Aluísio e Roseana
A década de 2000 a 2010
foi marcada pela migração da violência no Brasil. Estados do Sudeste, que
historicamente lideravam rankings de homicídios no país, deram lugar, no topo
das listas, aos do Norte e Nordeste. São Paulo e Rio de Janeiro registraram
quedas de 66,6% e 35,4%, respectivamente, no número de assassinatos por 100 mil
habitantes, enquanto os índices mais que dobraram em estados como Bahia
(339,5%), Maranhão (373%) e Pará (258,4%), no período. Nas cidades por sua vez,
houve a interiorização da violência, com quedas em mortes nas capitais e
incrementos, em municípios menores. Os dados foram levantados por Daniel
Cerqueira, diretor de Estado, Instituições e Democracia do Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), que tomou por base, em seu estudo,
números divulgados pelo Ministério da Saúde.
No topo das cidades com
mais assassinatos estão Simões Filho, na Bahia, e Ananindeua, no Pará. Segundo
o especialista, as taxas de homicídios em municípios pequenos (menos de 100 mil
habitantes) cresceram em média 52,2% entre 2000 e 2010, enquanto, nos médios, o
aumento foi de apenas 7,6%. Já as cidades grandes (com mais de 500 mil
habitantes) registraram uma queda de 26,9% na taxa. Entre os 20 municípios com
maior taxa de mortes violentas, dez são pequenos, nove médios e apenas um
grande — Maceió, na sexta posição. Cerqueira buscou possíveis causas para essa
realocação de vítimas.
Para o especialista,
contribuíram para a nova geografia da violência políticas públicas de segurança
nacionais, como o Estatuto do Desarmamento e o I Plano Nacional de Segurança,
que multiplicou por dez o orçamento destinado ao sistema penitenciário, e
locais, como a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio e
a intensificação de operações em São Paulo. No entanto, Cerqueira vê na
diminuição da desigualdade de renda uma das principais causas para o aumento
dos assassinatos nas cidades pequenas. A dinamização econômica em localidades
fora dos eixos metropolitanos impulsionaria a expansão dos mercados de drogas
ilícitas nessas regiões, diz o estudo.
— Essas localidades
passaram a se tornar mais atrativas ao tráfico porque, com mais renda, o uso de
drogas tende a aumentar. Esse mercado ilegal costuma vir acompanhado da
violência. O crescimento fica comprovado com o aumento no número de mortes por
overdose em oito vezes no país, entre 2000 e 2011. Considerando que a taxa de
letalidade das drogas não aumentou, então o que subiu foi o uso delas — conclui
Cerqueira.
Ainda segundo o
economista, o custo da violência no Brasil representa pelo menos 6,08% do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro a cada ano. Sete estados conseguiram
reduzir suas taxas de homicídios entre 2000 e 2010: além de Rio e São Paulo,
estão Roraima (30,8%), Pernambuco (27,5%), Mato Grosso (19%), Mato Grosso do
Sul (15,9%) e Distrito Federal (8,7%). Entre as regiões, o Norte registrou
aumento de 104% no índice; o nordeste, 84,2%; o Sul, 54,3%; e o Centro Oeste
6,3%. A única região do Brasil que obteve queda na taxa de assassinatos foi o
Sudeste, com 43,8%.
No começo da década de
2000, os seis estados mais violentos do país eram Pernambuco, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso e Roraima. Dez anos depois, essa lista
era liderada por Alagoas, Espírito Santo, Pará, Bahia, Pernambuco e Amapá.
Influência do
desmatamento
Cerqueira também
analisou a influência do desmatamento ilegal nas taxas de homicídios de
municípios com bioma da Amazônia. Cidades pequenas em áreas com retirada de
madeira não autorizada têm média de assassinatos variando de 31,3 a 39,1 mortes
por 100 mil habitantes. Áreas com as mesmas características mas sem registro de
desmatamento apresentam índices variando de 18,8 a 20,9 homicídios. No caso das
cidades médias, a diferença é de até 108,7 mortes em áreas com extração de
madeira para 38,9 em locais sem desmatamento.
Do Blog do Cutrim
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