terça-feira, 23 de junho de 2020

XADREZ DE CRISTINA BONER, WASSEF E O NEGÓCIO DO POUPATEMPO, POR LUIS NASSIF

Com o tempo, e a parceria com Wassef, Cristina refez sua influência em Brasília. Provavelmente, com a exposição trazido pelo companheiro, os processos aos quais responde devem se acelerar.
PEÇA 1 – O ENVOLVIMENTO COM A OPERAÇÃO PANDORA
Cristina Boner voltou ao noticiário através de seu companheiro Frederick Wassef, o “Anjo”, advogado da família Bolsonaro e pessoa que escondeu Fabrício Queiroz em sua casa.
Nos anos 90 Cristina se tornou a maior revendedora Microsoft para a América Latina, sempre vendendo para a área pública. Sua base de atuação era Brasília, governo federal e o Governo do Distrito Federal.
Cristina Boner chegou em São Paulo em 2005, quando, eleito prefeito, José Serra levou para lá várias empresas que atuavam com o governo do Distrito Federal. E alguns executivos do polêmico Banco Regional de Brasília.
No Distrito Federal, seu ponto de apoio era o empresário e vice-governador Paulo Otávio.
Em 2007 separou do marido Bruno Basso e tornou público seu relacionamento com o advogado Frederick Wassef, o “Anjo”. A partir dali, todos os passos de Cristina Boner foram acompanhados e apoiados por Wassef, inclusive nas ações interpostas por seu ex-marido.
Em novembro de 2009 explodiu o escândalo chamado de “mensalão do DEM”, o sistema de propinas do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal.
Logo depois, foi deflagrada a Operação Caixa de Pandora, do Ministério Público Federal, conduzido pela Procuradora Raquel Dodge, e tendo Cristina como um dos personagens centrais.
O escândalo abateu a TBA em pleno voo. Perdeu a representação da Microsoft, da Oracle e da indiana Tata. E decidiu se reinventar.
Em 2010 fundou a GlobalWeb e colocou em nome de uma filha. No anúncio do lançamento, a empresa nascia com mais de R$ 30 milhões em contratos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e, segundo ele, nos Estados Unidos.
Por trás desses contratos, o mesmo estilo de Cristina Boner de atuar com o setor público. E, agora, tendo como carro-chefe o Poupatempo, com um modelo de consórcios que permitia, em cada estado, incluir empresas de interesse dos respectivos governadores.
PEÇA 2 – O MODELO POUPATEMPO
Em São Paulo, Cristina aproximou-se de Luiz Salles. Provavelmente já o conhecia de Brasília, por suas ligações com Paulo Otávio, o vice-governador e seu padrinho nos negócios com o Governo do Distrito Federal. Salles, Paulo Otávio e Fernando Collor eram tão únicos que acompanharam Collor à Argentina, em sua viagem de núpcias.
Por volta de 2007, Cristina e Luiz Salles iniciaram a parceria para o Poupatempo, com um modelo de consórcio que poderia ser transportado para todo o país. A porta de entrada foi Julio Semeghini, que desde o governo Mário Covas tratava das questões de tecnologia para o PSDB.
Consistia em montar um consórcio onde havia o formulador, Luiz Salles, o responsável pela TI (a TBA através de sua empresa B2BR) e parceiros indicados pelos governantes interessados no projeto.
Com base nesse modelo, em 2008 Luiz Salles criou o Shopping do Cidadão, para ser o integrante central dos diversos consórcios criados a partir de então.
Foi Luiz Salles quem apresentou Frederick Wassef à Cristina, para resolver um problema de um desfalque de 500 mil dólares na empresa.
Montada a parceria, entraram no mercado do Rio de Janeiro em parceria com George Sadalla, o empresário caixa do governador do Rio Sérgio Cabral.
Lá, o instrumento jurídico foi o Consórcio  Agiliza Rio, que tinha como principal agente George Sadalla, além de operador financeiro, responsável pelo Poupatempo.
O consórcio era integrado pelo Shopping Cidadão, de Luiz Salles, a CEI Shopping Centers, B2BBR Informática do Brasil, a Bequest Soluções, Vex Logística e Gelpar, Empreendimentos e Participações.
O dono da Gelpar era George Sadalas, que ficou com 25% do consórcio.
A Vex Logística era o novo nome da Facility, empresa de Arthur César de Menezes Soares Filho, Rei Arthur, outro dos parceiros de Cabral.
A quadrilha foi desbaratada pela Operação C’Est Fini, do Ministério Público Federal.
Em depoimentos na 7a Vara Criminal, Cabral admitiu:  “Houve uma determinação minha para que ganhasse o consórcio pertencente ao senhor Jorge Sadala”.
Em pouco tempo, portanto, Cristina Boner se tornou personagem central em dois dos principais inquéritos que correram no período, a Caixa de Pandora e o C’Est Fini.
Mesmo assim, prosseguiu incólume em sua caminhada.
PEÇA 3 – A ESTREIA COM SÉRGIO CABRAL
O modelo estreou no Rio em 2009, justamente quando implodia o esquema José Roberto Arruda, comprometendo Cristina Bonner.
Nas conversas com Durval Barbosa, o operador de Arruda, Cristina tentou convencê-lo a implantar o modelo no Distrito Federal. A conversa ficou registrada nos vídeos que serviram de base para as investigações da Caixa de Pandora.
Em 2010 o modelo foi para Minas Gerais, logo após Aécio se desincompatibilizar do governo para disputar as eleições, deixando como sucessor seu braço direito (administrativo) Antonio Anastasia.
O tema foi levantado em 2018 pela Agência Sportlight
Sadala era conhecido como o ponto de contato entre Sérgio Cabral e Aécio Neves. Aécio foi seu padrinho de casamento.
O Poupatempo mineiro era o projeto UAI, Unidade de Atendimento Integrado. Das seis empresas do Consórcio Agiliza, três estavam presentes na formação do vencedor da disputa mineira: a Shopping do Cidadão Serviços de Informática, a Gelpar Empreendimento e Participações, de George Sadala e a B2BR, de Cristina Boner.
O grupo tentou entrar em Mato Grosso, através do Consórcio Cidadão, formado pelas mesmas empresas.
Hoje, o modelo está espalhado por diversos estados e cidades do país.
Apesar de pessoas próximas ao negócio afiançarem que a empresa está desativada, em 2016 foi quinta empresa de tecnologia com mais contratos com o governo federal.
PEÇA 4 – A GLOBALWEB
A empresa foi criada em 2010, quando estourou o escândalo do mensalão do DEM inviabilizando a TBA.
No seu site, há uma página para o compliance da empresa:
“COMPLIANCE GLOBALWEB CORP
INTEGRIDADE, RESPEITO, RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO COM A SOCIEDADE”
“A condução de negócios pela Globalweb Data Services Corp é pautada pelo devido comprometimento com seus valores de integridade, atuando de forma responsável, transparente, legal e ética. Este mesmo comprometimento é requerido de todos os terceiros que se relacionam com a Globalweb Data Services Corp, pelo que é constantemente apoiado e encorajado pela empresa”.
Com o tempo, e a parceria com Wassef, Cristina refez sua influência em Brasilia. Provavelmente, com a exposição trazido pelo companheiro, os processos aos quais responde devem se acelerar.
Do GGN

domingo, 21 de junho de 2020

NOS 16 ANOS DA MORTE DE BRIZOLA, A FALTA QUE ELE FAZ AGORA, POR FERNANDO BRITO

Hoje se completam 16 anos da morte de Leonel Brizola, de quem este blog toma emprestado o nome, pelos 20 anos em que partilhamos ideias e atitudes, tempo grande da vida de quem agora, sem a menor pretensão de ser seu porta-voz tardio, aprendeu com duas décadas diárias de convívio com um dos grandes da história das lutas populares.
Nunca digo, diante de fatos políticos do dia-a-dia, o que pensaria ou diria Brizola. Não me cabe, a mim ou a ninguém, pretender substituir quem é insubstituível.
A pedido de minha caríssima amiga Juliana Brizola, doce e combativa neta de Leonel, gravei um vídeo onde me aventuro a dizer o que, em cada corda da saudade que tenho, que Brizola, nestes dias de dor, seria um leão no país em que, diante da tragédia que vivemos, miam como gatos medrosos.
E divido com os leitores.
Do tijolaço

sábado, 20 de junho de 2020

WEINTRAUB, O SENHOR DOS ANÉIS QUE PERDEU OS DEDOS, POR LUIS NASSIF

E o pobre Weintraub despediu-se da vida pública tentando desesperadamente abraçar Bolsonaro que manteve-se frio, calado e inerte que nem uma bóia furada, com receio de afundar com o náufrago.

A imagem mais significativa nesses tempos de balbúrdia foi a foto do Ministro da Educação Abraham Weintraub agarrado a Jair Bolsonaro, como quem segura uma bóia em alto mar. E Bolsonaro inexpressivo e calado como uma bóia.
Os olhos súplices de Weintraub pareciam dizer: não me abandone, não me abandone. O pedido não era em relação a Bolsonaro, mas à fé cega de que poderia cometer todas as impropriedades impunemente e que agora se esboroa, a ponto de ter que fugir do país com receio de ser preso.
É o mesmo sentimento avassalador que coloca em pânico  Youtubers bolsonaristas, arruaceiros, brigões de rua, especializados em se reunir em bando e agredir os mais fracos, mas temerosos da ação da polícia.
De repente, foram alçados a uma posição em que o chefe do chefe da polícia se tornou o chefe do bando, liberando geral para promover badernas impensáveis sem serem incomodados. E eles, os valentões de rua, passaram a replicar o estilo baderneiro na política nacional, sem receio de serem incomodados pela polícia.
Xingando, arregimentaram seguidores; xingando, alguns se tornaram parlamentares. Eleitos, continuaram moleques de rua, sempre confiando no guarda-chuva protetor do chefe do chefe da policia.
Weintraub fez caminho inverso. Trabalhou por décadas no Banco Votorantim. Lá, tentava se destacar dos colegas exibindo uma mini-erudição que, em todo caso, era superior a dos colegas, que só se importavam com números. O banco quebrou, sim, por erros enormes cometidos no financiamento de veículos. Foi salvo por uma sociedade providencial com quem? Com um banco público, o Banco do Brasil. Com a crise do banco, a auto-estima de Weintraub foi para o ralo. E, para levantá-la, recorreu ao mago dos egos, Olavo de Carvalho, cuja pregação tem o condão miraculoso de convencer qualquer imbecil que sua imbecilidade, no fundo, é uma genialidade incompreendida.
Entrando no Ministério da Educação, Weintraub seguiu uma estratégia comum aos que sofrem de baixa auto-estima. Aplicou o estilo  que Joaquim Barbosa – muito mais erudito e sério que ele, saliente-se –  praticava no meio jurídico: quando estiver com os amigos de praia, mostre sua erudição; quando estiver com os eruditos, exponha seu estilo de garoto de praia. Um juiz formal, ou um especialista em qualquer tema sério, dificilmente terá equilíbrio para discutir no campo destinado aos garotos de praia.
Foi assim que Weintraub decidiu aplicar a retórica de rua no MEC. Lá, poderia enfim ter sua revanche da vida. Não precisaria mais puxar o saco de chefes, se submeter às regras de convivência com colegas, perder o sono com sua falta de competência, com sua incapacidade de entregar resultados. Bastaria cultivar uma pessoa – Jair Bolsonaro – e atender ao seu baixíssimo grau de exigência:  entregar bazófias, ataques ao marxismo cultural, extravagâncias e ataques à mídia, e nada mais lhe seria cobrado.
A reunião ministerial do dia 22 de abril foi a grande celebração nacional do puxa-saquismo. Houve uma disputa surda entre os inacreditáveis Onyx Lorenzoni, Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, e Weintraub, para ver quem melhor agradaria o chefe, quem levaria o troféu puxa saco de ouro.
Guimarães usou um discurso imbatível.
Primeiro, atacou com a ira dos justos os PMs cariocas que estavam prendendo pessoas que desrespeitavam o isolamento, um dos temas preferenciais de seu chefe. Depois, trouxe um fato patético, o amigo cuja filha foi transportada no camburão, o lado familia contra o Estado, outro tema preferencial do chefe. Finalmente, chegou ao cerne do discurso que sensibiliza as bestas-feras do supremacismo branco: mexeu com minha família, leva tiro. Alguém mexeu com sua família? Ninguém. Mas poderiam ter mexido. E se poderiam ter mexido, eu poderia pegar uma de minhas 19 armas e poderia sair à rua atirando, sem me importar com minha vida. A chamada bazófia sem risco, típica do Barão de Munchausen.
Pode declaração maior de amor a Bolsonaro? Família, anti-isolamento, armamento contra as instituições.
Inferiorizado pelo versão tupiniquim de “os brutos também amam”, Weintraub precisava de uma saída de maior rompante. E aí o diabo lhe soprou no ouvido e ele saiu com a frase célebre dizendo ser necessário prender “aqueles vagabundos” do Supremo. Falou, blasfemou e olhou indagativo para Bolsonaro, perguntando com os olhos: “me saí melhor que o Pedro?”.
Aí, descobre que o chefe do chefe da Polícia estava blefando, que não tinha o poder que alardeava, por isso não poderia oferecer a proteção que prometia.
E o pobre Weintraub despediu-se da vida pública tentando desesperadamente abraçar Bolsonaro que manteve-se frio, calado e inerte que nem uma bóia furada, com receio de afundar com o náufrago, e imaginando que os próximos presos poderão ser seus filhos.
Do GNN

ADVOGADO QUE ABRIGOU QUEIROZ DIZ QUE NÃO ABRIGOU QUEIROZ, POR FERNANDO BRITO

Atenção terraplanistas e adeptos de discos-voadores: Frederico Wassef, o advogado de Jair Bolsonaro que Bolsonaro diz que não é seu advogado diz, na Folha, que não deu abrigo a Fabrício Queiroz em sua casa em Atibaia, onde Fabrício Queiroz estava abrigado.
É o samba do causídico doido!
Parece brincadeira, mas é sério: falando à repórter Cátia Seabra, Wassef falou exatamente isto:
“Nunca telefonei para Queiroz, nunca troquei mensagem com Queiroz nem com ninguém de sua família. Isso é uma armação para incriminar o presidente.” (…)” Não escondi ninguém”(…)”Estão me atribuindo coisas que não fiz. O escritório estava vazio. Os móveis estavam do lado de fora da casa. Tudo estava fora do lugar.”
Nunca antes na história deste país viu-se tamanho espetáculo de cara-de-pau.
Daqui a pouco Queiroz vai perguntar, candidamente: “mas quem é Flávio Bolsonaro? Não conheço!”.
O caso Queiroz é, agora, também o caso Wassef.
Bolsonaro negou que ele seu advogado, mas Wassef respondeu que tem uma procuração do presidente, assinada no dia 21 de setembro.
Ainda hoje, o Ministério Público aponta que o ex-capitão Adriano da Nóbrega, o miliciano fuzilado na Bahia, integrava o núcleo político do filho 01 de Bolsonaro, Flávio.
Os fatos vão se precipitar.
A história de que Queiroz se materializou em Atibaia, sem que ninguém o tivesse escondido lá não se sustenta nem durante a tarde modorrenta de um sábado.
Tijolaço

O XADREZ DA ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

A semana terminou com a cena humilhante - para Bolsonaro - de enviar três Ministros da área jurídica até a casa de Alexandre de Moraes, em São Paulo, para negociar o armistício.
PEÇA 1 – OS CUIDADOS NA ANÁLISE
Para analisar o cenário atual, é fundamental tentar entender o contexto. Opiniões de parlamentares de oposição ou situação, de militares das Forças Armadas e militares de Bolsonaro, de Ministros do Supremo, só importam se vistas dentro de um contexto maior. São peças cujo funcionamento depende da maneira como a máquina é montada. E o funcionamento da máquina depende dos movimentos da opinião pública, não só a opinião da mídia, mas também das redes sociais, conferindo o devido peso a cada um.
Se a opinião pública que conta – aquela que impacta a cúpula dos poderes – endossa jogadas de impeachment, impeachment haverá. As razões, arrumam-se depois.
Com Fernando Collor foi o Fiat Elba; com Dilma Rousseff, as pedaladas; com Eduardo Cunha o fato de ter escondido contas no exterior. Se não houver motivos sólidos, o Supremo tratará de dar a interpretação necessária, desde que haja o movimento da opinião pública. 
Afinal, no Brasil, os poderes são todos pró-cíclicos, da mídia ao Supremo.
PEÇA 2 – O INQUÉRITO DAS RACHADINHAS DE FLÁVIO BOLSONARO
O inquérito sobre as rachadinhas, do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, é devastador. Já houve casos de parlamentares cassados por recolher parte dos salários de seus assessores. Flávio Bolsonaro foi além: criou assessores laranjas que recebiam sem trabalhar e repassavam a parte do leão para ele.
Há fortes indícios de que Fabrício Queiroz pagava mensalidades das escolas dos filhos de Flávio Bolsonaro, e outras despesas, com dinheiro vivo. Há indícios fortes de lavagem de dinheiro em operações com imóveis e na loja de chocolates.
O inquérito ainda apurou troca de dinheiro entre Queiroz e Adriano da Nóbrega, o miliciano chefe do Escritório do Crime, morto pela Polícia Militar da Bahia. E provas robustas de que o advogado e conselheiro pessoal da família Bolsonaro, Frederick Wassef, escondeu Queiroz em sua casa.
Mais: Bolsonaro saiu em defesa de Queiroz afirmando que seu exílio em Atibaia se devia a tratamento médico. E foi desmentido pelo hospital local, que jamais tratou Queiroz.
Todos esses dados são relevantes para a Justiça, mas muito mais relevantes para a opinião pública. Com Bolsonaro popular, haveria a multiplicação de narrativas inocentando Flávio e minimizando as acusações, com argumentos padrão primário, tipo “fez, mas quem não fez?”.
Mas, depois que o Ministro Alexandre de Moraes colocou o pé na porta e impediu Bolsonaro de continuar blefando com anúncios de endurecimento político, de chamamento ao golpe, abriram-se as comportas do Judiciário. As reações de Bolsonaro, de enfrentamento com bravatas, ameaças vãs, conflitos permanentes, ajudaram a consolidar a convicção dele joga poker e que com par de paus e apenas tenta ganhar tempo para um golpe no futuro.
PEÇA 3 – AS ESTRATÉGIAS PENSADAS PELOS BOLSONARO
Peças isoladas, enviadas pela cobertura de Brasília, indicam as seguintes alternativas de reação de Bolsonaro, pensadas por seu grupo próximo para evitar a cassação da chapa.
ESTRATÉGIA 1: invocar as Forças Armadas
Blefe. Ninguém acredita mais. Desde que Alexandre de Moraes pagou para ver, ficou cada vez mais nítido que o dispositivo militar de Bolsonaro se resume aos militares que levou para o governo – e que hoje amargam a parceria no fracasso sanitário, econômico e político do governo.
ESTRATÉGIA 2 – parar de falar de Queiroz, deixar a bomba explodir no colo do filho e deixar a guerra diária de lado.
É a chamada política de redução de danos, ou de entregar os anéis para poupar os dedos.
Inimaginável em uma mente bruta e primária como Bolsonaro. 
Primeiro, porque, calando-se, perderá a única base que lhe resta: os fanáticos de redes sociais.
Segundo, porque a única estratégia que conhece é a do confronto. Não é capaz de elaborar estratégias políticas, discursos elaborados, gestos expressivos em direção à pacificação. É vítima da síndrome do escorpião.
Terceiro porque, calando ou não, é incapaz de se dissociar da figura de Queiroz e dos milicianos cariocas. Menos ainda de seus filhos.
ESTRATÉGIA 3 – Montar frente com o Centrão
O Centrão é fundamentalmente oportunista. E oportunista que se preze não se prende apenas aos benefícios do presente, mas ao cenário futuro. E o futuro de Bolsonaro depende fundamentalmente dos julgamentos do Tribunal Superior Eleitoral.
Aliando-se ao Centrão, haverá uma desidratação maior do que restou de sua base de apoio, e um aumento das pressões pela cassação.
ESTRATÉGIA 4 – montar um Ministério de notáveis
Na fase final do seu governo, Fernando Collor montou um ministério de notáveis. Até conseguiu bons nomes, especialmente do universo carioca, que ele frequentava há tempos como membro da elite dourada carioca – o pai foi sócio de Roberto Marinho, ele se casou com uma Monteiro Aranha.
Que notável aceitaria trabalhar para um governo que tem à frente Jair Bolsonaro, ainda mais sabendo-se que ele jamais aceitaria o papel de rainha da Inglaterra – aliás, a expressão é indevida para um sujeito de tão má catadura como ele.
PEÇA 4 – A DEBANDADA DAS HOSTES BOLSONARISTAS
Como previmos aqui, a partir do momento que o STF se apresentou como poder moderador, enfrentando Bolsonaro, sua estrutura se desfez como um castelo de cartas.
Aquela tropel de selvagens que invadiram as redes sociais, o parlamento, as ruas, estão refluindo com tal rapidez que surpreende.
Abraham Weintraub, a figura mais caricata do governo, é demitido e nomeado para um trabalho fora do país, ao qual ele adere rapidamente, deixando claro sua pressa em se afastar da rinha e seu medo de ser preso.
Youtuber agressivos expressam, agora, o medo da prisão, como se, só agora, tivessem despertado da viagem lisérgica a que foram levados por Bolsonaro, para um mundo no qual todos os abusos eram permitidos. Voltaram a ser os provocadores de rua, que saem correndo assim que aparece a polícia.
Os financiadores se recolheram, a ponto de evitarem até a ajuda ao seu guru maior, Olavo de Carvalho.
O círculo próximo a Flávio Bolsonaro tenta arrumar outro advogado, sabendo que Wassef também poderá ser preso.
A semana terminou com a cena humilhante – para Bolsonaro – de enviar três Ministros da área jurídica até a casa de Alexandre de Moraes, em São Paulo, para negociar o armistício.
Desapareceu a arrogância ignorante dos filhos. Eduardo, para quem bastaria um sargento e um cabo para fechar o STF, apareceu em uma live como se fosse um pobre defensor da democracia (dele), perseguido pelos poderes.
Não se lê mais as mensagens de Carlos Bolsonaro, o copydesk do pai, nem de Flávio, o representante comercial da família.
A grande aposta é sobre qual filho será o primeiro a ser preso.
Nesse quadro, torna-se mais premente do que nunca as forças democráticas começarem a discutir a transição, sabendo-se que, no Brasil, inclinações democráticas, responsabilidade social, solidariedade com os oprimidos – como expressos hoje pela maioria da mídia – não são valores consolidados, mas meros modismos, que podem se desfazer ao primeiro vento contrário.
Do GGN

sexta-feira, 19 de junho de 2020

XADREZ DE FREDERICK WASSEF, O ADVOGADO DOS BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

A familiaridade de Wassef com o mundo político, empresarial e policial de um lado, o empreendedorismo invencível de Flávio Bolsonaro, de outro, certamente abriu espaço para muitas parcerias, ainda não visíveis.

PEÇA 1  – A MICROSOFT SE LANÇA NO SETOR PÚBLICO
No início dos anos 90, a Microsoft lança o Windows 3.1 e entra no mercado de redes sociais. O setor público torna-se um mercado promissor.
Mostrando a prioridade dada ao setor, a Microsoft cria a vice-presidência da área de governo e indica para o cargo o empresário Bruno Novo, dona de uma empresa de tecnologia baleada pela crise do governo Fernando Collor.
Em Brasilia, começa a se destacar Cristina Bonner, dona da TBA, uma empresária ambiciosa que, em pouco tempo, tornou-se a maior revendera da Microsoft na América Latina. Foi saudada pela imprensa especializada como a grande empreendedora, apareceu em fotos ao lado de Bill Gates, fundador da empresa.
Teve início um relacionamento profissional que acabou se tornando pessoal em 1996 e resultou em um casamento em 1998.
A Microsoft pensava em promover Bruno para vice-presidente para a América Latina, mas tendo que se mudar para São Paulo.
Ele acabou pedindo demissão da empresa e assumindo uma sociedade na TBA. Tornou-se, depois, diretor estatutários de várias outras empresas abertas pelo grupo, na medida em que passavam a representar não apenas a Microsoft, mas outros gigantes, como a Oracle e a indiana Tata.
Juntos, construíram a casa no lago, para onde a imprensa se deslocou hoje, atrás do advogado Frederick Wassef – em cuja casa-escritório em Atibaia foi encontrado Fabrício Queiroz.
Frederick entra na vida do casal para resolver um problema específico, um desvio de 500 mil dólares feito por um funcionário. Eles tinham fax, mensagens como indícios de golpe, mas provas consideradas frias pelos advogados Tecnólogos, sem experiência no mundo jurídico, aceitam a indicação de Luiz Salles, controvertido sócio da OAS, que indica Wassef como um faz-tudo. Em pouco tempo ele conseguiu melhorar as provas, mostrando um relacionamento invejável com autoridades judiciárias e policiais.
Ali começou a parceria de Fredy com Cristina, em um momento em que o casamento com Bruno ia degringolando.
PEÇA 2 – O ENVOLVIMENTO COM O MENSALÃO DO DEM
Bruno acabou se assustando com os acordos políticos fechados pela esposa, especialmente com o governo José Roberto Arruda, do Distrito Federal, e decidiu sair da empresa e do casamento, aceitando uma partilha de bens inferior ao que pensava merecer, mas mais rápida.
Tinha razão. Logo depois estourou o escândalo dos esquemas do governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, no que ficou conhecido como o “mensalão do DEM”. E, nas investigações aparece o nome de Cristina Bonner.
Foi uma bomba ampla. Imediatamente ela perdeu a representação da Microsoft, da Oracle e da indiana Tata. E começa a voltar os olhos para o mercado de São Paulo.
PEÇA 3 – O ENVOLVIMENTO COM O PSDB PAULISTA
Antes do escândalo, ela havia se aproximado de políticos paulistas do governo Fernando Henrique Cardoso.
Com o Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, acertou um esquema pesado de legalização das cópias piratas de produtos Microsoft nas universidades. Passou a pressioná-las enquanto oferecia oportunidades de legalizar as cópias piratas.
Percebendo o espaço aberto, a IBM entrou na competição. Ela havia adquirido a Lotus, que possuía um Office similar ao da Microsoft. Ofereceu, então, a cada universidade uma licença de R$ 4,00 com direito a uma cópia do Office e do Lotus Notes, o sistema de rede da Lotus.
Um representante do MEC tentou demover os reitores, dizendo que o Ministério já tinha um contrato guarda-chuva com a Microsoft. Bastaria informar o número do computador para a cópia ser legalizada, sem sequer o custo de envio do CD com os programas. Para as universidades, nada custaria. Para o MEC, o custo de R$ 250,00 por licença.
Denunciei o episódio na época e a operação não se concretizou.
Com a eleição de José Serra na prefeitura, várias empresas envolvidas com Arruda se mudam para São Paulo, passando a operar com a prefeitura e, depois, com o governo do Estado.
Naquele período, a Secretária da Educação Maria Helena Guimarães lança um projeto de venda de computadores para professores da rede escolar, com financiamento da Nossa Caixa. Em cada computador, um Office da Microsoft, ao custo de R$ 250,00, em plena ascensão do software livre.
Ai explode a Operação Pandora envolvendo diretamente Cristina Bonner, nas famosas gravações de Durval Barbosa.
Decidiu reinventar a empresa, aí fortemente alicerçada em Aref, que transitava por um universo de bilionários enrolados em São Paulo.
A ponte foi com Julio Semeghini, que ela conhecera quando Secretário da Comissão de Inovação e Tecnologia da Câmara Federal.
A TBA consegue espaço no Poupatempo de São Paulo. Depois, consegue ligações com o PSDB de Minas Gerais, e passa a administrar projeto similar ao Poupatempo. Faz o mesmo com a gestão gaúcha de Yeda Crusius.
Ao mesmo, tenta fincar pé no novo governo que surgia, com a eleição de Lula. Ela faz a mediação da Microsoft com o PT, através de Delúbio Soares, arrancando de Lula a afirmação de que a Microsoft não seria prejudicada em seu governo, apesar do programa do PT defender o software livre.
Com a eclosão da Operação Pandora, a TAB se muda definitivamente para São Paulo, alugando três andares na avenida Paulista, no edifício Sumitomo.
Os negócios começam a murchar com a saída de Semeghini. Ele tinha facilidade em montar consórcios, inibindo a competição e abrindo espaço para grupos conhecidos. Com sua saída, passa a haver uma disputa mais acirrada e, sem a saída dos consórcios, a TBA teve que enfrentar competidores muito mais preparados do que no Distrito Federal.
Mesmo assim, a TBA teve que reduzir os escritórios na Avenida Paulista e se instalou em um escritório modesto em Santo Amaro. Àquela altura, ela e Wassef já se preparavam para retornar a Brasilia.
PEÇA 4 – O AMIGO BOLSONARO
O caminho encontrado por Wassef foi o ex-capitão Jair Bolsonaro, deputado obscuro, mas que, à luz das mudanças ocorridas na opinião pública, passa a ter possibilidades eleitorais.
Rapidamente se aproxima de Flávio Bolsonaro, o representante comercial da família.
Passa a ser um dos mais ardentes propagadores do discurso contra a corrupção. Em entrevista à Globonews sustentou que o que o abriu a Bolsonaro foi o discurso contra a corrupção .
Para evitar críticas, simulou uma separação de Cristina Bonner. Ontem, os jornalistas foram atrás dele justamente na casa de Cristina Bonner.
Torna-se o pau para toda obra dos Bolsonaro. Quando Adriano Nóbrega – o chefe do Escritório do Crime – é caçado pela polícia, seu advogado é Paulo Emilio Catta Preta. Quando Queiroz é preso na própria casa de Wassef, o advogado que surge, dizendo-se contratado pela filha de Queiroz, é o mesmo Catta Preta.
O advogado é estreitamente ligado a Wassef e foi seu advogado pessoal em uma dezena de ações com as quais liquidou o ex-marido de Cristina Bonner.
Bruno Novo não conseguiu receber os R$ 200 milhões a que tinha direito com o fim da sociedade. Foi preso ou detido pela polícia por quatro vezes, mostrando a incrível influência de Wassef sobre o universo das polícias.
Wassef mora na casa em que construiu junto com a Cristina, mas que está embargada por ações propostas por Wassef.
Bruno foi literalmente massacrado pelas ações de Assef. Hoje em dia mora em Goiânia, em apartamento emprestado, com sua defesa sendo feita de graça por advogados que se solidarizaram com ele
PEÇA 4 – OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
A familiaridade de Wassef com o mundo político, empresarial e policial de um lado, o empreendedorismo invencível de Flávio Bolsonaro, de outro, certamente abriu espaço para muitas parcerias, ainda não visíveis.
Com o amadorismo indesculpável de ter abrigado Queiroz, Wassef se expôs definitivamente. O fato de estar ligado aos Bolsonaro e do advogado de Queiroz ser seu advogado particular permite desconfianças sobre a forma como Queiroz será defendido.
Além disso, jogará mais luzes sobre a Operação Pandora e as aventuras de Cristina Bonner.
Do GGN

quinta-feira, 18 de junho de 2020

A PRISÃO DE QUEIROZ É O LANCE FINAL NO DESMONTE DA ORGANIZAÇÃO BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Tudo isso foi possível a partir do momento em que Alexandre Moraes impediu a posse do novo delegado geral da Polícia Federal, em uma atitude de duvidosa legalidade. Mas, ali, ficou claro que todas as ameaças de Bolsonaro eram blefe.
Queiroz é acusado de comandar um esquema de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro.
A prisão de Fabrício Queiroz é consequência direta da tomada de posição do Supremo Tribunal Federal (STF), através das decisões do Ministro Alexandre de Moraes. Agora os demais órgãos de investigação começam a desovar seus inquéritos.
AS PRÓXIMAS ETAPAS SÃO ÓBVIAS:
Terminou definitivamente a blindagem dos Bolsonaro. Com essa operação, cai a ficha de todos os bolsominios abrigados no Congresso e nas redes sociais, de que Bolsonaro não mais é o guarda-chuva protetor.
No combate a organizações criminosas, o maior desafio das forças de repressão é desmontar a lealdade entre as partes. E essa lealdade depende fundamentalmente da capacidade do chefe maior em garantir a segurança dos seus seguidores.
Com a prisão de Queiroz, haverá a debandada da tropa bolsonarista. Com o mapeamento amplo produzido pelo STF, Gaeco e, agora, a Procuradoria Geral da República, o esquema cairá como um castelo de cartas ao vento, com ampla abertura para delações premiadas.
Agora, Bolsonaro terá que mostrar todas as suas cartas. Se nada tiver a mostrar, não terá condições políticas de segurar o centrão – que é um investidor no mercado futuro da política -, nem de mobilizar os setores simpáticos nas Policiais Militares estaduais, abrindo espaço definitivo para a cassação da sua chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Não se deve esquecer do depósito efetuado por Queiroz na conta da primeira dama.
Tudo isso foi possível a partir do momento em que Alexandre Moraes impediu a posse do novo delegado geral da Polícia Federal, em uma atitude de duvidosa legalidade. Mas, ali, ficou claro que todas as ameaças de Bolsonaro eram blefe. Demonstrado isso, o Supremo, como um todo, ganhou coragem de ir à frente e ocupar os espaços de poder.
Do GGN

quarta-feira, 17 de junho de 2020

XADREZ DO NOVO CENTRO DO PODER, O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, POR LUIS NASSIF

O STF emergirá do dilúvio como a barca de Noé, a instituição que, finalmente, assumiu suas responsabilidades constitucionais e foi central para garantir a democracia.

PEÇA 1 – OS VÁCUOS DE PODER
O bolsonarismo se beneficia dos vácuos de poder. Após o impeachment, ocorreram quatro movimentos simultâneos:
A ressaca das instituições, quando sai de cena o grande álibi sancionador de todos os abusos, o antipetismo.
A bandeira única da anticorrupção, ainda uma onda hegemônica alimentada pelos ecos da Lava Jato e pelo aval dado por Sérgio Moro, com sua entrada no governo.
O aval do Poder Militar, em cima das atitudes irresponsáveis do ex-Comandante do Exército, general Villas Boas, adotando a candidatura de Jair Bolsonaro e tornando as FFAAs eternamente responsáveis pelas consequências.
O compromisso com o desmonte social, que bate com o profundo preconceito contra minorias e movimentos que marca o anti-pensamento de Bolsonaro, garantindo o apoio do mercado.
Bolsonaro ganhou espaço para matar a lógica, a moral, a ética pública. Ocupou os espaços acompanhado de sua troupe, influenciadores digitais e empresários de ultradireita, o que de pior o Brasil já produziu, tendo na retaguarda a ameaça militar simbolicamente representada pelos militares que levou para o governo.
Representava o anti-sistema e, antes de ganhar um rosto definido, cada setor imaginava-o de uma maneira idealizada, como se fosse possível erradicar do seu caráter o apoio à tortura, à morte, as ligações com milícias.
Ao mesmo tempo, a onda de ultradireita promoveu uma mudança radical na composição do Congresso, com a chegada de vários deputados ligados à guerrilha digital bolsonarista.
TInha-se, ali, a receita para o endurecimento do regime.
E os Bolsonaros deitaram e rolaram em cima desse pacto tácito, estimulando a violência digital, facilitando a importação de armas, flexibilizando a fiscalização do contrabando, atacando adversários, com empresários financiando as milícias digitais, preparando-se para o embate direto com as instituições.
PEÇA 2 – OS FATORES DE DESGASTE
Os absurdos cometidos pelos Ministros fundamentalistas, os arroubos retóricos de Bolsonaro, os indícios de envolvimento com o crime organizado, passaram a desgastar progressivamente Bolsonaro.
Houve alguns episódios centrais que aceleraram o isolamento dos Bolsonaro:
A demissão de Sérgio Moro. Antes dele, o esvaziamento da Lava Jato, Nas milícias digitais, o discurso anticorrupção da Lava Jato foi inteiramente substituído pelas pirações retóricas de Carlos e Eduardo Bolsonaro e dos Youtubers de direita, aumentando gradativamente os ataques às instituições.
O fracasso do combate ao Covid, no plano político, social e econômico.
Os absurdos reiterados da área fundamentalista do governo.
Os julgamentos internacionais sobre o país, gradativamente transformado em pária da ordem internacional. As impropriedades na área internacional, especialmente os ataques gratuitos à China.
O vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, acabando de vez com a narrativa de que os militares bolsonaristas poderiam manter Bolsonaro sob controle.
A demissão de dois Ministros da Saúde que não aceitaram compactuar com as loucuras de Bolsonaro.
PEÇA 3 – OCUPANDO OS VÁCUOS DE PODER
Para se organizar institucionalmente, as corporações – militares, jurídicas – necessitam de um polo agregador, um centro de poder em torno do qual os demais se organizem.
Progressiva e rapidamente, Bolsonaro se mostrou incapaz de ser esse poder central. Pelo contrário, tornou-se fonte permanente de confusão, de desordem, tanto diretamente quanto através de suas milícias.
Com o Covid-19, seu governo registrou o tríplice fracasso, nas frentes de saúde, econômica e social.
Mesmo assim, havia um problema no ar: os vácuos de poder. Para anular qualquer veleidade do Poder Militar, havia a necessidade do surgimento de um novo centro atuando como poder moderador.
A Câmara Federal, através de Rodrigo Maia, iniciou a primeira reação contra as loucuras de Bolsonaro, mas dentro dos limites do legislativo.
No STF (Supremo Tribunal Federal), ainda havia os ecos do Twitter de Villas Boas, em plena campanha eleitoral, colocando os 11 magistrados para correr. E os ataques que sofria especialmente das milícias digitais que gravitavam em torno da Lava Jato do Paraná, e mesmo ataques pessoais dos próprios procuradores paranaenses, poderosos ante o apoio que obtinham na mídia e nas milícias digitais.
Esse mundo começou a ruir com a ida de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça de Bolsonaro, expondo a hipocrisia do justificialismo de negócios. E, depois, pela imprudência da montagem da fundação de R$ 2,5 bilhões para promover a bandeira do punitivismo político.
A trinca no cristal da Lava Jato abriu a brecha para a primeira reação do STF, a abertura do inquérito das fake news pelo presidente Dias Tofolli, com a relatoria entregue ao Ministro Alexandre de Moraes.
Ali começou a mudança de jogo, acelerada pela Vazajato, o vazamento das conversas privadas dos curitibanos, expondo de maneira exemplar a hipocrisia dos “iluministas” e dos “ homens de bem”.
Antes disso, havia duas milícias digitais agindo de forma simbiótica, a lavajatista e a bolsonarista. A Lava Jato forneceu as bases para as milícias bolsonaristas, não apenas o discurso anti-sistema, como seus seguidores, as palavras de ordem, os limites para o afrontamento das instituições.
Com sua saída de cena, o bolsonarismo perde o discurso legitimador. O moralismo seletivo anti-PT é substituído pela guerra ao marxismo cultural e outras pirações restritas à ultra-direita.
A necessidade de manter diariamente a chama acesa faz com que sejam liberados os Ministros fundamentalistas para toda sorte de extravagâncias medievais. E a cara do governo Bolsonaro fica cada vez mais as figuras caricatas dos Ministros da Educação, das Relações Exteriores, da Mulher.
Não havia limites, também, para o modelo da militância. Esse tipo de discurso de catarse desperta uma demanda do público mais que proporcional ao atendimento das expectativas pelos atores políticos.
Figura menor, Bolsonaro não tinha coragem de moderar a escalada radical da sua tropa, com receio de perder apoio da base de apoio que lhe restou. E, de exagero em exagero, chegaram aos ataques virulentos contra as instituições, especialmente o Supremo Tribunal Federal e seus ministros.
Como as duas redes – lavajatistas e bolsonaristas – eram simbióticas, não houve a menor dificuldade para Alexandre de Moraes direcionar o inquérito das fake news para o Gabinete do Ódio e similares. As redes eram as mesmas, provavelmente os financiadores eram os mesmos, mudava apenas a fonte original de mensagens. Saia a Lava Jato, seus vazamentos e conclamações políticas, e o discurso passava a ser suprido pelas pirações dos olavistas, com sua irracionalidade atlântica, afastando cada vez mais o bolsonarismo da lógica das instituições normais, Forças Armadas e Judiciário.
Isolando-se cada vez mais, Bolsonaro passou a reagir pavlovianamente. Toda semana, um discurso radical, uma conclamação irresponsável, seguidos de um recuo inconvincente. E, periodicamente, ele e seus generais insinuando a possibilidade do Poder Militar entrar em cena.
Até que o STF pagou para ver.
PEÇA 4 – O PAPEL DE ALEXANDRE MORAES E DO STF
Alexandre de Moraes teve papel central em desmascarar o blefe bolsonarista, através de uma serie de medidas corajosas, nem sempre constitucionais:
A suspensão da nomeação do novos superintendente da Polícia Federal por Bolsonaro.
Busca e apreensão em casas de Youtubers bolsonaristas.
Denúncia contra o Ministro da Educação Abraham Weintraub, sujeitando-se à represália física das milícias.
Reconhecimento do poder de estados e municípios de definirem o isolamento.
Revogação de diversos atos de governo
Com essas medidas, expos o rei nu, o tigre banguela, consolidando o novo centro de poder moderador, o Supremo.
Imediatamente, clareou o jogo político, especialmente o papel dos militares no governo.
À medida em que a pressão aumentava, um a um os generais de Bolsonaro colocaram as mangas de fora e as cartas na mesa. O vice-presidente Hamilton Mourão esqueceu o script de democrata civilizado e saiu chutando o pau da barraca. Ministro-Chefe da Secretaria de Governo, o General Luiz Eduardo Ramos vestiu a farda de companheiro de quartel de Bolsonaro, e saiu disparando ameaças vãs. O general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, passou a se comportar como um tuiteiro bolsonarista convencional. O Ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, mostrou que era Ministro de Bolsonaro, não das Forças Armadas.
Agora, o governo Bolsonaro afunda representando o maior desastre de imagem da história das Forças Armadas.
O fracasso da luta contra o Covid-19 destruiu a tentativa de convencer que quadros militares seriam melhores que quadros civis em funções eminentemente civis.
PEÇA 5 – OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
Esta semana, o Ministro Gilmar Mendes visitou o Alto Comando Militar. Coincidência ou não, após o encontro deu declarações se dizendo a favor da reconciliação nacional, da normalidade política, da esperança de que caia a ficha de Bolsonaro. Em outra oportunidade, declarou que o julgamento do TSE será eminentemente técnico – isto é, não se baseará em critérios políticos como, por exemplo, uma eventual preocupação com a normalidade democrática.
Mero recurso retórico, preparando os espíritos em geral para o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, que deverá decidir o futuro da chapa Bolsonaro-Mourão.
Já há consenso no STF, na mídia, no mundo civilizado, que Bolsonaro é uma ameaça irreversível, incompatível com qualquer normalidade democrática. E há indícios de sobra de que o inquérito das fake news baterá nos financiadores da candidatura Bolsonaro, abrindo caminho para a cassação da chapa.
Daí a necessidade de despolitizar as decisões, sabendo haver provas em abundância para convalidar tecnicamente a cassação da chapa.
Em breve, o país se debruçará sobre os temas pós-Bolsonaro, a maneira como será reconstruída a institucionalidade. E, especialmente, como se comportará o novo STF.
O STF emergirá do dilúvio como a barca de Noé, a instituição que, finalmente, assumiu suas responsabilidades constitucionais e foi central para garantir a democracia. Mas tem um histórico preocupante de seletividade política, de protagonismo oportunista, de exacerbação do personalismo, especialmente se mantiver os poderes acumulados nessa guerra mundial contra Bolsonaro.
A grande reconstrução institucional se dará se houve o pacto geral, impedindo manobras oportunistas, um grande acordo, como o que garantiu a transição no governo Itamar, um interregno nas disputas políticas, na destruição das políticas sociais, trazendo todos os jogadores para discutir as saídas econômicas, políticas e sociais do país.
Do GGN

terça-feira, 16 de junho de 2020

BOLSONARO VACILA; O STF AVANÇA NO TERRENO LAMACENTO E MAL CHEIROSO, POR FERNANDO BRITO

Se alguém tinha dúvidas de que o Supremo Tribunal Federal, ante a omissão do Congresso, tomou o freio nos dentes e assumiu o papel de se postar como uma parede diante dos planos golpistas de Jair Bolsonaro, deveria perdê-las diante dos acontecimentos que se sucedem desde ontem de manhã.
O núcleo duro do bolsonarismo está atônito, apavorado, com os fatos que vão se atropelando: mandados de busca e apreensão, prisão de militantes agressivos e, agora, quebra de sigilo bancário de vários de seus líderes, inclusive 11 parlamentares da tropa de choque presidencial.
Bolsonaro não sabe o caminho para a reação a isso e se não adotou o seu método tradicional, o de vociferar, é porque tem motivos políticos internos para não o fazer.
E o motivo é a falta apoio para dar passos adiante no seu autoritarismo.
Passou a revelar-se mais pelo que não diz do que pelo que diz, porque já não pode dizer o que quer.
Não pode, também, porque os casos se avolumam e se agravam em todos os campos: na pandemia, na economia, na política e nos inquéritos que o vão cercando: fake news, ataques ao STF, rachadinha, financiamento de grupos extremistas, etc…
Jair Bolsonaro está acuado e, embora perigoso como quem está encurralado, tem pouco espaço de manobra para atacar sem correr riscos.
Já não há quem acredite ser possível acordos com ele.
Do Tijolaço

segunda-feira, 15 de junho de 2020

PRISÃO DA FASCISTA SARA WINTER AMPLIA FUROR DOS BOLSONARISTAS, POR FERNANDO BRITO

Como era previsível – e talvez planejado pelos próprios autores do ataque a rojões ao prédio do STF – o STF determinou a prisão de seis integrantes do grupo bolsonarista responsável pelo ato, entre eles Sara Fernanda Giromini, conhecida como Sara Winter entre os grupos fascistas.
São, como se sabe, uns gatos pingados, mas importa pela reação agressiva do “exército” fundamentalista do ex-capitão e dos seus filhos-generais .
Não se descarte a hipótese de haver um plano nesta escalada de agressividade, para apressar ações que estão se inviabilizando com a crescente onda de desprestígio de Jair Bolsonaro, por meio de grupos que querem aproveitar o estado (ainda) de paralisia da sociedade por conta da pandemia.
O bolsonarismo vinha podendo ocupar as ruas vazias mas, há duas semanas, minguou visivelmente, a reunir meros bandos de lunáticos.
Entre eles, esta tal “Winter” , que se pretendia a musa do assalto ao poder.
A blondebloc da extrema direita.
Do Tijolaço.