântico ao Pacífico; o bilionário self made
man Daniel Ludwig e seu Projeto Jari, com o qual pretendia inundar,
metaforicamente, o mundo de papel da celulose de árvores exóticas plantadas no
lugar da nossa floresta são só alguns exemplos.
Nem
é preciso dizer que todos deram com os burros n’água. A natureza defendeu-se,
na falta de brasileiros que a defendessem.
O
olho de Elon Musk sobre a Amazônica – ainda não se sabe bem exatamente o que
tanto o atrai ali, mas certamente não é levar o Twitter aos
indiozinhos de aldeias remotas – não é o primeiro, nem é o único.
Tem
uma diferença, porém: tende a controlar a região sem por o pé nela, pelo domínio
da informação de sensoriamento remoto, há 30 anos, desde o Sivam, eixo das
preocupações nacionais (sobretudo militares) com aquela imensa área do Brasil.
Sem boots
on the ground, como diz a expressão cara aos militares norte-americano:
dominar pelo poderio tecnológico, sem tropas.
Ou,
quem sabe, as nossas próprias.
Na Folha, Janio de Freitas, como sempre, põe o dedo na ferida
que se faz sobre nossa soberania. Assim, no grito, bastando um “pulinho” ao
Brasil e uma foto de campanha:
“Acordo
de boca para empresas de Musk devassarem, por satélite e por meios terrenos, o
maior patrimônio natural do território, sobretudo a sua riqueza mineral, de
importância decisiva para o amanhã do país. Acordo de boca, de pessoa a pessoa,
sem interveniência de qualquer das instituições oficiais ao menos como
consulta. Acordo de boca para interesses estrangeiros fazerem na e da Amazônia
o que quiserem, como se o território deixasse de ser brasileiro, passando ao
domínio de fato de poderes externos, situação de território ocupado. As
empresas americanas no exterior estão sob o compromisso, compulsório, de
sujeitar-se ao alegado interesse nacional dos Estados Unidos.
Tal acordo é ato de lesa-pátria. Implica violação de exigências
constitucionais, contraria os interesses nacionais permanentes (expressão da
linguagem militar) e configura violação da soberania sobre parte do território.
É a transformação, do hipotético à realidade pretendida, da visão que por mais
de meio século, foi geradora do chamado pensamento geopolítico das Forças
Armadas. Até a quinta, 19 de maio. Desde de aí, as Forças Armadas estão em
contradição, entre sua premissa orientadora e, de outra parte, a tolerância, ou
apoio, ou comprometimento com ação oposta, cometida pelo ex-capitão com o qual
se identificam”.
Apoiar
e sustentar as ambições continuístas de Jair Bolsonaro, de agora em diante,
mais que o pendor autoritário, significa para as Forças Armadas um crime de
traição à Pátria. Assim, escancarado, aberto, desqualificante. A uns poucos,
talvez, reste a atenuante de serem apenas ignorantes e otários, em lugar de
acanalhados.
Esta
é a diferença perigosa: Ford, Khan e Ludwig não tinham a cumplicidade da
maioria do Exército Brasileiro e mosquitos e onças deram cabo dos seus
negócios. A Musk, que leva no grito e no mito, nem podem picar ou morder, a 500
km de altitude, em pleno espaço.
Tijolaço.
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