quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

SETE SITUAÇÕES NAS QUAIS BOLSONARO E ALIADOS CONTRIBUÍRAM PARA A ESCASSEZ DE VACINAS

Bolsonaro não consegue nem colocar uma máscara

Nesta quinta-feira (18), o Brasil completa um mês do início da campanha de imunização contra o novo coronavírus, mas, até a última segunda-feira (15), no entanto, apenas 1,31% das doses de vacinas necessárias para imunizar toda a população brasileira foram aplicadas.

São 5,54 milhões de aproximadamente 420 milhões de doses necessárias, segundo o consórcio dos veículos de imprensa. No total, 5.285.981 pessoas tomaram a primeira dose, e 256.813, a segunda.

Uma das explicações para a baixa taxa de imunização até o momento é a quantidade escassa de doses, que, por sua vez, é explicada pela ausência de um planejamento por parte do governo de Jair Bolsonaro e do Ministério da Saúde.

Segundo Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas da USP e membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), “nós vamos conviver com essa situação que ninguém desejava, mas que reflete certamente o planejamento ausente que foi feito por parte do Ministério da Saúde em relação às vacinas”.

Para além da falta de planejamento, o comportamento do governo federal e de seus aliados no Congresso Nacional, desde o início da pandemia, foi caracterizado pelo aspecto negacionista em relação à imunização, concretizado tanto em declarações que lançaram dúvidas sobre a imunização quanto em polêmicas com laboratórios farmacêuticos, governadores brasileiros e órgãos independentes do governo.

Desde então, os fatos que contribuíram para a situação atual de escassez de doses se acumulam. Relembre alguns deles:

Congresso Nacional x Anvisa

O diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, solicitou ao presidente a exclusão de um trecho da Medida Provisória (MP) nº 1.003, que autoriza o governo federal a aderir ao Instrumento de Acesso Global de Vacinas Covid-19 – Covax Facility. O trecho em questão estabelece um prazo de cinco dias para que a Anvisa autorize o uso emergencial de vacinas que já tenham liberação internacional.

Com o texto aprovado no Congresso Nacional tendo o trecho incluído, não haverá outro caminho que não a aprovação, afirmou Barra Torres, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “Qualifico esse momento como o mais grave que estamos vivendo da saúde pública nacional nas últimas décadas. Se for dessa modalidade, sem análise técnica da Anvisa, eu não tomarei e não aconselharei ninguém a fazê-lo”, declarou.

“Se isso prosperar, a Anvisa passa a ter papel meramente cartorial, deixa de ter seu poder de análise. O texto acrescenta essa questão que seria automática (a aprovação), completamente isenta de análise”, disse o chefe da Anvisa ao Estadão.

O posicionamento do diretor da Anvisa foi criticado pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que ameaçou “enquadrar” o órgão. “O que eu apresentar para enquadrar a Anvisa passa aqui (na Câmara) feito um rojão. Eu vou tomar providências, vou agir contra a falta de percepção da Anvisa sobre o momento de emergência que nós vivemos. O problema não está na Saúde, está na Anvisa. Nós vamos enquadrar”, afirmou o deputado.

A tentativa de “enquadrar” a Anvisa faz parte de um movimento do governo federal de tentativas de não depender da Coronavac, associada ao governador paulista, João Doria. Nesse sentido, o Ministério da Saúde tenta avançar na compra das vacinas Sputnik V e da Covaxin, desenvolvidas, respectivamente, na Rússia e na Índia. No entanto, a Anvisa ainda aguarda mais dados sobre a segurança e a eficácia dos imunizantes.

Embates com a Pfizer

No dia 23 de janeiro, o governo federal divulgou uma nota criticando publicamente o laboratório farmacêutico Pfizer por cláusulas impostas para comercialização do imunizante.

Uma das medidas autorizava o governo brasileiro a assumir responsabilidade sobre possíveis efeitos adversos causados pela vacina – as cláusulas que Bolsonaro considera “abusivas” estão previstas em recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e se aplicam a imunizantes aplicados no Brasil há décadas.

Além dos EUA, a União Europeia, Japão, Canadá, Israel, Austrália, México, Equador, Chile, Costa Rica, Colômbia, Panamá e todos os demais países que compraram a vacina da Pfizer aceitaram essas exigências.

“Causaria frustração em todos os brasileiros [comprar as 70 milhões de doses oferecidas pela Pfizer em agosto], pois teríamos (…) que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina”, argumentou o Ministério da Saúde, em janeiro.

Na época, Bolsonaro afirmou que “na Pfizer, está bem claro no contrato: ‘nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral’. Se você virar um jacaré, é problema de você. Não vou falar outro bicho aqui para não falar besteira. Se você virar o super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou um homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso”.

O posicionamento foi recebido com indignação por setores da oposição. A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, afirmou: “Essa nota é pura confissão de culpa, perdemos 70 milhões de doses nessa brincadeira! Criminoso, Bolsonaro estaria no banco dos réus em qualquer lugar do mundo.”

Cancelamento do acordo das vacinas CoronaVac

Em outubro de 2020, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou um acordo para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, produzida em parceria entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan.

No entanto, um dia depois, Bolsonaro afirmou que a “vacina chinesa de João Doria” não seria comprovada e cancelou o acordo. “Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse Bolsonaro, nas redes sociais.

Na mesma semana, o presidente afirmou que não compraria nenhuma vacina da China, uma vez que o país teria um “descrédito muito grande”.

“A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá”, disse o presidente.

“Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”

Em novembro do ano passado, Bolsonaro comemorou quando os testes da CoronaVac no Brasil foram suspensos, após a morte de um dos voluntários. “Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu Bolsonaro nas redes sociais.

Dias depois, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária concluiu que a morte daquele voluntário não tinha relação com a vacina.

“Ninguém vai tomar a sua vacina na marra não, tá ok?”

Na mesma linha, durante uma transmissão ao vivo em suas redes sociais, o presidente afirmou que ninguém tomaria a CoronaVac “na marra”.

“Ninguém vai tomar a sua vacina na marra não, tá ok? Procura outro. E eu, que sou governo, o dinheiro não é meu, é do povo, não vai comprar a vacina também não, tá ok? Procura outro para pagar a tua vacina aí”, disse o capitão reformado.

“A pressa pela vacina não se justifica”

Já em dezembro de 2020, o presidente declarou que não entende o porquê da pressa pela vacina, seguindo os passos de seu ministro da Saúde, que disse não entender porque há tanta “ansiedade” pela imunização.

“A pressa pela vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas”, disse. “Não há guerra, não há politização da minha parte. Nós esperamos uma vacina segura. Parece que a Inglaterra começou a vacinar agora. Por que a gente tem que ser o primeiro?”

Desencontro com o governo indiano

Também em janeiro de 2021, o porta-voz do Ministério do Exterior indiano, Anurag Srivastava, afirmou ao jornal Hindustan Times que o governo brasileiro havia se precipitado ao enviar um avião àquele país para buscar 2 milhões de doses do imunizante produzido pelo Instituto Serum em parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. O porta-voz também disse que era “cedo demais” para enviar a vacina ao Brasil

“O processo de vacinação está apenas no começo na Índia. É muito cedo para dar uma resposta específica sobre o fornecimento a outros países, porque ainda avaliamos os prazos de produção e de entrega. Isso pode levar tempo”, disse Anurag Srivastava. As vacinas chegaram ao Brasil somente 10 dias depois da declaração do porta-voz.

Prefeitos e escassez de vacinas

Nesta terça-feira (16), a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) divulgou uma nota na qual afirma que a escassez de doses de vacina está diretamente ligada à condução do Plano Nacional de Imunizações pelo governo federal. Também cobrou respostas do Poder Executivo diante da falta de vacina.

No dia 14 de janeiro, a FNP solicitou ao ministro da Saúde encontros frequentes para o acompanhamento da vacinação no país. Na reunião, o combinado foi de uma reunião entre a comissão de prefeitos e a pasta a cada 10 dias. Passados mais de 30 dias, no entanto, nenhuma reunião foi agendada.

Menos vacinas que todos

“É urgente que o país tenha um cronograma com prazos e metas estipulados para a vacinação de cada grupo: por faixa etária, doentes crônicos, categorias de profissionais etc. Disso depende, inclusive, a retomada da economia, a eração de emprego e renda da população“, afirmam os prefeitos. 

Na corrida da vacinação, segundo a plataforma Our Word In Data, o Brasil está atrás de Rússia, China, União Europeia, Chile, Estados Unidos, Reino Unido, Emirados Arábes e Israel.

O Ministério da Saúde informou que vai disponibilizar, até julho deste ano, 230 milhões de doses de vacinas contra o coronavírus. O planejamento conta com imunizantes ainda não autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como o russo Sputnik V e o indiano Covaxin.

Em reunião com governadores nesta quarta-feira (17), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apresentou os contratos para compras de mais vacinas e detalhes sobre o cronograma de entrega e a quantidade adquirida.

Em nota, a pasta informou que os acordos de compra de vacinas com os laboratórios responsáveis pela Sputnik V e a Covaxin devem ser fechados ainda nesta semana. No entanto, os processos para autorização dos imunizantes na Anvisa nem mesmo começaram.

A Bharat Biotech, empresa responsável pela Covaxin ainda não deu entrada no pedido de registro. Já a Sputnik V ainda não é considerada uma vacina em testes no Brasil pela Anvisa.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, 2 milhões de doses da AstraZeneca/Fiocruz, importadas da Índia, e 9,3 milhões da Sinovac/Butantan, produzidas no Brasil serão entregues ainda este mês. No mês seguinte, estão previstas outras 34,9 milhões.

RBA.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

EM TOQUE DE REUNIR EXTREMISTA, BOLSONARO USA DANIEL SILVEIRA

"Ameaça de deputado ao Supremo não foi um tresloucado gesto individual", escreve o jornalista Rodrigo Vianna. "Daniel Silveira ataca o STF no momento em que ministros da Corte Suprema enfrentam (tardiamente) o golpismo dos militares; Bolsonaro acena aos generais e tenta manter reunidos os apoiadores mais radicais de sua base social"

O bolsonarismo, movimento de inspiração e traços fascistas, segue um padrão: colocar-se sempre em movimento.

O presidente e seus asseclas avançam sobre as instituições: já controlam o poder Executivo, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e agora acabam de eleger aliados para presidir Câmara e Senado. Dos três poderes da República, só o Judiciário mantém-se ainda relativamente imune.

As alianças do bolsonarismo no Parlamento mostram a capacidade de Jair Bolsonaro de fazer um discurso (falso) anti institucional e, ao mesmo tempo, conquistar posições nas instituições - em parceria com setores da "velha política" que ele antes fingia combater.

A cada vez que ensaia esse tipo de aproximação, Bolsonaro colhe entre aliados "liberais" a avaliação benevolente de que "agora entendeu", e de que merece uma "segunda chance. A capa da revista Veja, os acenos do mercado financeiro para Artur Lira e a acomodação de setores da direita tradicional com o bolsonarismo indicam a incapacidade da elite "tradicional" de enxergar o óbvio: Bolsonaro tem um projeto autoritário e o fim último de seu projeto é a destruição do que resta de Democracia.

Reparemos também que há um outro padrão nas ações bolsonarescas. A cada vez que perde apoio na população, ele radicaliza o discurso e incentiva o ataque. Finge recuar, para logo em seguida atacar. Sem trégua nem limite.

Isso já ocorrera em maio/junho de 2020, no início da pandemia. Àquela altura, com a economia paralisada e com um discurso de "gripezinha" e "e daí?" diante das mortes, Bolsonaro viu sua popularidade despencar. O auxílio emergencial ainda não havia chegado para socorrê-lo...

Foi naquele momento, temendo a derrocada, que o presidente incentivou manifestações em defesa do Golpe. Sobrevoou de helicóptero a praça dos Três Poderes, andou a cavalo pela Esplanada, foi a um ato em defesa do AI-5 em frente ao Comando do Exército. Fez isso tudo para garantir que não perderia a fatia mais radical de seus apoiadores: aqueles 20% do país que parecem apoiar um projeto autoritário, aconteça o que acontecer.

Agora, a estratégia se repete. Bolsonaro cai nas pesquisas, porque o auxílio emergencial acabou e Guedes (com os bancos) chantageia milhões de brasileiros às portas da fome: quer trocar a renovação da "ajuda" por mais cortes e "sacrifícios".

O novo auxílio deve ser implantado só em março, ou abril, mas só surtirá algum efeito dois ou três meses depois. O primeiro semestre de 2021 será de uma árida travessia para os brasileiros, e para o governo que se esfarela enquanto faltam empregos, vacinas e até oxigênio.

O que faz o bolsonarismo? Apela de novo para o toque de reunir extremista!

A ação de Daniel Silveira, ao atacar e ameaçar o STF, não foi um gesto tresloucado e desmedido, individual. Há método nisso. O mais perigoso: Silveira (um bolsonarista extremado) ataca o STF no momento em que ministros da Corte Suprema enfrentam (tardiamente) o golpismo dos generais.

É evidente que Bolsonaro usa Daniel Silveira para dizer ao generalato: contem conosco para enfrentar o STF.

Bolsonaro usa também esses personagens (frágeis, recalcados, em busca de atenção - como Sara Winter, ou o deputado quebrador de placa) para promover uma escalada verbal que o ajuda a agrupar suas tropas mais extremistas.

Assim como já fizera em 2020, o STF reagiu com a firmeza devida. Prendeu Silveira em flagrante. Fica claro que o deputado desejava a prisão e cumpria uma missão: gravou vídeo enquanto era preso, dobrando a aposta contra o STF, numa tática de instigar os mais radicais do bolsonarismo.

A tática é inteligente mas, a cada movimento desse tipo, o encanto se quebra na base social que elegeu o capitão. Partes dos (ainda) apoiadores de Bolsonaro se desprende. O presidente e seus asseclas têm uma margem limitada para acionar esse dispositivo de "radicalizar pra manter as tropas reunidas". A cada movimento, as tropas se tornam menores. E quanto menores, mais perigosas.

O covarde Daniel Silveira já quebrou a placa de Marielle em 2018; em 2021, achou que tinha forças para quebrar a ordem democrática. Mas sua ação pode ter ajudado a desenhar mais uma rachadura no muro bolsonarista, que precisa ser golpeado várias vezes para ser enfim derrubado em 2022 - ou, se possível, antes disso.

É fundamental resistir aos arroubos e ameaças, punir os extremistas e isolar o bolsonarismo. Mas é preciso entender que Jair não age sozinho. O troglodita Daniel Silveira é um sinal da aliança que o capitão busca reforçar com os generais. O governo é cada vez mais um governo militar.

247.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

COM MAIS 1.167 ÓBITOS EM 24 HORAS, BRASIL ULTRAPASSA 240 MIL MORTOS POR COVID-19

País está próximo de alcançar também a marca de 10 milhões de casos. Próximas semanas devem ser ainda piores, em razão das aglomerações durante o Carnaval.

O Brasil segue seu programa de vacinação frágil e com incertezas. No fim de semana, o país superou a marca de 5 milhões de doses aplicadas

O Brasil superou hoje (16) a marca oficial de 240 mil mortos por covid-19. As últimas 24 horasregistraram 1.167 vítimas do novo coronavírus. Desde o dia 21 de janeiro, o país registra média diária, calculada em sete dias, superior a mil óbitos, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

O número de casos também teve grande aumento. Foram 63.612 novos doentes. O país está a poucos dias da marca de 10 milhões de infectados e de 250 mil vítimas. De acordo com o levantamento de hoje, são 9.921.981 contaminados desde o início do surto no Brasil, em março.

O surto de covid-19 no Brasil segue fora de controle e a perspectiva é de aumento de casos e mortes para as próximas semanas. O descontrole é atestado pelo Imperial College de Londres, referência mundial em estudos sobre a pandemia. Além disso, o último fim de semana foi de grandes aglomerações por todo o país, no período que seria marcado pelo Carnaval. Mesmo cancelado pelas autoridades em todo o país, muitas festas clandestinas ocorreram.

Outro ponto que atesta o descontrole da pandemia no país é a média semanal de mortes. A última semana foi a segunda mais letal de todo o histórico da crise sanitária. Foram 7.520 mortos no período, sendo superado apenas pela semana entre os dias 19 e 25 de julho, com 7.714 vítimas, quando o país vivia seu pior momento até então.

Curvas epidemiológicas médias de casos e mortes. Fonte: Conass

CASO GRAVE

Em números absolutos, o estado mais afetado do país é São Paulo. As cidades paulistas somam 1.927.410 infectados e mais de 56 mil mortos, sem contar com a subnotificação, denunciada por cientistas e reconhecida por autoridades em todo o país. O estado, sozinho, só é superado em casos e mortos por 12 países, ficando à frente em números da tragédia sanitária em nações como o Peru e Equador.

Algumas cidades paulistas passam por colapso em seus sistemas de saúde. É o caso de Araraquara, que amanheceu hoje com 100% das UTIs ocupadas. “Na manhã desta terça-feira, 16 pacientes aguardavam sem leitos para internação. Após diálogo que firmamos ontem à noite com o governador João Doria, recebemos hoje as visitas do secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, e do secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi. Estivemos no hospital de campanha para apresentar nossa estrutura de enfrentamento à covid-19”, dise o prefeito, Edinho Silva (PT).

Edinho foi reconhecido internacionalmente durante a primeira onda pelas ações assertivas no combate à covid-19. A cidade mantém uma das maiores taxas de testes por habitantes do país. Também seguiu orientações rígidas de isolamento. Agora, além das consequências da flexibilização da quarentena em todo o estado. Araraquara também registra casos com as novas cepas do coronavírus (as chamadas mutações de Manaus e do Reino Unido).

“Vinholi e Gorinchteyn anunciaram que o governo do estado irá investir R$ 1,5 milhão na abertura de mais 95 leitos na região, sendo 70 deles em Araraquara. Desses 70, o hospital de campanha receberá 40 (30 UTIs de suporte ventilatório e 10 de enfermaria) e o Pronto-Socorro do Melhado terá mais 30 leitos de enfermaria. A situação é muito crítica, pois a cidade amanheceu tecnicamente em colapso de saúde, com pacientes aguardando leitos para internação e todos os leitos ocupados”, completou o prefeito.

VACINAS

O Brasil segue seu programa de vacinação frágil e com incertezas. No fim de semana, o país superou a marca de 5 milhões de doses aplicadas. Entretanto, há incertezas sobre a disponibilidade de novas doses. No atual ritmo, o país não consegue concluir a vacinação massiva nem mesmo em 2022.

A segunda dose já foi aplicada em cerca de 250 mil pessoas – ou seja, apenas 0,12% da população está efetivamente imunizada, enquanto a primeira dose já foi aplicada em 2,5% dos brasileiros. Como referências, China e Estados Unidos já vacinaram mais de 50 milhões de habitantes e o Reino Unido 15 milhões. A Inglaterra se destaca entre os países com maior porcentagem de vacinados, com cerca de 24% da população já imunizados.

RBA.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

E PRECISA PRESSIONAR O SENHOR, DR. FACHIN?, POR FERNANDO BRITO

A nota oficial emitida pelo ministro Luís Edson Fachin, dizendo que a pressão de militares sobre o Poder Judiciário é “intolerável e inaceitável” – depois da confissão do general Eduardo Villas Boas de que o famoso tuíte com que pressionou o Supremo Tribunal Federal a negar o habeas corpus no qual o ex-presidente Lula pedia para recorrer em liberdade das sentenças de Sergio Moro – deveria ter direito a um jazigo especial no já vasto “cemitério nacional de notas de repúdio”.

Três anos depois de ter sido pressionado, sem nenhuma reação e, sobretudo, tendo feito exatamente aquilo que se desejava com as pressões: recusar o direito constitucional da presunção da inocência quando o assunto era Lula e que só depois foi reconhecida numa Ação Direta de Constitucionalidade.

Fachin é hoje, dentre o próprio STF, um ministro de quem não se espera a imparcialidade nos casos relativos ao ex-presidente. Independente do que se ponha em votação que diga respeito a Lula, tem-se a certeza de qual será o voto de Fachin: contra o ex-presidente.

Não há linguajar empolado, como o que gosta de usar o ministro, que possa esconder este fato.

Não é que Fachin não deva ser pressionado. Quando se trata de decidir contra Lula ele o faz, sem pressão alguma.

Tijolaço.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

NA VALA DE MORO, VOLVER!; POR FERNANDO BRITO

Durante muito tempo “analista militar ” da Folha de S. Paulo, Igor Gielow é dos repórteres do jornal paulista que mais acessos e fontes tem nas Forças Armadas. A sua narrativa, hoje, sobre os bastidores da conspiração militar do então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas – a expressão não é apenas minha, mas também da insuspeita Miriam Leitão, hoje, em sua coluna “Três generais e uma desonra” – é parte da conclusão aterradora de que tivemos – e será que ainda temos? – um “Partido dos Generais”, disposto a reuniões secretas de seu “Comitê Central” para decidir apenas entre eles quais são os rumos que o país pode tomar.

Está claríssimo que o “Partido dos Generais” tomou Jair Bolsonaro como sua montaria para alcançar o poder no país, , certamente sem contrar que ele próprio, encilhado pela disciplina e obediência que traíram antes, a servirem de cavalgadura ao ex-capitão e, com isso, colocariam a Força Terrestre a patear na lama em que estamos metidos.

Recorro, outra vez, à absolutamente antilulista Miriam Leitão que, ao falar dos três desastrosos “Eduardos” do Exército – o Villas Bôas, o Luiz Eduardo Ramos e o Pazuello- diz que eles “ajudaram, com vários outros, a construir uma desonra para a instituição, apoiam o governo que tira dos militares a exclusividade em armas pesadas, que podem estar sendo usadas na formação de milícias de extrema-direita como as dos Estados Unidos. Mostraram ao país que topam tudo pelo poder.”

E topam articuladamente, porque ficou claro que não houve um desbordamento pessoal de Eduardo Villas Boas – com o tal segredo que Bolsonaro, a ele, disse publicamente que “morrerá conosco”.

O que se passou na cúpula militar é, em tudo, uma cópia fardada do que aconteceu na Lava Jato e que, agora, se sabe.

E o destino desta camada de militares, que se uniram a um – a expressão é de Ernesto Geisel – um “mau militar” vai, infelizmente, se refletir no apequenamento do Exército Brasileiro, que terá de ser “enquadrado” à democracia, a não ser que esteja disposto a virar força auxiliar das milícias.

Quem leva o Exército Brasileiro para a lama deve ir para lá em seu lugar.

Tijolaço.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

OPERAÇÃO TARTARUGA ESCONDE A FALTA DE VACINA. E NINGUÉM PROTESTA…, POR FERNANDO BRITO

São números oficiais: o Estado do Rio de Janeiro faz uma verdadeira “Operação Tartaruga” com a aplicação das vacinas contra a Covid-19 para esconder da população a realidade da falta de imunizantes em quantidade minimamente compatível com a urgência de vacinar as pessoas.

Foram aplicadas ontem 14.737 doses, nos mais de 500 postos de vacinação do Estado.

Isso equivale a 0,0895% (nove em cada grupo de 10 mil) da população estadual e, neste ritmo, seriam necessários 1.117 dias para dar à todos os 16,4 milhões de cariocas e fluminenses a primeira dose da vacina. Ou seja, até março de 2024, daqui a três anos. E olhe que são duas doses.

Esta é a “razão” do amalucado calendário adotado na cidade do Rio de Janeiro de vacinar numa “contagem regressiva” – 99 anos, 98, 97…

Na prática, o que isso fez foi adiar a aplicação de vacinas para os idosos, que tiveram de esperar mais de duas semanas por doses que já existiam e que foram “economizadas” para dar a impressão de que caminhava tudo bem e sem problemas.

Os postos de saúde na capital ficaram absolutamente ansiosos e, tanto no Rio quanto em São Paulo perderam-se doses de vacina: frascos abertos sem que houvessem idosos “específicos” para assinar.

Todas as pouco mais de 350 mil doses aplicadas no Estado poderiam ter sido aplicadas em menos de uma semana. Gastaram-se três.

Garante-se a imagem simpática do velhinho sendo vacinado na cobertura da televisão e ameniza-se a pressão da opinião pública para que se consiga trazer mais doses.

Não temos uma campanha de vacinação em massa, temos um espetáculo de “narrativa”.

Tijolaço.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

COMO OS MINISTROS DO STF RECAUCHUTAM SUAS BIOGRAFIAS, POR LUIS NASSIF

Mas a purgação do Ministro Luiz Edson Fachin é a mais dramática. Ao que tudo indica, Fachin é (era) um jurista de princípios consolidados.

À medida que as mazelas da Lava Jato e de Sérgio Moro vão desnudando a farsa da operação, e que o governo de Jair Bolsonaro vai demonstrando o preço pago pelo desmonte das instituições, começa um esforço de alguns Ministros do Supremo para recauchutar suas biografias.

A divulgação das conversas da Vaza Jato teve efeito corrosivo sobre a imagem da operação. Assim como o anti-lulismo foi o instrumento que agregou uma frente política ampla, que abalou a democracia – com a participação de Ministros do Supremo, mídia, mercado, militares -, a frente anti-Lava Jato vai juntando setores dos mais improváveis, criando uma nova onda de opinião pública que junta advogados garantistas, Procurador Geral da República, parte da mídia, juristas que endossaram o golpe do impeachment.

A primeira trinca na operação ocorreu com a prisão e denúncia de Michel Temer. Denunciar e prender Eduardo Cunha estava na conta. Mas Temer, não, pois poderia comprometer a política de desmonte do Estado e de negócios da privatização.

A fenda ampliou-se com a Vaza Jato, na qual Glenn Greenwald se valeu da mesma receita da LJ para conquistar a mídia: ofereceu a carne fresca de notícias de impacto à mídia.

A desfaçatez dos diálogos rompeu de vez com a blindagem.

Nesse aggiornamento da opinião pública, é interessante acompanhar os esforços dos Ministros do STF para recauchutar sua biografia.

Um dos principais agentes de desestabilização dos governos Lula e Dilma, Gilmar Mendes se converteu no mais ativo crítico da Lava Jato chegando a defender julgamento justo para o próprio Lula. Tornou-se um campeão da democracia, valendo-se de sua principal característica: a coragem. No julgamento da liberação dos arquivos da Vaza Jato para a defesa de Lula, Carmen Lúcia também mostrou-se sensível à nova onda.

Mas a purgação de Ministro Luiz Edson Fachin é a mais dramática. Ao que tudo indica, Fachin é (era) um jurista de princípios consolidados. Antes do STF, notabilizou-se pela defesa dos direitos sociais e tem suficiente sensibilidade pública para temer o julgamento da história. Ao mesmo tempo, está preso ao apoio incondicional que deu à LJ. Sua cara, para a historia, será do Ministro que convalidou a destruição institucional do país, permitido os maiores abusos nos julgamentos da Lava Jato.

Mas, como mostrei em outro artigo, há um Anjo e um Demônio habitando Fachin. O Anjo aparece ocasionalmente em entrevistas, artigos, relembrando o Fachin pré-Lava Jato, coalhado de bons propósitos, de visão humanista e de respeito ao papel constitucional do Judiciário. O Demônio se apresenta no que interessa: seus votos no Supremo.

Ontem, em entrevista ao advogado curitibano Tarso Violin, o Ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, acionou seu lado Anjo, para tentar explicar que o Demônio não é tão feio assim. É!

Indicado Ministro do STF, o Demônio apossou-se dele e atingiu paroxismos com a Lava Jato.

Sobre a operação, Fachin defendeu-se dizendo que não demoniza nem diviniza a Lava Jato e como magistrado não analisa o conjunto da obra e não faz narrativas políticas: analisa ação penal e conjunto de fatos. Defendeu a ideia de um Supremo contra-majoritário, não cedendo ao clamor das vozes publicadas, e sim ao respeito à Constituição. O Judiciário não pode ser transformado em caixa de ressonância da sociedade disse ele. É caixa de ressonância da ordem jurídica e democrática, votada e escolhida pelo poder constituinte originário, diz ele.

Não bate com sua atuação. Endossou todos os abusos da Lava Jato. Repito: todos! Nos momentos críticos – como em um embargo da defesa do Lula, em pleno ano eleitoral – Fachin jogou com os prazos, transferiu a decisão para o pleno nas vésperas do recesso da corte, sabendo que, na sua volta haveria pouquíssimo tempo para ser julgada a possibilidade de Lula concorrer às eleições – quando era  favorito nas pesquisas.

Enfim, Fachin sabe que a história sabe o que ele fez nos últimos verões. E o julgamento será implacável.

Como tem um preço alto a pagar, está oferecendo um pagamento elevado, assumindo bandeiras relevantes – e corajosas – alertando para os riscos de um golpe político-militar em 2022. Fala da transição imperfeita da ditadura para a democracia. Provavelmente se refere à não punição dos abusos do regime militar e da Lei da Anistia negociada por Nelson Jobim e Sepulveda Pertence, que abriu espaço para a volta da militarização da esfera pública – a maior ameaça à democracia, na visão de Fachin. Recorde-se que há anos o presidente da casa, Luiz Fux, mantém em sua gaveta o processo de reavaliação da Lei da Anistia.

Alerta que o maior risco à democracia é a volta da militarização do poder civil, admite que a profissionalização das organizações de controle ocorreu dentro do regime democrático – que ele ajudou a destruir, com o apoio do STF na demonização da política.

São discursos corajosos e eivados de fé na democracia. Mas não basta.  Enquanto não provar seu respeito aos direitos e à Constituição através de seus votos, suas manifestações extra-autos apenas ajudarão a consolidar a ideia de que se trata de um carrasco que chora depois de cada execução. E se prepara para a execução seguinte.

Quanto a seu parceiro Luís Roberto Barroso, nada se espere, nem gestos de coragem tardia, nem preocupação com o julgamento da história. Para ele, basta viver intensamente o presente.

GGN.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

QUEDA NOS SERVIÇOS DEVE EMPURRAR PIB 2020 PARA MENOS 5%, POR FERNANDO BRITO

Vista isoladamente – menos 0,2% sobre novembro – o índice do IBGE para o setor de serviços divulgado hoje parece pouco expressivo, sobretudo depois do tombo de mais de 6% revelado ontem para o comércio. Mas tanto frente às expectativas do mercado financeiro – que era de alta de 0,4% – quanto colocado em perspectiva anual – queda de 7,8 no acumulado do ano, frente ao acumulado em 2019 – o resultado é um balde de gelo do discurso da recuperação econômica.

É o pior registrado desde que o IBGE passou a medir, com os métodos atuais, o desempenho do setor e deixa para trás, com muita folga, o pior resultado da série, os menos 5% de 2016.

O impacto disto sobre o PIB é imenso, por os serviços representam, no Brasil, três quartos da atividade econômica. Portanto, o número representa uma carga negativa superior a 5% no total das contas nacionais, nas quais só terá peso positivo a agricultura, pois a indústria fechou o ano com queda de 4,5%.

O pior não é nem isso, uma vez que os resultados negativos de 2020 eram inevitáveis frente à pandemia, mas o efeito no que os economistas chamam de “carry over” sobre o PIB, ao menos do primeiro trimestre de 2021, ou seja, no efeito estatístico que um PIB em trajetória de alta (ou de baixa) arrasta para o período de medição posterior àquele em que foi registrado.

Em lugar de “recuperação em V“, o melhor que se pode esperar do PIB do 4° trimestre é que fique em zero e o que o do 1° tri de 2021 seja levemente negativo.

Tijolaço.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

CARNAVAL CHEGA COM NÚMEROS RECORDES NA COVID, POR FERNANDO BRITO

1.350 mortes ontem e, hoje, provavelmente, um número de óbitos igual ou maior, porque os números de oito estados disponíveis até agora – São Paulo, Paraná, Ceará,, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Tocantins – já somam 794 vítimas da Covid 19 nas últimas 24 horas.

Portanto, o resultado a ser divulgado ao final do dia tem perspectivas sombrias, talvez até um recorde de fatalidades desde o início da pandemia.

Contraditoriamente, há uma sensação de que “o pior já passou’ e estamos todos conformados com que as cenas de aglomeração humana vão se repetir no Carnaval, como algo inevitável.

Afinal, a vacina está aí e aceitamos que, num país capaz de vacinar 80 milhões de idosos em três meses nas campanhas da gripe, esteja tudo bem em, com 20 dias, apenas 4 milhões tenham recebido o imunizante: 2% da população, pouco mais de 1% do número de doses necessárias à dupla aplicação que será necessária.

Ficamos todos, porém, compreensivelmente emocionados com as cenas, de fato emocionantes, de velhinhos de 95, 98, 100 anos sendo vacinados, o que tocante e positivo, mas está longe de representar um processo de imunidade coletiva.

Finalmente, temos de reconhecer que prevaleceu a posição estúpida de Jair Bolsonaro, de que só os idosos e doentes devem ficar isolados e que os demais devem circular, trabalhar e até passear como ele faz a toda hora e, certamente, fará no Carnaval que só não vai existir oficialmente.

Tijolaço.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

EX-JUIZ MORO ESTÁ NO INFERNO ASTRAL, PGR PEDE BLOQUEIO DE PAGAMENTOS À ODEBRECHT, POR FERNANDO BRITO

Perdida a invulnerabilidade que o endeusamento da Operação Lava Jato e, depois, seu cargo de Ministro da Justiça, parece que as portas do inferno se escancaram para receber Sergio Moro.

Agora o subprocurador geral Lucas Rocha Furtado pediu ao ministro Bruno Dantas, do TCU, que bloqueie todos os pagamentos à empresa Alvarez & Marsal, administradora da Odebrecht no processo de recuperação judicial, que integrou como um de seus sócios o ex-juiz, responsável por ter levado a empreiteira à bancarrota.

É o que publica Monica Bergamo, na Folha.

Furtado chama a atenção para a o fato de que Moro, “em um primeiro momento, atua em processo judicial que interfere no desempenho econômico e financeiro da empresa e, em em um segundo momento, aufere renda, ainda que indiretamente, com o processo de recuperação judicial para o qual seus atos podem ter contribuído.

O procurador admite que Moro possa ter usado uma espécie de “porta giratória” ( revolving door), além de lawfare (perseguição com o uso abusivo da Justiça) e pede o compartilhamento dos diálogos da Operação Spoofing, onde estão retratados os diálogos entre o juiz e os promotores.

“Considerando as notícias de que o referido ex-juiz teria orientado procuradores do Ministério Público em questões relativas a informações constantes nos sistema daquela empresa” e que “na qualidade de juiz, a atuação do Sr. Sérgio Moro, seja nas decisões proferidas nos processos judiciais, seja nas exigências contidas nos acordos de leniência, pode ter contribuído para a situação de insolvência da empresa”, Furtado pede a Dantas que avalie “a suspensão de qualquer pagamento à empresa Alvarez & Marsal, no âmbito da Recuperação Judicial da empresa Odebrecht S.A, até que o Tribunal avalie o mérito da questão”.

Que fase, Moro!

Tijolaço.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

TODOS VÃO PULANDO DO BARCO DE MORO, POR FERNANDO BRITO

Embora pareça ter ainda os três luíses do STF – Luiz Fux, Luiz Fachin e Luiz Barroso – a situação de Sergio Moro vai se deteriorando a olhos vistos.

Hoje foi a vez de mais um saltar da canoa adernada: Demétrio Magnoli, ex-morista ferrenho e sempre antipetista feroz.

O colunista de O Globo e comentarista da Globonews chama o ex-juiz de Curitiba, a quem já entoou os maiores louvores, de “um nada jurídico” e de ter “mão de gato” ao sentenciar Lula:

“É dever do STF anular as sentenças condenatórias do líder petista tingidas pela mão de gato de Moro”.

Magnoli desmonta a petição em que Rosângela Moro, atuando como advogada do marido, requer que os diálogos entre Moro e os procuradores sejam postos numa gaveta trancada, dizendo que ‘a verdade factual expressa nas trocas de mensagens seria suficiente para condená-los por subversão do processo legal, se não tivesse vindo à luz pelo túnel da ilegalidade” mas que, mesmo assim, não a desqualifica para evidenciar que há “acertos entre o juiz e os procuradores para plantar notícias na imprensa e financiar a divulgação de propostas legislativas, além da ambição de reformar o sistema político-partidário”.

Há bons argumentos e texto duro – “a gangue manipulava suas prerrogativas de agentes da lei para deflagrar um projeto de poder centrado na figura de Moro” – mas o mais significativo é ter sido escrito por quem foi e onde foi.

Deixa mais evidente que nem mesmo lá se consegue segurar – apesar dos esforços de Merval Pereira em dizer que fazer justiça nesta caso implicaria uma anistia à corrupção – o imperativo moral que representa declarar-se o óbvio: Sérgio Moro foi um juiz parcial e, por isso, violou as normas do processo legal.

E fora dele, qualquer punição, a qualquer pessoa tem um nome ao qual a democracia é absolutamente alérgica: arbítrio.

Tijolaço.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

BRASIL TEM 'TROPA CIBERNÉTICA' COM 'ALTA CAPACIDADE' DE DESINFORMAR, DIZ ESTUDO OXFORD

Notícias falsas, inventadas para manipular a opinião pública, foram massificadas por robôs nas redes sociais.

O Brasil "garantiu" sua presença na lista de Oxford, posicionado entre países com média capacidade de desinformação industrializada (Pixabay).

Uma pesquisa da Universidade de Oxford divulgada em janeiro apontou que 81 países - entre eles o Brasil - foram em 2020 cenários de ações de "propaganda computacional" e "desinformação industrializada" sobre temas políticos, destaca o Estadão. Essas iniciativas foram promovidas profissionalmente por agências governamentais e outros atores institucionais ou privados - empresas, partidos e influenciadores digitais. No estudo, o país aparece com "tropas cibernéticas" dedicadas a atacar opositores do governo e aumentar a polarização na sociedade, entre outras metas. Em seu repertório de instrumentos, estavam as fake news. Essas notícias falsas, inventadas para manipular a opinião pública, foram massificadas por robôs nas redes sociais.

"Na indústria da desinformação global, o Brasil está posicionado como um país com 'tropas cibernéticas' de capacidade média", afirmou ao Estadão, em entrevista por e-mail, a pesquisadora Antonella Perini. Ela integra o Projeto de Pesquisa de Propaganda Computacional do Oxford Internet Institute (OII). O grupo de pesquisadores constatou que, em relação a 2019, houve crescimento no número de países com esse tipo de atividade. Foi de 15,7%, 81 ante 70.

O Brasil "garantiu" sua presença na lista de Oxford, posicionado entre países com média capacidade de desinformação industrializada, apontou a pesquisa Industrialized Disinformation 2020 - Global Inventory of Organized Social Media Manipulation, lançada em 13 de janeiro. As ações de suas "tropas" foram marcadas por atividade recente, em caráter permanente, com alguma centralização, emprego de recursos financeiros e existência de uma coordenação central. O País está ao lado de Armênia, Austrália, Bolívia, Cuba, Hungria, Polônia, México, Síria, Turquia. Ao todo, são 37 países nesse grupo. Empregam gente em tempo integral. Promovem ações "para manipulação de mídia social". Algumas operam até fora de seus respectivos territórios nacionais, diz o relatório.

"As mais utilizadas estratégias no Brasil foram mensagens pró-governo, ataques à oposição e polarização", disse Antonella Perini. "Mais frequentemente, os ataques são voltados contra jornalistas e meios de comunicação que são críticos ao governo, contra políticos e contra funcionários públicos."

Classificação

Em primeiro lugar nesse ranking, a pesquisa da universidade britânica aponta um grupo com 17 outros países. Suas "tropas", afirma, têm "alta capacidade" de desinformar. Estão lá Estados Unidos, China, Reino Unido, Índia, Rússia, além de Arábia Saudita, Venezuela, Irã, Iraque. Para "iludir" o público, usam notícias falsas e outros truques. Recorrem a contas automatizadas, campanhas organizadas de denúncia e até a perfis roubados. Suas atividades envolvem muita gente e grandes despesas. O dinheiro vai para operações psicológicas e guerra de informações.

"Essas equipes não operam apenas durante eleições, mas envolvem funcionários em tempo integral dedicados a moldar as informações", prossegue o relatório. "Equipes de tropas cibernéticas de alta capacidade focam operações domésticas e no exterior. Também podem dedicar fundos à mídia patrocinada pelo Estado, para campanhas de propaganda aberta."

O terceiro grupo tem baixa capacidade no campo da propaganda computacional. Estão lá 27 integrantes - Argentina, Colômbia, Espanha e África do Sul são alguns deles. Suas ações envolvem "equipes que podem estar ativas durante eleições ou referendos, mas param suas atividades até o próximo ciclo eleitoral".

Segundo o estudo, desde 2009, em todo o mundo, quase US$ 60 milhões (mais de R$ 300 milhões) foram gastos em serviços de desinformação. Eles foram prestados por empresas privadas, em todo o mundo. O número de campanhas de "propaganda computacional" dirigidas por governos ou partidos, cresceu constantemente ao longo dos anos pesquisados, aponta o trabalho.

"Em 2020, encontramos empresas privadas operando em 48 países, implantando propaganda computacional em nome de um ator político", diz o texto. "Essas empresas costumam criar contas-marionete, identificar públicos para microdirecionamento ou usar robôs ou outras estratégias de amplificação para estimular a tendência de certas mensagens políticas."

O mesmo relatório lembra como grandes plataformas de comunicação intervieram recentemente nesse cenário. Elas tiraram do ar contas aparentemente gerenciadas por "tropas cibernéticas", para ataques políticos.

'Deserto de notícias'

Trinta e quatro milhões de brasileiros não têm acesso ao jornalismo local. Seis em cada dez municípios no Brasil estão nessa situação, chamada de "desertos de notícias". O dado faz parte dos resultados obtidos na quarta edição do Atlas da Notícia, divulgado nesta terça-feira. O levantamento apontou aumento de 10,6% na base de veículos jornalísticos - com forte presença digital. O registro desses novos meios de comunicação digitais levou à redução do número de "desertos" em cerca de 5,9% em relação à edição anterior da pesquisa, de um ano atrás.
Dom Total/Agência Estado.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

LAVA JATO QUIS USAR MÍDIA PARA TRF LEVAR OAS CULPAR LULA, POR FERNANDO BRITO

Publico abaixo o vídeo e a timeline feita pelo site jurídico Migalhas.com, publicado esta semana sobre o que ele chama de uso da imprensa para pressionar o desembargador Victor Laus, do TRF-4, a devolver o pedido vista do processo de Léo Pinheiro para, ao que parece, o empreiteiro finalmente se convencesse a fechar acordo de colaboração incriminando o ex-presidente Lula.

Procuradores de primeira instância não atuam junto aos tribunais de 2a instância, mas as mensagens revelam que o fizeram e com métodos absolutamente ilegais.

A manutenção ou a ampliação da pena de Léo Pinheiro em segunda instância era considerada pelos promotores da Lava Jato como essencial para que o diretor da Odebrecht fosse convencido a dizer que o triplex do Guarujá pertencia a Lula, coisa que até ali ele negara.

Era o “aperto” que se conseguiu aumentando a sua pena em 1o anos e que produziu o efeito de Pinheiro afirmar o que antes negava.

Tanto que Deltan Dallagnol se preocupa, revelam as mensagem de chat, em que a nova versão do empreiteiro “não pode parecer um prêmio pela condenação de Lula”.

Tudo o que se vai revelando são armações, pressões, comportamentos impensáveis de cumplicidade entre juízes e promotores para alcançar o que estava decidido antes que a primeira folha de papel dos processos fosse escrita: Lula precisava ser incriminado e condenado.

O resto era “filigrana jurídica”.

Veja o vídeo e acompanhe a linha do tempo.

Tijolaço.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

COM TRÊS LOTES, SAQUEARAM E VENDERAM O PAÍS INTEIRO, POR LUIS NASSIF

Tem-se um país definitivamente à deriva, com todos os poderes amarrados pelos compromissos firmados com os negócios da privatização.

Quem dá mais? Quem é que dá mais de um conto de réis?

Quem dá mais? Quem dá mais?

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três!

Quanto é que vai ganhar o leiloeiro

Que é também brasileiro

E em três lotes vendeu o Brasil inteiro?

Quem dá mais?

Noel Rosa, na música “Quem dá mais”, de 1932.

O Ministro Luís Roberto Barroso consagrou sua definição síntese sobre o brasileiro. Citou a empregada de um amigo que não queria o registro para poder receber o Bolsa Família. O Ministro que, antes do Supremo, mantinha um emprego de funcionário público (como procurador do Rio de Janeiro) com um escritório de advocacia que servia a grandes empresas, preferiu o estereótipo do brasileiro de classe baixa, malandro por natureza. Na época, ele cumpria o rito de escrever sobre o Brasil artigos longos, coalhados de lugares-comuns, mas com o formato de “ensaios”.

Seria interessante conhecer sua análise sobre as raízes do Brasil, a prática recorrente de vender o Brasil inteiro, que vem desde o século 19 e que se repete agora, como efeito direto da cruzada de falso moralismo que sacudiu o país, e que teve em ele um dos arautos mais ostensivos. Afinal, o punitivismo levaria o país a um novo Iluminismo.

Ontem, o iluminismo baixou no Congresso. Na Câmara, assumiu a presidência o braço direito de Eduardo Cunha, o deputado Artur Lira.

Ontem, seu primeiro ato foi uma visita a Bolsonaro para tratar das prioridades nas pautas do Congresso. Assim como na música de Noel, a venda do país foi em três lotes.

O lote do mercado consistiu na promessa de privatização da Eletrobras, flexibilização do setor elétrico, esvaziamento dos fundos públicos (responsáveis por algumas das principais políticas sociais do país), autonomia do Banco Central.

O segundo lote vai para sua turma: mineração em terras indígenas, registro, posse e porte de arma de fogo, licenciamento ambiental, regularização fundiária (para formalizar todas as invasões de terra), estatuto do índio.

O terceiro lote, uma pequena pauta moral para garantir o manutenção do apoio dos evangélicos: lei de drogas, normas para militares em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), aumento de pena em casos de abusos de menores.

No mercado, a comemoração foi instantânea. O New York Capital, assessoria de  investimento ligada ao banco XP, não disfarçou a euforia: “estão deixando a gente sonhar?”.

Há dúvidas sobre se o trabalho será entregue na integralidade. Completado, se terá perpetrado o maior assalto ao patrimônio público, ao patrimônio ambiental e ao futuro do país, em todos os tempos. E se terá coroado – com um legítimo sucessor de Eduardo Cunha – o diligente trabalho da mídia, Supremo Tribunal Federal, Ministério Público Federal, TRF4, Lava Jato. A destruição do sistema político, a desmoralização das instituições, a abertura do país aos negócios da privatização conquistou o feito inigualável de entregar um país indefeso ao mais inescrupuloso grupo político da moderna história do país, o grupo organizado por Eduardo Cunha, Wellington Moreira Franco, Eliseu Padilha, Geddel Vieira de Lima e Michel Temer.

A versão de que Bolsonaro tornou-se refém do Centrão não procede. Refém por que? Ele concorda com todos os pontos de desmonte das áreas social, ambiental. Não tem a menor preocupação sobre os impactos de uma privatização mal feita. Nem em lotear todos os cargos públicos. Afinal, quem se permitiu, na maior pandemia enfrentada pelo Brasil, entregar o Ministério da Saúde a um grupo de militares despreparados, não terá problemas com outras formas de loteamento do setor público.

Entregando o que lhe pedirem, Bolsonaro abre caminho para acelerar sua verdadeira estratégia: a militarização de suas milícias e dos clubes de caça e tiro para o caso de falhar a reeleição de 2022.

Tem-se um país definitivamente à deriva, com todos os poderes amarrados pelos compromissos firmados com os negócios da privatização.

Tudo isso se dá ao mesmo tempo em que os documentos da Vaza Jato completam o quadro de manipulação do inquérito com fins obviamente políticos.

Como é que faz? Permitiu-se o desmanche do sistema político. O centrão sempre existiu, mas era contido pelos partidos políticos que controlavam a governabilidade pós-Constituinte, o PSDB e o PT. O PSDB se esvaiu nas mãos de políticos inescrupulosos, como José Serra e Aécio Neves. O PT, por conta de um processo de desestabilização que veio desde o “mensalão” e contra o qual ele não soube se defender.

Como é que fica? Durante algum tempo, o Supremo se escudava no discurso milgreiro do mercado. Se deixar tudo por conta do mercado, haverá uma era iluminista.

Ora, provem que não houve má fé, mas apenas uma ilusão de ótica, temperada com deslumbramento.


GGN.