A
familiaridade de Wassef com o mundo político, empresarial e policial de um
lado, o empreendedorismo invencível de Flávio Bolsonaro, de outro, certamente
abriu espaço para muitas parcerias, ainda não visíveis.
PEÇA
1 – A MICROSOFT SE LANÇA NO SETOR PÚBLICO
No
início dos anos 90, a Microsoft lança o Windows 3.1 e entra no mercado de redes
sociais. O setor público torna-se um mercado promissor.
Mostrando
a prioridade dada ao setor, a Microsoft cria a vice-presidência da área de
governo e indica para o cargo o empresário Bruno Novo, dona de uma empresa de
tecnologia baleada pela crise do governo Fernando Collor.
Em
Brasilia, começa a se destacar Cristina Bonner, dona da TBA, uma empresária
ambiciosa que, em pouco tempo, tornou-se a maior revendera da Microsoft na
América Latina. Foi saudada pela imprensa especializada como a grande
empreendedora, apareceu em fotos ao lado de Bill Gates, fundador da empresa.
Teve
início um relacionamento profissional que acabou se tornando pessoal em 1996 e
resultou em um casamento em 1998.
A
Microsoft pensava em promover Bruno para vice-presidente para a América Latina,
mas tendo que se mudar para São Paulo.
Ele
acabou pedindo demissão da empresa e assumindo uma sociedade na TBA. Tornou-se,
depois, diretor estatutários de várias outras empresas abertas pelo grupo, na
medida em que passavam a representar não apenas a Microsoft, mas outros
gigantes, como a Oracle e a indiana Tata.
Juntos,
construíram a casa no lago, para onde a imprensa se deslocou hoje, atrás do
advogado Frederick Wassef – em cuja casa-escritório em Atibaia foi encontrado
Fabrício Queiroz.
Frederick
entra na vida do casal para resolver um problema específico, um desvio de 500
mil dólares feito por um funcionário. Eles tinham fax, mensagens como indícios
de golpe, mas provas consideradas frias pelos advogados Tecnólogos, sem
experiência no mundo jurídico, aceitam a indicação de Luiz Salles,
controvertido sócio da OAS, que indica Wassef como um faz-tudo. Em pouco tempo
ele conseguiu melhorar as provas, mostrando um relacionamento invejável com
autoridades judiciárias e policiais.
Ali
começou a parceria de Fredy com Cristina, em um momento em que o casamento com
Bruno ia degringolando.
PEÇA
2 – O ENVOLVIMENTO COM O MENSALÃO DO DEM
Bruno
acabou se assustando com os acordos políticos fechados pela esposa,
especialmente com o governo José Roberto Arruda, do Distrito Federal, e decidiu
sair da empresa e do casamento, aceitando uma partilha de bens inferior ao que
pensava merecer, mas mais rápida.
Tinha
razão. Logo depois estourou o escândalo dos esquemas do governador do Distrito
Federal José Roberto Arruda, no que ficou conhecido como o “mensalão do DEM”.
E, nas investigações aparece o nome de Cristina Bonner.
Foi
uma bomba ampla. Imediatamente ela perdeu a representação da Microsoft, da
Oracle e da indiana Tata. E começa a voltar os olhos para o mercado de São
Paulo.
PEÇA
3 – O ENVOLVIMENTO COM O PSDB PAULISTA
Antes
do escândalo, ela havia se aproximado de políticos paulistas do governo
Fernando Henrique Cardoso.
Com
o Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, acertou um esquema pesado de
legalização das cópias piratas de produtos Microsoft nas universidades. Passou
a pressioná-las enquanto oferecia oportunidades de legalizar as cópias piratas.
Percebendo
o espaço aberto, a IBM entrou na competição. Ela havia adquirido a Lotus, que
possuía um Office similar ao da Microsoft. Ofereceu, então, a cada universidade
uma licença de R$ 4,00 com direito a uma cópia do Office e do Lotus Notes, o
sistema de rede da Lotus.
Um
representante do MEC tentou demover os reitores, dizendo que o Ministério já
tinha um contrato guarda-chuva com a Microsoft. Bastaria informar o número do
computador para a cópia ser legalizada, sem sequer o custo de envio do CD com
os programas. Para as universidades, nada custaria. Para o MEC, o custo de R$
250,00 por licença.
Denunciei o
episódio na época e a operação não se concretizou.
Com
a eleição de José Serra na prefeitura, várias empresas envolvidas com Arruda se
mudam para São Paulo, passando a operar com a prefeitura e, depois, com o
governo do Estado.
Naquele
período, a Secretária da Educação Maria Helena Guimarães lança um projeto de
venda de computadores para professores da rede escolar, com financiamento da
Nossa Caixa. Em cada computador, um Office da Microsoft, ao custo de R$ 250,00,
em plena ascensão do software livre.
Ai
explode a Operação Pandora envolvendo diretamente Cristina Bonner, nas famosas
gravações de Durval Barbosa.
Decidiu
reinventar a empresa, aí fortemente alicerçada em Aref, que transitava por um
universo de bilionários enrolados em São Paulo.
A
ponte foi com Julio Semeghini, que ela conhecera quando Secretário da Comissão
de Inovação e Tecnologia da Câmara Federal.
A
TBA consegue espaço no Poupatempo de São Paulo. Depois, consegue ligações com o
PSDB de Minas Gerais, e passa a administrar projeto similar ao Poupatempo. Faz
o mesmo com a gestão gaúcha de Yeda Crusius.
Ao
mesmo, tenta fincar pé no novo governo que surgia, com a eleição de Lula. Ela
faz a mediação da Microsoft com o PT, através de Delúbio Soares, arrancando de
Lula a afirmação de que a Microsoft não seria prejudicada em seu governo,
apesar do programa do PT defender o software livre.
Com
a eclosão da Operação Pandora, a TAB se muda definitivamente para São Paulo,
alugando três andares na avenida Paulista, no edifício Sumitomo.
Os
negócios começam a murchar com a saída de Semeghini. Ele tinha facilidade em
montar consórcios, inibindo a competição e abrindo espaço para grupos
conhecidos. Com sua saída, passa a haver uma disputa mais acirrada e, sem a saída
dos consórcios, a TBA teve que enfrentar competidores muito mais preparados do
que no Distrito Federal.
Mesmo
assim, a TBA teve que reduzir os escritórios na Avenida Paulista e se instalou
em um escritório modesto em Santo Amaro. Àquela altura, ela e Wassef já se
preparavam para retornar a Brasilia.
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4 – O AMIGO BOLSONARO
O
caminho encontrado por Wassef foi o ex-capitão Jair Bolsonaro, deputado
obscuro, mas que, à luz das mudanças ocorridas na opinião pública, passa a ter
possibilidades eleitorais.
Rapidamente
se aproxima de Flávio Bolsonaro, o representante comercial da família.
Passa
a ser um dos mais ardentes propagadores do discurso contra a corrupção. Em
entrevista à Globonews sustentou que o que o abriu a Bolsonaro foi o
discurso contra a corrupção .
Para
evitar críticas, simulou uma separação de Cristina Bonner. Ontem, os
jornalistas foram atrás dele justamente na casa de Cristina Bonner.
Torna-se
o pau para toda obra dos Bolsonaro. Quando Adriano Nóbrega – o chefe do
Escritório do Crime – é caçado pela polícia, seu advogado é Paulo Emilio Catta
Preta. Quando Queiroz é preso na própria casa de Wassef, o advogado que surge,
dizendo-se contratado pela filha de Queiroz, é o mesmo Catta Preta.
O
advogado é estreitamente ligado a Wassef e foi seu advogado pessoal em uma
dezena de ações com as quais liquidou o ex-marido de Cristina Bonner.
Bruno
Novo não conseguiu receber os R$ 200 milhões a que tinha direito com o fim da
sociedade. Foi preso ou detido pela polícia por quatro vezes, mostrando a
incrível influência de Wassef sobre o universo das polícias.
Wassef
mora na casa em que construiu junto com a Cristina, mas que está embargada por
ações propostas por Wassef.
Bruno
foi literalmente massacrado pelas ações de Assef. Hoje em dia mora em Goiânia,
em apartamento emprestado, com sua defesa sendo feita de graça por advogados
que se solidarizaram com ele
PEÇA
4 – OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
A
familiaridade de Wassef com o mundo político, empresarial e policial de um
lado, o empreendedorismo invencível de Flávio Bolsonaro, de outro, certamente
abriu espaço para muitas parcerias, ainda não visíveis.
Com
o amadorismo indesculpável de ter abrigado Queiroz, Wassef se expôs
definitivamente. O fato de estar ligado aos Bolsonaro e do advogado de Queiroz
ser seu advogado particular permite desconfianças sobre a forma como Queiroz
será defendido.
Além
disso, jogará mais luzes sobre a Operação Pandora e as aventuras de Cristina
Bonner.
Do
GGN
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