terça-feira, 10 de maio de 2022

GENERAIS DE BOLSONARO EMBOLSAM ATÉ R$ 350 MIL ALÉM DO TETO. POR FERNANDO BRITO

A Folha acertou hoje um míssil devastador para a imagem dos militares brasileiros que, em sua imensa maioria, não estão na “boca rica” do cercadinho militar do Palácio do Planalto.

Revelou a soma recebida a mais, no último ano, pela dúzia de generais que estão ocupando ministérios e funções de confiança, nomeados por Jair Bolsolaro e beneficiados por uma portaria, assinada em 30 de março de 2021, que lhes permitiu ganhar até o dobro do teto constitucional de remuneração igual da de um ministro do STF (R$ 39.3 mil).

A lista: Luiz Carlos Ramos, o general secretário de Governo, levou R$ 350 mil além do teto; o soturno general Augusto Heleno, um “extra-teto” de R$ 342 mil, O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em terceiro, embolsou R$ 318 mil a mais em um ano, mesmo tendo dito que a benesse era “imoral”. Em quarto, vem o ínclito general Walter Braga Neto, com “apenas” R$ 312 mil de bônus, porque teve de deixar o ministério para ficar com uma “boquinha” menor de assessor especial, para poder ser o candidato a vice do “Mito”.

Os quatro passaram a uma remuneração anual de perto de R$ 900 mil, sem contar os “atrasados”, porque a portaria “dobra o teto” vale a partir de janeiro passado.

O grupo de privilegiados, claro, é restrito e nele até que Jair Bolsonaro é dos mais modestos, porque recebeu apenas R$ 26 mil de “extras”.

Mas o dano à imagem dos oficiais-generais é imenso.

Se algum deles duvidar, que vá ler a enxurrada de comentários que, poucas horas depois de publicada, a notícia provocou.

E, como diz um dos que comenta, não ser diga que se quer desmoralizar os militares.

Alguns de seus próprios generais se encarregam disso.

Tijolaço.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

TSE FAZ GENERAL “PAGAR MICO” COM SEU ULTIMATO. POR FERNANDO BRITO

Com todo o protocolo, mas sem nenhum esparramo de gentilezas, o ofício do Tribunal Superior Eleitoral foi uma resposta correta – não digo à altura, pois seria rebaixar-se – à nova intromissão indevida feita hoje pelo Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira, “avocando” para si as comunicações entre o TSE e o representante das Forças Armadas na malsinada Comissão de Transparência Eleitoral, da qual se serviu Jair Bolsonaro para colocar uma cunha na Justiça Eleitoral.

Publicar os questionamentos dos militares e suas respostas através de uma circular pública, para todas as entidades que participam da Comissão, foi uma forma – nada sutil, aliás – de dizer ao Ministro da Defesa que ele extrapolou, inaceitavelmente, as suas atribuições e as atribuições da consultoria que as Forças Armadas foram chamadas a dar na discussão do processo de apuração e totalização das urnas.

A íntegra da circular está aqui e se pode claramente ver que alguns dos questionamentos são pueris, simplesmente desconhecendo o que existe, e o “mico” supremo é a da questão sobre a tal “sala secreta” que Bolsonaro vive dizendo haver, onde um grupo de funcionários soma os votos como quiser.

“Não existem salas secretas, tampouco a menor possibilidade de alteração de votos no percurso, dado que qualquer desvio numérico seria facilmente identificado, visto que não é possível alterar o resultado de uma somatória sem alterar as parcelas da soma”

Isto é, como a totalização é feita por estados e enviada ao TSE, para alterar o resultado final seria necessário alterar as parcelas enviadas pelos tribunais eleitorais, o que, evidentemente, seria uma fraude grosseira, detectável até com um lápis que marcasse quais são os valores das parcelas.

Portanto, a “sala paralela” controlada por militares é uma absoluta tolice, porque se trata de um somatório de parcelas conhecidas e públicas, vindas dos Estados, que até com uma máquina de somar daquelas antigas, de alavanca, é possível conferir.

Existem riscos em urnas eletrônicas? Sim, poderia, em tese, haver contaminações nos programas das urnas, mas jamais nos sistemas de totalização, porque estes seriam facilmente rastreáveis pelos totais das zonas eleitorais e até por cada uma das urnas.

Mas a contaminação que ameaça o processo eleitoral brasileiro é a já abertamente usurpadora que o Ministério da Defesa, agindo em nome do Presidente da República, tem feito das atribuições que não lhe competem – não existem, simplesmente, nas leis que a definem – de interferir sobre o poder judiciário eleitoral.

E, no parágrafo final, Edson Fachin o diz, sem muitos rodeios, para que até um general entenda:

Sem prejuízo da transparência, segurança e do diálogo com as instituições nacionais, impende ressaltar que o Tribunal Superior Eleitoral – no exercício das funções que lhes são atribuídas pela Constituição -, é, de fato e de direito, o administrador e garantidor de todo o processo eleitoral brasileiro, cabendo-lhe a gestão e decisão dos avanços e aprimoramentos a serem nele implementados, os quais sempre terão como objetivo assegurar a integridade, a segurança, transparência e normalidade das eleições.

General, o senhor está sobrando nesta história.

Tijolaço.

domingo, 8 de maio de 2022

MERVAL, CONTRA LULA, SUGERE ATÉ ‘MÉNAGE A TROIS’ NO 2° TURNO. POR FERNANDO BRITO

O ódio de Merval Pereira a Lula é algo tão patético que, em sua coluna de hoje, em O Globo, ele lança uma proposta – apesar de reconhecê-la inviável, a esta altura – para que se crie um ménage a trois com um “segundo turno com três candidatos”, escolhendo para isso os que tivessem um percentual “X” de votos ou mais.

Vejam o delírio que tomou conta da cabeça do homem atormentado até com as coxas de Lula (ele falou “bilau”, mas vamos tomar isso como licença poética do literato da ABL):

“A possibilidade de ter três disputando o segundo turno, de qualquer maneira, seria uma maneira (maneira maneira? Que maneiro, meu literato!) de quebrar a polarização, dar chance a que uma terceira via se apresentasse ao eleitor em situação de competitividade em uma nova eleição.”

Neste caso, na criativa argumentação merválica, “deixaríamos de escolher o “menos ruim”, como fazemos há tempos, para escolher ‘o melhor’ dos três”.

Curiosa definição para o “melhor”, mas é melhor a do dicionário, logo na primeira acepção que lhe dá o Houaiss:”[aquele] que, por sua qualidade, caráter, valor, importância, é superior ao que lhe é comparado.”

Não é preciso muito argumentar sobre o desvario de Merval.

Isso tudo é uma arenga para evitar ir diretamente ao ponto: apelar para que o voto antibolsonaro migre no primeiro turno para Lula.

“Antecipar o voto útil para o primeiro turno, como querem muitos petistas, para erradicar de vez a ameaça bolsonarista, é dar ao ex-presidente Lula um cheque em branco que ele não necessariamente merece para boa parte dos que, a esta altura, dizem que votarão nele.”

Não sei de onde se tira esta conclusão, pois não vejo como vencer com 51% no primeiro turno autoriza mais o eleito do que vencer com 60 ou 65% no segundo.

Mas nem ele resiste e diz que se não houvesse a ameaça de que o “mais ruim” vencesse, poder-se-ia considerar (ai, Camões!) o voto nulo “uma opção válida”. Havendo, como a há, até o príncipe global aceita que não há outro jeito, num segundo turno “a dois”, é o correto a fazer:

No segundo turno, se o candidato “menos ruim” tiver risco de perder para o que você considera “o pior”, vote no menos ruim.

E eu vou viver para ver Merval “lular”…Tijolaço!

sábado, 7 de maio de 2022

QUE A CAMPANHA DEIXE LULA SER LULA. DIZ FERNANDO BRITO

Esta bobagem hipócrita de que a campanha eleitoral só começa dois meses antes do dia da votação – e que não existe em parte alguma do mundo, inclusive no paradigma liberal de democracia, os EUA – não é capaz de anular a verdade real de que, sim, já estamos em campanha e é isso o que orienta hoje a vida política, econômica e administrativa do país.

Sugere-se, a quem duvidar, que examine os atos do presidente da República, do alto de seu poder cada vez mais imperial, inclusive usando as Forças Armadas como guarda pretoriana para submeter a Justiça Eleitoral ao resultado que deseja.

Portanto, a campanha já começou e é assim que se deve observar a tal “pré-candidatura” de Lula, a ser lançada daqui a pouquinho, em São Paulo: agora é hora, acima de tudo, de ganhar votos, que produzam e legitimem a mudança de rumos do país.

Há limites de validade no raciocínio liberal de que isso se faz movendo a campanha mais para “a esquerda”, ao “centro” ou “à direita”. Até certo ponto, sim, é verdade, pois se trata de fixar balizas diante da população quanto a radicalismos, segurança jurídico-constitucional, relacionamento com partidos e instituições.

Como vimos, porém, na eleição passada, definições ideológicas pesam pouco na escolha eleitoral porque, neste caso, Jair Bolsonaro não teria 55% dos votos dos brasileiros.

O que de fato importa na campanha, quando se trata de estabelecer objetivos e métodos para ganhar votos é saber como manter as simpatias que se possui e conquistar as que ainda não se tem.

Tudo se resume, afinal, em como obter o sentimento de identidade (e o de admiração) entre eleitor e candidato. Quase sempre é isso que define eleições: estar próximo o suficiente para criar empatia e alto o bastante para ser visto como líder capaz de levar ao governo estes sentimentos e metas que partilham.

E a razão é bem simples: quem faz a campanha eleitoral não é o candidato, é o eleitor.

A propaganda, em si, é algo fácil, com técnicas e criatividade que, hoje, a marquetagem oferece de forma ampla, geral e quase irrestrita. E não resolve, se a linha sobre a qual se assentar não tiver sintonia com o sentimento da sociedade e dos grupos que a formam, até porque o povão, em parte, descolou-se dos meios convencionais de comunicação – TV aberta, jornais, revistas, rádio, tudo ainda importa muito, mas não é o único que importa.

O foco da campanha (real, embora não oficial) não deve ser estar nos focos de resistência a Lula, porque ali houve uma fanatização que argumentação racional não dissolve. É tempo e energia gastos à toa e, pior, uma exposição a discussões negativas e, daí, potencialmente violentas, clima em que o bolsonarismo aposta.

É na pobreza, na periferia, no Nordeste, na juventude, entre as mulheres (que muito mais que nós, homens, sabem da dificuldade de alimentar, vestir e fazer estudar os filhos), é ali que está o Lula e são eles os vetores que o transportarão à vitória e, de novo, à Presidência do Brasil. Quem ganha votos é o povo, que é o lugar onde somos muitos sem deixarmos de ser nós mesmos.

Os arrogantes querem moldar um Lula “certinho”, porque acham que é preciso passar no “vestibular da submissão” para ser bem aceito nos salões, como se um líder mundialmente reconhecido precisasse de sua indulgência.

Deixem Lula ser Lula, porque foi isso que deu certo e faz da memória popular a fonte da decisão.

Tijolaço.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

PETROBRAS TEVE LUCRO RECORDE COM 20 DIAS DE AUMENTO? FERNANDO BRITO

Deu-se como razão para o aumento brutal dos combustíveis o fato de que a Petrobras estaria operando em prejuízo, com os preços altos do petróleo no mercado internacional e a desvalorização cambial.

Só que o reajuste aconteceu no dia 11 de março e, portanto, dos 90 dias do primeiro trimestre de 2022, em nada menos que 70 dias a empresas estaria trabalhando com prços alegadamente baixos, cuja a correção era forçosa e urgente.

Mas a Petrobras divulgou hoje que, nos 90 dias do primeiro trimestre – 70 ‘ruins’ e 20 ‘bons’ – lucrou nada menos que R$ 44,5 bilhões, o 3° maior para ganhos trimestrais de toda a história.

Simplesmente, não bate: os preços eram mais que compensatórios, porque seria impossível ter todos este lucro no trimestre em 20 dias, tendo amargado 70 outros de prejuízo.

Ou melhor, o que não bate é a justificativa da tal paridade de preços internacionais.

É só olhar o gráfico aí de cima para que se veja que os preços já vinham altos ao longo de todo 2021, início de 2022 e seguem altos agora, não houve uma reversão súbita.

80% dos derivados consumidos no país são produzidos aqui, com custo, portanto, em reais e que não foram afetados pelo salto dos valores do barril no mercado mundial.

A administração da Petrobras, uma empresa estatal e com responsabilidade com o país é que se julgou – e julga – no direito de beneficiar-se integralmente – e até mais um pouco – dos momentos de crise, para produzir lucros estratosféricos que serão, como agora mesmo, distribuídos livres de impostos a seus acionistas, dois terços deles, quase, privados.

Bolsonaro gritou que isso era “um estupro” – ele só pensa naquilo – porque quer retardar o novo reajuste que a empresa já planeja e sair dele, outra vez, com cara de mártir.

Tijolaço.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

QUEM NASCEU PARA ‘VEJA’ NUNCA VAI SER ‘TIME’. POR FERNANDO BRITO

Não foi só o bolsonarismo que se roeu de ódio pelo fato de que a Time deu uma capa e uma cobertura simpática ao ex-presidente Lula.

A grande imprensa brasileira, também bufou.

Tanto que foi buscar em uma ou duas declarações isoladas motivos para criticá-la e menosprezar a importância que ela revela da possibilidade de sua volta ao governo e o que ela significa para o nosso país no mundo.

A primeira – e mais usada – foi a de que o presidente ucraniano Volodimyr Zelensky tem tanta responsabilidade por chegar a uma situação de guerra com a Rússia quanto a que tem Vladimir Putin.

Se Lula dissesse que Zelensky declarou guerra, estaria errado, certamente. Se dissesse que Zelenky queria a guerra, provavelmente estaria errado. Mas está absolutamente certo quando diz que o presidente ucraniano flertou com a possibilidade de guerra ao perceber que Estados Unidos e Otan pretendiam colocar o seu país como uma ferramenta contra o regime russo e viu nisso uma oportunidade política, para ele e para a Ucrânia.

Era a chance de, oferecendo o país para abrigar tropas e mísseis apontados para Moscou, a menos de 600 km de distância, virar a noiva cobiçada do Ocidente, tendo como “dote” exatamente suas possibilidades bélicas.

Nove entre dez analistas políticos da imprensa internacional viram e registraram isso: Zelensky tornou-se, ao menos na Europa, um celebridade instantânea.

Resume-se a isso o comentário de Lula, o resto é a sua postura em relação à diplomacia e a conflitos: negociar, negociar e, quando parecer impossível continuar negociando, negociar com ainda mais empenho.

A segunda questão é ainda pior. É o fato de Lula dizer que, em relação a suas diretrizes econômicas, basta olhar seus oito anos de governo. Quanto a dar detalhes das suas ações, sim, não deve mesmo fazer, porque seria absurdo se um candidatos com chances reais de vitória começasse a dizer que vai taxar tal atividade, isentar outra. O que queriam, mesmo, é que Lula indicasse um “guru econômico” que começasse a fazer farol e a autopromover-se.

As duas questões foram usadas, o dia inteiro, para desqualificar o que realmente havia de importante: Lula tem a importância de um estadista – e por isso a capa e a entrevista destacada na maior revista do mundo – e tem o preparo para sê-lo, porque si do lugar comum do “correto, mas inócuo” paraapontar atitudes que podem fazer diferença.

Enganam-se os que acham que seria melhor para Lula fazer um midia training destes que se compra por R$ 10 mil em qualquer assessoria e dar respostas qie caberiam no programa da finada Hebe Camargo, com uma ou outra frase programada para arrancar suspiros.

Poderia ter feito drama da sua detenção – agora reconhecida aqui e lá fora como ilegal – para promover seu martírio, mas pensa para a frente, e não para trás, porque é assim que deve agir um líder.

No fundo, a nossa imprensa queima de vergonha por não ter feito, até agora, uma entrevista que repusesse em seu lugar quem ela própria pintou como um monstro e escarneceu de sua perseguição.

Quem nasceu para Veja nunca vai ser Time.

PS. A propósito da postura da mídia brasileira, leia o demolidor artigo de Kennedy Alencar, no UOL. Irretocável.

Tijolaço.

terça-feira, 3 de maio de 2022

VETO A OBSERVADORES DA UE É TIRO NO PÉ DO GOVERNO. POR FERNANDO BRITO

Sob o aspecto da segurança dos resultados, não nos fará muita diferença a presença ou não de observadores eleitorais da União Europeia, “desconvidados” pelo Tribunal Superior Eleitoral por pressão do governo Jair Bolsonaro, até porque as ameaças às nossas eleições não estão nos sistemas de captação e totalização dos votos que, tecnicamente, aqueles enviados verificariam.

A garantia do nosso processo eleitoral depende muito menos de missões de especialistas que de uma postura diplomática de nível mundial sobre a não aceitação de influência de força armada – milícias, polícias e militares – na escolha soberana do povo brasileiro.

Já há, semeada pelo próprio presidente, evidência flagrante de ameaças que justifiquem o acompanhamento do processo eleitoral bem antes que este chegue a apuração.

A diplomacia global sabe pode emitir sinais claramente compreensíveis de advertência sobre como o mundo reagirá a uma violação dos princípios democráticos e o que resta de inteligência nas elites militares, políticas e empresariais saberão entendê-los e recuar diante de situações que levariam nosso país a uma condição de exclusão internacional.

Neste sentido, a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU, condenado os abusos e ilegalidades cometidos contra Lula, inclusive e sobretudo no cerceamento de seus direitos políticos em 2018 já seria razão para que a comunidade internacional estivesse de olho no que se passa com as eleições brasileiras.

A pressão de Bolsonaro para “desconvidar” a União Europeia só serve para ampliar este nível de alerta.

Afinal, se foram mais de 200, em 75 países do mundo, por que será que no Brasil “não pode”?

Tijolaço.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

PENDURADOS NO DÓLAR. POR FERNANDO BRITO

As próximas 48 horas, agitadas no mercado financeiro – o dólar chegou a bater R$ 5,08 hoje, estabilizando-se perto dos R$ 5,07 – enquanto se espera o quanto serão as altas de juros do Federal Reserve e do nosso Banco Central, a serem decididas na quarta-feira vão bater em gente que não está nem lendo as cotações diárias.

A Confederação Nacional do Comércio publicou sua Pesquisa de Endividamento e Inadimplência mensal e os brasileiros atingiram a maior taxa de endividamento desde que o índice passou a ser apurado, em 2010, segundo informa a Agência Brasil.

Nada menos que 77% das famílias tem dívidas, muito acima dos 67% que carregavam prestações em abril do ano passado.

O número dos que têm pagamentos em atraso – a taxa de inadimplência – subiu a 28,6% das famílias, 4,4% maior que há um ano.

Deveria ter havido uma redução, com o crescimento, ainda que pífio, das taxas de emprego, mas a queda na renda e a disparada da inflação, tornando mais difícil a manutenção das despesas básicas, provocou o efeito inverso.

É sobre este quadro que vai se despejar uma decisão de aumentar mais os juros públicos, mesmo diante da evidência de que nossa inflação não decorre de um superaquecimento da economia, decisão que se “fundamenta” na necessidade de continuar segurando o dólar pela diferença generosa do que pagamos sobre as taxas internacionais.

Em dez dias, porém, a valorização da moeda norte-americana acumula 10% e, a seguir subindo, trará os seus inevitáveis impactos inflacionários.

Tijolaço.

domingo, 1 de maio de 2022

A AMEAÇA E A REALIDADE. POR FERNANDO BRITO

Em dois parágrafos curtos, Elio Gaspari, na Folha, resume o estado de coisas político do país:

“O Brasil corre o risco de viver sua maior crise institucional desde o dia 13 de dezembro de 1968, quando o marechal Costa e Silva baixou o Ato Institucional nº 5. Ela tem data e hora marcadas: a noite de 2 de outubro, quando se conhecerá o resultado da eleição.
O cenário é previsível: fecham-se as urnas, totalizam-se os votos e, caso Jair Bolsonaro seja derrotado, ele anuncia que não aceita o resultado.”

Em menos que isso, Eliane Cantanhêde, no Estadão, resume o resultado de um ano de atenção simpática da mídia, de articulações e de vaidades vazias de quem se pretendia o desejo de uma alternativa à polarização:

“A terceira via agoniza, com o União Brasil fora, o PSDB se autodestruindo, o MDB revirando suas velhas agonias e o Cidadania impotente, enquanto a “opção única” vai deslizando do improvável para o patético e nem se sabe mais se haverá anúncio de qualquer coisa em 18 de maio, à espera de um milagre. Desfecho melancólico.”

Colunistas sem o menor viés de lulismo, Gaspari e Cantanhede observam o que está evidente e independe do desejo de que seja assim: a eleição está absolutamente polarizada e a direita mais autoritária percebeu isso, transferindo de Sergio Moro para Jair Bolsonaro os pontinhos que tinha o ex-juiz.

Verdade que, para estes, o caminho é mais “fácil”, porque lubrificado pelo ódio que têm em comum pela política, pelo diálogo e pelo viés autoritário, pouco afeito a aceitar as diferenças própria de uma sociedade que é diversa, e que é bom que seja assim.

Mas para pessoas que acreditam na convivência democrática, embora com mais resistências, vai ficando claro que a opção não é exatamente por Lula, mas pela continuidade dos mecanismos do Estado de Direito e da soberania popular exercida pelo voto.

Ele próprio o sinalizou pela escolha do vice, Geraldo Alckmin, alguém a anos-luz do petismo. Bolsonaro, à sua maneira, emitiu sinal igual e contrário, ao escolher um sombrio general, Walter Braga Neto, como seu segundo.

Não importa que os elitistas relutem em entender que não são Lula e o PT que estão criando a polarização. É a realidade que nos colocou diante de uma escolha nada difícil, entre democracia e ditadura.

Tijolaço.

sábado, 30 de abril de 2022

O DOMINGO DOS DENTES À MOSTRA. POR FERNANDO BRITO

Não dá para prever o quanto a máquina bolsonarista levará para as ruas amanhã, no seu Brucutu’s Day, em homenagem ao leão de chácara Daniel Silveira e para agredir o STF.

Mas, mesmo que venham a ser poucos, é certo que o estado de excitação e agressividade será grande.

Não estamos diante de um movimento político-eleitoral, estamos defrontados com um movimento sedicioso, que visa demolir um resultado negativo das eleições, senão no primeiro turno, certamente no segundo, quando esperam colocar em marcha um clima de terror e de chantagem aberta.

Claramente, o de que as Forças Armadas não aceitarão uma vitória de Lula.

Ou seja, ou se dá o voto a Bolsonaro ou se dará, sem o voto, o poder outra vez a Bolsonaro.

Repare como, nos últimos meses, ficou claro que, infelizmente, as opções próprias da democracia ficaram obscurecidas.

É evidente que em processos eleitorais normais, cada um pode buscar o ajuste fino entre o que pensa e o candidato em que vota e que isso implica, como em qualquer país, em quatro, cinco, seis ou ate mais candidatos.

Aqui, entretanto, há um cenário em que qualquer voto desperdiçado em candidaturas inócuas ou mesmo anulado por descrença é, na prática, um voto que ajuda o país a descambar para o autoritarismo.

Os dentes estão à mostra, deles não façamos pouco caso.

Há uma ameaça sobre todas as cabeças dos brasileiros e é preciso entender que, se ainda temos saída, cada metro em que se permite que o bolsonarismo avance nos deixa mais perto de um ponto sem volta nesta loucura.

O 1° de maio, dia dos direitos e das liberdades dos que trabalham não pode ser convertido na data das feras à solta, pregando a barbárie e a ditadura.

Tijolaço.

sexta-feira, 29 de abril de 2022

BOLSONARO NÃO TEM PARTIDO PORQUE FAZ GUERRA, NÃO POLÍTICA. POR FERNANDO BRITO

A Folha anuncia hoje o falecimento, sem provocar lágrimas, do “Aliança pelo Brasil”, o partido que Jair Bolsonaro lançou, com pompa e circunstância, em 2019, depois da briga pelo controle dos recursos do PSL, que havia perdido para o espertíssimo Luciano Bivar, sócio-controlador da sigla que abrigou a candidatura presidencial em 2018.

Faltaram-lhe 309 mil das 492 mil assinaturas requeridas por lei, porque só conseguiu validar 183 mil filiados, ficando o restante na conta dos mortos, dos filiados a outros partidos, à duplicidade e, até, à inexistência do eleitor que, supostamete, apoiada a criação do partido “38”, número que havia sido escolhido para resumir suas ideias, agora substituído pelo menor calibre do “22” do Partido Liberal.

Mas é um erro acreditar que Bolsonaro “não conseguiu” reunir as tantas assinaturas necessárias, porque há dúzias de gente com menos poder e dinheiro que o consegue com um pé nas costas, como atesta o fato de termos mais de 30 partidos registrados.

É que o bolsonarismo não se estrutura através de partidos. Não o fazia através do PSL, não tentou fazê-lo no “Aliança 38” e nem o faz através do PL que lhe alugou Valdemar Costa Neto, CEO do Partido Liberal.

Já em 2019 escreveu-se isso neste blog.

O bolsonarismo não tem diretórios, nem sente a necessidade de tê-los, porque se organiza em outras células: polícias, milícias, templos religiosos, clubes de atiradores e movimentos reacionários inorgânicos, além do apoio de grupos empresariais atrasados, especialmente no meio rural.

Seu objetivo não é a organização, mas reproduzir a agitação que vem de cima, da figura tosca do presidente da República. Compete-lhes apenas difundir os comandos e verdades emanados de cima, não há ideias a discutir, nem resoluções a tomar.

Também não é esse o objetivo dos políticos, seja de qual partido do Centrão forem, mas apenas o de garantirem verbas e cargos, não para implementar políticas, mesmo as conservadoras, mas apenas as de recolherem vantagens políticas e materiais.

A necessidade de Bolsonaro não é a de um partido, é a de uma gangue.

Tijolaço.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

BOLSONARO QUER ELEIÇÃO APURADA EM ‘COMPUTADOR MILITAR’. POR FERNANDO BRITO

Pronto: Jair Bolsonaro encontrou a fórmula, inédita no mundo, para transformar uma eleição em um golpe militar, sem o uso de tanques, carros blindados e tropas de choque.

Basta um cabo (USB?) soldado nos computadores da Justiça Eleitoral, que transfira os dados para o computador do Exército, e a sua vitória estará garantida. Pelo menos é o que se depreende do que disse, agora há pouco, o presidente:

“Quando encerra eleições e os dados chegam pela internet, e tem um cabo que alimenta a ‘sala secreta do TSE’. Dá para acreditar nisso? Sala secreta, onde meia dúzia de técnicos diz ‘quem ganhou foi esse’. Uma sugestão é que neste mesmo duto seja feita uma ramificação, um pouco à direita, porque temos um computador também das Forças Armadas para contar os votos”, disse Bolsonaro, informa a Folha.

Como ‘a ramificação’ é ‘um pouco à direita’, não é difícil imaginar o que aparecerá no ‘computador militar’.

É bom que as chefias militares vejam no que estão se metendo, porque este é o caminho mais perigoso, não só para o país, mas para elas próprias. Bolsonaro, como qualquer comandante, só deve ser obedecido em suas ordens legítimas e não há nada de mais ilegítimo do que forças militares usurparem o controle da apuração do processo eleitoral, algo que nem durante o período autoritário foi feito.

Isto é, evidentemente, uma patacoada, mas envolver as Forças Armadas numa patacoada é criminoso e perigoso. Coloca-as na posição de usurpadoras do voto popular e de – não há outra conclusão possível – de dispostas a fraudar, na apuração, a vontade popular.

A declaração foi feita numa cerimônia oficial, em pleno Palácio do Planalto, onde pontificou como “herói” o leão de chácara aliviado de sua condenação pelo presidente.

Ele é, agora, o símbolo anabolizado da liberdade de expressão, inclusive para ameaçar dar surras e tiros.

Quem sabe Bolsonaro não vai usar sua “Bic” para nomeá-lo o próximo ministro “da defesa” pessoal?

Tijolaço.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

COM LULA O ‘TIJOLAÇO’ VAI PODER ESCREVER QUE A ALEGRIA VOLTOU AO PAÍS, DIZ BRITO

Se é cabotino, perdoem-me, mas não posso deixar de compartilhar com os leitores deste blog o trecho da coletiva de Lula, ontem, que talvez tenha escapado de muitos (porque a entrevista foi uma maratona de 3 horas e meia) em que ele responde à pergunta que fiz sobre a retomada do desenvolvimento econômico e da restauração de um mínimo de dignidade na vida do povo pobre do Brasil.

Lula elencou as linhas gerais de suas medidas na economia e das responsabilidades do Estado na recuperação do país e de que pretende assumir, pessoalmente, o papel de indutor, via política econômica, da recuperação dos níveis de atividade na economia, repelindo as críticas de que não teria “responsabilidade fiscal” ao adotar políticas de aceleração da economia e da retirada do nosso país da catástrofe social em que foi atirado.

Quem puder, pode assistir a íntegra da entrevista aqui.


Tijolaço.

terça-feira, 26 de abril de 2022

E DESDE QUANDO O LULA NÃO FALA? POR FERNANDO BRITO

“Lula não fala disto; Lula não fala daquilo…”, você está lendo na grande mídia.

Mas é claro que Lula fala, e vai falar amanha a blogueiros, youtubers e para a mídia independente, em entrevista coletiva, a partir das 10;30, com transmissão por seu canal oficial no Youtube e por diversos sites, como este Tijolaço, que replicarão as perguntas sobre crise institucional, inflação, aliança com Geraldo Alckmin, pesquisas, “terceira via” e pautas alternativas que raramente estão nos jornais.

Carlito Neto (O Historiador); Conceição Lemes (Viomundo);João Antônio (Click Político); José Fernandes Júnior (Portal do José); Laura Sabino (Laura Sabino); Luíde Matos (Luideverso); Mariana Torquato (Vai uma mãozinha aí); Nina Fideles (Brasil de Fato); Pedro Borges (Alma Preta); Ronny Telles (Ronny Telles); Talita Galli (TVT) e eu, deste Tijolaço, vamos, por duas horas, tentar dar conta de tudo o que tem a dizer este protagonista dos últimos 40 anos da vida política brasileira.

Como de outras vezes, é provável que ele repita uma frase que virou um bordão em muitas das entrevistas que concede às radios de todo o Brasil, um dos poucos espaços que tem para se comunicar com a população: “não tem pergunta proibida”.

Lições do passado, preocupações do presente e as esperanças possíveis para o futuro são a nossa pauta. E são a própria vida de Lula.

Daqui a pouco, aqui em baixo, a transmissão. ao vivo.

Tijolaço.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

“EU ACIMA DE TUDO”. POR FERNANDO BRITO

Do alto do cavalo, digo, do alto de seu saber jurídico, Jair Bolsonaro, Primeiro e (graças a Deus) Único Imperador da República decreta que seu decreto perdoando Daniel Silveira, o deputado leão de chácara, “é constitucional e será cumprido”.

Portanto, o Supremo Tribunal Federal, a quem compete o controle de constitucionalidade de todos os atos administrativos é, solenemente, declarado inútil.

Seu poder está definitivamente usurpado e Jair Bolsonaro pode, a partir de agora, decretar a nulidade de toda e qualquer sentença que de lá saia, se o quiser.

“Eu acima de tudo”: foi só tirar duas letras.

Para isso, garantem-lhe os “manos” fardados, reduzidos à condição de guarda pretoriana idosa do César., que está à beira de cruzar com ela o Rubicão da independência dos poderes.

Por isso marcha ali outro personagem que soa estranho, como dublê de ministro da Defesa de fato e candidato a vice-presidente.

É triste e ruinosa a situação da República e só não é pior porque ainda resta – ao menos suponho – inteligência entre os militares para saber que a imposição de medidas de força não tem possibilidade de sustentar-se por mais que alguns dias, porque não se tem a mídia e nem a conjuntura mundial que havia em 1964.

Isso parece ser, ainda, a nossa maior garantia, pois já mandaram o cabo e o cavalo para pisotear as decisões judiciais.

Tijolaço.