Não
foi só o bolsonarismo que se roeu de ódio pelo fato de que a Time deu
uma capa e uma cobertura simpática ao ex-presidente Lula.
A
grande imprensa brasileira, também bufou.
Tanto
que foi buscar em uma ou duas declarações isoladas motivos para criticá-la e
menosprezar a importância que ela revela da possibilidade de sua volta ao
governo e o que ela significa para o nosso país no mundo.
A
primeira – e mais usada – foi a de que o presidente ucraniano Volodimyr
Zelensky tem tanta responsabilidade por chegar a uma situação de guerra com a
Rússia quanto a que tem Vladimir Putin.
Se
Lula dissesse que Zelensky declarou guerra, estaria errado, certamente. Se
dissesse que Zelenky queria a guerra, provavelmente estaria errado. Mas está
absolutamente certo quando diz que o presidente ucraniano flertou com a
possibilidade de guerra ao perceber que Estados Unidos e Otan pretendiam
colocar o seu país como uma ferramenta contra o regime russo e viu nisso uma
oportunidade política, para ele e para a Ucrânia.
Era
a chance de, oferecendo o país para abrigar tropas e mísseis apontados para
Moscou, a menos de 600 km de distância, virar a noiva cobiçada do Ocidente,
tendo como “dote” exatamente suas possibilidades bélicas.
Nove
entre dez analistas políticos da imprensa internacional viram e registraram
isso: Zelensky tornou-se, ao menos na Europa, um celebridade instantânea.
Resume-se
a isso o comentário de Lula, o resto é a sua postura em relação à diplomacia e
a conflitos: negociar, negociar e, quando parecer impossível continuar
negociando, negociar com ainda mais empenho.
A
segunda questão é ainda pior. É o fato de Lula dizer que, em relação a suas
diretrizes econômicas, basta olhar seus oito anos de governo. Quanto a dar
detalhes das suas ações, sim, não deve mesmo fazer, porque seria absurdo se um
candidatos com chances reais de vitória começasse a dizer que vai taxar tal
atividade, isentar outra. O que queriam, mesmo, é que Lula indicasse um “guru
econômico” que começasse a fazer farol e a autopromover-se.
As
duas questões foram usadas, o dia inteiro, para desqualificar o que realmente
havia de importante: Lula tem a importância de um estadista – e por isso a capa
e a entrevista destacada na maior revista do mundo – e tem o preparo para sê-lo,
porque si do lugar comum do “correto, mas inócuo” paraapontar atitudes que
podem fazer diferença.
Enganam-se
os que acham que seria melhor para Lula fazer um midia training destes
que se compra por R$ 10 mil em qualquer assessoria e dar respostas qie caberiam
no programa da finada Hebe Camargo, com uma ou outra frase programada para
arrancar suspiros.
Poderia
ter feito drama da sua detenção – agora reconhecida aqui e lá fora como ilegal
– para promover seu martírio, mas pensa para a frente, e não para trás, porque
é assim que deve agir um líder.
No
fundo, a nossa imprensa queima de vergonha por não ter feito, até agora, uma
entrevista que repusesse em seu lugar quem ela própria pintou como um monstro e
escarneceu de sua perseguição.
Quem
nasceu para Veja nunca vai ser Time.
PS.
A propósito da postura da mídia brasileira, leia o demolidor artigo de Kennedy
Alencar, no UOL. Irretocável.
Tijolaço.
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