O
número de casos de Covid oficialmente registrado no Brasil não é apenas
subestimado, é contraditório até mesmo com a migalha de testes que se consegue
fazer.
Dois
anos, quase, depois do início da pandemia, estamos vivendo um “apagão” de dados
– e mais ainda de confiabilidade.
Sejam
os números centralizados – os sistema do Ministério da Saúde completa um mês
paralisado – sejam muitos dos dados produzidos por Estados e Municípios, nada é
preciso.
Ontem,
fui a um posto público de testagem da Covid da Prefeitura do Rio de Janeiro, no
centro da cidade. Apesar da espera de mais de 2 horas, tudo estava
relativamente bem organizado e os funcionários se desdobravam em atender bem.
Num cálculo aproximado, creio que atendiam cerca de 100 pessoas por hora e, de
8 às 17, com o excedente que estava ainda na fila ao fecharem-se os portões,
estimo que cerca de mil pessoas foram testadas, recebendo minutos depois seu
resultado.
Como
aos que testavam negativo era a simples entrega de um papel e aos positivos, a
funcionária parava e dava orientações, era possível perceber a parcela que
tinha tido (inclusive eu) o teste reagente e era impressionante: praticamente
“meio a meio”.
Impressão
confirmada pelo índice de “positivo” que a Prefeitura divulga nos testes da
primeira semana epidemiológica do mês (2/1 a 8/1): 44% dos 58.585 exames
realizados. Ou 25.777 positivos, só nos testes aplicados pela administração
municipal ou que ela tenha recebido e contabilizado.
É
32% maior do que o município contabiliza como “casos confirmados” onde se
aplica o critério de “data do início dos sintomas”: 17.298, neste mesmo
período.
Não
há qualquer menção aos casos verificados em testes de farmácia ou de
laboratórios particulares.
A
impressão que colhi, na prática – e que me levou a compará-la com as
informações locais do Rio de Janeiro – é ainda menos assustadora que a de gente
imensamente mais capaz que este blogueiro: a pneumologista Margareth Dalcolmo,
da Fiocruz, e o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, em entrevista a Luís
Nassif e Marcelo Auler, no GGN.
“É
alucinante [o crescimento do contágio]” diz Dalcolmo: “A impressão que eu tenho
é que nós vamos todos nos contaminar, mais cedo ou mais tarde. O crescimento
não é aritmético, é geométrico, é exponencial.” Nicolelis alerta que os dados recentes da
Universidade de Washington para o Brasil “não geraram a comoção que
deveriam gerar” pelo fato de estimarem que o país possa ter 1,3 milhão de novos
casos por dia até o final de março, caso a atual gestão da pandemia não mude de
curso.
Reproduzo
abaixo a conversa entre eles, para que você tenha ideia da irresponsabilidade
com que se está tratando o que está diante dos nossos olhos, qundo o mundo,
apenas neste início de janeiro, registrou mais de 16 milhões de novas casos de
infecção por Covid, acumulando em oito dias o número de casos que, no início da
pandemia, levou sete meses para atingir.
Tijolaço.
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