A Folha resolveu
seguir os passos do Estadão e levar lenha à fogueira de palha da
“revogação” da reforma trabalhista de Michel Temer em 2017 – um fracasso de
público e de crítica – e sacou uma manchete sem fatos para seu site: “Alckmin indica preocupação com discurso de Lula sobre reforma
trabalhista“.
Um
encontro entre o ex-governador e o líder da Força Sindical, onde Alckmin teria
dito que a ideia de anular partes dos pontos daquela “reforma” estaria
incomodando “o mercado” (o que é verdade) e um pedido de informações para o
assunto viram uma “divergência”, palavra que fica implícita do “indica
preocupação”. Não há nada além disso e, talvez, nem isso, pois nada indica que,
tendo qualquer objeção a este debate, Alckmin não fosse pegar um telefone e
falar em privado com Lula, em lugar de ir sentar em uma mesa com Paulinho da
Força.
Paulinho,
é claro, que subir no bagageiro de uma eventual geringonça entre Lula e Alckmin
e sentiu a chance, depois do editorial do Estadão, de pôr-se como
“embaixador” da aliança.
Lula
não precisa de Ipirangas ou Pastores para dizer ao
“mercado” que, cego, terá um bom guia para caminhar em assuntos econômicos.
Tem, para isso, mais que programas ricamente encadernados ou um Chicago
Boy a conter-lhe rompantes na economia: tem oito anos de sucessos na
condução do país.
Sobre
isso, a jornalista Helena Chagas publica hoje um excelente artigo para ser lido
por todos, mas em especial pelos “ouvidores de economistas” da imprensa, que
ficam todo o tempo preocupados em que Lula faça juras de amor ao mundo das
finanças, o que não fará e não precisa fazer.
Lula
tem luz própria, como dizia a velho Leonel Brizola.
Lula não é médico nem monstro – e nem precisa de guru
Helena
Chagas, n’Os Divergentes
Por
que raios um sujeito que já governou o Brasil por dois mandatos, e saiu do
segundo com mais de 80% de aprovação, elegendo a sucessora, precisa de um
“guru” na economia? A lógica indica que essa pessoa – que, além disso tudo,
emergiu de 580 dias de cadeia para a liderança nas pesquisas – não precisa de
gurus. Ou melhor, quem está mais para guru é ele mesmo, ao menos mais do que
para seguidor.
A
pressão de alguns setores, sobretudo da mídia, para que Lula revele logo o nome
de seu futuro superministro da Economia – mais provavelmente, da Fazenda – só
mostra que estão usando as ferramentas erradas para analisar as eleições de
2022, em tudo diferentes das de 2018, 2024, 2010, 2006 e, sobretudo, 2002,
quando Lula se elegeu pela primeira vez.
Não
temos mais no cenário, liderando as pesquisas, um desconhecido que precisa se
explicar, ou apresentar cartas para acalmar o mercado e as elites, garantindo
que não vai chutar o pau da barraca fiscal e nem dar calote na dívida. Isso ele
já mostrou, na prática, que não faz – como não o fez em oito anos de governo,
durante os quais o empresariado e o mercado passaram muito bem, obrigado.
Por
razões políticas, não interessa a Lula, a nove meses da eleição, dar detalhes –
que, ao que parece ainda nem tem – de seu programa de governo. Tem deixado
claro que a embocadura será o social, que aposta no papel do investimento
público para gerar emprego e crescimento, que vai revogar medidas liberais que,
claramente, foram tomadas na hora errada – como o teto de gastos e a reforma
trabalhista.
Tem,
a seu favor, mudanças de foco que se verificam em outros países, como a
Espanha, com sua iniciativa de mudar as regras trabalhistas, e até os Estados
Unidos de Joe Biden, com seu inédito investimento de recursos públicos no bem
estar da população. Mas daí a achar que Lula vai enveredar pela
irresponsabilidade fiscal vai um longo caminho.
Não
existem dois Lulas nesta eleição – um Dr. Jeckill obediente às regras fiscais e
um Mr. Hide radical de esquerda que vai tocar fogo no circo. Trata-se do mesmo
sujeito que governou o país de 2003 a 2010, e distribuiu renda e melhorou a
vida de milhões de brasileiros ao mesmo tempo em que obtinha superávits e
acumulava alto nível de reservas. É só ouvir o que tem dito o próprio em todas
as ocasiões em lembra os ensinamentos da mãe, D. Lindu, que todo mês controlava
o orçamento familiar para não deixar ninguém gastar mais do que podia. Lula no
governo foi assim e assim será, porque o pragmatismo está em sua essência.
A
narrativa montada por setores do mercado e da mídia de que é preciso cautela
com o petista e ver, antes de tudo, “qual Lula” assumirá em 2023 se vencer a
eleição, é uma grossa mistificação. Uma tentativa de resgatar fantasmas e medos
do passado para tentar tumultuar um novo cenário, quem sabe com o objetivo de
ajudar personagens que, esses sim, representam a incerteza total, e não apenas
em questões relacionadas à economia, mas à própria democracia.
Quem
tem que se explicar, e botar de pé um programa de governo, é, por exemplo,
Sergio Moro – que, até agora, muito acenou para as elites conservadoras
repetindo clichês como “reformas”e etc, mas que não apresentou uma só proposta
coerente com começo, meio e fim.