sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

LÁ VEM O BRASIL, DESCENDO A LADEIRA, POR FÁBIO DE OLIVEIRA RIBEIRO

As crenças que alimentam o regime Bolsonaro são risíveis. Entretanto, elas escondem o verdadeiro monstro que vai devorar o Brasil: a inexistência de segurança jurídica.
Um dos filhos dele quer reescrever os livros de história para ensinar que a Ditadura foi uma Democracia e que o golpe de 1964 foi um movimento cívico.
O problema é evidente. No contexto da CF/88, nenhum professor de história pode ser obrigado a utilizar de maneira acrítica livros escritos para doutrinar os alunos politicamente. Os novos livros desejados pelo clã Bolsonaro podem ser simplesmente ignorados ou, o que seria melhor, utilizados para demonstrar como a democracia brasileira está sendo destruída pelo governo. 
Bolsonaro disse que não vai repassar verbas para o nordeste. Em São Paulo, Doria Jr. imita o presidente e se recusa a fazer repasses para os prefeitos que não apoiaram a candidatura dele. Ambos podem deveriam perder seus cargos. Bolsonaro porque atenta contra a unidade da federação. Doria Jr. porque deixa de respeitar a autonomia dos municípios.
A que ponto chegamos. Nenhum dos dois deveria sequer imaginar que o dinheiro público pode ser utilizado para comprar vassalagem pessoal.
O processo de decomposição do sistema constitucional brasileiro começou no exato momento em que Luiz Fux condenou José Dirceu porque o réu não provou sua inocência subvertendo a literalidade do texto da CF/88. Desde então, tudo tem piorado. Dilma Rousseff foi deposta com base numa fraude não coibida pelo STF. Nos últimos 2 anos a constituição foi substituída pelo seu simulacro, a aparência de legalidade tomou o lugar da legalidade.
Juízes fazem política partidária ao proferir sentenças. A imprensa julga, condena e exige vassalagem do Judiciário (algo que ela geralmente consegue quando se trata de Lula). Em São Paulo, por exemplo, nem o MP nem o TJSP são capazes de desafiar o governador, pois ele passou a ser adorado como se fosse uma divindade em razão de garantir os salários acima do teto e os penduricalhos imorais dos juízes e procuradores.
Na fase atual nem mesmo uma aparência de legalidade poderá ser mantida. Tanto que Bolsonaro já cogita vender poços de petróleo sem fazer licitação. Ninguém mais no Brasil (exceto aqueles que pertencem ao 1% da população que pode recrutar e pagar milícias privadas) pode estar seguro de que tem direitos e de que eles serão respeitados pelo Estado juiz. As instituições judiciárias não estão funcionando como deveriam. Pior, é nesse contexto de absoluta insegurança que o presidente quer liberar o porte de armas de fogo. O resultado será trágico.
O guru do presidente é um astrólogo autodidata que se diz filósofo, que acredita que a terra é plana e desdenha a teoria da relatividade. Bolsonaro está sob influência política de um pastor que ganha a vida vomitando ódio na internet e que depois da eleição passou dar lições de ciência aos cientistas pelo Twitter. Nem mesmo o vazamento de um filme pornô amador foi capaz de impedir a vitória de Doria Jr. em São Paulo.
Descemos a ladeira. E continuaremos a desce-la, sem dúvida. Em breve veremos prefeitos se organizando para mandar matar governadores e presidentes sofrendo atentados por causa do seu terrorismo financeiro. Se Bolsonaro conseguir destruir o sistema educacional como ele pretende, daqui a 10 anos veremos homens bombas evangélicos explodindo seus corpos dentro dos Tribunais em represália contra decisões judiciais desautorizadas por pastores terroristas.
E já que estamos falando de terrorismo. Centenas de hospitais estão sendo fechados por falta de médicos. Se existissem grupos terroristas no Brasil, as capsulas de Césio dos aparelhos de Raio X existentes nesses hospitais já teriam sido roubadas. Dezenas de “Bombas Sujas” podem ser construídas em razão a omissão do desgoverno Bolsonaro. Nada mal para quem começou a carreira como terrorista.
Somente duas coisas são capazes de manter a paz, a coesão social e a civilização: o respeito à constituição (inclusive e principalmente pelos juízes) e; a responsabilização dos administradores públicos que ousem conspirar contra a sua aplicação. Caso contrário, a barbárie começará a produzir vítimas e os mais fortes não sofrerão menos.
GGN

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O HOMEM MEDÍOCRE E A ELITE BRASILEIRA, POR JORGE ALEXANDRE NEVES

A coluna de Eliane Brum, publicada no El País, intitulada “O homem mediano assume o poder”  traz uma análise muito interessante e profunda sobre as razões pelas quais o brasileiro mediano votou em Jair Bolsonaro para presidente da República (*). Eu gostaria, contudo, de levantar uma reflexão sobre as elites nacionais e seu apoio maciço a Bolsonaro. Por que tanto a plutocracia quanto boa parte das oligarquias regionais e, talvez mais interessante, a elite dos “bacharéis”, aderiram à candidatura e ao governo do capitão reformado?
Como disse Eliane Brum em seu artigo, a principal marca de Jair Bolsonaro é a mediocridade. Nunca se destacou em nada que fez na vida. Foi um militar absolutamente irrelevante, tendo saído para a reserva com uma das mais baixas patentes do oficialato. Como deputado federal por quase três décadas, sempre participou do chamado “baixo clero” da casa. Por que os donos do dinheiro, os donos do poder e os sábios de plantão decidiram apoiar alguém tão desprovido de virtudes? A figura mais medíocre a chegar à presidência da República, no Brasil. Acho que, como têm pontuado alguns (entre eles Mino Carta), as elites nacionais passaram por um forte processo de decadência cultural e de liderança, nas últimas décadas.
Há alguns anos atrás, realizamos na FAFICH/UFMG uma pesquisa com amostragem probabilística da população adulta da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Entre os temas pesquisados estava o dos gostos e práticas culturais. Assessorando a análise de dados de colegas professores e alunos que se dedicaram ao tema, me chamou a atenção que não havia uma clivagem cultural profunda entre os estratos socioeconômicos mais baixos e a elite. Nada parecido com o que Pierre Bourdieu encontrou na França dos anos 1970. No máximo, a elite parecia ter um gosto cultural mais “onívoro” (me parece que era o termo utilizado pelos especialistas) do que os membros das “classes populares”. Nossa elite econômica, política e cultural se mediocrizou e, assim como o homem mediano, não se choca ou sente desconforto com uma figura tosca e boçal como Jair Bolsonaro. O anti-intelectualismo contaminou praticamente toda a elite nacional, inclusive boa parte dos “bacharéis”. Paralelamente, viu-se essa elite perder capacidade de liderança e se afastar por completo de qualquer compromisso com um projeto de nação.
No caso da plutocracia, gosto de propor uma comparação entre a figura símbolo do empresariado nacional de hoje e do nosso passado recente. Durante todo o último quartel do século XX, Antônio Ermírio de Moraes foi o grande símbolo do empresariado nacional. Um típico “capitão da indústria”, líder inconteste e um pensador pragmático dos problemas do país e de projetos para sua superação. Figura austera, viveu toda sua vida profissional no país, com fortes laços sociais e políticos em seu meio. Hoje, o grande líder empresarial brasileiro é Jorge Paulo Lemann, uma figura quase que estranha ao Brasil. Com vínculos mais fortes com o setor financeiro do que com a economia real. Ambos estudaram nos EUA, mas ao contrário de Antônio Ermírio e seus inegáveis vínculos com o país, Lemann não vive no Brasil e parece realmente ver o país basicamente como um lugar para ganhar dinheiro (todo seu investimento em think tanks pode ser apenas voltado para o mesmo objetivo).
Se este é nosso grande líder empresarial hoje, o que dizer do restante. Durante as investigações do “joesleygate”, pudemos ver a vulgaridade de uma figura que está entre os grandes empreendedores do Brasil hoje. O mesmo pode-se ver em indivíduos que apoiaram fortemente a candidatura de Bolsonaro, como é o caso do empresário Luciano Hang, figura absolutamente tosca e brutalizada, que chegou ao ponto de coagir seus empregados a votar em seu candidato. A plutocracia nacional viu em Bolsonaro a chance de empurrar sua agenda de precarização e superexploração do trabalho. Como boa parte é do setor de varejo, só sua enorme limitação intelectual pode explicar não perceberem o quanto isso é uma faca de dois gumes. Mas, esse é um velho problema de ação coletiva conhecido por nós cientistas sociais.
Os “bacharéis”, por sua vez, de fato já não são os mesmos. Historicamente, se sentiam (e talvez ainda se sintam, em um profundo ataque de autoengano) com o “encargo de civilizar a nação”, como bem colocado por Luiz Felipe de Alencastro. Hoje, estão mais próximos de serem os maiores responsáveis pela interrupção de nosso incipiente processo civilizatório.
Os “bacharéis”, como os membros de todo o estamento burocrático e profissional, têm – assim como os plutocratas que estão pensando nos benefícios financeiros que podem extrair da precarização do trabalho – razões objetivas para apoiar Jair Bolsonaro. Talvez até razões ainda mais fortes. Como têm no status, na distinção, um fator fundamental de sua realização humana, da constituição de sua dignidade, têm razões bastante claras para fazerem uma opção tão conservadora. Francis Fukuyama, em seu livro “As origens da ordem política”, clarifica esse ponto de forma brilhantemente didática: “(...) só é possível ter status elevado se todos os outros têm status mais baixo (...) a luta por status tem soma zero, onde se um jogador ganha, o outro necessariamente perde” (p. 477). O estamento burocrático e profissional brasileiro passou a travar um conflito de status com os membros dos estratos socioeconômicos inferiores que jamais imaginou que precisaria enfrentar, até menos de duas décadas atrás.
O estamento se mostrou extremamente competente para ocupar espaços de poder no Estado. Ao estamento jurídico se soma agora a volta entusiasmada do estamento militar, tendo objetivos muito claros, como podemos ver esta semana, a partir de todos aqueles discursos sobre a necessidade de serem excluídos da reforma da previdência. Entram com tudo na guerra por mais e mais privilégios. Todavia, assim como seus atuais professores – os membros do estamento jurídico – estão, a exemplo da plutocracia, mergulhando em um problema de ação coletiva. Vão acabar matando a galinha dos ovos de ouro! 
(*) Não fiquei muito satisfeito com sua explicação para o caso específico das mulheres. Mas, isso seria assunto para outra coluna.
Do GGN

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

PROPOSTA DE GUEDES AMEAÇA PEQUENAS EMPRESAS

Tirso Meirelles. Foto: Sebrare/SP
Ainda em dezembro, antes de assumir a pasta na Economia, Paulo Guedes declarou em discurso na Federação das Indústria do Rio de Janeiro (Firjan) que irá reduzir o orçamento do Sistema S. 
"Como é que você pode cortar isso, cortar aquilo e não cortar o Sistema S? Tem que meter a faca no sistema S também", disse na ocasião. O Sistema S é como ficou conhecido o conjunto de nove entidades focadas no treinamento de microempreendedores e empresários de médios, pequenos negócios. O grupo inclui, por exemplo, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), SESI (Serviço Social da Indústria) e Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). 
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do Sebrae-SP, Tirso Meirelles prevê que o corte indicado pelo ministro causará "impacto direto na sobrevivência dos pequenos negócios". A redução prevista pelo governo para o Sistema S está entre 30% e 50%. 
"Com um corte de 30%, 300 mil clientes deixariam de ser atendidos, quase 60 mil alunos do ensino fundamental deixariam de ter acesso a lições de cultura empreendedora e cerca de 65 postos municipais seriam fechados", completou Meirelles.
O porta-voz do Sebrae-SP defendeu que a contribuição do Sistema S ajudam na produtividade e competitividade dos pequenos negócios, resultando na "geração de empregos e de empreendimentos mais saudáveis, em todos os elos das cadeias produtivas". 
"Existem hoje 13,8 milhões de microempreendedores individuais (MEIs), micro e pequenas empresas, responsáveis por ocupação de 43,6 milhões de brasileiros e pela geração de 27% do PIB [Produto Interno Bruto]", pontuou o gestor, sinalizando que o público atendido pelo Sebrae "é um dos pilares estratégicos de desenvolvimento socioeconômico" do país pela geração de empregos e distribuição de renda. 
Só no estado de São Paulo, em 2018, o Sebrae realizou 2,5 milhões de atendimentos a 1 milhão de microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas e empreendedores potenciais. O Estado todo concentra 4 milhões de pequenos negócios. "Além disso, mais de 2 milhões de empreendedores receberam consultoria e capacitação em gestão de negócios", disse Meirelles. 
"Como empresário, acredito que a criação de empregos ocorre à medida que se encontre um ambiente mais propício à sua atividade, simplificando, por exemplo, processos burocráticos que consomem muito tempo do empresário", destacou Meirelles. 
Segundo ele, o tratamento diferenciado é que garante a sobrevivência dos pequenos negócios, lembrando que no Simples Nacional, regime de tributação simplificado para facilitar o processo de arrecadação dessas empresas, a taxa de mortalidade nos dois primeiros anos de atividade alcança 17% dos empreendedores. "Para os não optantes, a taxa sobe para 62%", observou. 
GGN

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

PRECISAMOS FALAR SOBRE MILITARES E SOBERANIA, POR GLEISI HOFFMANN

Jair Bolsonaro nomeou inúmeros oficiais-generais para o governo. A Constituição lhe garante o direito de nomear ministros e, a estes, de exercer as funções. As Forças Armadas têm homens e mulheres preparados, competentes. Convivi e trabalhei com muitos quando exerci a chefia da Casa Civil. Mas, como ministros, deixam de ser chefes militares e passam a ser cidadãos que ocupam cargos públicos importantes.
É assim que é preciso ser. Política com armas leva, inexoravelmente, à imposição, à ditadura. Nossa Constituição cuidou de deixar claro os papéis das instituições, afastando as Forças Armadas da política. Por isso é muito preocupante que Bolsonaro chegue a sugerir que sua autoridade se lastreia mais nos companheiros das Forças do que no voto popular. Isso é perigoso para o país, a democracia e as Forças Armadas. Também é grave que alguns generais ecoem e até pautem o discurso do presidente contra as esquerdas e movimentos sociais, falseando o modo como o PT se relacionou com os militares. Alto lá!
Os governos do PT trataram as Forças Armadas com respeito e dignidade, integrando-as ao esforço democrático de desenvolvimento nacional. Devem se recordar que, em agosto de 2002, o Exército teve de dispensar 44 mil recrutas (quase 90% do total) porque o então presidente FHC – filho, sobrinho e neto de generais – cortou as verbas do soldo e da alimentação. Os recrutas que ficaram eram dispensados ao meio-dia: faltava rancho. Cabos e sargentos não tinham dinheiro para comprar botas.
A partir de 2004 houve recuperação do soldo e aumentos reais. O último decreto dessa nova política foi assinado por Dilma Rousseff, em dezembro 2015: um aumento médio de 30% escalonado em 3 anos, que se completou no dia da posse de Bolsonaro. Graças a Lula e Dilma, o soldo de um general, que em 2004 era de R$ 4.950, é hoje de R$ 14.031, um ganho real de 32,7% sobre a inflação do INPC. O soldo do ex-capitão Bolsonaro, que era de R$ 2.970, agora é de R$ 9.135; aumento real de 50%. Fora os adicionais, que variam de 13% a 28%, quanto mais alta a patente, e outras gratificações.
Aquelas tropas desmoralizadas, mal armadas e mal treinadas, foram usadas nos governos tucanos para reprimir o povo em greves e movimentos sociais. Em maio de 1995, o Exército ocupou 5 refinarias da Petrobrás para esmagar a greve dos petroleiros. Em 1996, 97 e 98, o Exército reprimiu protestos e ocupações em Curionópolis, Eldorado dos Carajás e Sul do Pará. Foi criada uma divisão de inteligência exclusivamente para espionar o MST, que utilizou até imagens de satélites para mapear acampamentos.
O governo Lula convocou as Forças Armadas a defender o povo, o território e a soberania nacional. Estes são os valores inscritos na Estratégia Nacional de Defesa, lançada em 2008, em rico diálogo com os militares, e atualizada em 2012. A END previu o desenvolvimento da indústria bélica e o reequipamento e instrução necessários para a defesa do espaço aéreo, do vasto território pátrio e da chamada Amazônia Azul, onde é explorada nossa maior riqueza: o pré-sal.
Para cumprir esses objetivos, o Orçamento da Defesa (incluindo as três Forças), passou de R$ 33 bilhões para R$ 92,3 bilhões nos governos do PT. Segundo o respeitado Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo, o gasto militar brasileiro passou de US$ 15 bilhões em 2002 para US $ 25 bilhões em 2014 (dólar médio de 2015). Ou seja: um país que há 150 anos não tem conflitos de fronteira passou a ocupar a 11a. posição em investimentos militares no mundo (em dois anos de golpe já perdemos 3 posições e desde fevereiro o Exército voltou a reduzir o expediente por corte de verbas).
Iniciamos a construção do submarino nuclear, submarinos convencionais, navios-patrulha e mísseis antinavios. Renovamos a frota de helicópteros, investimos R$ 4,5 bilhões para a Embraer desenvolver o cargueiro KC-390, um sucesso mundial, e contratamos os caças Grippen, escolhidos pela Aeronáutica por critérios técnicos, com transferência de tecnologia. Contratamos o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação Estratégica, para garantir a soberania nas telecomunicações, os blindados Guarani e os fuzis IA2, fabricados no Brasil. Aumentamos a segurança criando empregos e desenvolvendo tecnologia.
E ao invés de servir como cossacos contra os trabalhadores, as Forças Armadas foram convocadas nos governos petistas para tarefas de alto prestígio – como o comando das Forças de Paz da ONU no Haiti e no Líbano, além de ações em outros 7 países. E para programas sociais relevantes, como o Soldado-Cidadão, o combate à seca e a construção de obras estratégicas, como a do rio São Francisco.
Lula adotou o critério da antiguidade e experiência na indicação dos comandantes. Alguns dos que hoje o atacam, velada ou publicamente, tiveram nos governos do PT as oportunidades que lhes conferiram prestígio dentro e fora das Forças Armadas, sem que ninguém lhes perguntasse suas opiniões políticas. Não têm moral para acusar o PT de fazer nomeações “ideológicas”, como diz Bolsonaro. Discordem de Lula e do PT; critiquem, governem diferente, mas não percam o respeito à verdade nem ao ex-comandante supremo a quem um dia juraram lealdade e que lhes devolveu a dignidade. E defendam a soberania.
Os generais-ministros de Bolsonaro eram adolescentes em 1964. Alguns talvez tenham reprimido passeatas em 1968. Na Academia Militar, certamente ouviam falar das torturas e perseguições; em 79, compartilhavam angústias morais e corporativas sobre a Anistia; e devem ter se envergonhado, em 1981, com o atentado do Riocentro, que desmoralizou toda uma geração de comandantes. Mas viveram o pacto democrático da Constituição de 1988 e tiveram, a partir de 2003, a oportunidade de servir à pátria num governo que lhes deu condições objetivas de promover a soberania nacional.
Hoje, no conturbado governo Bolsonaro, estão associados ao financista Paulo Guedes, que pretende aprofundar a destruição do país: a venda da Embraer (e com ela nossa tecnologia), a paralisação do submarino nuclear (urdida por procuradores e juízes a serviço dos EUA); a desnacionalização da base de Alcântara; a quebra do contrato dos caças Grippen (outro interesse dos EUA); a entrega do pré-sal aos estrangeiros; a privatização dos bancos que financiam a agricultura pequena ou grande. Seu único projeto conhecido na área militar é a involução do GSI para uma polícia política, cúmplice do Ministério Moro.
De resto, Bolsonaro humilha o Brasil com a subserviência ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua política externa irracional e prejudicial ao país. Os generais-ministros respondem à própria consciência pela opção política e os métodos que empregaram na conspiração para derrubar Dilma e vetar a candidatura Lula. Servem hoje a um governo sem rumo e sem comando, que enfrentará muitas divergências para implantar as propostas antinacionais. Mas os generais-ministros não serão julgados pela história e pelas futuras gerações de militares apenas por suas opções políticas e morais. Serão julgados principalmente pelo compromisso com a soberania nacional.
Gleisi Hoffmann (PT-PR) é senadora, eleita deputada federal e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores.
GGN

domingo, 6 de janeiro de 2019

O MAL POR SI SE DESTRÓI

O mal por si se destroi[1], o governo Bolsonaro nasce a partir de uma contradição entre diferentes forças de elites, políticas, militares, judiciais, econômicas e sociais, cujo principal fator de unidade é o antipetismo. A direita econômica possui quase nenhum vínculo real com a direita comportamental do meio evangélico. A grande mídia segue o jogo neoliberal, o qual – no tema LGBT, por exemplo - é contratante com o nacionalismo e com o conservadorismo de costumes da extensa base eleitoral vinda das igrejas, bastando para isso ver a forte reação da rede Globo em relação ao assunto “rosa e azul” e, em contrapartida, a briga interna da base conservadora do governo contra a mesma rede Globo.
A esquerda apenas defende as minorias (qualquer minoria), mas, é colocada pelo Bolsonarismo perante os seus eleitores como sendo a “promotora” e responsável desta estratégia anticostumes e que segundo eles desintegra a sociedade (que é exatamente o que a Globo faz), contra o povo “conservador”. Ainda, o verdadeiro nacionalismo ou defesa do Brasil promovido pela esquerda é distorcido com base no Bolivarianismo, a Venezuela, a camisa vermelha e etc.
Este conjunto de distorções, tanto pelo lado do governo como pela “imagem” que este governo tenta passar aos seus eleitores em relação ao PT, subsistirá na medida em que a esquerda combata equivocadamente a imagem dessa salada que é o governo, pois a resposta bolsonarista é dada ainda em forma de palanque, onde o povo continuará sendo iludido. Corremos o risco de prosseguir numa espécie de terceiro turno onde ainda continuaremos perdendo. Não podemos passar a imagem de que o PT luta contra os eleitores do Bolsonaro.
Este conjunto de situações que hoje vivemos somente será destruído por implosão, ou seja, pela desilusão individual de cada eleitor bolsonarista, ao ver pelos seus próprios olhos o equívoco cometido na urna. Este eleitor arrependido demorará mais tempo ou, mesmo se este se arrepender logo, poderá ir para outro campo anti-PT, se não tomamos o cuidado de desarmar primeiro a armadilha antipetista.
A equipe econômica do governo vai brigar com a base evangélica, e esta com os militares e, ainda, com a grande mídia. Devemos assistir isso de camarote. Há que tirar deles a argamassa, o único ponto de união, que é o antipetismo.
Como se desarma a armadilha

1.    Deixar que o governo “governe” e se autoimploda, sem atacar por atacar e, muito menos, sem dizer...”eu não falei?”. Pessoalmente não quero que o governo apenas se de mal, mas quero também a volta dos eleitores desavisados que apoiavam Lula nos primeiros governos do PT;
2.    Não renunciar a sermos oposição, mas, para isso, trabalhar discretamente dentro do congresso, com os nossos parlamentares. Sermos oposição às políticas contra o povo, mas não passar a imagem que somos contra o Brasil, como pretende o atual governo;
3.    Defender o povo, mostrando os bons caminhos para esta nação, caminhos que já foram trilhados pelo PT;
4.    Não dar munição ao Bolsonarismo gerando ações que – embora legítimas - o atual governo possa tergiversar e colocar na nossa conta como sendo negativas perante o povão. Do tipo Wyllys cuspindo na cara do Bolsonaro (que na época foi quase como a facada, que rendeu pontos ao próprio Bolsonaro);
5.    Montar alianças e plataforma política para as próximas eleições municipais de 2020;
6.    Reconstruir a ideologia de esquerda operaria e nacionalista e ter mais cuidado com os ventos de pseudoesquerda modernosa que chegam desde o exterior, insuflados por correntes neoliberais (e pela rede Globo). Em grande parte perdemos a eleição por conta desta perda de identidade, e fomos estupidamente derrotados pelo kit Gay e por outras bobagens que surgiram a partir das nossas próprias ações, levantando bandeiras inoportunas em momentos de plena luta pela nossa democracia. Foi um erro infantil, inclusive dentro deste blog, onde alguns tentaram aparecer como sendo mais esquerdista que o outro, enquanto o conjunto da esquerda foi para o ...
GGN-Comentários


[1] o mal é oportuno se instala onde pode, seja na revolta dos oprimidos que buscam justiça ou no ódio dos opressores.
Ou seja em um conflito não existe certo ou errado os dois são o mesmo mal cada um de um lado diferente da moeda, existe o lado que mais temos afinidades e julgamos ser o lado certo. Cristiano Peres Andrade.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

REUNIÃO DO MINISTÉRIO, ECONOMIA DE PALITOS E GASTO DE INEXPERIÊNCIA, POR FERNANDO BRITO

O resultado da reunião do ministério Bolsonaro com o ‘chefe” foi pífio para um governo que, afinal, está há três meses em organização.
Diz a Folha:
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou nesta quinta-feira (3) que o governo identificou “uma movimentação incomum de exonerações e nomeações e recursos destinados a ministérios” no apagar das luzes da gestão Michel Temer (MDB) e quer a revisão delas. Após o encontro de Bolsonaro e do vice-presidente, general Hamilton Mourão, com os 22 novos ministros, nenhuma medida concreta foi anunciada. 
Nomeações e exonerações, obrigatoriamente, têm de ser publicadas no Diário Oficial – sem o que não possuem validade – e é difícil crer que, com centenas de funcionários no gabinete de transição não tivesse um coitado que, todo dia, contabilizasse e registrasse isso.
Isso se cada ministro indicado, com água na boca, não estivesse mapeando os cargos vagos em sua área, para nomear “os seus”.
Picaretagens, como a nomeação de Carlos Marun para o conselho da Itaipu Binacional, são logo vistas. E, neste caso ao menos, confirmadas.
Economia com cargos comissionados é necessária, mas é “economia de palitos” diante das despesas federais, até porque os cargos que ficam vagos acabam sendo transformados em outros, em outros lugares. Para ser economia, precisam ser extintos, o que não foram.
Quanto à movimentação de recursos é, provavelmente, algo que surgiu do desconhecimento de como funciona a gestão pública funciona: no final do ano, em função da execução orçamentária, recursos de “programas de trabalho” (que são as áreas de destinação dos gastos) não utilizados são anulados e viram reforço para outros onde a dotação está insuficiente. E  todas as despesas que não são empenhadas (isto é, recebem uma “autorização de despesa, com o apontamento da origem dos recursos) têm de ser anuladas.
Isso não quer dizer que sejam pagas – tecnicamente se dá o nome de “liquidadas” – e seu valor fica condicionado aos famoso “Restos a Pagar”, para o ano (ou anos) seguintes.
Em boa parte das repartições pública, por isso, desde que o mundo é mundo, há uma correria para empenhar verbas orçamentárias nos últimos dias, sem que isso queira dizer roubalheira. Um exemplo recentíssimo é dos próprios militares do Gabinete de Intervenção Federal no Rio: No dia 3 de dezembro, só haviam conseguido empenhar 28,3% dos R$ 1,2 bilhão a compras de materiais para a área de segurança, ou R$ 340 milhões. Quando chegou o dia 31 de dezembro, o empenho havia chegado a R$ 1,171 bilhão, ou 98,7% do total. Mais de R$ 800 milhões empenhados em 27 dias, apenas.
Ainda bem que Moro não é mais juiz, senão ia sobrar “cognição sumária” para os generais da intervenção.
É óbvio que nem em todo lugar é assim,  mas empenhos expressivos em dezembro não são a fonte de roubalheira. Roubalheira tem de acontecer antes do empenho – que, repito, não é pagamento, se não houver a liquidação da despesa – na licitação e, depois, na liberação dos recursos. Ah, sim, e nos famosos “convênios”, estes sim fonte de inúmeras irregularidades.
Quanto aos imóveis da União, o número sempre foi conhecido e muitos dos 5% deles que estão vagos ficam assim por falta de dinheiro para reformá-los. De novo, basta ao governo Bolsonaro se informar com sua multidão de militares: um dos maiores, o bloco “O” da Esplanada dos Ministérios, com capacidade para 1,7 funcionários, era a sede do Ministério do Exército, iria para o Ministério da  e está vazio há vários anos, esperando dinheiro para obras. A reforma foi licitada no Governo Dilma em 2015, licitação reaberta em 2016 por razões legais e até o final do ano passado a Secretaria de Patrimônio da União procurava um órgão capaz de assumir o “abacaxi” das obras.
O Governo Bolsonaro precisa descobrir que, na administração pública, não é só mandar o Fabrício ir lá resolver.
Do Tijolaço

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

HADDAD DIZ QUE HÁ CHANCE DE CONDENAÇÃO DE LULA SER REVISTA EM 2019

Ex-prefeito de São Paulo comemorou parecer do Ministério Público para que recurso da defesa do ex-presidente seja apreciado pela 5ª turma do STJ
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) destacou como "primeira boa notícia" a decisão do Ministério Público Federal (MPF) favorável a que o recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra a sua condenação, seja julgado pela 5ª turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Haddad visitou Lula nesta sexta-feira (28), em Curitiba, acompanhado do ex-prefeito de Osasco, na Grande São Paulo, Emídio de Souza. 
"Ontem, tivemos a primeira boa notícia. O MP reconheceu o direito do presidente Lula de ter o seu recurso apreciado pela turma do STJ, e não por um único ministro. Significa dizer que existe uma chance efetiva da sentença condenatória ser revista pelos cinco ministro que compõem a turma", afirmou Haddad aos militantes da Vigília Lula Livre, nos arredores da sede da Polícia Federal, após visita ao ex-presidente. 
"Existe agora essa chance de essa sentença ser revista, o que pode fazer com que o nosso presidente esteja conosco em algum período do próximo ano, quando o recurso vai ser apreciado", disse Haddad. Ele atacou como "muito frágil" a sentença do ex-juiz Sérgio Moro e o agravamento da pena decidido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
"A gente quer que o processo seja analisado de acordo com as provas apresentadas. Se tem prova, condena. Mas se não tem, tem que ter a coragem de absolver", afirmou Haddad, que disputou o segundo turno das eleições 2018 contra o presidente eleito Jair Bolsonaro. Segundo ele, Lula é mantido preso "como troféu" do novo governo. 
Sobre o futuro governo Bolsonaro, Haddad afirmou que é preciso conscientizar as pessoas sobre as ameaças aos direitos civis, sociais, trabalhistas e ambientais representadas por medidas que estão sendo anunciadas que, segundo ele, "não vão produzir o resultado esperado". "Estão colocando pais contra professores, a população contra a classe artística, o produtor de alimento contra o indígena. Democracia é conciliação, e não criar oposição onde não tinha."

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

XADREZ DOS RUMOS DO FASCISMO À BRASILEIRA, POR LUIS NASSIF

Peça 1 – os ciclos da história
Desde o Plano Cruzado me interessei pelos ciclos históricos, pela maneira caprichosa com que os fatores históricos vão sendo tecidos e os eventos se repetem, com cem anos de diferença, mas seguindo a mesma lógica férrea. Explano essa processo no meu livro “Os cabeças de planilha”.
Quem primeiro me chamou a atenção foi a leitura de “América Latina, males de origem”, do médico, psicólogo, historiador Manuel Bonfim.
Admirador da revolução americana, descreveu logo após a República o que seria o desenho de um país moderno e sua decepção com a República que se desenhava no país. Especialmente com a maneira como o Brasil naufragou com o encilhamento e o jogo político dos financistas.
Justamente por mudar o foco dos males nacionais, do mito da sub-raça (que ele desmontou, como médico) para o da sub-elite, acabou ignorado pela geração seguinte de brasilianistas, de Gilberto Freyre a Sérgio Buarque de Holanda.
Essa visão dos ciclos é essencial para entender a quadra atual do mundo e do Brasil, o advento do fascismo em suas diversas formas.
Em meados do século 19 e início do século20 ganham forma as grandes inovações tecnológicas, especialmente nos meios de transporte e nos serviços públicos. Essas inovações permitem a notável expansão do capital financeiro, mas, ao mesmo tempo, provocam terremotos nas atividades tradicionais, levando insegurança a todos os setores.
Como descreve Madeleine Albright no beste-seller “Fascismo, um alerta”:
  • Invenções espantosas como a eletricidade, o telefone, o automóvel e o navio a vapor aproximavam o mundo, mas essas inovações deixavam milhões de fazendeiros e trabalhadores manuais sem emprego. Por toda parte, pessoas estavam em movimento. Famílias de trabalhadores rurais se amontoavam nas cidades e milhões de europeus levantavam acampamento e cruzavam o oceano. Para muitos dos que ficavam, as promessas inerentes ao iluminismo e às Revoluções Francesa e Americana haviam se esvaziado.

No plano internacional, além disso, vivia-se o advento de uma nova potência industrial, os Estados Unidos, desequilibrando o jogo de poderes na Europa. E o modelo de articulação entre as nações, a Liga das Nações, não mais conseguia administrar os conflitos entre as partes.
A Velha República esboroa-se no Brasil e em todas as partes do mundo. Na Europa, a crise decreta o fim das dinastias monárquicas que dominavam os países mais relevantes.
Cem anos depois, o modelo financista esgota-se com a crise de 2008. Em outros tempos, cederia espaço à socialdemocracia. Mas, na Europa, a socialdemocracia agonizava, devido às enormes concessões feitas à financeirização. Em 2010, a única esperança de revitalização da socialdemocracia era Lula, recém-saído de um governo vitorioso.
É esse quadro que provoca, tanto há cem anos, quanto agora, o fim do modelo de democracia restrita, abrindo espaço para as lideranças agressivas, populistas, primárias, brandindo discursos de ódio.
Peça 2 – psicologia do fascismo
Esse é o tema principal do livro de Madeleine Albright. Além das comparações históricas, Albright se dedica a dissecar a psicologia do fascismo, a partir dos exemplos maiores – Hitler e Mussolini -, mas também dos partidos de extrema-direita que aparecem nos Estados Unidos, Inglaterra e França.
O medo como fator impulsionador
  • O medo é a razão de o alcance emocional do fascismo se estender a todos os níveis da sociedade. Não existe movimento político que floresça sem apoio popular , mas o fascismo depende tanto dos ricos e poderosos como do homem ou da mulher da esquina – dos que têm muito a perder e dos que não têm nada. Essa colocação nos fez pensar que talvez o fascismo deva ser visto menos como ideologia política e mais como forma de se tomar e controlar o poder.
  • Na Itália dos anos 1920, por exemplo, havia autodeclarados fascistas de esquerda (que advogavam uma ditadura dos despossuídos), de direita (que defendiam um Estado corporativista autoritário) e de centro (que lutavam pelo retorno a uma monarquia absolutista).
  • Na origem da formação do Partido Nacional-Socialista Alemão (Nazista) há uma lista de reivindicações com apelo a antissemitas, anti-imigrantes e anticapitalistas, mas que defendia também pensões mais altas aos idosos, mais oportunidades educacionais aos pobres, fim do trabalho infantil e melhorias no sistema de saúde para as mães. Os nazistas eram racistas e, na cabeça deles, ao mesmo tempo reformistas.
  • Enquanto uma monarquia ou uma ditadura militar são impostas à sociedade de cima para baixo, a energia do fascismo é alimentada por homens e mulheres abalados por uma guerra perdida , um emprego perdido , uma lembrança de humilhação ou a sensação de que seu país vai de mal a pior . Quanto mais dolorosa for a origem da mágoa, mais fácil é para um líder fascista ganhar seguidores ao oferecer a expectativa de renovação ou prometer restituir - lhes o que perderam.

O fascismo de Trump
  • Nesse processo , aviltou sistematicamente o raciocínio político nos Estados Unidos , exibiu um desprezo impressionante pelos fatos , caluniou predecessores , ameaçou “ encarcerar ” rivais políticos , referiu - se aos jornalistas da grande mídia como “ inimigos do povo americano ” , espalhou mentiras sobre a integridade do processo eleitoral do país , promoveu de forma impensada uma política comercial e econômica nacionalista , vilanizou imigrantes e os países de onde vieram e alimentou uma intolerância paranoica direcionada aos seguidores de uma das principais religiões do mundo

A violência e a hipocrisia
  • (Mussolini) aceitava dinheiro de grandes corporações e bancos, mas falava a língua dos veteranos e dos trabalhadores. (...) Como o clima político continuava a piorar, teve de tornar-se cada vez mais militante só para manter-se em compasso com as forças que alegava comandar. A um repórter que lhe pediu para resumir seu programa, Mussolini respondeu: “É quebrar os ossos dos democratas... e quanto mais cedo, melhor”.
  • (...) Discursando em praças, cervejarias e tendas circenses, Hitler se utilizava repetidamente dos mesmos verbos de ação – esmagar, destruir, aniquilar, matar. Sua rotina era gritar até espumar de fúria, vociferando em meio ao agitar de braços contra os inimigos da nação.

A ditadura dentro do devido processo legal
  • Em 1924 , Mussolini forçou a aprovação de uma lei eleitoral que entregava aos fascistas o controle do parlamento . Quando o líder socialista apresentou provas de que a votação fora fraudada , foi raptado por bandidos e assassinado . Ao final de 1926, Il Duce já havia abolido todos os partidos políticos concorrentes, acabado com a liberdade de imprensa, neutralizado o movimento trabalhista e reservado a si mesmo o direito de nomear autoridades municipais. (...) Assumiu o controle da polícia nacional, expandiu-a e multiplicou sua capacidade de conduzir a fiscalização interna. Para sufocar a monarquia, reivindicou o poder de aprovar o sucessor do rei. Para apaziguar o Vaticano, mandou fechar os bordéis e aumentar os ganhos dos padres, mas em troca ficou com o direito de aprovação dos bispos.
  • (...) Aos 43 anos, (Hitler) fez um apelo aos parlamentares por confiança, na esperança de que não pensariam muito a fundo antes de votarem o próprio epitáfio. Sua meta era assegurar a aprovação de uma lei que o autorizasse a ignorar a Constituição, passar por cima do Reichstag e governar por decreto. Garantia a seus ouvintes que não tinham nada com que se preocupar; seu partido não tinha a intenção de minar as instituições alemãs. (...)  Poucas semanas depois, os partidos políticos que colaboraram haviam sido abolidos, e os socialistas, presos. O Terceiro Reich havia começado.

O início das ditaduras fascistas
  • (Hitler) Começou pela abolição das assembleias locais e pela substituição dos governadores das províncias por nazistas. Enviou valentões da SA para brutalizar adversários políticos e, quando necessário, despachá-los para os recém-abertos campos de concentração. Deu cabo dos sindicatos ao declarar o 1o de maio de 1933 feriado nacional sem desconto em folha e então ocupar as sedes dos sindicatos país afora no dia 2. Expurgou o serviço público de elementos desleais e emitiu um decreto banindo judeus de profissões. Pôs a produção teatral, musical e cinematográfica sob o controle de Joseph Goebbels e impediu jornalistas não simpatizantes de trabalhar. Para garantir a ordem, consolidou numa nova organização, a Gestapo, funções policiais, políticas e de inteligência.

Como o sistema os recebia
  • Destilava seu escárnio pelos comunistas, estratégia que lhe valeu amigos na comunidade financeira e cobertura favorável em alguns dos maiores veículos de imprensa do país.
  • (...) O establishment político do país – grandes empresários, militares e Igreja – descartara inicialmente os nazistas como um bando de brutos gritalhões que jamais atrairiam o apoio das massas. Com o tempo, passaram a enxergar valor no partido como bastião anticomunista, mas nada além. Não tinham metade do medo de Hitler que deveriam ter. Subestimavam-no em razão da falta de estudo e se deixavam levar por suas tentativas de cativá-los. Ele sorria se fosse preciso e certificava-se de responder-lhes às perguntas com mentiras tranquilizadoras. Para a velha guarda, era claramente um amador com uma ideia exagerada de si, improvável de manter-se popular por muito tempo.

Rádio e Internet
  • O Führer foi o primeiro ditador capaz de atingir 80 milhões de pessoas num único instante com um chamamento à união. O rádio era a internet dos anos 1930, mas, como meio de comunicação de mão única, mais fácil de controlar. Jamais estivera disponível ferramenta tão eficiente para manipular a mente humana.

As mulheres do lar
  • Ao tomar posse, Hitler quase que de imediato retirou mulheres de funções burocráticas, prometendo “emancipá-las da emancipação”. Eram aconselhadas a cuidar da lareira, fazer remendos, costurar, cozinhar apfelkuchen [tortas de maçã] e dar à luz uma nova geração de super-homens arianos.

A globalização
  • O ímpeto globalizante atordoava a muitos e os levava a buscar refúgio na toada familiar das noções de nação, cultura e fé; e, por toda parte, pessoas pareciam em busca de líderes que trouxessem respostas simples e satisfatórias às perguntas complicadas da modernidade.

O fascismo na Inglaterra
  • Sir Oswald Mosley , um intrépido inglês com um bigode escovinha de fazer inveja a Hitler , libido comparável à do Duce e o que uma colega definia como “ arrogância esmagadora e convicção inabalável de ter nascido para reinar ” , era alguém que se via em tal papel .
  • De volta a Londres , Mosley fundou a União Britânica de Fascistas ( BUF , na sigla em inglês ) , com uma plataforma que abarcava o característico programa de obras públicas , anticomunismo , protecionismo e libertação da Grã - Bretanha de estrangeiros , “ sejam hebreus ou qualquer outro tipo de forasteiro ” . À imagem e semelhança do Duce , recrutou uma força de segurança de aparência ameaçadora , ensinou - os a fazer a saudação romana e distribuiu - lhes camisas pretas inspiradas no modelo de seus uniformes de esgrima . Em 1934 , os comícios de Mosley atraíam multidões de trabalhadores , comerciantes , empresários , aristocratas , membros descontentes do Partido Conservador e um punhado de repórteres , soldados e policiais de folga .

O fascismo na França
  • Na França , o Solidarité Française , com suas camisas azuis , foi um dos vários grupos de direita a digladiar com a esquerda : assumidamente pró - nazista , fez campanha com o slogan “ A França para os franceses ” e foi banido pelo governo socialista em 1936 .

O fascismo nos EUA
  • O escritor autodidata William Pelley fundou a Silver Legion of America em janeiro de 1933, poucas horas após Hitler ascender ao posto de chanceler da Alemanha. Sediada em Asheville, na Carolina do Norte, atraiu cerca de 15 mil filiados. Seus seguidores usavam calças azuis e camisas prateadas com um “L” escarlate acima do coração, que significava Love, Loyalty and Liberty (Amor, Lealdade e Liberdade). Os camisas prateadas militavam pelo antissemitismo e buscavam reproduzir o modelo nazista de vigilantismo. (...) Em 1936, Pelley foi candidato à presidência com o slogan “Fora, vermelhos, fora, judeus”, mas seu nome só esteve na cédula do estado de Washington e recebeu menos de 2 mil votos. Os camisas prateadas não tardaram a desaparecer, mas os preconceitos que disseminaram encontraram eco em organizações como a Ku Klux Klan e nas transmissões em rede nacional do padre Charles Coughlin, polêmico radialista isolacionista de Detroit.

Peça 3 – o fascismo à brasileira
O fascismo à brasileira transcende a figura de Jair Bolsonaro. Há uma fase de transição, já em andamento, que definirá o desfecho dessa trajetória política do fascismo.
Com as devidas ressalvas, já que o país atravessa uma fase de profunda irracionalidade, com a besta solta nas redes sociais e nas ruas, é possível delinear alguns desdobramentos do governo Bolsonaro. Principalmente quando o governo estiver em andamento e as expectativas do eleitorado não forem atendidas.
Os fundamentalistas
Pessoalmente, Jair Bolsonaro é uma personalidade vulnerável psicológica, intelectual e socialmente. Depende, em tudo, dos filhos.
Dos seus quatro filhos, um é apolítico, dois são baixo clero de pequena ambição e o quarto, Eduardo, é o megalomaníaco. Tem ideias grandiosas, ambiciona suceder o pai. Assim como um Duce tupiniquim, acredita piamente na sua intuição e nas asneiras que repete. E tem seguidores que também acreditam.
É de sua responsabilidade a parte mais non-sense do Ministério: o inacreditável chanceler Ernesto Araújo, o Ministro da Educação Ricardo Veléz e a Ministra de Direitos Humanos Damares Alves. A mediocridade  de seu círculo de influência mostra um político de tiro curto.
Pela lógica interna do governo, dada pelo núcleo mais racional, o dos militares, não se espere longa vida dos fundamentalistas, especialmente do Ministro das Relações Exteriores. Trata-se de um bajulador que assimilou as pirações fundamentalistas dos Bolsonaro por puro oportunismo e monta um jogo de cena mirando exclusivamente a falta de discernimento dos Bolsonaro sem se importar com as consequências para o país.
Ocorre que o MRE terá uma função chave, para complementar as estratégias econômicas do futuro Ministro da Economia Paulo Guedes. Em poucos meses, mesmo antes de começar o governo as declarações de Ernesto e Jair têm produzido terremotos na imagem do Brasil no exterior. Possivelmente, nem nos tempos da Albânia, da Coreia do Norte, estados nacionais conseguiram produzir uma dupla tão ridiculamente atemorizante quanto o duo Jair-Ernesto. Esse estilo rede social é totalmente incompatível com qualquer projeto sério de país, de direita ou esquerda.
Não se tenha dúvida que partirá de Eduardo o primeiro grande trauma político do governo Bolsonaro.
Os catões
A posse de Bolsonaro, no dia 1º de janeiro, marcará formalmente a transmutação da Lava Jato de agente desestabilizador para co-participante do banquete dos vitoriosos. Essa mudança está expondo de uma maneira surpreendentemente rápida seu viés político. E exigirá do futuro Ministro da Justiça Sérgio Moro habilidades políticas que, aparentemente, ele não dispõe.
Nem se fale do caso do motorista de Flávio Bolsonaro. Os palpiteiros gerais da nação, Deltan Dallagnol e colegas, não ousaram ir além de comentários genéricos. O procurador que montou um power point em cima de provas indiciárias, e se tornou dono de uma verborragia incontrolável, sobre o caso do motorista limitou-se a um sintético “Bem lembrado”, ao comentário de uma colega, sobre as razões do motorista não ter sido submetido a uma condução coercitiva.
Nos primeiros dias após ter aceito o convite, Moro garantiu que funcionaria como um filtro dos escândalos do governo Bolsonaro. Escândalos não embasado seriam relevados, escândalos de peso seriam considerados.
O caso do novo Ministro do Meio Ambiente  Ricardo Salles será seu terceiro desafio.
No primeiro, o caixa 2 de Onyx Lorenzoni, demonstrou uma enorme incapacidade de construir sofismas verossímeis, sugerindo que estava absolvido por ter demonstrado arrependimento.
No segundo, o caso do motorista, o silêncio foi constrangedor.
O terceiro será mais desafiador: encarar as acusações contra o futuro Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Enquanto Secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Salles modificou mapas elaborados pela Universidade de São Paulo, alterou a minuta do plano de manejo e é acusado de ter perseguido funcionários da Fundação Florestal que se recusaram a participar da jogada, que beneficiava mineradoras em áreas de manejo florestal. Como fica?
Mas o desafio final serão as revelações sobre a vida pregressa política de Jair, um frequentador histórico das práticas políticas do baixo clero.
Se o motorista do filho já produziu esse estrago, o que não ocorreria com a revelação das práticas de Jair?
Os militares
De certo modo, a eleição de Bolsonaro não é o início de um novo tempo, mas o capítulo final da desmoralização do poder civil e das instituições democráticas. Afinal, para os inimigos da democracia, é o exemplo mais acabado da irracionalidade do processo eleitoral.
Na montagem do governo, os militares montaram o eixo mais racional, impedindo a ação dos lobbies no Ministério das Minas e Energia e em outros postos chave. Além de monitorarem as impropriedades de Bolsonaro, providenciando correção rápida das declarações absurdas, que poderiam ter implicações nas relações externas.
Á medida em que se sucedam as impropriedades da banda fundamentalista, o eixo militar irá ampliando sua atuação. Já há notícias de que reivindicam o comando da Infraero e outras estatais chaves.
Retomando nosso fio inicial, sobre a repetição de padrões históricos, a experiência de 1964 foi uma repetição a dos tenentes em 1930 e será repetida em 2019.
Os primeiros militares ascendem aos postos com o sentido de missão. À medida em que seu poder vai se estendendo, haverá um movimento similar na iniciativa privada, de contratação de militares da reserva bem relacionados com os que estão no governo. Retornarão os convites sociais aos comandantes militares, serão retomadas as visitas aos quarteis.
Tudo isso resultará em um ganho de status social e econômico que, mais à frente, será o maior fator de resistência para os militares se recolherem novamente aos quarteis e clubes militares.
Com a ascensão do poder militar, o projeto da direita ganhará racionalidade. Mas, a julgar pelo mais influente dos militares no governo, o general Augusto Heleno, não se abandonará o discurso do perigo vermelho e dos inimigos da pátria. Enfim, não parecem ter cabeça para um projeto unificador do país.
Peça 4 – o fim do ciclo fascista na 2ª guerra
O livro de Madeleine Fullbright traz um bom retrato do que virou o fascismo na Itália, depois que Mussolini caiu em desgraça.
  • As notícias da partida de Mussolini foram o estopim para celebrações Itália afora. Milhares de fotos emolduradas do ditador deposto foram retiradas de paredes e jogadas no lixo; de uma hora para outra, um fascista assumido virara a criatura mais rara de se encontrar.

Aqui no Brasil, assim que cair o mito Bolsonaro, os neo-direitistas se recolherão e voltarão a fazer profissão de fé, ou no poder militar, ou na democracia, dependendo apenas do vento do momento.
Na época de Hitler, Charles Chaplin produziu e protagonizou um filme célebre, “O grande ditador”, no qual um inofensivo barbeiro é confundido com o ditador.
O discurso final ajudou a acalentar a humanidade nas décadas seguintes, em que o mundo redescobriu a colaboração e tentou se civilizar:
  • Em vez da torrente de impropérios esperada pela plateia , Chaplin profere uma homilia sobre a resiliência do espírito humano perante o mal . Pede aos soldados que não se entreguem a “ homens que os desprezam , escravizam . . . tratam a vocês como gado e os usam como bucha de canhão . . . homens antinaturais – homens mecânicos com mentes e corações mecânicos . Vocês não são máquinas ! Vocês não são gado ! Vocês são homens ! Têm o amor da humanidade em seus corações . ” “ Neste momento minha voz atinge milhões de pessoas mundo afora ” , diz à plateia o humilde barbeiro . “ Milhões de homens , mulheres e crianças desesperados – vítimas de um sistema que leva homens a torturar e aprisionar gente inocente . Aos que podem me ouvir , digo : não se desesperem . . . O ódio dos homens vai passar , os ditadores perecerão e o poder que tomaram do povo retornará ao povo . . . A liberdade nunca perecerá .”

Do GGN

“AMEAÇA” DE CABRAL MOSTRA QUE DELAÇÃO É SÓ UM NEGÓCIO. POR FERNANDO BRITO

Demitiu-se, antes mesmo de atuar, o segundo advogado de Sérgio Cabral Filho desde que o ex-governador “ameaçou” fazer uma delação premiada.
Para que se dispensem contratos milionários, dá para ter ideia do grau “ético” do negócio que o ex-governador, já com dois séculos de sentenças (198 anos e seis meses de prisão) nas costas, está querendo fazer. Por uma tornozeleira, está disposto a dizer o que quiserem e até um pouco mais.
A turma da “moralidade” fica na torcida: “vai lá, Cabral, entrega todo mundo”. Poucos ou nenhum se incomoda se haverá veracidade no que diz um homem que, de outra forma, passaria décadas na cadeia.
Ou que, havendo alguma, outras sejam simuladas para atingir os que interessa atingir.
Os acusados é que provem sua inocência, numa inversão escandalosa do ônus da prova.
Não é novidade, pois é o mesmo que acontece com o ex-ministro Antonio Palocci, outro que negociou delações na mesma base.
Nem adianta, porém, falar nos absurdos de uma legislação que permite delações nestas condições e, pior, cuja validade vai ser analisada pelo mesmo juiz que julgará o denunciante, o que torna o juiz, desde o início, “dono” da vontade de condenar.
No caso de Cabral, cujo enriquecimento foi evidente e escandaloso, a delação que pretende evidencia o escândalo que este processo de “m… no ventilador” se tornou.
Ao menos este serviço ele presta ao propor tal negócio.
Tudo é tão nojento que nem os advogados, que nada teriam a perder e, ao contrário, muito ganhariam, querem por as mãos na imundície.
Haverá quem as ponha, porém.
Tijolaço

FABRÍCIO, O AMIGO OCULTO, REVELA QUE BOLSONARO É UMA FARSA, DIZ FERNANDO BRITO

A charge – como sempre, genial – do Aroeira era inevitável.
Mas, no fundo, acho que Fabrício Queiroz – o primeiro  ‘desaparecido’ político do  período Bolsonaro – está sendo um presente para os brasileiros.
Mesmo com a cooperação de uma mídia mansa que, como disse Xico Sá no Twitter, não foi capaz sequer de mostrar o hospital onde o “assessor-amigo” estaria internado, o caso está funcionando como uma “trava” aos planos do ex-capitão de “entrar rachando” em seu mandato.
Os dele e os de Sérgio Moro.
O quanto e até quando, não se sabe, porque Fabrício é uma mosca, perto do que está em jogo.
Mas não há dúvida que foi uma mosca que caiu na sopa de Jair Bolsonaro.
E que pode – apenas pode, tal a blindagem que a ele se dá – revelar o óbvio: que o atual presidente é uma farsa construída em três décadas de politicagem, sem causas ou compromissos com o país, mas com apenas e tão-somente uma carreira de oportunismo e exploração dos sentimentos mais vis da sociedade.
Ninguém sabe onde está Fabrício, mas já se sabe que, salvo para seus incondicionais, o “Mito” decaiu de seu Olimpo moralista.
E, portanto, terá mais dificuldades de ser o “Deus acima de tudo” que se pretende.
Do Tijolaço

domingo, 23 de dezembro de 2018

NATAL DE 2018 PARECE O FINAL DE 1954, ANO EM QUE BRASIL TAMBÉM ESTAVA DIVIDIDO, DIZ JANIO DE FREITAS

Foto: Agência Brasil
O Natal que chega trouxe ao jornalista Janio de Freitas as memórias do final de 1954. "O país agora dividido, dizem, desde a eleição presidencial de 2014, naquele ano era reconhecido como dividido e irreconciliável."
Naquele ano, 4 meses antes do Natal, "Getúlio se matara, e os defensores de uma política de desenvolvimento industrial e exploração própria de petróleo, contra a política americana de retenção da América Latina, estavam apreensivos e desnorteados. Os conservadores ocupavam outra vez o poder, e as conquistas do governo de Getúlio ficavam ameaçadas. Não é difícil encontrar paralelos entre aquela e a atual fase."
"O que mais aproxima os dois momentos", escreveu Janio neste domingo (23), "é o estado de ânimo dos opostos. Os abatidos na Lava Jato e destituídos do poder reproduzem hoje os sentimentos dos golpeados com Getúlio e retirados do poder. Situações políticas e anímicas equivalentes."
"Mas a direita de 54 não desfrutou do otimismo que a vitória, por si, podia lhes dar. A situação febril continuou. O ano entrante era esperado com inquietação pelos conservadores, tanto mais que seria ano de eleições e o seu recente controle do poder estaria sob risco."
Hoje, a "euforia dos apoiadores populares de Bolsonaro (...) não é correspondida no segmento de fato e de direito representativo do conservadorismo. Por mais que evitada a sua exposição, a insegurança sobre o próximo governo é o senso comum no empresariado e na classe média, de sua camada central para cima."
"As muitas incógnitas do plano e do próprio Paulo Guedes, os já iniciados problemas de comércio exterior decorrentes de política externa, e a reforma tributária produzem um quadro de tensões que dá equanimidade aos conservadores de 54 e de hoje", completou.
GGN