sexta-feira, 19 de junho de 2020

XADREZ DE FREDERICK WASSEF, O ADVOGADO DOS BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

A familiaridade de Wassef com o mundo político, empresarial e policial de um lado, o empreendedorismo invencível de Flávio Bolsonaro, de outro, certamente abriu espaço para muitas parcerias, ainda não visíveis.

PEÇA 1  – A MICROSOFT SE LANÇA NO SETOR PÚBLICO
No início dos anos 90, a Microsoft lança o Windows 3.1 e entra no mercado de redes sociais. O setor público torna-se um mercado promissor.
Mostrando a prioridade dada ao setor, a Microsoft cria a vice-presidência da área de governo e indica para o cargo o empresário Bruno Novo, dona de uma empresa de tecnologia baleada pela crise do governo Fernando Collor.
Em Brasilia, começa a se destacar Cristina Bonner, dona da TBA, uma empresária ambiciosa que, em pouco tempo, tornou-se a maior revendera da Microsoft na América Latina. Foi saudada pela imprensa especializada como a grande empreendedora, apareceu em fotos ao lado de Bill Gates, fundador da empresa.
Teve início um relacionamento profissional que acabou se tornando pessoal em 1996 e resultou em um casamento em 1998.
A Microsoft pensava em promover Bruno para vice-presidente para a América Latina, mas tendo que se mudar para São Paulo.
Ele acabou pedindo demissão da empresa e assumindo uma sociedade na TBA. Tornou-se, depois, diretor estatutários de várias outras empresas abertas pelo grupo, na medida em que passavam a representar não apenas a Microsoft, mas outros gigantes, como a Oracle e a indiana Tata.
Juntos, construíram a casa no lago, para onde a imprensa se deslocou hoje, atrás do advogado Frederick Wassef – em cuja casa-escritório em Atibaia foi encontrado Fabrício Queiroz.
Frederick entra na vida do casal para resolver um problema específico, um desvio de 500 mil dólares feito por um funcionário. Eles tinham fax, mensagens como indícios de golpe, mas provas consideradas frias pelos advogados Tecnólogos, sem experiência no mundo jurídico, aceitam a indicação de Luiz Salles, controvertido sócio da OAS, que indica Wassef como um faz-tudo. Em pouco tempo ele conseguiu melhorar as provas, mostrando um relacionamento invejável com autoridades judiciárias e policiais.
Ali começou a parceria de Fredy com Cristina, em um momento em que o casamento com Bruno ia degringolando.
PEÇA 2 – O ENVOLVIMENTO COM O MENSALÃO DO DEM
Bruno acabou se assustando com os acordos políticos fechados pela esposa, especialmente com o governo José Roberto Arruda, do Distrito Federal, e decidiu sair da empresa e do casamento, aceitando uma partilha de bens inferior ao que pensava merecer, mas mais rápida.
Tinha razão. Logo depois estourou o escândalo dos esquemas do governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, no que ficou conhecido como o “mensalão do DEM”. E, nas investigações aparece o nome de Cristina Bonner.
Foi uma bomba ampla. Imediatamente ela perdeu a representação da Microsoft, da Oracle e da indiana Tata. E começa a voltar os olhos para o mercado de São Paulo.
PEÇA 3 – O ENVOLVIMENTO COM O PSDB PAULISTA
Antes do escândalo, ela havia se aproximado de políticos paulistas do governo Fernando Henrique Cardoso.
Com o Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, acertou um esquema pesado de legalização das cópias piratas de produtos Microsoft nas universidades. Passou a pressioná-las enquanto oferecia oportunidades de legalizar as cópias piratas.
Percebendo o espaço aberto, a IBM entrou na competição. Ela havia adquirido a Lotus, que possuía um Office similar ao da Microsoft. Ofereceu, então, a cada universidade uma licença de R$ 4,00 com direito a uma cópia do Office e do Lotus Notes, o sistema de rede da Lotus.
Um representante do MEC tentou demover os reitores, dizendo que o Ministério já tinha um contrato guarda-chuva com a Microsoft. Bastaria informar o número do computador para a cópia ser legalizada, sem sequer o custo de envio do CD com os programas. Para as universidades, nada custaria. Para o MEC, o custo de R$ 250,00 por licença.
Denunciei o episódio na época e a operação não se concretizou.
Com a eleição de José Serra na prefeitura, várias empresas envolvidas com Arruda se mudam para São Paulo, passando a operar com a prefeitura e, depois, com o governo do Estado.
Naquele período, a Secretária da Educação Maria Helena Guimarães lança um projeto de venda de computadores para professores da rede escolar, com financiamento da Nossa Caixa. Em cada computador, um Office da Microsoft, ao custo de R$ 250,00, em plena ascensão do software livre.
Ai explode a Operação Pandora envolvendo diretamente Cristina Bonner, nas famosas gravações de Durval Barbosa.
Decidiu reinventar a empresa, aí fortemente alicerçada em Aref, que transitava por um universo de bilionários enrolados em São Paulo.
A ponte foi com Julio Semeghini, que ela conhecera quando Secretário da Comissão de Inovação e Tecnologia da Câmara Federal.
A TBA consegue espaço no Poupatempo de São Paulo. Depois, consegue ligações com o PSDB de Minas Gerais, e passa a administrar projeto similar ao Poupatempo. Faz o mesmo com a gestão gaúcha de Yeda Crusius.
Ao mesmo, tenta fincar pé no novo governo que surgia, com a eleição de Lula. Ela faz a mediação da Microsoft com o PT, através de Delúbio Soares, arrancando de Lula a afirmação de que a Microsoft não seria prejudicada em seu governo, apesar do programa do PT defender o software livre.
Com a eclosão da Operação Pandora, a TAB se muda definitivamente para São Paulo, alugando três andares na avenida Paulista, no edifício Sumitomo.
Os negócios começam a murchar com a saída de Semeghini. Ele tinha facilidade em montar consórcios, inibindo a competição e abrindo espaço para grupos conhecidos. Com sua saída, passa a haver uma disputa mais acirrada e, sem a saída dos consórcios, a TBA teve que enfrentar competidores muito mais preparados do que no Distrito Federal.
Mesmo assim, a TBA teve que reduzir os escritórios na Avenida Paulista e se instalou em um escritório modesto em Santo Amaro. Àquela altura, ela e Wassef já se preparavam para retornar a Brasilia.
PEÇA 4 – O AMIGO BOLSONARO
O caminho encontrado por Wassef foi o ex-capitão Jair Bolsonaro, deputado obscuro, mas que, à luz das mudanças ocorridas na opinião pública, passa a ter possibilidades eleitorais.
Rapidamente se aproxima de Flávio Bolsonaro, o representante comercial da família.
Passa a ser um dos mais ardentes propagadores do discurso contra a corrupção. Em entrevista à Globonews sustentou que o que o abriu a Bolsonaro foi o discurso contra a corrupção .
Para evitar críticas, simulou uma separação de Cristina Bonner. Ontem, os jornalistas foram atrás dele justamente na casa de Cristina Bonner.
Torna-se o pau para toda obra dos Bolsonaro. Quando Adriano Nóbrega – o chefe do Escritório do Crime – é caçado pela polícia, seu advogado é Paulo Emilio Catta Preta. Quando Queiroz é preso na própria casa de Wassef, o advogado que surge, dizendo-se contratado pela filha de Queiroz, é o mesmo Catta Preta.
O advogado é estreitamente ligado a Wassef e foi seu advogado pessoal em uma dezena de ações com as quais liquidou o ex-marido de Cristina Bonner.
Bruno Novo não conseguiu receber os R$ 200 milhões a que tinha direito com o fim da sociedade. Foi preso ou detido pela polícia por quatro vezes, mostrando a incrível influência de Wassef sobre o universo das polícias.
Wassef mora na casa em que construiu junto com a Cristina, mas que está embargada por ações propostas por Wassef.
Bruno foi literalmente massacrado pelas ações de Assef. Hoje em dia mora em Goiânia, em apartamento emprestado, com sua defesa sendo feita de graça por advogados que se solidarizaram com ele
PEÇA 4 – OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
A familiaridade de Wassef com o mundo político, empresarial e policial de um lado, o empreendedorismo invencível de Flávio Bolsonaro, de outro, certamente abriu espaço para muitas parcerias, ainda não visíveis.
Com o amadorismo indesculpável de ter abrigado Queiroz, Wassef se expôs definitivamente. O fato de estar ligado aos Bolsonaro e do advogado de Queiroz ser seu advogado particular permite desconfianças sobre a forma como Queiroz será defendido.
Além disso, jogará mais luzes sobre a Operação Pandora e as aventuras de Cristina Bonner.
Do GGN

quinta-feira, 18 de junho de 2020

A PRISÃO DE QUEIROZ É O LANCE FINAL NO DESMONTE DA ORGANIZAÇÃO BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Tudo isso foi possível a partir do momento em que Alexandre Moraes impediu a posse do novo delegado geral da Polícia Federal, em uma atitude de duvidosa legalidade. Mas, ali, ficou claro que todas as ameaças de Bolsonaro eram blefe.
Queiroz é acusado de comandar um esquema de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro.
A prisão de Fabrício Queiroz é consequência direta da tomada de posição do Supremo Tribunal Federal (STF), através das decisões do Ministro Alexandre de Moraes. Agora os demais órgãos de investigação começam a desovar seus inquéritos.
AS PRÓXIMAS ETAPAS SÃO ÓBVIAS:
Terminou definitivamente a blindagem dos Bolsonaro. Com essa operação, cai a ficha de todos os bolsominios abrigados no Congresso e nas redes sociais, de que Bolsonaro não mais é o guarda-chuva protetor.
No combate a organizações criminosas, o maior desafio das forças de repressão é desmontar a lealdade entre as partes. E essa lealdade depende fundamentalmente da capacidade do chefe maior em garantir a segurança dos seus seguidores.
Com a prisão de Queiroz, haverá a debandada da tropa bolsonarista. Com o mapeamento amplo produzido pelo STF, Gaeco e, agora, a Procuradoria Geral da República, o esquema cairá como um castelo de cartas ao vento, com ampla abertura para delações premiadas.
Agora, Bolsonaro terá que mostrar todas as suas cartas. Se nada tiver a mostrar, não terá condições políticas de segurar o centrão – que é um investidor no mercado futuro da política -, nem de mobilizar os setores simpáticos nas Policiais Militares estaduais, abrindo espaço definitivo para a cassação da sua chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Não se deve esquecer do depósito efetuado por Queiroz na conta da primeira dama.
Tudo isso foi possível a partir do momento em que Alexandre Moraes impediu a posse do novo delegado geral da Polícia Federal, em uma atitude de duvidosa legalidade. Mas, ali, ficou claro que todas as ameaças de Bolsonaro eram blefe. Demonstrado isso, o Supremo, como um todo, ganhou coragem de ir à frente e ocupar os espaços de poder.
Do GGN

quarta-feira, 17 de junho de 2020

XADREZ DO NOVO CENTRO DO PODER, O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, POR LUIS NASSIF

O STF emergirá do dilúvio como a barca de Noé, a instituição que, finalmente, assumiu suas responsabilidades constitucionais e foi central para garantir a democracia.

PEÇA 1 – OS VÁCUOS DE PODER
O bolsonarismo se beneficia dos vácuos de poder. Após o impeachment, ocorreram quatro movimentos simultâneos:
A ressaca das instituições, quando sai de cena o grande álibi sancionador de todos os abusos, o antipetismo.
A bandeira única da anticorrupção, ainda uma onda hegemônica alimentada pelos ecos da Lava Jato e pelo aval dado por Sérgio Moro, com sua entrada no governo.
O aval do Poder Militar, em cima das atitudes irresponsáveis do ex-Comandante do Exército, general Villas Boas, adotando a candidatura de Jair Bolsonaro e tornando as FFAAs eternamente responsáveis pelas consequências.
O compromisso com o desmonte social, que bate com o profundo preconceito contra minorias e movimentos que marca o anti-pensamento de Bolsonaro, garantindo o apoio do mercado.
Bolsonaro ganhou espaço para matar a lógica, a moral, a ética pública. Ocupou os espaços acompanhado de sua troupe, influenciadores digitais e empresários de ultradireita, o que de pior o Brasil já produziu, tendo na retaguarda a ameaça militar simbolicamente representada pelos militares que levou para o governo.
Representava o anti-sistema e, antes de ganhar um rosto definido, cada setor imaginava-o de uma maneira idealizada, como se fosse possível erradicar do seu caráter o apoio à tortura, à morte, as ligações com milícias.
Ao mesmo tempo, a onda de ultradireita promoveu uma mudança radical na composição do Congresso, com a chegada de vários deputados ligados à guerrilha digital bolsonarista.
TInha-se, ali, a receita para o endurecimento do regime.
E os Bolsonaros deitaram e rolaram em cima desse pacto tácito, estimulando a violência digital, facilitando a importação de armas, flexibilizando a fiscalização do contrabando, atacando adversários, com empresários financiando as milícias digitais, preparando-se para o embate direto com as instituições.
PEÇA 2 – OS FATORES DE DESGASTE
Os absurdos cometidos pelos Ministros fundamentalistas, os arroubos retóricos de Bolsonaro, os indícios de envolvimento com o crime organizado, passaram a desgastar progressivamente Bolsonaro.
Houve alguns episódios centrais que aceleraram o isolamento dos Bolsonaro:
A demissão de Sérgio Moro. Antes dele, o esvaziamento da Lava Jato, Nas milícias digitais, o discurso anticorrupção da Lava Jato foi inteiramente substituído pelas pirações retóricas de Carlos e Eduardo Bolsonaro e dos Youtubers de direita, aumentando gradativamente os ataques às instituições.
O fracasso do combate ao Covid, no plano político, social e econômico.
Os absurdos reiterados da área fundamentalista do governo.
Os julgamentos internacionais sobre o país, gradativamente transformado em pária da ordem internacional. As impropriedades na área internacional, especialmente os ataques gratuitos à China.
O vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, acabando de vez com a narrativa de que os militares bolsonaristas poderiam manter Bolsonaro sob controle.
A demissão de dois Ministros da Saúde que não aceitaram compactuar com as loucuras de Bolsonaro.
PEÇA 3 – OCUPANDO OS VÁCUOS DE PODER
Para se organizar institucionalmente, as corporações – militares, jurídicas – necessitam de um polo agregador, um centro de poder em torno do qual os demais se organizem.
Progressiva e rapidamente, Bolsonaro se mostrou incapaz de ser esse poder central. Pelo contrário, tornou-se fonte permanente de confusão, de desordem, tanto diretamente quanto através de suas milícias.
Com o Covid-19, seu governo registrou o tríplice fracasso, nas frentes de saúde, econômica e social.
Mesmo assim, havia um problema no ar: os vácuos de poder. Para anular qualquer veleidade do Poder Militar, havia a necessidade do surgimento de um novo centro atuando como poder moderador.
A Câmara Federal, através de Rodrigo Maia, iniciou a primeira reação contra as loucuras de Bolsonaro, mas dentro dos limites do legislativo.
No STF (Supremo Tribunal Federal), ainda havia os ecos do Twitter de Villas Boas, em plena campanha eleitoral, colocando os 11 magistrados para correr. E os ataques que sofria especialmente das milícias digitais que gravitavam em torno da Lava Jato do Paraná, e mesmo ataques pessoais dos próprios procuradores paranaenses, poderosos ante o apoio que obtinham na mídia e nas milícias digitais.
Esse mundo começou a ruir com a ida de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça de Bolsonaro, expondo a hipocrisia do justificialismo de negócios. E, depois, pela imprudência da montagem da fundação de R$ 2,5 bilhões para promover a bandeira do punitivismo político.
A trinca no cristal da Lava Jato abriu a brecha para a primeira reação do STF, a abertura do inquérito das fake news pelo presidente Dias Tofolli, com a relatoria entregue ao Ministro Alexandre de Moraes.
Ali começou a mudança de jogo, acelerada pela Vazajato, o vazamento das conversas privadas dos curitibanos, expondo de maneira exemplar a hipocrisia dos “iluministas” e dos “ homens de bem”.
Antes disso, havia duas milícias digitais agindo de forma simbiótica, a lavajatista e a bolsonarista. A Lava Jato forneceu as bases para as milícias bolsonaristas, não apenas o discurso anti-sistema, como seus seguidores, as palavras de ordem, os limites para o afrontamento das instituições.
Com sua saída de cena, o bolsonarismo perde o discurso legitimador. O moralismo seletivo anti-PT é substituído pela guerra ao marxismo cultural e outras pirações restritas à ultra-direita.
A necessidade de manter diariamente a chama acesa faz com que sejam liberados os Ministros fundamentalistas para toda sorte de extravagâncias medievais. E a cara do governo Bolsonaro fica cada vez mais as figuras caricatas dos Ministros da Educação, das Relações Exteriores, da Mulher.
Não havia limites, também, para o modelo da militância. Esse tipo de discurso de catarse desperta uma demanda do público mais que proporcional ao atendimento das expectativas pelos atores políticos.
Figura menor, Bolsonaro não tinha coragem de moderar a escalada radical da sua tropa, com receio de perder apoio da base de apoio que lhe restou. E, de exagero em exagero, chegaram aos ataques virulentos contra as instituições, especialmente o Supremo Tribunal Federal e seus ministros.
Como as duas redes – lavajatistas e bolsonaristas – eram simbióticas, não houve a menor dificuldade para Alexandre de Moraes direcionar o inquérito das fake news para o Gabinete do Ódio e similares. As redes eram as mesmas, provavelmente os financiadores eram os mesmos, mudava apenas a fonte original de mensagens. Saia a Lava Jato, seus vazamentos e conclamações políticas, e o discurso passava a ser suprido pelas pirações dos olavistas, com sua irracionalidade atlântica, afastando cada vez mais o bolsonarismo da lógica das instituições normais, Forças Armadas e Judiciário.
Isolando-se cada vez mais, Bolsonaro passou a reagir pavlovianamente. Toda semana, um discurso radical, uma conclamação irresponsável, seguidos de um recuo inconvincente. E, periodicamente, ele e seus generais insinuando a possibilidade do Poder Militar entrar em cena.
Até que o STF pagou para ver.
PEÇA 4 – O PAPEL DE ALEXANDRE MORAES E DO STF
Alexandre de Moraes teve papel central em desmascarar o blefe bolsonarista, através de uma serie de medidas corajosas, nem sempre constitucionais:
A suspensão da nomeação do novos superintendente da Polícia Federal por Bolsonaro.
Busca e apreensão em casas de Youtubers bolsonaristas.
Denúncia contra o Ministro da Educação Abraham Weintraub, sujeitando-se à represália física das milícias.
Reconhecimento do poder de estados e municípios de definirem o isolamento.
Revogação de diversos atos de governo
Com essas medidas, expos o rei nu, o tigre banguela, consolidando o novo centro de poder moderador, o Supremo.
Imediatamente, clareou o jogo político, especialmente o papel dos militares no governo.
À medida em que a pressão aumentava, um a um os generais de Bolsonaro colocaram as mangas de fora e as cartas na mesa. O vice-presidente Hamilton Mourão esqueceu o script de democrata civilizado e saiu chutando o pau da barraca. Ministro-Chefe da Secretaria de Governo, o General Luiz Eduardo Ramos vestiu a farda de companheiro de quartel de Bolsonaro, e saiu disparando ameaças vãs. O general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, passou a se comportar como um tuiteiro bolsonarista convencional. O Ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, mostrou que era Ministro de Bolsonaro, não das Forças Armadas.
Agora, o governo Bolsonaro afunda representando o maior desastre de imagem da história das Forças Armadas.
O fracasso da luta contra o Covid-19 destruiu a tentativa de convencer que quadros militares seriam melhores que quadros civis em funções eminentemente civis.
PEÇA 5 – OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
Esta semana, o Ministro Gilmar Mendes visitou o Alto Comando Militar. Coincidência ou não, após o encontro deu declarações se dizendo a favor da reconciliação nacional, da normalidade política, da esperança de que caia a ficha de Bolsonaro. Em outra oportunidade, declarou que o julgamento do TSE será eminentemente técnico – isto é, não se baseará em critérios políticos como, por exemplo, uma eventual preocupação com a normalidade democrática.
Mero recurso retórico, preparando os espíritos em geral para o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, que deverá decidir o futuro da chapa Bolsonaro-Mourão.
Já há consenso no STF, na mídia, no mundo civilizado, que Bolsonaro é uma ameaça irreversível, incompatível com qualquer normalidade democrática. E há indícios de sobra de que o inquérito das fake news baterá nos financiadores da candidatura Bolsonaro, abrindo caminho para a cassação da chapa.
Daí a necessidade de despolitizar as decisões, sabendo haver provas em abundância para convalidar tecnicamente a cassação da chapa.
Em breve, o país se debruçará sobre os temas pós-Bolsonaro, a maneira como será reconstruída a institucionalidade. E, especialmente, como se comportará o novo STF.
O STF emergirá do dilúvio como a barca de Noé, a instituição que, finalmente, assumiu suas responsabilidades constitucionais e foi central para garantir a democracia. Mas tem um histórico preocupante de seletividade política, de protagonismo oportunista, de exacerbação do personalismo, especialmente se mantiver os poderes acumulados nessa guerra mundial contra Bolsonaro.
A grande reconstrução institucional se dará se houve o pacto geral, impedindo manobras oportunistas, um grande acordo, como o que garantiu a transição no governo Itamar, um interregno nas disputas políticas, na destruição das políticas sociais, trazendo todos os jogadores para discutir as saídas econômicas, políticas e sociais do país.
Do GGN

terça-feira, 16 de junho de 2020

BOLSONARO VACILA; O STF AVANÇA NO TERRENO LAMACENTO E MAL CHEIROSO, POR FERNANDO BRITO

Se alguém tinha dúvidas de que o Supremo Tribunal Federal, ante a omissão do Congresso, tomou o freio nos dentes e assumiu o papel de se postar como uma parede diante dos planos golpistas de Jair Bolsonaro, deveria perdê-las diante dos acontecimentos que se sucedem desde ontem de manhã.
O núcleo duro do bolsonarismo está atônito, apavorado, com os fatos que vão se atropelando: mandados de busca e apreensão, prisão de militantes agressivos e, agora, quebra de sigilo bancário de vários de seus líderes, inclusive 11 parlamentares da tropa de choque presidencial.
Bolsonaro não sabe o caminho para a reação a isso e se não adotou o seu método tradicional, o de vociferar, é porque tem motivos políticos internos para não o fazer.
E o motivo é a falta apoio para dar passos adiante no seu autoritarismo.
Passou a revelar-se mais pelo que não diz do que pelo que diz, porque já não pode dizer o que quer.
Não pode, também, porque os casos se avolumam e se agravam em todos os campos: na pandemia, na economia, na política e nos inquéritos que o vão cercando: fake news, ataques ao STF, rachadinha, financiamento de grupos extremistas, etc…
Jair Bolsonaro está acuado e, embora perigoso como quem está encurralado, tem pouco espaço de manobra para atacar sem correr riscos.
Já não há quem acredite ser possível acordos com ele.
Do Tijolaço

segunda-feira, 15 de junho de 2020

PRISÃO DA FASCISTA SARA WINTER AMPLIA FUROR DOS BOLSONARISTAS, POR FERNANDO BRITO

Como era previsível – e talvez planejado pelos próprios autores do ataque a rojões ao prédio do STF – o STF determinou a prisão de seis integrantes do grupo bolsonarista responsável pelo ato, entre eles Sara Fernanda Giromini, conhecida como Sara Winter entre os grupos fascistas.
São, como se sabe, uns gatos pingados, mas importa pela reação agressiva do “exército” fundamentalista do ex-capitão e dos seus filhos-generais .
Não se descarte a hipótese de haver um plano nesta escalada de agressividade, para apressar ações que estão se inviabilizando com a crescente onda de desprestígio de Jair Bolsonaro, por meio de grupos que querem aproveitar o estado (ainda) de paralisia da sociedade por conta da pandemia.
O bolsonarismo vinha podendo ocupar as ruas vazias mas, há duas semanas, minguou visivelmente, a reunir meros bandos de lunáticos.
Entre eles, esta tal “Winter” , que se pretendia a musa do assalto ao poder.
A blondebloc da extrema direita.
Do Tijolaço.

domingo, 14 de junho de 2020

A RELAÇÃO DA VITAMINA “D” COM O NOVO CORONAVÍRUS (COVID – 19)

A medicina está em constante evolução, a cada dia são feitas novas descobertas e antigos dogmas são quebrados para que a prática médica possa evoluir através da ciência.
Reprodução
Um assunto muito em pauta nos dias atuais devido à pandemia é a vitamina D e sua ação sobre o sistema imunológico. A vitamina D tem um papel bem definido e mundialmente reconhecido no metabolismo mineral ósseo, através da homeostase do cálcio e do fósforo, regulando um outro hormônio chamado paratormônio (PTH).
Nos últimos anos, uma farta literatura científica tem demonstrado a presença do receptor da vitamina D em quase a totalidade das células do nosso organismo, o que dá à vitamina D a capacidade de atuar em outras múltiplas funções orgânicas, inclusive na expressão gênica, o que pode traduzir a dimensão do seu papel de prevenção, suporte e tratamento de muitas condições crônicas.
Assim, existem muitas funções da vitamina D não relacionadas ao tecido ósseo, como ações no sistema cardiovascular, no sistema endócrino, ações dermatológicas, ações musculares, placentárias e de desenvolvimento fetal, neurológicas, em distúrbios neuroafetivos e na modulação do sistema imunológico.
Foram descobertos receptores de vitamina D nas células do sistema imunológico, como os linfócitos, por exemplo, modulando a sua proliferação e sua função, e estimulando a produção de proteínas de defesa, o que daria à vitamina D o poder de atuar no tratamento de doenças infecciosas e autoimunes. Especificamente, a deficiência de vitamina D está relacionada com redução células de defesa (linfócitos T CD8) que tem a habilidade de atacar celular infectadas por vírus. Nossas células pulmonares, por exemplo, expressam, de maneira constitucional, uma proteína em suas superfícies que converte a vitamina D inativa em ativa, aumentando a produção de substâncias antimicrobianas, desempenhando papel benéfico, com impacto na resposta às infecções respiratórias, inclusive as virais, reduzindo o processo inflamatório, melhorando prognóstico e com melhores desfechos segundo os estudos.
A vitamina D, descoberta em 1913, tem sido base de pesquisa de grandes nomes da ciência mundial, como o pesquisador Dr. Michael F. Holick, da Universidade de Boston nos Estados Unidos e como o Dr. Cicero Gali Coimbra, da Universidade Federal do Estado de São Paulo – UNIFESP, e muito relacionada a diversas doenças crônicas. O que muita gente não sabe é que vivemos uma pandemia paralela, e que provavelmente está caminhando junto com os casos mais graves de COVID-19, que é a deficiência global de vitamina D. A modernidade e o desenvolvimento das grandes cidades trouxeram consigo a redução da exposição solar e a redução dos níveis sanguíneos de vitamina D na população em geral, que agora é assombrada por esta doença chamada COVID- 19.
A COVID-19 é uma doença, uma síndrome viral, com sintomas inicialmente semelhantes a uma gripe comum, mas que pode evoluir rápido para uma pneumonia grave, com instalação de um processo imunoinflamatório exacerbado, com acometimento de vários outros órgãos e sistemas pelo corpo como o sistema nervoso central e periférico, o sistema cardiovascular e o sistema digestório. É uma doença de alta transmissibilidade ocasionada por um vírus chamado SARS-COV-2 (Coronavirus 2 associado a síndrome respiratória aguda grave) e tem levado ao adoecimento coletivo de grande parte da população mundial e à morte de uma parcela significativa dos doentes. Essa crise sanitária se iniciou no final de 2019 na cidade de Wuhan, na China, e se espalhou por todo o mundo.
E porque tanto se fala de vitamina D nesse período e qual seria o seu papel sobre a pandemia de COVID-19? A vitamina D é uma substância esteroide produzida naturalmente no nosso corpo através da exposição da pele ao sol, com participação do fígado e dos rins na sua ativação. Nosso código genético, conhecido como genoma humano, tem aproximadamente 2.780 posições de ligação para a vitamina D, ou seja, cerca de quase 10% dos nossos genes são sensíveis a essa substância. Assim, é uma substância com ação sistêmica, devido a onipresença do seu receptor, e com um espectro de ações muito amplo, incluindo a capacidade de imunomodulação, o que poderia ajudar na COVID-19, modulando a expressão exacerbada de mediadores inflamatórios, um quadro presente na pior apresentação da doença e conhecido como ‘tempestade de citocinas’, relacionada também com piores desfechos clínicos. Alguns trabalhos  científicos mostraram grande prevalência de deficiência de vitamina D em pacientes com casos graves a severos e mostraram presença de bons níveis nos pacientes que tiveram casos leves a moderados.
Os grupos de risco para deficiência de vitamina D incluem os idosos, pessoas com maior pigmentação da pele ou baixa exposição solar, presença de obesidade e desnutrição, doenças crônicas e autoimunes, atletas de alta performance, além de uso de medicações, como corticóides e anticonvulsivantes, pacientes operados de colecistectomia, cirurgias que alteram o trânsito intestinal e outras condições disabsortivas.
A hipovitaminose D, que deveria ser considerada uma questão de saúde pública, está relacionada a diversas doenças bem comuns como obesidade, infarto, depressão, diabetes, câncer, autoimunidade, doenças infecciosas, osteoporose, distúrbios neuroafetivos como autismo e déficit de atenção e hiperatividade. É necessária a investigação desses pacientes e que haja a instalação de medidas preventivas a nível populacional, com informação e com incentivo à correção desse parâmetro com avaliação caso a caso. A partir de todas essas informações sobre os benefícios de se ter bons níveis de vitamina D, com possibilidade de se ter melhores desfechos na COVID-19, algumas entidades médicas reconheceram a necessidade de se adotar novos parâmetros, instituindo níveis maiores que 40 – 60 ng/mL como alvo desejável de 25(OH)D, que é o exame medido no sangue, através do uso diário de vitamina D em doses mais adequadas. Além disso, o Ministério da Saúde incluiu na rotina de abordagem do paciente com COVID-19 a dosagem da vitamina D no sangue e a sua correção caso deficiente.
Como aumentar e manter níveis de vitamina D de maneira natural? As maneiras naturais de obter vitamina D são, principalmente, através da exposição solar e através da alimentação com fontes específicas. Uma exposição solar diária de 10 a 15 minutos por dia, no horário entre 10h e 15h, é suficiente para se aumentar e se manter bons níveis de vitamina D. Os resultados da exposição ao sol ainda depende da área de superfície corporal exposta, sendo que quanto maior a área exposta, maior a produção e em menos tempo; e também depende da coloração da pele. Importante lembrar que a utilização de protetor solar bloqueia essa produção. Mas como o tempo de exposição necessário para esse intuito é curto, caso decida se manter ao sol após esse período utilize um protetor solar de qualidade.
Apesar da pequena quantidade e da necessidade de consumo frequente das fontes em grande quantidade, através da alimentação também é possível melhorar os níveis de vitamina D no seu corpo, e existem alguns alimentos que são mais ricos e que devem ser priorizados com essa realidade como os ovos, o atum, a sardinha, o salmão selvagem (o salmão é um dos alimentos mais ricos em vitamina D, e 100g de salmão é capaz de oferecer até mais de 600 UI de vitamina D), queijos e cogumelos, ostras, camarões, óleo de fígado de peixe e bife de fígado.
Existe outra forma de aumentar a vitamina D? Existe a suplementação exógena de vitamina D de maneira oral, transdérmica ou injetável (intramuscular ou endovenosa), para aumentar os níveis de quem precisa de maneira mais aguda desse suporte. A melhor via de suplementação depende de cada caso, alguns pacientes tem boa reposta a suplementação oral, mas outros, por alguns motivos, não conseguem elevar seus níveis através do uso oral e necessitam da vitamina D injetável.
As evidências disponíveis indicam que existem vários micronutrientes podem dar suporte e modular a função imunológica e a evolução de uma infecção. Os dados de que a suplementação de vitamina D poderia modificar o curso da COVID-19 deveriam ser levados em consideração pela comunidade científica mundial e investigada em estudos multicêntricos para que se reconhecesse ainda mais o papel importante que esse nutriente, com características de hormônio, é capaz de desempenhar em favor da nossa saúde. A falta de vitamina D não deveria ser mencionada apenas como uma deficiência nutricional, mas reconhecida e tratada como uma insuficiência hormonal.
Dr. Thiago Rocha de Pinho Médico – CRM 5739 Contato: institutorevivaadm@gmail.com @drthiagorocha.
REFERÊNCIAS:
1. Grant, William B et al. Evidence that Vitamin D Supplementation Could Reduce Risk of In􀃓uenza and COVID-19 Infections and Deaths. Nutrients 2020, 12, 988; DOI:10.3390/nu12040988.
2. Hathcock, John N et al. Risk assessment for vitamin D. Am J Clin Nutr 2007;85:6–18.
3. De Almeida Filho, Durval Ribas; de Almeida, Carlos Alberto Nogueira; de Oliveira Filho, Antônio Elias. Posicionamento atual sobre vitamina D na prática clínica: Posicionamento da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). International
Journal of Nutrology Vol. 12 No. 3/2020.
4. Daneshkhah, Ali. The Possible Role of Vitamin D in Suppressing Cytokine Storm and Associated Mortality in COVID-19 Patients. DOI: 10.1101/2020.04.08.20058578.this
5. Mitchell, Fiona. Vitamin-D and COVID-19: do de_cient risk a poorer outcome?
Lancet Diabetes Endocrinol 2020. DOI: 10.1016/ S2213-8587(20)30183-2.
6. Revista SPDV 74(4) 2016; Vitamina D – Perspetivas Atuais; Alexandre Miroux Catarino, Cristina Claro, Isabel Viana.
7. Yanuck SF, Pizzorno J, Messier H, Fitzgerald KN. Evidence Supporting a Phased Immuno-physiological Approach to COVID-19 From Prevention Through Recovery. Integrative Medicine • Vol. 19, No. S1 – 2020.
8. Michael F Holick, et al. Vitamin D: Physiology, Molecular Biology and Clinical Applications. 2013, Human Press.

sábado, 13 de junho de 2020

XADREZ DA INSTRUMENTALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES POR BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Há indícios de que as instituições estão sendo politicamente instrumentalizadas pelo governo Bolsonaro.
É possível que a Secretaria da Receita Federal esteja sendo instrumentalizada pelos Bolsonaro.
Vamos aos fatos.
FATO 1 – GUEDES ADMITE INTERFERIR NA RECEITA
Em reunião com entidades empresariais, cujo áudio foi obtido pela Folha, Guedes contou que foi montada uma “operação tartaruga” na Receita Federal para impedir a venda de produtos que pudessem faltar para pacientes brasileiros, mesmo tratando-se de contratos fechados legalmente e juridicamente válidos.
PEÇA 2 – RECEITA INTERFERE NOS ESTADOS
O governo federal decidiu centralizar a compra de respiradores. Demorou para conseguir alguns respiradores. Até pouco antes de sair do cargo, o Ministro Luiz Henrique Mandetta não tinha ideia sobre como conseguir respiradores no mercado internacional.
Em defesa de sua população, o Maranhão decidiu importar respiradores da China, através do apoio de empresas instaladas no Estado. Devido à urgência, a encomenda passou pela Etiópia e não passou pela alfândega em São Paulo. Foi direto para atendimento dos doentes de Maranhão.
PEÇA 3 – JUSTIÇA AUTORIZA QUEBRA DO SIGILO FISCAL DE FLÁVIO BOLSONARO
Em abril do ano passado, o juiz Flávio Itabiana quebrou o sigilo bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e mais 84 pessoas.
A decisão foi tomada a pedido do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, ancorada em propvas robustas da prática de rachadinha e de lavagem de dinheiro por parte de Flávio.
Em setembro passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes determinou a suspensão de todos os processos que envolviam a quebra do sigilo de Flávio no caso Queiroz. 
Em novembro, por maioria, o Plenário do Supremo aceitou o compartilhamento de dados para fins penais, mesmo sem autorização entre os órgãos de inteligência e fiscalização e o Ministério Público.
A partir dessa data o MPERJ poderia dar encaminhamento dos pedidos aos órgãos (Receita Federal, bancos). Os recursos do Flávio não teriam o efeito de suspender as análises, salvo decisão judicial determinando a suspensão das verificações.
No dia 13 de maio de 2020, o Ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, rejeitou pedido de Flávio Bolsonaro para suspender as investigações.
PEÇA 4 – AS ACUSAÇÕES DO MPE-RJ
A medida cautelar interposta pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC) é pródiga em indícios contra Flávio e Queiroz.
* 9 de março de 2018: Procedimento Investigatório Criminal contra Flávio e Fabrício.
* Solicitadas imagens do caixa eletrônico do Itaú, nas agências onde foram realizados depósitos e saques.
* Logo depois, Queiroz se muda do Rio de Janeiro com a família, para tratamento de câncer.
* Convidado a prestar esclarecimentos, Flávio não compareceu e interpôs reclamação ao STF, com medida cautelar inicialmente deferida.
* Justificou o recebimento de 48 depósitos de R$ 2 mil por transação imobiliária. Dias depois, o ex-jogador de vôlei Gabio Guerra confirmou ter realizado transação imobiliária com Flávio, envolvendo permutas de imóveis e o pagamento de R$ 100 mil em espécie.
* Mas a imprensa, com acesso à escritura pública, encontrou divergências entre as declarações do comprador e o ato lavrado. O sinal teria sido pago em 24 de março de 2017, enquanto o ex-atleta afirmou ter quitado o sinal entre março e julho.
* Informações nas Declarações de Operações Imobiliárias, registradas perante o COAF, revelaram indícios de lavagem de dinheiro em transações imobiliárias realizadas por Flávio entre 2005 e 2018.
* O Gaocrim havia arquivado a ação, quando de sua eleição para o senado. O GAECC requereu ao Procurador Geral de Justiça o desarquivamento, devido a provas novas.
PEÇA 5 – FLÁVIO E OS MORTOS DO MARANHÃO
Enquanto Flávio Bolsonaro segue impávido e incólume, operações da Polícia Federal invadem casas de governadores, antes mesmo de se ouvi-los ou analisar documentos.
Nem se tome por regra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, alvo de investigações antigas e bem fundamentadas. Mas toma-se o caso do Pará, no qual o governador Helder Barbalho garante que acionou a empresa que prometeu e não entregou os ventiladores e recebeu o pagamento de volta, antes que a operação da PF fosse deflagrada.
Como é que fica, especialmente depois que Jair Bolsonaro admitiu publicamente seu desejo de interferir na Polícia Federal?
Há indícios de que as instituições estão sendo politicamente instrumentalizadas pelo governo Bolsonaro.
Do GGN

sexta-feira, 12 de junho de 2020

BOLSONARO PERDE FORÇA. MAS A DIREITA, NÃO, POR FERNANDO BRITO

O relativo encolhimento do fanatismo autoritário – embora não de sua estupidez – retrata que mais a desmoralização pessoal de Jair Bolsonaro com sua imobilidade e seu deboche para com os efeitos mortais da pandemia do novo coronavírus do que o refluxo de uma visão selvagem da vida em sociedade.
Apesar de tudo o que fazem seus grupos de fanáticos e dos urros selvagens com que lhes estimula o chefe, estamos mais longe de um golpe do que há dois meses atrás, parece fora de dúvida.
Ninguém se iluda, porém, que este perigo está afastado.
Bolsonaro, é verdade que de modo gutural e grotesco, exprime uma corrente de pensamento obscurantista, que recria, sob o conceito de “Guerra Híbrida”, uma nova versão da Guerra Fria dos anos 50 e 60, que vai, progressivamente, superpondo as ideia de militar à de polícia interna, tão cruamente exposta por Donald Trump há dias que obrigou o chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos EUA, Mark Milley, a pedir desculpas por participar da marcha presidencial contra manifestantes antirracistas.
Aqui, o discurso anti-crime fez, nos últimos 40 anos, a razão para a exacerbação do papel policial do Estado e, em consequência, na transformação da repressão policial um tema caríssimo à direita no processo político, diante do qual, temerosa da exploração política de uma atitude de contenção das polícias, não só se paralisou como deu seguimento ao empoderamento do aparelho repressivo do Estado, policial e judicial.
As Forças Armadas o perceberam e, num duplo movimento, passaram a investir na preparação das tropas para o exercício do poder de polícia. De um lado – e não por acaso sob o comando do general Augusto Heleno – fomos exercer o papel de polícia no Haiti e, internamente, o mesmo em sucessivas ações tropas militares na segurança pública, culminando com a intervenção federal no Rio de Janeiro, não por acaso comandada pelo general Walter Braga Netto.
É verdade que tivemos outra missão internacional, a do Congo, mas esta muito mais de natureza militar, pois enfrentava um grupo armado, o M-23, que dominava cidades e partes importantes do país. Foi esta que o General Santos Cruz comandou e pouco tinha, na sua época, características policiais.
Este projeto, que tinha em Jair Bolsonaro o seu Cavalo de Troia, acabou sendo prejudicado por sua montaria, grotesca e xucra, que conseguiu dissolver o apoio majoritário que alcançou nas eleições, meteu-se em situações escusas e demonstrou ter um nível de civilidade insuficiente até para ser o presidente de uma republiqueta folclórica.
Perdeu força, mas não morreu e segue ameaçando o avanço civilizatório do Brasil. Com a ajuda, em muitos casos ingênua e em outros infiltrada, dos que acham que atos de violência sem povo não são revolução, mas pretexto para a privação das liberdades públicas.
Do Tijolaço

quinta-feira, 11 de junho de 2020

PAÍS ARDE E BOLSONARO MANDA INVADIR HOSPITAIS E VER SE TEM PACIENTES, POR FERNANDO BRITO

O criminoso que ocupa a presidência da República – se o Brasil ainda tivesse um Ministério Público – estaria agora preso em flagrante por incitação ao crime.
Pela internet, insuflou seus seguidores a invadir hospitais para verificar se, de fato, ali existem doentes ou se os leitos estão ocupados ou se se está “inventando” pacientes da pandemia.
“[Se] Tem hospital de campanha perto de você, hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente está fazendo isso e mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados ou não. Se os gastos são compatíveis ou não. Isso nos ajuda”, disse o presidente, registra a Folha.
Como é que alguém, em meio a uma epidemia mortal, vai entrar clandestinamente num hospital, contaminando e sendo contaminado?
Se amanhã um dos debilóides que o segue entrar imundo numa UTI, de celular em punho e babujando pela boca, vai poder alegar que está seguindo ordens presidenciais?
O que será que Bolsonaro acharia se pessoas invadissem a UTI onde estava sendo operado para verificar se a facada do Adélio era fake ou não? Pode?
Isso é crime contra a saúde pública, cominado no Código Penal e tem de ser, imediatamente, objeto de ação pena.
Difícil não descer ao nível de canalhice deste sujeito, que em outras épocas levaria uma bofetada.
Se os bem-pagos promotores públicos, fiscais da lei, não se mexem, talvez isso venha a ser necessário.
Do Tijolaço