domingo, 9 de maio de 2021

O MODUS OPERANDI DO “TRATORÃO” DO JAIR, POR FERNANDO BRITO

A mídia é pródiga em aplicar logo um “ão” para definir o que crê serem escândalos de corrupção governamental.

Vamos ver se, com a manchete de hoje do Estadão, dando conta de uma verba camuflada no Orçamento, de R$ 3 bilhões, que está sendo distribuída pelo governo Bolsonaro a deputados e senadores segundo o critério de premiar o “governismo” dos parlamentares e usada na compra superfaturada de tratores e outras máquinas, criará o termo “Tratorão” para definir o método corrupto de obter maioria no Congresso.

“Só ganha quem apoia o Planalto”, escreve o jornal para definir como são distribuídos os recursos milionários das chamadas “emendas do relator”, que são partilhadas entre os aliados fiéis e viram peças de campanha eleitoral dos parlamentares dóceis a Bolsonaro.

O agravante do manejo sem controle de dinheiro público aparece num conjunto de 101 ofícios enviados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional e órgãos vinculados para indicar como eles preferiam usar os recursos.

O detalhe é que, oficialmente, o próprio Bolsonaro vetou a tentativa do Congresso de impor o destino de um novo tipo de emenda (chamada RP9), criado no seu governo, por “contrariar o interesse público” e estimular o “personalismo”. Foi exatamente isso o que ele passou a ignorar após seu casamento com o Centrão.
Os ofícios, obtidos pelo Estadão ao longo dos últimos três meses, mostram que esse esquema também atropela leis orçamentárias, pois são os ministros que deveriam definir onde aplicar os recursos. Mais do que isso, dificulta o controle do Tribunal de Contas da União (TCU) e da sociedade. Os acordos para direcionar o dinheiro não são públicos, e a distribuição dos valores não é equânime entre os congressistas, atendendo a critérios eleitorais. Só ganha quem apoia o governo.

 Parte das indicações de parlamentares vai para compra de tratores com preços até 259% acima dos valores de referência.

A utilização favorecida do dinheiro é escandalosamente flagrante e sua destinação a lugares milhares de quilômetro de suas bases eleitorais aumenta a suspeita de que os valores possam gerar “contrapartidas” pessoais aos parlamentares:

O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), por exemplo, determinou a aplicação de R$ 277 milhões de verbas públicas só do Ministério do Desenvolvimento Regional, assumindo a função do ministro Rogério Marinho. Ele precisaria de 34 anos no Senado para conseguir indicar esse montante por meio da tradicional emenda parlamentar individual, que garante a cada congressista direcionar livremente R$ 8 milhões ao ano.
Ex-presidente do Senado, Alcolumbre destinou R$ 81 milhões apenas à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a estatal que controla, ao lado de outros políticos. (…)

Há situações até em que parlamentares enviaram milhões para compra de máquinas agrícolas para uma cidade a cerca de dois mil quilômetros de seus redutos eleitorais. É o caso dos deputados do Solidariedade Ottaci Nascimento (RR) e Bosco Saraiva (AM). Eles direcionaram R$ 4 milhões para Padre Bernardo (GO). Se a tabela do governo fosse considerada, a compra sairia por R$ 2,8 milhões.
Planilha secreta do governo obtida pelo Estadão revela que Alcolumbre também destinou R$ 10 milhões para obras e compras fora do seu Estado. Dois tratores vão para cidades no Paraná, a 2,6 mil quilômetros do Amapá. Sem questionar, o governo concordou em comprar as máquinas por R$ 500 mil, quando pelo preço de referência sairiam por R$ 200 mil.

Jair Bolsonaro adora desafiar a apontarem “um só ato de corrupção em seu governo”. Está aí um, o “tratorão” de R$ 3 bi, destes para ninguém “botar defeito”.

Tijolaço.

A VIDA DAS MÃES APÓS UM ANO DE PANDEMIA ENFRENTANDO SOBRECARGA DOMÉSTICA, DESEMPREGO E INSEGURANÇA

Um estudo da UFMS mostrou que quase 84% das mães sentiram maior sobrecarga em cuidar dos filhos durante a pandemia - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil.

Cuidar dos filhos, das tarefas domésticas, enfrentar o desemprego e um futuro incerto. Essa tem sido a vida de muitas mulheres brasileiras que neste domingo (9) irão comemorar o segundo Dia Das Mães em meio à maior crise sanitária do país.

No ano passado, em razão da data, o Brasil de Fato entrevistou algumas mães para entender quais foram os primeiros impactos sentidos após a chegada do vírus. Doze meses depois, estas mesmas mulheres declaram que a situação socioeconômica está ainda pior. 

Uma realidade confirmada por dados que abrangem o gênero feminino como um todo. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o coronavírus deixou mais da metade das brasileiras fora do mercado de trabalho, cerca de 8,5 milhões de pessoas.

A babá Bruna Mendonça, de 31 anos, entrou para essa estatística, mas, preocupada com as condições de sobrevivência de sua mãe e da filha de 5 anos, adaptou-se a uma nova e difícil rotina.

Quando conversou com a reportagem há um ano, ela já havia se mudado do Grajaú, onde vivia com sua família na periferia da zona sul de São Paulo, para morar com o namorado próximo a Raposo Tavares. 

A ideia era ficar mais próxima da casa dos patrões, no Morumbi, para que eles arcassem com o custo de corridas por aplicativos e garantissem um deslocamento com menor risco de contaminação pela covid-19. 

Mãe solo, deixou a pequena aos cuidados da avó com a mudança compulsória. Para sua surpresa, com o aprofundamento da crise econômica, teve sua rotina estremecida novamente.

“Eu fiquei desempregada bem na pandemia, porque tiveram problemas financeiros e me mandaram embora. Minha vida mudou de ponta cabeça. Percebi que na minha área estavam procurando pessoas que podiam dormir no serviço”, conta Bruna. 

“Trabalhei mais dois meses na casa de uma família que precisou, na emergência, e agora trabalho em Santana. Estou trabalhando de segunda a sexta, dormindo no serviço e vou para casa no fim de semana. Cuido de três crianças”, diz a mãe, que sente alívio por estar empregada, mas que enfrenta a saudade de segunda a sexta.

“O difícil mesmo é ficar longe da minha filha, só que eu já ficava. Eu preciso para manter ela. O ex-marido só ajuda quando quer. Para conseguir cuidar dela, me adaptei de novo. Estou pensando no futuro. Com essa epidemia, não sei como vai ser o dia de amanhã”, desabafa a babá. 

Bruna Mendonça Carvalho, de 30 anos, e a filha de 4 anos durante os encontros aos finais de semana / Arquivo Pessoal.

Quando chega o fim de semana, Bruna volta para o Grajaú, e, como diz, “sente o baque” tentando dar conta de todas as demandas - desde as compras no mercado ao ajudar no esforço escolar da filha, que está em fase de alfabetização e tenta superar o prejuízo das aulas presenciais suspensas.

A mãe de Bruna, Beatriz Mendonça, também lidou com todas as dificuldades da maternidade solo. Hoje, as duas se apoiam para conseguir superar os impactos da pandemia.

Ela é costureira e autônoma, sem renda fixa. Estava recebendo o auxílio emergencial ao longo do ano passado e produzindo máscaras de tecido para venda. Agora, é afetada pela queda brusca no valor do benefício e diminuição da demanda por máscaras. 

Ano passado ela recebia o valor de R$ 600, mas atualmente recebe apenas R$ 150.

“[O novo auxílio emergencial] É uma ajuda de custo que não supre nem o preço de uma cesta básica. É muito fácil chegar na televisão e falar que o auxílio não é aposentadoria. Todos nós sabemos disso, mas a pandemia não é culpa nossa”, diz, citando declaração do presidente Jair Bolsonaro em janeiro deste ano, quando negou a volta do auxílio.

“A pandemia está nesse ponto por culpa deles. De um ano para cá, as coisas só pioraram, nada melhorou. Continuamos pagando aluguel, água e luz cada vez mais cara. Esse presidente não faz nada pra ajudar, deveria baixar ao menos a alimentação, não cobrar tanto imposto. E a conta de luz aumentando... As coisas estão cada vez mais difíceis”, lamenta.

Bruna, sua mãe Beatriz e a pequena Brenda / Foto: Arquivo Pessoal.

TRABALHO NÃO REMUNERADO

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano passado, mulheres dedicam em média 18,5 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, na comparação com 10,3 horas semanais gastas nessas atividades pelos homens. 

Se as mulheres já dedicavam mais tempo às tarefas de cuidados do que os homens antes mesmo da pandemia, a mudança da dinâmica dos lares aprofundou as condições de desigualdade, como mostra o estudo Sem Parar - o trabalho e a vida das mulheres na pandemia, da Sempreviva Organização Feminista (SOF), publicado no ano passado.

O coletivo aponta que 50% das brasileiras passaram a cuidar de alguém na pandemia e 72% afirmaram que a necessidade de monitoramento e companhia aumentou. A pesquisa também evidenciou o racismo estrutural no país: 58% das mulheres desempregadas são negras.

De acordo com a SOF, “a organização do cuidado ancorada principalmente na exploração do trabalho de mulheres negras e no trabalho não remunerado das mulheres é um fracasso retumbante para a busca de redução das desigualdades antes e durante a pandemia do coronavírus.”

O estudo constatou ainda que cerca de 40% das mulheres afirmaram que a pandemia e a situação de isolamento social colocaram a sustentação da casa em risco.

Esse é o relato mais comumente ouvido por Miriam Hermógenes dos Santos, de 48 anos, que trabalha como secretária na Central de Movimentos Populares (CMP). Há um ano, quando conversava com a reportagem, a situação das famílias que recebiam doações do movimento já era delicada.

Um ano depois, ela conta que parcela considerável das famílias assistidas e sem renda foram despejadas. A queda no valor do auxílio emergencial e a manutenção do desemprego em alta acentuam ainda mais a vulnerabilidade dessas pessoas.

“É a mulher que sofre maior impacto. Só ver nos metrôs e nos trens, muitas mulheres com crianças pedindo ajuda… São as mulheres que têm que garantir o leite e o pão pros filhos”, afirma Miriam. 

Trabalhando e se entregando à militância, o dia a dia de Miriam está mais atribulado do que nunca. Além das tarefas do trabalho, ela lida com a preocupação constante com seus 4 filhos e 3 netos, e outros parentes. 

“Estamos nos desdobrando. A situação econômica e social do país se agravou demais. São muitas pessoas desempregadas na minha família, estamos tendo que nos juntar para ajudar os sobrinhos, que tiveram que ser acomodados na casa da minha mãe depois de perder emprego”, diz. 

Atualmente, vive somente com sua filha de 16 anos, a quem tenta ajudar, sem sucesso, a conseguir o primeiro emprego. Segundo ela, seus filhos mais velhos não tiveram tanta dificuldade para ingressar no mercado de trabalho como a encontrada hoje. 

Com unhas e dentes, Miriam enfrenta um cotidiano exaustivo misturando trabalho, militância, afazeres domésticos e a maternidade. Ainda que seus filhos sejam adultos, o  coração aperta diante do risco de contaminação pela covid-19.

Ano passado, a preocupação com seu filho que mora nos Estados Unidos a visitou todos os dias. “Graças a Deus ele já tomou as duas doses da vacina e continua trabalhando lá. Falava pra ele se cuidar, ele trabalha com fast food lá. Os daqui, tadinho, vão demorar para ser vacinados. Nem sei nem se eu consigo tomar”, critica.

Miriam e seus 4 filhos / Foto: Arquivo Pessoal.

NO LIMITE

Todo esse contexto de pressão acende um sinal vermelho para a saúde mental das trabalhadoras, e, novamente, das mães. Um estudo da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) mostrou que quase 84% delas sentiram maior sobrecarga em cuidar dos filhos durante a pandemia. 

Dentre as 822 mulheres entrevistadas, das quatro regiões do país, 25% apresentaram sintomas depressivos; 26,7% apresentaram sintomas de ansiedade; 22% de estresse e 39% apresentaram estresse pós-traumático.

HOME OFFICE

A sobrecarga não é apenas relacionada aos trabalhos domésticos ou para as mulheres que não tiveram a opção de cumprir o isolamento social. Mesmo aquelas que entraram em regime de teletrabalho também sofrem o ônus com a sobreposição de papéis sociais.

Bárbara Castro, pesquisadora da sociologia do trabalho e docente da Unicamp, comenta que boas condições para trabalhar não perpassam somente pela garantia de infraestrutura mas pelas condições de existir um ambiente propício para o trabalho, sem interrupções. Algo que é ainda mais difícil para o gênero feminino. Principalmente para as mães. 

"As mulheres, quando estão em casa, articulam trabalho e família o tempo inteiro, sobrepostos. A grande maioria delas não tem um espaço reservado e mesmo quando tem, as que possuem família, relatam terem suas rotinas interrompidas o tempo inteiro pelas demandas familiares, existe uma sobreposição", explica Castro.

Ela afirma que durante as pesquisas que tem realizado é comum que a maioria dos homens tenham um escritório ou outro espaço reservado, e que o relato de interrupções são menores ou inexistentes para eles. Exatamente por isso, os homens afirmam ser mais produtivos trabalhando em casa enquanto as mulheres sentem que rendem menos.

Sob condição de maior estresse em razão do acúmulo de tarefas de cuidado, seja da casa ou dos filhos, as mulheres realizam jornadas mais pesadas no trabalho remoto e no presencial.

De acordo com a pesquisa da SOF, 41% das mulheres que seguiram trabalhando durante a pandemia com manutenção de salários afirmaram trabalhar mais na quarentena.

Brasil de Fato.

sábado, 8 de maio de 2021

PARA PERMANECER NA ESPLANADA DE BOLSONARO DEVE SER USUÁRIO DE CLOROQUINA, POR FERNADO BRITO

Jair Bolsonaro não para de se superar nos “micos” a que submete o país.

Agora anuncia que a gente vai fazer um vídeo na semana, os 22 ministros, todos aqueles que tomaram hidroxicloroquina vão falar ‘eu tomei’.

Que espetáculo!

Vamos colocar os 22 (sic) ministros do Governo na frente do altar do Youtube, recitando: “em louvor ao Messias Bolsonaro, proclamo que tomei cloroquina, em nome do pai, do filho 01, 02, 03 e 04”.

Não é o Credo, é o cruz-credo.

Quem não gravar a confissão perde o lugar na Esplanada dos Ministérios, por não passar no “teste da farinha de cloroquina”?

Será que o Marcelo Queiroga vai gravar?

E o general Braga Neto?

Será que ele vai, também, convocar os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica para se submeterem a esta “profissão de fé” na cloroquina?

Será que já alcançamos o limite do ridículo ou Bolsonaro conseguirá imaginar alguma situação mais humilhante para seus servos fiéis?

Que vergonha, um bando de marmanjos, diversos deles generais ou altos oficiais das Forças Armadas se submetendo a isso, a ajoelhar a dignidade no milho da humilhação para agradar ao Jim Jones tropical.

Tijolaço.

XADREZ DE COMO BOLSONARO PODE TER CONVOCADO A POLÍCIA DO RIO PARA ENFRENTAR O STF, POR LUÍS NASSIF

Na coletiva, o comandante da força tarefa que executou 25 pessoas em Jacarezinho atribui a tragédia ao supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, ao impedir novas operações durante a pandemia, o STF – através de decisão do Ministro Luiz Edson Fachin – teria permitido às facções se armarem.

Na CNN, o principal porta-voz do bolsonarismo no jornalismo, Alexandre Garcia, repete os mesmos argumentos e as mesmas acusações ao Supremo.

Vamos juntar algumas peças:

PEÇA 1 – Bolsonaro e a Segurança do Rio de Janeiro

Desde o início de governo, Bolsonaro se imiscuiu na segurança do Rio de Janeiro. A seu pedido, em maio de 2020 o então Ministro da Justiça Sérgio Moro afastou o delegado Ricardo Saadi, alegando problemas de “produtividade”. Conferiu-se, depois, que, sob Saadi, a Superintendência do Rio ostentou os melhores índices de produtividade de todo o país.

Ao mesmo tempo, investiu contra a fiscalização da Receta Federal no porto de Itaguaí, no Rio, porta de entrada do contrabando de armas no país.

Em Xadrez dos Bolsonaro e da expansão das milícias para Angra, relatamos os movimentos dúbios dos Bolsonaro em relação às milícias.

PEÇA 2 – os Secretário de Castro e as milícias

Ao iniciar sua política de genocídio, o ex-governador Wilson Witzel desmontou a Secretaria de Segurança e transformou a Polícia Civil e a Militar em Secretarias. Ou seja, sem nenhuma intermediação política e definindo, de modo próprio, as ações de repressão.

Com a queda de Witzel, o sucessor Cláudio Castro nomeou os novos Secretários em acordo direto com Jair Bolsonaro. Para a Secretaria de Polícia Civil foi nomeado o Delegado de Polícia Allan Turnowski; para a Secretaria de Polícia Militar, o coronel da PM Rogério Figueredo de Lacerda (Figueredo é sem i mesmo).

Em depoimento ao Ministério Público Federal, o miliciano Orlando Oliveira Araújo, conhecido como Orlando Curicica, denunciou ambos como ligados às milícias, de acordo com reportagem da Revista Piauí de julho de 2020.

Segundo a revista,

·      O secretário da Polícia Militar, coronel Rogério Figueredo de Lacerda, ganhava um mensalão do próprio Orlando Curicica quando comandava o 18º Batalhão da PM em Jacarepaguá. Na época, Figueredo de Lacerda recorria à ajuda de milicianos para combater o tráfico na área.

·      Allan Turnowski, segundo na hierarquia da Polícia Civil, recebeu propina do bicheiro Rogério Andrade.

·      O secretário da Polícia Civil, Marcus Vinicius Braga, que deixou o cargo no final de maio, pediu ajuda da milícia para prender traficantes na Zona Oeste.

Não se tratava de caça pequena. Preso por envolvimento com milícias, Curicica foi o primeiro a delatar o Escritório do Crime, do qual fazia parte.  

Turnowski tem histórico de combate aos que combatem as milícias.

Em 2011 foi nomeado para o Departamento Geral de Polícia da Capital. Na mesma ocasião, o chefe do Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado) era  delegado Cláudio Ferraz, com um amplo histórico de combate às milícias: chegou a prender 200 milicianos.

Em 2011 foi decretada pela Polícia Federal a Operação Guilhotina. Nela foi detido o delegado Carlos Oliveira, sub chefe da Polícia Civil e braço direito de Turnowski, acusado de vender armas para traficantes.

A reação de Turnowski foi atacar o delegado Cláudio Ferraz, e acusá-lo de corrupção. A “prova”, segundo ele, teria sido um inquérito que investigava supostos desvios no município de Rio das Ostras, que durou dois dias.  Com base nesse fato, Turnovski chegou a lacrar a Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado)

Logo depois, Turnowski foi indiciado pela Polícia Federal, acusado de ter alertado seu subordinado sobre Operação Guilhotina. Na época ele negou a acusação, mas foi exonerado do Departamento Geral de Polícia da Capital. 

PEÇA 3 – reunião com Bolsonaro

No dia 5 de maio, Bolsonaro iniciou o dia com ataques ao Supremo. Deu declarações de enfrentamento nítido ao Supremo, sustentando que editaria uma medida contra os governadores que “não vai ser contestado por nenhum tribunal, porque será cumprido”. 

A bazófia foi repercutida pela mídia e e interpretada como uma auto-defesa em relação à CPI do Covid.

Na sequência, Bolsonaro rumou para o Rio de Janeiro e reuniu-se com o governador Cláudio Castro. Chegou no Palácio Laranjeiras às 16:45 e teve reunião a portas fechadas. Na saída do encontro, a imprensa foi informada de que a conversa foi sobre parceria entre o Estado e a União. Nada mais foi dito.

No dia seguinte, explode a Operação que massacrou 25 pessoas.

Na coletiva, o chefe da operação acusa diretamente o Supremo pela tragédia. Segundo ele, a decisão do Ministro Luiz Edson Fachin, de impedir operações durante a pandemia, permitiu o fortalecimento do tráfico, levando ao confronto.

Esse mesmo discurso seria repetido no dia seguinte pelo principal porta-voz de Bolsonaro, jornalista Alexandre Garcia.

PEÇA 4 – a narrativa provável

A hipótese mais provável é a seguinte:

1. O desastre na frente econômica e sanitária erodiram a popularidade e o poder político de Bolsonaro.

2. Bolsonaro tentou envolver as Forças Armadas e falhou. O ápice foi a demissão do Ministro da Defesa e a reação interna, que obrigou Bolsonaro a cumprir o regulamento da nomeação dos novos chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

3. Sem respaldo das FFAAs para o golpe, era óbvio que partiria para a radicalização.

4. Com a ordem para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, autorizasse a abertura da CPI do Covid, o Supremo torna-se seu alvo preferencial.

5. Não tendo condições de afrontar o STF pessoalmente, Bolsonaro recorre ao governador Castro para o enfrentamento. Basta pegar uma investigação em andamento e, a partir dela, promover o massacre, tendo no comando da segurança do Rio dois secretários identificados com o bolsonarismo e suspeitos de envolvimento com as milícias.

A operação afronta diretamente decisão do Supremo.

PEÇA 5 – o Brasil contra o crime

Como o STF e as instituições reagirão à rebelião das milícias fluminenses, eis a questão.

Houvesse um Ministro como Alexandre de Moraes à frente, certamente teria sido ordenada a demissão imediata do Secretário da Polícia Civil.

Luz Edson Fachin não dispõe da mesma têmpera. Jogou o caso para plenário. Mas, se não adotar uma atitude drástica contra a rebelião criminosa da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a autoridade do Supremo estará comprometida.

GGN

sexta-feira, 7 de maio de 2021

SE BOLSONARO PUDESSE, QUEIROGA SERIA O PRÓXIMO EX-MINISTRO DA PASTA, POR FERNANDO BRITO

Frouxo, falso, escorregadio, contraditório, omisso, pusilânime e outros adjetivos inomináveis.

Nem esta vasta lista descreve bem o comportamento – talvez mais o caráter – o ministro da Saúde Marcelo Queiroga.

Não sabe quantas vacinas tem, acha que a China gosta de ser xingada por Bolsonaro e que “união nacional” evita a transmissão do vírus.

Nem na sua casa alguém acredita que, com um ano e dois meses de pandemia, ele não saiba dizer se deve ou não prescrever cloroquina a quem tenha sido infectado pelo vírus. Ou que possa falar em “isolamento social” sem adotar medidas restritivas à circulação de pessoas.

Aliás deve ser horroroso chegar em casa e ver no rosto dos familiares o ar de piedade, em lugar do de orgulho.

Quando você tem de dar muitas explicações em casa, costumo dizer que a situação está bem ruim.

Mas seria pior sair dali e ter de encontrar-se com Bolsonaro e enfrentar o ar de reprovação do presidente.

Porque também Bolsonaro experimentou uma enorme decepção com um ministro que não teve coragem de defendê-lo, nem na cloroquina nem na oposição a medidas sanitárias de Estados e Municípios.

Aliás, é bom que o tal protocolo do Ministério da Saúde que Queiroga prometeu não saia, porque se sair sem recomendar cloroquina será uma punhalada no chefe.

A favor de Queiroga, só há o fato de não haver na praça muita gente que possa atender melhor ao papel que Bolsonaro espere possa ser desempenhado por um ministro da Saúde um governo da morte.

O último que quis encarnar a função está aí, correndo como um rato que deseja escapar pelos cantos.

Tijolaço.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

OPERAÇÃO POLICIAL EM JACAREZINHO AFRONTA STF E É A MAIS LETAL DA HISTÓRIA DO RIO

Tiroteio em Jacarezinho teve início ainda durante a manhã desta quinta (6), quando moradores se deslocavam para o trabalho. Balas atingiram passageiros no metrô. Comunidade denuncia execuções e violações por parte da polícia.

Organizações e as comissões de Direitos Humanos da Alerj e da OAB-RJ conseguiram acesso a seis casas e os sinais são de arrombamento, com civis mortos e sem marcas de troca de tiros. "Foi execução".

A Polícia Civil deu início a uma ação nesta quinta-feira (6) na comunidade do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, que já é considerada a operação mais letal da história da cidade. Oficialmente, ao menos 25 pessoas morreram e outras quatro ficaram feridas, segundo a corporação. A ação ocorreu em violação a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe operações policiais nas favelas e periferias do Rio de Janeiro, a

Entre as vítimas, estão o policial civil André Leonardo de Mello Frias, morto com um tiro na cabeça, e 24 moradores, que a polícia diz serem “suspeitos”, mas não informa como chegou a essa informação ou em que situação elas foram assassinadas. Outros dois policiais também foram feridos com tiros na perna e de raspão no braço. A operação em Jacarezinho começou ainda durante a manhã de hoje, quando moradores deixavam suas casas a caminho do trabalho. Os tiros atingiram dois passageiros que estavam dentro de uma composição do metrô na estação Triagem. 

Movimentos sociais e moradores denunciam que o número de vítimas, no entanto, pode ser ainda maior do que o registrado oficialmente. De acordo com informações do coletivo A Voz das Comunidades, já são mais de seis horas da operação com o pretexto de prender traficantes. Mas relatos de moradores apontam que policiais invadiram casas, agrediram e confiscaram celulares da população local. Imagens da operação também mostram um helicóptero da Polícia Civil com dois atiradores armados sobrevoando a comunidade nas primeiras horas da ação. 

EXECUÇÃO

Desde o ano passado, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como a ADPF das Favelas, referendada pelo STF, não só limita operações policiais nas favelas e periferias do Rio para casos excepcionais, como também proíbe o uso de helicóptero por atiradores de elite enquanto perdurar a pandemia de covid-19. Por volta das 14h, as Comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), e a Defensoria Pública e o Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) entraram institucionalmente na comunidade para acompanhar a operação ao lado da população que protestava por justiça.

No local, os representantes flagraram uma série de violações. Pelo twitter, o advogado Joel Luiz Costa, co-fundador e coordenador do IDPN divulgou imagens que mostram muitos projéteis e sangue espalhados pelo chão das ruas e casas que foram invadidas por criminosos e policiais. Em um dos vídeos, uma mãe denuncia que o filho foi executado pela polícia, “que já chegou atirando”. “Eles apontaram o fuzil para mim, falando que eu tinha que morrer só porque eu fui perguntar onde o corpo do meu filho estava”, contou. Segundo Costa, o grupo conseguiu acesso a seis casas e os sinais são de arrombamento, com civis mortos e sem marcas de troca de tiros. “Foi execução”. “Dói na alma vê um cenário de guerra dentro da sua própria favela, sabe. É cruel”, escreveu o advogado. Vídeo AQUI.

JACAREZINHO, CHACINA MAIS LETAL 

Em outra imagem, há ainda o corpo de um jovem negro ensanguentado em cima de uma cadeira de plástico com um dos dedos na boca. A deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ) afirma ter recebido uma denúncia de que esse morador foi executado pela polícia, que teria o colocado dessa forma vexatória “para a população ver”. “Isso é barbárie! Não há palavras para descrever essa situação. Respeitem a favela e a decisão do STF!”, contestou. 

Em paralelo, organizações da sociedade civil e de favelas estão promovendo um tuitaço para denunciar a chacina. “Não tem outro nome”, ressaltou o Instituto Marielle Franco. “Essa guerra sem fim, e sem vencedor, só gera mortes e são sempre os mesmos que morrem. Todos pobres, pretos e favelados”, lamentou a entidade. 

A última operação policial mais letal em comunidades no Rio também descumpriu a decisão do STF em 15 de outubro do ano passado. Na ocasião, 12 pessoas, incluindo um ex-policial militar, foram mortas na Vila Ibirapitanga, no Itaguaí. Cinco meses antes, em 15 de maio, uma ação da polícia também matou 13 moradores do Complexo do Alemão, na zona Norte, interrompendo uma ação de solidariedade. Antes delas, 13 pessoas também foram assassinadas pela PM, no episódio que marcou o dia 8 de fevereiro de 2019 como o massacre no Morro da Fallet-Fogueteiros, no centro da cidade. Dados do laboratório Fogo Cruzado indicam ainda a chacina do Jacarezinho entra para a história como a maior desde 2016. Veja o vídeo AQUI

RETRATO DO FRACASSO

Para a deputada Renata Souza (Psol-RJ) esse “é mais um retrato bárbaro do governo do Rio”, que há poucos dias definiu Cláudio Castro (PSC) como o chefe do Executivo, após o impeachment de Wilson Witzel (PSC). “Não garantiu vacina nem comida, mas aterroriza a favela com tiros. Política de morte. Já são mais de 415 mil pessoas mortas pela covid no Brasil, mais de 45 mil pessoas mortas só no Rio. Agora, mais 25 (mortos) com tiros no Jacarezinho”. 

Nas primeiras horas da operação, a Polícia Civil justificava que a ação visava cumprir 26 mandados de prisão expedidos pela Justiça. A corporação alegava ter descoberto que traficantes estavam recrutando adolescentes de 12 anos para a linha de frente do comércio ilegal de drogas na comunidade.  Os movimentos sociais observam, no entanto, que o modo de atuar do Estado, apostando no confronto e na violência, não reduzem a criminalidade. “Entraram no Jacarezinho, mataram 25 pessoas ou mais, e isso vai acabar com o tráfico de drogas?”, questiona o advogado Joel Luiz Costa.

Rede Brasil Atual.

BOLSONARO É O “MALANDRO AGULHA” ACHA QUE TODO MUNDO É “OTÁRIO”, POR FERNANDO BRITO

Há um ano, escrevi aqui que Jair Bolsonaro era um “malandro agulha”(gíria carioca dos anos 70 para os que só “deixam furo”), para designar o cara que se acha muito esperto, que todos os outros são “otários” e que sempre vai “se dar bem”.

Ontem à noite, depois de receber no aeroporto um cidadão brasileiro, ex-fuzileiro naval, preso e condenado na Rússia por transportar um medicamento opióide destinado a um jogador de futebol, Jair Bolsonaro “mandou” a agulhada de malandro, para dizer que não havia, mais cedo, criticado a China, porque não havia dito o nome do país o qual insinuava estar fazendo “guerra química” e enriquecendo à custa da pandemia de Covid-19.

“Vocês é que interpretaram, disse, culpando a imprensa por “muita maldade de tentar um atrito com um país tão importante para nós”.

Só um sujeito muito imbecil acha que isso pode “colar”, ainda mais em cima dos chineses que obviamente não são, como Bolsonaro pensa (desculpem o emprego deste verbo), bobos.

E, como não são idiotas, como nosso presidente, não passam recibo e devem ter alguma expressão em mandarim para definir a “sua batata está assando” para Bolsonaro.

Assista a malandragem aí abaixo, no captada pelo implacável Sam Pancher. Veja o vídeo AQUI.

Tijolaço.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

O RISCO PAÍS E OS MOVIMENTOS DE CAPITAIS, POR LUIS NASSIF

O Instituto Novo Pensamento Econômico desenvolveu uma metodologia inovadora para avaliar a percepção de risco. 

Shutterstock: Brazil moneybox

À medida em que aumentam as bolhas pelo mundo, aumenta a preocupação com contágios financeiros. Principalmente após os problemas nas cadeias globais de produção e no ritmo diferenciado de recuperação das economias nacionais. Por esse conjunto de fatores, quantificar risco-país continua sendo um desafio.

O Instituto Novo Pensamento Econômico desenvolveu uma metodologia inovadora para avaliar a percepção de risco. Aplicou um processamento de linguagem natural às transcrições de teleconferências de empresas de capital aberto em todo mundo. A partir daí, construiu um índice de riscos e oportunidades em cada uma das 45 principais economias do mundo.

Segundo o estudo, a metodologia permite separar riscos globais daqueles específicos de países. De um lado, permite vincular o risco-país – confirmado percebido por executivos e investidores globais – aos fluxos de capital, preços de de ativos e decisões em nível de empresa. De outro lado, a metodologia permite testar diretamente a natureza do contágio entre o risco do país estrangeiros e as decisões de investimento e emprego no nível da empresa doméstica. Com tais análises, pode-se medir, decompor e diagnosticar picos repentinos no risco-país.

A partir daí, o estudo chega a algumas conclusões, algumas óbvias:

1.   Países vistos como mais arriscados pelos investidores sofrem queda nos preços dos ativos, especialmente nos preços e na volatilidade das ações..

2.   Risco elevado está associado a spreads de CDS (tipo de swap para amenizar riscos de crédito entre ativos) e rendimentos de títulos elevados, especialmente em mercados emergentes.

3.   Há uma relação direta entre risco e fluxo de capital global. Aumentando o risco-país há retirada de capital de investidores estrangeiros.

Os estudos constatam que os movimentos dos fluxos globais de capital dependem de um fator específico de país – o chamado risco-país. O que influi nesse movimento de capitais e de spreads de créditos soberanos é a percepção das empresas estrangeiras, e não a das domésticas

O risco-país elevado está associado a reduções no investimento e no emprego das empresas sediadas no país. Mas há efeitos não homogêneos na maneira como os eventos externos impactam resultados da companhia. No entanto, o “contágio” (denominação do transbordamento dos efeitos do risco país para os resultados da empresa) não são identificados pelas relações cliente-fornecedor ou pelos investimentos externos observáveis da empresa.

O trabalho analisou três eventos de impacto global: a crise financeira grega (2010-2012), o golpe contra Erdogan (2016), o desastre nuclear de Fukushima (2011). 

A crise grega se transmitiu predominantemente em outros países da União Europeia; o golpe turco afetou empresas russas e italianas; Fukushima afetou produtores australianos de urânio à fabricantes franceses de componentes, além de segurados sediadas nas Bermudas e Hong Kong.

Finalmente, o trabalho utilizou as medidas de risco-país e risco global para identificar conexões entre risco global e taxas de câmbio. E constata que, em períodos de turbulência global, há valorização imediata do dólar americano, euro e iene japonês.

GGN.

O CASTIGO A UM HIPÓCRITA, POR FERNANDO BRITO

Listei, ontem à noite, o rosário de derrotas sofridas por Jair Bolsonaro durante a terça-feira.

Pouco tempo depois de escrever, porém, viria mais uma e, talvez, a de maior repercussão fora dos círculos das pessoas que não acompanham a política.

Provavelmente por sugestão de alguém de sua trupe, o presidente resolveu publicar nas redes uma mensagem de condolências pela morte do ator Paulo Gustavo Monteiro de Barros, gesto de humanidade que não teve em relação a ninguém, nem mesmo a pessoas que lhe foram próximas.

O resultado é uma impressionante avalanche de xingamentos e desaforos diante da hipocrisia presidencial.

Desgraçado, verme, hipócrita, assassino e “vai tomar…” são só alguns dos impropérios repetidos centenas de vezes.

Belo castigo a um oportunista.

Bolsonaro é um tipo reles, daqueles que nem mesmo consegue-se odiar, porque o nojo é ato que não sobra espaço para ódio.

Tjolaço.

terça-feira, 4 de maio de 2021

O MONSTRO DO SOFRIMENTO CARREGA O MEDO DA ESPERANÇA, POR FERNANDO BRITO

Não foi o “dedo do Duda (Mendonça)”, nem a mão de João Santana.

Claro que um bom suporte publicitário ajuda, mas não há publicidade boa, com efeito duradouro, se ela não traduz o benefício que o público tem com esta ou aquela escolha, e não há diferença da política com o “consumo” quando a realidade contraria o discurso.

Venderam-se Sergio Moro e Jair Bolsonaro como sabões em pó, que “lavariam”, e a jato, o Brasil e fariam dele um país “limpinho e cheiroso”. De fato, porém, cinco anos depois, o Brasil é este mar de sofrimentos e dor que se observa, que veio, aí sim a jato, com a explosão de uma pandemia que aguçou o empobrecimento da população e expôs, em cada rua e estudo estatístico, o drama de devolver, à calçada e à miséria milhões de brasileiros.

E a outros milhões, muitos mais, o medo tanto de desempregarem-se e decaírem, como – e sobretudo – perderem a ideia de futuro, de prosperidade e de viverem numa sociedade onde a perda da dignidade, em todos os sentidos, seja um destino fatal, do qual não se poderia fugir.

Jair Bolsonaro choca a todos, é certo, por seus arroubos autoritários, pela estupidez grosseira e primária, pelo golpismo mal-disfarçado. Mas o “Ele, não”, importante e inevitável, é apenas o lado da rejeição e rejeição apenas não basta.

O que o mais fragiliza Bolsonaro é a realidade de dor e sofrimento que ele, para além disso, impõe à população.

Hoje a Folha detecta, entre os políticos do “Centrão” que virou – mais que as falanges sectárias – a base de apoio político do atual presidente, o temor de que “o eleitorado das classes C, D e E se torne mais receptivo a um discurso encampado pelo campo da​ esquerda, sobretudo caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em cujo governo foi criado o Bolsa Família, se lance candidato ao Palácio do Planalto”.

E que, por isso, estariam pressionando Jair Bolsonaro a rever e ampliar os auxílios sociais, seja o emergencial ou o Bolsa-Família.

Não é por acaso que Lula declara ser este o objetivo de sua primeira incursão aos meios políticos em Brasília, aos partidos e aos políticos.

E não foi por outra razão que o ex-presidente nucleou seu discurso, no 1° de maio, na palavra “Esperança” e deu tanta ênfase ao quase único trabalho com que podem aspirar os jovens das cidades brasileiras, o de entregadores de aplicativos, sem direito, sem segurança, sem futuro.

ESPERANÇAS AOS DESESPERADOS.

Esperança que conduz a acreditar e acreditar é o fundamento de qualquer escolha.

Sim, podem existir escolhas pela “novidade”, pelo discurso simplista do “novo”, epíteto que se pode dar a qualquer porcaria. Mas isso é impulso e impulso, várias vezes, é o prelúdio do arrependimento.

Não foi, para Lula, o dedo do Duda nem a mão do Santana que o levaram a representar esta esperança, da qual têm tanto medo.

Como não serão eles que, à medida em que se aproximarem as eleições vão conduzir sua campanha para um novo “retrato do velho, outra vez”, agora em algo que vai ser mais próximo de um “vai na certa, vai de Lula”.

Tijolaço.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

GUEDES, UM MINISTRO À DERIVA E A CPI DO FIM DO MUNDO, POR LUIS NASSIF

Seu mérito maior era o de vendedor, o de convencer investidores - e fundos de pensão públicos - a investir em projetos com promessas que dificilmente se realizavam.

A entrevista de Paulo Guedes a O Globo é a comprovação factual da perda de rumo do Ministro da Economia, em plena eclosão da crise.

Guedes perdeu contato com a realidade. A entrevista é um amontoado de fake news, atropelando números conhecidos.

Alguns exemplos de fakenews, já descritos em coluna de ontem:

       1. “Peguei uma inflação alta e entregarei uma inflação mais baixa”.

Em janeiro de 2019, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) anual do IBGE estava em 3,78%. Atualmente, está em 6,10%. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) da Fundação Getúlio Vargas, foi de 7,54% em 2018. Em 2020 foi de 23,14%¨. Este ano, até abril acumula variação de 9,89%;

2. Peguei o país crescendo 1% e o entregarei crescendo 3%”.

O PIB de 2018 foi de 1,12%. O de 2020, -4,1%.2.

3. “Peguei o país com 12 milhões de desempregados e o entregarei com 10”.

O desemprego estava em 12,4% em dezembro de 2018. E em 14,4% em fevereiro de 2021.

4. “É uma oportunidade. Ele é a vítima da nossa legislação trabalhista. Quando você bota lá o salário mínimo, um rapaz filho de uma classe média, que estudou em uma boa universidade, fala duas línguas, ele consegue emprego com salário mínimo.”.

A maior inovação teórica das últimas décadas: o salário mínimo se transformou em salário máximo. E destruição do emprego formal aumenta salários.

5. A segunda medida, estamos chamando de Bônus de Inclusão Produtiva (BIP). Da mesma forma que se dá R$ 200 para uma pessoa que está inabilitada receber o Bolsa Família, por que não poderia dar R$ 200 ou R$ 300 para um jovem nem-nem? Ele nem é estudante nem tem emprego. Ou seja, é um dos invisíveis. Agora, esse jovem vai ter que bater ponto e vai ser treinado para o mercado de trabalho.

Esse programa existe no papel há mais de década.

6. “O maior exemplo de compromisso com a saúde é que eu falei que tem que criar voucher. Acho natural que, com as novas tecnologias, as pessoas queiram viver 100 anos. O grande desafio é como ajudaremos nesse sentido as camadas mais frágeis. Por que um sujeito rico se interna no (hospital) Albert Einstein e o pobre tem que ficar numa fila do SUS durante dez dias? Se o pobre tiver um voucher e não tiver vaga no SUS, ele vai na rede privada. São soluções privadas efetivas para problemas públicos gravíssimos”.

O dia em que um voucher permitir a um pobre se internar no Albert Einstein, nem todo o orçamento do país cobrirá os gastos com saúde. Guedes é mentiroso compulsivo, porque sabe disso. A vantagem do SUS é a universalização a um custo baixo.

A entrevista é relevante pelo lado oposto, ao expor um Ministro que perdeu totalmente pé da realidade. No mercado, Guedes ficou conhecido por algumas características.

Uma delas, a incapacidade de comandar equipes maiores. Perdia-se no comando de grupos pequenos de operadores, trabalhando em cima de um mesmo universo de informações.

O segundo, a dificuldade em analisar comportamento de ativos. Era conhecido por ser um perdedor.

Seu mérito maior era o de vendedor, o de convencer investidores – e fundos de pensão públicos – a investir em projetos com promessas que dificilmente se realizavam.

No governo, as pirações de Jair Bolsonaro colocaram sob o comando de Guedes vários ministérios reunidos em um único super-ministério. Ministério fundamentais, como o do Planejamento, Indústria e Comércio. Sem a menor visão de conjunto da economia, Guedes permitiu que o câmbio explodisse, os produtos comercializáveis inflassem a inflação interna, a falta de limites para as exportações criasse gargalos em inúmeras cadeias produtivas. Sua resistência em melhorar a renda emergencial ajudaram a aprofundar não apenas a crise social, a fome, mas a derrubar ainda mais a economia.

A falta de filtros nas declarações e um individualismo exacerbado comprometeram irremediavelmente as relações com o Congresso, submetendo o orçamento a uma carnificina.

Essa desmoralização final de Paulo Guedes ocorre ao mesmo tempo em que a CPI da Covid-19 promete ir a fundo para identificar responsáveis pela morte de mais de 400 mil brasileiros. Trata-se da CPI mais óbvia já proposta, pois sabe-se, com abundância de provas em áudios e vídeos, da responsabilidade central de Bolsonaro. O trabalho da CPI será apenas a de sistematizar provas já existentes.

Acuado, Bolsonaro recorrerá a alguns movimentos óbvios.

O primeiro deles, já em andamento, consiste em radicalizar a truculência das suas milícias, policiais civis e militares da base. Aparentemente, perdeu a condição de um golpe com as Forças Armadas. Na outra ponta, acenará com promessas não críveis de retomar as tais reformas. Ao mesmo tempo, Lula já começou sua maratona de engajamento de políticos e empresários na grande frente que está sendo montada visando as eleições de 2022.

Há um conjunto de possibilidades pela frente:

1. Com Bolsonaro se habilitando às eleições de 2022, Lula será o líder inconteste da frente ampla contra a barbárie.

2. Se houver um enfraquecimento substancial de Bolsonaro, a mídia retomará os ataques contra Lula, ressuscitando o anti-petismo. É por aí que vem a aposta de Ciro Gomes um sujeito – como se diz em Minas Gerais – sabido, porém não esperto.

3. Não descarte a possibilidade dos militares atraídos por Bolsonaro tentarem viabilizar o vice-presidente Hamilton Mourão, com escassas possibilidades de sucesso.

GGN.