Não
foi o “dedo do Duda (Mendonça)”, nem a mão de João Santana.
Claro
que um bom suporte publicitário ajuda, mas não há publicidade boa, com efeito
duradouro, se ela não traduz o benefício que o público tem com esta ou aquela
escolha, e não há diferença da política com o “consumo” quando a realidade
contraria o discurso.
Venderam-se
Sergio Moro e Jair Bolsonaro como sabões em pó, que “lavariam”, e a jato, o
Brasil e fariam dele um país “limpinho e cheiroso”. De fato, porém, cinco anos
depois, o Brasil é este mar de sofrimentos e dor que se observa, que veio, aí
sim a jato, com a explosão de uma pandemia que aguçou o empobrecimento da
população e expôs, em cada rua e estudo estatístico, o drama de devolver, à
calçada e à miséria milhões de brasileiros.
E
a outros milhões, muitos mais, o medo tanto de desempregarem-se e decaírem,
como – e sobretudo – perderem a ideia de futuro, de prosperidade e de viverem
numa sociedade onde a perda da dignidade, em todos os sentidos, seja um destino
fatal, do qual não se poderia fugir.
Jair
Bolsonaro choca a todos, é certo, por seus arroubos autoritários, pela
estupidez grosseira e primária, pelo golpismo mal-disfarçado. Mas o “Ele, não”,
importante e inevitável, é apenas o lado da rejeição e rejeição apenas não
basta.
O
que o mais fragiliza Bolsonaro é a realidade de dor e sofrimento que ele, para
além disso, impõe à população.
Hoje
a Folha detecta, entre os políticos do “Centrão” que
virou – mais que as falanges sectárias – a base de apoio político do atual
presidente, o temor de que “o eleitorado das classes C, D e E se torne mais
receptivo a um discurso encampado pelo campo da esquerda, sobretudo caso o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em cujo governo foi criado o
Bolsa Família, se lance candidato ao Palácio do Planalto”.
E
que, por isso, estariam pressionando Jair Bolsonaro a rever e ampliar os
auxílios sociais, seja o emergencial ou o Bolsa-Família.
Não
é por acaso que Lula declara ser este o objetivo de sua primeira incursão aos
meios políticos em Brasília, aos partidos e aos políticos.
E
não foi por outra razão que o ex-presidente nucleou seu discurso, no 1° de
maio, na palavra “Esperança” e deu tanta ênfase ao quase único trabalho com que
podem aspirar os jovens das cidades brasileiras, o de entregadores de
aplicativos, sem direito, sem segurança, sem futuro.
ESPERANÇAS
AOS DESESPERADOS.
Esperança
que conduz a acreditar e acreditar é o fundamento de qualquer escolha.
Sim,
podem existir escolhas pela “novidade”, pelo discurso simplista do “novo”,
epíteto que se pode dar a qualquer porcaria. Mas isso é impulso e impulso,
várias vezes, é o prelúdio do arrependimento.
Não
foi, para Lula, o dedo do Duda nem a mão do Santana que o levaram a representar
esta esperança, da qual têm tanto medo.
Como
não serão eles que, à medida em que se aproximarem as eleições vão conduzir sua
campanha para um novo “retrato do velho, outra vez”, agora em algo que vai ser
mais próximo de um “vai na certa, vai de Lula”.
Tijolaço.
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