Embora
todos saibam – ou deveriam saber – que nada é sincero em Jair Bolsonaro, seu
recuo covarde do que disse ainda na terça-feira, com a suas ameaças e valentia
nos cenários que ele próprio, durante 2 meses, cuidou meticulosamente de
construir, algumas lições pode-se tirar disso.
A
primeira é que alguma parte – melhor, porque era quase toda – da elite
brasileira se satisfaz com com uma pantomima democrática e só condenava
Bolsonaro pelos exageros aos quais, por alguns dias, ele abjurou na carta
escrita com a sombria assessoria de Michel Temer. O dinheiro reagiu
rapidamente, sempre acreditando que Bolsonaro, se não fizer marola, é a melhor
chance que tem em 2022.
Bolsonaro
comemorou na internet, mostrando que a elevação da bolsa e a queda do dólar é
fruto de sua atitude “conciliatória”, embora não fale que o inverso foi
consequência de seu ato de confronto aberto.
Segundo,
que não há força capaz de dissolver, antes das eleições, o núcleo duro
bolsonarista: na internet, eles já argumentam que a sensação de derrota é igual
à que tiveram com a saída de Sérgio Moro do governo e que o tempo teria
mostrado que, ao defenestrar o ex-juiz, Bolsonaro tinha razão. Ele próprio usou
o exemplo em suas redes, embora tenha perdido, não se sabe quanto e por quanto
tempo, senão adeptos, talvez fanáticos.
Não
é exatamente assim. Ali não era a valentia do “Mito” que estava em questão.
Agora, é. Portou-se como um destes valentões de botequim que faz tudo para que
o segurem e, cinco minutos depois, já está calminho como o “Seu Saraiva” do
velho programa humorístico.
Aliás,
o botequim de sua live, além das tradicionais insinuações de cunho sexual,
voltou a falar que a inflação, galopante, é consequência do “fique em casa” da
pandemia, algo completamente sem sentido. A crise hídrica vai ser combatida
subindo pela escada e gastando menos água ao fazer a barba. Sempre em uma
compreensão minúscula dos macroproblemas nacionais, não consegue alcançar uma
visão estratégica de Brasil.
Em
tudo, a miséria mental de um medíocre, de um incapaz, de alguém que, como bem
definiu ontem o ex-ministro Celso de Mello, que nunca esteve à altura do cargo.
Bolsonaro,
está claro, não recuará em seu desejo de permanecer no poder por intervenções
no processo eleitoral. Infelizmente, terá neste projeto novos lances, ousados
como o do Sete de Setembro e talvez não tão mal sucedidos.
Como
toda serpente, Bolsonaro recolhe-se para o golpe. E ele, não o voto, é sua
aposta para permanecer.
Tijolaço.