sábado, 18 de setembro de 2021

A FÁBRICA DE FANTASIAS DA TERCEIRA VIA, POR FERNANDO BRITO

 

Ciro Gomes com José Luiz Datena de vice.

Mas Datena filiou-se, há dois meses, ao PSL, que foi e ainda é, pela metade, o partido de Jair Bolsonaro.

O PSL pretende se fundir ao DEM, que é todo Bolsonaro, mas tem um candidato demitido e humilhado por ele, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, e um candidato que está por lá, mas pretende ir para o PSD, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Como para o PSD pretende ir o ex-padrinho e agora desafeto de João Doria, Geraldo Alckmin, saindo de um PSDB em liquidação litigiosa, onde o atual governador de São Paulo e o do Rio Grande do Sul, ex-Bolsodoria e ex-Leitedoria disputam um eleitorado minúsculo.

Esta movimentação alucinada de candidatos, nenhuma delas correspondendo a causas e projetos que competiriam a um governo de reconstrução nacional, depois do estrago a que a democracia brasileira e as estruturas econômicas do país vêm sendo submetidas há mais de cinco anos é, para ser direto, ridícula.

Os apelos a que se forme ualquer unidade opositora começam, é claro, justamente pelo que não vem sendo discutido: a fixação de um programa mínimo de reerguimento do país: estímulo ao emprego, elevação dos salários de base dos trabalhadores, proteção ao patrimônio público, especialmente da Petrobras, recomposição do orçamento social, anulação das medidas arbitrárias e lesivas à paz social, como as liberações de armas, restauração das políticas ambientais , enfim, o que há de urgente e inadiável para o pais.

O resto é ciranda política, que tem seu lugar, mas não o centro das preocupações.

Tijolaço.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

INSEGURANÇA ECONÔMICA AUMENTA E DÓLAR VAI A R$ 5,34. POR FERNANDO BRITO

 

O anúncio do aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) anunciado ontem à noite (para valer a partir de 2ª-feira) está agitando o mercado financeiro esta manhã.

O dólar, agora há pouco, superou os R$ 5,34 , um nível até um pouco maior do que o do dia 8 de setembro, quando a tesão provocada por Bolsonaro – o “barulho político ao qual Guedes atribuiu a alta do dólar.

A Bolsa, em queda de 1,6%, também ultrapassou a mesma cotação em baixa daquele dia.

O mercado financeiro parece ter se convencido de que o bolsonarismo, apesar de jurar de pés juntos que o “teto de gastos” não será violado, prepara-se para fazê-lo.

Esta gente não é boba e procura se proteger na moeda norte-americana, porque sabe do cenário sombrio que temos.

Até para os leilões de privatização, que são uma bala muito doce, pela necessidade do governo fazer dinheiro cash a coisa está esquisita e o Valor Econômico diz que “Instabilidade política pode afugentar novos grupos estrangeiros dos leilões de infraestrutura“.

Bolsonaro quer, com os R$ 2,4 bilhões que a nova alíquota do IOF vai gerar pagar já em novembro o Bolsa Família de 300 reais, o que será bom para gente que precisa, mas pode, com isso, acelerar a marcha já descontrolada da inflação, que tira de muito mais gente aquilo que o auxílio que o auxílio dará.

Tijolaço.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

NINGUÉM TEM CARÁTER NO GOVERNO BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

Quando Marcelo Queiroga foi escolhido para ocupar o lugar de Eduardo Pazuello, este blog disse que este senhor teria o mesmo destino inglório do general-ministro.

Apenas vestiu com jaleco branco e escondeu sobre as caixas de vacina que, afinal, começaram a chegar, a incompetência arrogante com que o militar dirigia a Saúde.

Dobra-se, como naquele “um manda o outro obedece” em não assumir com vigor o combate ao charlatanismo, curva-se diante das absurdas sugestões de Bolsonaro em abolir as máscaras e, sobretudo, nunca conseguiu -nem mesmo tentou – assumir o comando de um processo de vacinação que seguisse regras claras e homogêneas para todo o país.

O resultado foi que prefeitos e governadores, com erros e acertos aqui e ali, mas sem a sinergia que um plano nacional de vacinação poderia dar-lhes, fizeram várias “corridas malucas” de imunização. Datas, faixas etárias, critérios de prioridade, tudo correu na base do “cada um por si”.

Felizmente, pudemos contar com a tradição de vacinação que marca o Brasil desde há muitas décadas e a população acorreu aos postos, muitas vezes várias vezes de forma frustrada porque cada cidade tem uma regra.

Foi isso e não um esforço governamental eficiente que nos fez diminuir em 2 mil o número de mortes diárias.

Mesmo com um presidente que sabotava – e sabota – publicamente as vacinas, o Brasil foi se vacinar, expressão muito melhor do que “O Brasil foi vacinado”.

Este drama se repete, agora, com a questão da vacinação de adolescentes. Depois de décadas ouvindo “leve seu filho para ser vacinado”, temos um ministro dizendo “não levem seus filhos para recber vacinas”.

Suspender a vacinação com declarações terroristas contra a aplicação do imunizante em jovens é um crime, não só contra eles, mas contra todos que ainda estão por tomar a primeira e a segunda dose – e são muitos – porque coloca em dúvida a eficácia e a credibilidade da vacina.

Se o ministro é tão rígido com a eficácia provada de cada imunizante – e há a prova científica que a Pfizer é segura e eficaz em adolescentes – porque não é tão rígido com o charlatanismo patrocinado pelo governo a que pertence?

Porque foi capaz de dar entrevistas apelando a que não se vacinem jovens e não é capaz de fazer o mesmo com o uso de “poções mágicas” do gosto presidencial, como a cloroquina e a ivermectina?

E porque não saltou, furioso, para cobrar responsabilidade de um poderoso grupo de planos de saúde, a Prevent Senior, suspeita de estar realizando testes destes produtos usando seus clientes como cobaias humanas para reforçar o discurso de “cura milagrosa” do presidente da República.

Marcelo Queiroga é a antítese do SUS, que se funda em planejamento centralizado e execução descentralizada.

Não há planejamento na Saúde, como não há governo no Brasil.

O papel do Governo central é apenas o de buscar transferir culpas para governadores e prefeitos, como um mau militar transfere a culpa para seus oficiais e soldados, nunca para os erros dos comandantes.

Marcelo Queiroga não tem nada de diferente dos demais integrantes desta máquina de incompetência e incapacidade que dirige o Brasil: é só uma mixórdia a mais.

Tijolaço.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

GUEDES NÃO ESCONDE QUE BOLSONARO SÓ PENSA NOS PRECATÓRIOS, POR FERNANDO BRITO

O encontro, hoje, entre Paulo Guedes e Luiz Fux, se ainda fosse preciso, evidencia que a “paz e amor” do Jair Bolsonaro da semana é apenas a materialização daquele “se queres a paz, prepara-te para a guerra” do pré- 7 de Setembro.

Tão manso quanto o chefe, Guedes disse que estava ali em “um pedido desesperado de socorro” para que o Supremo desse o dito pelo não dito, recuasse na determinação de que se pagassem os precatórios indiscutíveis com o Orçamento de 2022.

Podem, de fato, ser parte por motivos nobres: bancar o auxílio que sucede o Bolsa Família. Mas a quantia que se quer permitir ser transferida ao próximo governo é quase três vezes o que seria necessário para isso.

É um cheque de R$ 59 bilhões, valor que seria empurrado para o próximo governo e que, portanto, terá de sair de programas de investimento e de assistência social.

Este é o problema no aspecto ético: assumir que o novo mandatário do país, para pagar o “pendura”, terá de tirar de algum lugar, provavelmente dos próprios programas sociais que se diz querer alavancar.

O segundo problema é o técnico-jurídico: as cortes judiciais não podem mais decidir pelo ângulo do Direito, mas só pela conveniência administrativa o que o Governo Federal deve e deve pagar?

Vai criar uma bola de neve infindável de “papagaios” que se empina para 22,24,25, 26…? Porque pedalar com a desculpa do “teto”, se virar regra, durará tanto quanto ele: 10 anos sem revisão e mais 10 depois de revisto, a contar de 2016. Até 2036, portanto.

Sem falar, claro, no lucrativo mercado de comprar precatórios com deságios de gente que, enforcada, espera há anos por receber seus direitos.

Não era o mesmo Paulo Guedes que prometia alcançar R$ 1 trilhão – quase 20 vezes os R$ 59 bi que pretende empurrar para a frente – com as privatizações? Não era ele que acenava com uma economia trilhardária com a reforma previdenciária? Não é o mesmo que diz que o país perde com o dólar nas alturas por conta do “barulho político” que o seu chefe faz?

A questão essencial é se o Supremo vai empoderar, com dinheiro farto e irresponsável, o presidente que o ataca e o quer “enquadrar”.

Se o fizer, estende a corda com que Jair Bolsonaro o pretende enforcar.

Tijolaço.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

CAI O 19º PROCESSO CONTRA LULA. QUEM VAI PAGAR POR ESTA PERSEGUIÇÃO? POR FERNANDO BRITO

O encerramento de mais uma ação movida contra Lula – a 19ª! – vai tornando cada vez evidente que é preciso punir a quem desfechou uma ofensiva judicial contra uma pessoa por razões políticas.

A decisão da juíza da 9ª Vara Criminal de São Paulo, Maria Carolina Ayoub, embora se refira à prescrição da pretensão punitiva do Estado, também encerra o caso em relação a outros acusados, a quem a idedade não favoreceria, porque “não se faz presente justa causa para a continuidade das investigações, diante dos parcos indícios coletados”.

Ou seja, não há provas convincentes.

Havia, sim, as famosas “convicções” despertadas na era lavajatista de que Lula estaria envolvido em toda e qualquer falcatrua cometida neste país (e as não cometidas, também) desde os tempos de Pedro Álvares Cabral.

E isso se confirma com decisões de vários juízes em todos os lugares, exceto Curitiba.

A história do lobo e do cordeiro, se já não fosse clássica, teria de ser escrita agora.

Resta apenas um processo, tão fantasioso quanto: uma acusação de corrupção na compra de caças que só foram escolhidos muitos anos depois de que Lula deixou o governo. E que foi amplamente apoiada pelos militares da Aeronáutica, pela qualidade e transferência de tecnologia.

Logo cairá por terra, também, e ficaremos com o espantoso caso de alguém que foi processado 20 vezes, sem que em nenhuma delas, dentro de processos regulares – sem perseguição política – acabou condenado.

A reparação do dano moral a Lula, infelizmente, não se fará com uma legislação que permite esta avalanche de processos sem prova contra ele.

Será feita, porém, não com dinheiro, mas com votos.

Tijolaço.

domingo, 12 de setembro de 2021

NÃO É DIVISÃO, É DIFERENÇA, POR FERNANDO BRITO

 “Nem Lula, nem Bolsonaro”.

As faixas, cartazes, bonecos e gritos de manifestantes da dos atos meia-boca de hoje são, para quem quiser ver, onde está a mira dos grupos de direita que foram a lenha que alimentou o caldeirão de onde nos veio a monstruosidade que nos governa.

Só mesmo a recaída da antiga musa da “massa cheirosa”, Eliane Catanhede para, diante disso, ainda acusar PT e PSOL de “dividirem” a oposição Aguarda-se dela, mais tarde, o comentário sobre a dancinha tipo ilariê do governador de São Paulo como símbolo da seriedade de nossas preocupações com Bolsonaro.

Mas, aos fatos.

Exceto por vaias de um pequeno grupo de integrantes do PCO, nas várias manifestações antibolsonaro, algum cartaz contra Ciro Gomes, ou debochando do MBL, ou criticando Mandetta, ou com qualquer agressão aos “arrependidos” que delas participaram ou desejaram participar?

Buscaram comparações com as diretas-já, mas alguém pode imaginar a Candelária com um boneco de Tancredo como presidiário ou um “Nem Ulysses, nem Figueiredo”? Até o Quércia, flor difícil de cheirar, era tratado com urbanidade por todos.

Nas diretas, a eleição direta e livre do presidente estava em primeiro lugar, divergências e embates, depois. Não é o que se viu e ceder a estas agressões explícitas e gratuitas seria indigno de quem precisa presidir o Brasil.

A parcela mais politizada do povo brasileiro percebe isso e explica, em grande parte, a baixa adesão aos atos.

Apesar disso, esta baixa adesão vai refrear este tipo de atitude, exceto nos suicidas políticos.

E não por generosidade ou lucidez, mas porque Bolsonaro permanece, apesar dos muxoxos de alguns de seus seguidores, no controle da direita.

Os votos arrependidos não os levarão a lugar algum.

Tijolaço.

sábado, 11 de setembro de 2021

BOLSONARO, À BEIRA DO GOLPE, RECUOU ANTES DA CARTA, DIZ JANIO DE FREITAS

Janio de Freitas, a quem a experiência, apoiada na integridade leva o olhar além da visão miúda mata a charada do que se passou na Batalha de Itararé do golpe bolsonarista de Sete de Setembro.

O que faltou ao golpista foi ter que parar depois de semanas numa campanha de ataques brutais, depois de concentrar sua tropa de vanguarda, alucinada como ele, faltou-lhe suporte para consumar a ofensiva. E isso o deixou pendurado no vazio, sem caminho senão o de chamar para a briga ao tempo em que, de forma humilhante, se retirava.

A “Carta de Recuo”, atesta Janio, é uma “saída traiçoeira do desastre”, “não é de moderação, vista na sempre precipitada interpretação midiática. É de humilhação.” Bolsonaro, diz ele, “se desfaz como pessoa, pelas mentiras desavergonhadas, pela covardia, rasteja em fuga como um inseto repugnante.

Vale a pena a leitura, vai ajudar a entender, pelos antecedentes, os dias que estão por vir.

Uma verdade nos põe ao lado de Bolsonaro: estamos todos na beira do abismo

Janio de Freitas, na Folha

Uma intervenção insuspeitada levou Bolsonaro a modificar, quase de última hora, o pronunciamento destinado a incitar a multidão da av. Paulista, no 7 de Setembro, com insinuações para insurgência.

A exibição na manhã de Brasília, com cerimonial de posse em novo poder presidencial, e, já à tarde, a visão da massa que se aglomerava na avenida agravaram preocupações militares com o ato paulistano.

Se a exaltação degenerasse, a PM não bastaria para conter a multidão desatinada e as Forças Armadas seriam chamadas a agir, com decorrências muito graves para todos os lados.

Um exemplo de situação dramática, se a manifestação degenerasse, poderia ser a insurgência violenta com a condição, para desmobilizar-se, da renúncia de Alexandre de Moraes no Supremo. Como desejado por Bolsonaro.

Na fala em São Paulo, evaporaram as ameaças do “creio que chegou a hora, no dia 7, de nós nos tornarmos independentes pra valer”, “nunca outra oportunidade para o povo brasileiro foi tão importante quanto esse nosso 7 de setembro”, “agora o povo vai ter liberdade pra valer”.

O povo foi devolvido à exclusão histórica. E Bolsonaro mal conseguiu repetir frases esparsas, com acréscimo só de citações pessoais. Ao que se seguiu o encerramento abrupto, com a fisionomia aflita por não encontrar outras frases. Houve até certa demora para a percepção geral do encerramento.

O recuo primordial de Bolsonaro não foram as negações do que disse, tantas vezes, contra o Supremo, contra o Tribunal Superior Eleitoral, contra os ministros Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, com a sobra de um ultimato para Luiz Fux. O recuo surgiu na fala em São Paulo.

O que está considerado como o (segundo) recuo é, na verdade, uma saída traiçoeira do desastre, sob a forma de carta ao país. Michel Temer e o marqueteiro Elsinho Mouco, seus autores, ou foram perversos ou se comprovaram no limite intelectual de Bolsonaro.

Antes que se questionasse a validade da moderação escrita, já no início a carta ofereceu a resposta: “nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha (…)”. A mentira é enriquecida pelo mau texto que confessa a repulsa à harmonia entre os Poderes.

No mais, a carta não é de moderação, vista na sempre precipitada interpretação midiática. É de humilhação.

Bolsonaro se desfaz como pessoa, pelas mentiras desavergonhadas, pela covardia, rasteja em fuga como um inseto repugnante. Michel Temer levou Bolsonaro para a beira do abismo, chamado agora de traidor e frustrante por apoiadores de todos os momentos até então.

E, com a ideia do telefonema ao ministro Alexandre de Moraes, Temer não atenuou a indignação no Supremo com os ataques de Bolsonaro. Tornou ainda mais insultuosa a agressão ao tribunal e seus integrantes. O telefonema foi de pedido de desculpas a um ministro, mas os ataques, como disse a ministra Cármen Lúcia, foram a todos. Até por isso, além do protocolo, o telefonema providenciado por Temer deveria ser a Luiz Fux, presidente do tribunal.

Mas, traidor por traidor, Bolsonaro-Temer fazem boa dupla. Tal como Rodrigo Pacheco-Arthur Lira, que usam as cadeiras de presidentes do Senado e da Câmara. Não viram nem ouviram nenhuma transgressão de Bolsonaro, limitando-se a notas perfumadas, com corações pressentíveis nas entrelinhas. Faltam mulheres no Congresso. E faltam homens também.

Mas nenhuma pusilanimidade excederá a de Augusto Aras. Viu, e o disse ao lado de Luiz Fux no plenário do Supremo, uma “festa cívica” nos pedidos de fechamento dos tribunais superiores e do Congresso, de intervenção militar, de prisão de magistrados e impulsionadores da CPI da Covid, de volta ao sistema eleitoral fraudulento. Augusto Aras, procurador dos piores meios de alcançar objetivos pessoais. Como um lugar no Supremo a que também agride com sua festa cínica.

É preciso registrar que Luiz Fux fez um pronunciamento enfim firme, em defesa da Constituição e do Judiciário. Mas Luis Roberto Barroso, que brinda as ideias com um estilo valioso, deu ainda mais do que o devido.

Na loucura trágica do país, uma verdade nos põe ao lado de Bolsonaro. Falta de governo, golpismo, aumento da pobreza, corrupção, pandemia, violência: estamos todos na beira do abismo.

Tijolaço.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

‘MAROLA’ DE BOLSONARO NÃO DETÉM DESLIZAMENTO DA ECONOMIA, POR FERNANDO BRITO

O quase-ex- ministro da Economia, Paulo Guedes, disse hoje a investidores estrangeiros que, com a cartinha que Temer escreveu para Jair Bolsonaro, também “tudo de volta aos trilhos”, também nas atividades econômicas e que, embora estejamos vivendo “o pior da inflação”, ela baixará para “algo entre 7,5 e 8%” no final do ano.

Se o senhor Paulo Guedes tiver uma destas calculadoras de camelô, mesmo com ela será possível se novembro e dezembro tivessem uma inflação de ,menos de 0,5%, metade da que se vem registrando hoje. As projeções da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Abima, datadas de ontem, já são de 0,99% para o IPCA de novembro.

Inflação de 1% no mês, dada como certa, só tem como dúvida se e o quanto ficará acima disso.

Podem fazer a pantomima que quiserem, traz efeito apenas aos que lucram com espertezas , temores e falsas euforias, como os que, ontem, se aproveitaram de uma euforia no câmbio e na bolsa que não durou um dia e devolveu os ganhos de ontem.

O aumento dos preços dos alimentos é forte e contínuo: subiram frango, café, carne suína, bovina. Nos grãos (arroz, milho, trigo, café, soja, feijão) extinguiram-se os estoques reguladores públicos, que impediam altas alucinadas de preços. Em consequência, no que ainda havia alta, agora elas se elevam a até 30% m dois meses.

Pequeno produtor não estoca para acompanhar cotações internacionais, vende na baixa ou na alta porque não tem fôlego para especular por cotações.

Mas os grandes, não, ganham no preço muitas vezes mais do que aplicam na construção de um ambiente de conflitos, como estes que patrocinaram entre os caminhoneiros, que não desobedecem aos frotistas que, por sua vez, não desobedecem a seus clientes do agro.

Estamos praticamente sem comando econômico que, se houvesse, já teriam dificuldades em conter a inércia altista dos preços livres e, pior ainda, estamos acima de 11% de inflação nos preços administrados pelo governo.

Tijolaço.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

QUANTO TEMPO DURA? POR FERNANDO BRITO

 

Embora todos saibam – ou deveriam saber – que nada é sincero em Jair Bolsonaro, seu recuo covarde do que disse ainda na terça-feira, com a suas ameaças e valentia nos cenários que ele próprio, durante 2 meses, cuidou meticulosamente de construir, algumas lições pode-se tirar disso.

A primeira é que alguma parte – melhor, porque era quase toda – da elite brasileira se satisfaz com com uma pantomima democrática e só condenava Bolsonaro pelos exageros aos quais, por alguns dias, ele abjurou na carta escrita com a sombria assessoria de Michel Temer. O dinheiro reagiu rapidamente, sempre acreditando que Bolsonaro, se não fizer marola, é a melhor chance que tem em 2022.

Bolsonaro comemorou na internet, mostrando que a elevação da bolsa e a queda do dólar é fruto de sua atitude “conciliatória”, embora não fale que o inverso foi consequência de seu ato de confronto aberto.

Segundo, que não há força capaz de dissolver, antes das eleições, o núcleo duro bolsonarista: na internet, eles já argumentam que a sensação de derrota é igual à que tiveram com a saída de Sérgio Moro do governo e que o tempo teria mostrado que, ao defenestrar o ex-juiz, Bolsonaro tinha razão. Ele próprio usou o exemplo em suas redes, embora tenha perdido, não se sabe quanto e por quanto tempo, senão adeptos, talvez fanáticos.

Não é exatamente assim. Ali não era a valentia do “Mito” que estava em questão. Agora, é. Portou-se como um destes valentões de botequim que faz tudo para que o segurem e, cinco minutos depois, já está calminho como o “Seu Saraiva” do velho programa humorístico.

Aliás, o botequim de sua live, além das tradicionais insinuações de cunho sexual, voltou a falar que a inflação, galopante, é consequência do “fique em casa” da pandemia, algo completamente sem sentido. A crise hídrica vai ser combatida subindo pela escada e gastando menos água ao fazer a barba. Sempre em uma compreensão minúscula dos macroproblemas nacionais, não consegue alcançar uma visão estratégica de Brasil.

Em tudo, a miséria mental de um medíocre, de um incapaz, de alguém que, como bem definiu ontem o ex-ministro Celso de Mello, que nunca esteve à altura do cargo.

Bolsonaro, está claro, não recuará em seu desejo de permanecer no poder por intervenções no processo eleitoral. Infelizmente, terá neste projeto novos lances, ousados como o do Sete de Setembro e talvez não tão mal sucedidos.

Como toda serpente, Bolsonaro recolhe-se para o golpe. E ele, não o voto, é sua aposta para permanecer.

Tijolaço.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

STF REAGE, MAS NÃO FALA GROSSO COMO CARRETAS QUE PARAM RODOVIAS PARA O ‘MITO’, POR FERNANDO BRITO

Nervoso, ao ponto de enrolar-se na leitura, Luiz Fux fez um pronunciamento que, diante da tibieza dos outros, pode ser considerado forte.

Sobretudo, por dois momentos.

O primeiro, quando ele diz que há crime de responsabilidade do presidente da República no que proclamou ontem, ao dizer que não reconhece decisões judiciais se elas partirem de Alexandre de Moraes e, antes, quando disse – claramente, ainda que sem nominar – que o chefe do Judiciário deveria “enquadrar” o ministro.

É, e o disse Fux, um crime de responsabilidade, previsto na Constituição (art.85) e na Lei de Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50, art. 2° e 6°, incisos 5 e 6) e cabe ser processado por isso pela Câmara dos Deputados e julgado pelo Senado Federal.

O segundo ponto foi – inacreditável ter de destacar isso – dizer que o Supremo não será fechado.

Certamente não é para os lunáticos de cartazes e faixas com ameaças à Corte que Fux falou, mas porque identifica intenções poderosas nesta direção.

Mais importante é que a inusual firmeza de Fux é sinal de que, dentro da Corte, o clima de repúdio e resistência, é muito maior. Já é voz corrente que a maioria já decidiu recusar a “pedalada dos precatórios, que empurraria 60% dos pagamentos para o próximo governo, dando espaço a Bolsonaro para executar programas demagógicos.

Para além dos discursos formais, embora com menos dureza que a situação inspiraria, é nas decisões legislativas e judiciais que a reação às ameaças presidenciais.

Do que resulta que, como demonstra a provável devolução da MP da liberação das fakenews enviada por Bolsonaro ao Congresso, em cada vez menos iniciativa a Bolsonaro.

A não ser as colunas ridículas de caminhões de empresas roncando.

Que vão, como se sabe, a lugar nenhum.

Como não vão a lugar nenhum as paralisações provocadas pelo lockout ordenado por donos de frotas e distribuidores de alimentos, que estão parando estradas por todo o país.

A escalada de preços, com tudo e agora com isso, só empurram para baixo o presidente.

Bolsonaro está aparentemente quieto, mas comanda pessoalmente o bloqueio das rodovias.

Tijolaço.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

CAMINHÕES DE BOLSONARO FORÇAM CERCO E ‘INVADEM’ PRAÇA DOS 3 PODERES, POR FERNANDO BRITO

As carretas de empresas frotistas do agronegócio acabam de invadir a área da Praça dos Três Poderes que havia sido isolada para garantir a proteção do Congresso Nacional .

Sem reação dos policiais que protegiam o local, as carretas, vans e caminhonetes dos grupos bolsonaristas, neste momento, é a dona do local.

Grades foram derrubadas e há apenas uma linha, mais recuada, de policiamento, na via que dá acesso ao Congresso.

Aos gritos de “libera, libera” os policiais recuaram e a versão oficial é que se “antecipou” a liberação de áreas.

O que houve, porém, foi uma invasão.

Não há segurança e não há comando nas forças policiais.

Assista:

 Tijolaço.

domingo, 5 de setembro de 2021

O BRASIL NÃO É O PAÍS DO FUTEBOL, É O PAÍS DOS ‘CARTOLAS’, POR FERNANDO BRITO

Não há quem se salve no “papelão”do cancelado Brasil e Argentina hoje, no estádio do Corinthians.

Desde a manhã, todos estamos sabendo que os argentinos tinham quatro jogadores fora de condições de jogo, por descumprirem legislação sanitária. O Brasil teve vários que não vieram por jogar na Inglaterra, mas também temos vários atletas que rodaram por toda a parte do mundo e se expuseram a todos os riscos de contaminação, mas na base do “me engana que eu gosto” estão todos “dentro do regulamento”

A questão – que provavelmente nem se virá a saber – é quem “esquentou as costas” para a CBF, responsável pela partida, não ter agido como deveria.

Os hermanos aplicaram o “agá” tradicional de dizer que não estiveram nas áreas de restrição, a Conmembol (que não é uma confederação de futebol, mas um escritório de interesses comerciais) negociou um acordo com a CBF (outro antro de picaretagem sensacional) e a Anvisa deixou para dar uma de valente em meio a uma transmissão planetária do jogo, quando podia ter agido logo cedo, retendo os atletas ainda no hotel.

Como se vê, a cartolagem toda falhou, e falhou feio.

Mas todo mundo sabe que cartolas e governantes são irmãos siameses e nenhum brasileiro duvida que, nas várias horas entre o anúncio da irregularidade e a entrada dos agentes da Anvisa na Arena Corinthians, muito telefonemas cruzaram o espaço, talquei?

Mas nenhum deles foi entre a diplomacia brasileira e argentina, que poderiam ter evitado este “mico” global.

A história de que os argentinos se trancaram no vestiário para não serem abordados pela PF e pelos agentes da Anvisa simplesmente não bate com o fato de que saíram do vestiário, cruzaram o túnel, entraram em campo e começaram o jogo.

Houve, está clarissimo, uma tentativa de deixar pra lá as regras sanitárias, que por estas bandas não valem nem para o presidente.

Tentativa que não deu certo e que, não importa quem errou, submeteu os dois países a um vexame.

Tijolaço.

sábado, 4 de setembro de 2021

A BATALHA DE BOLSONARO ESTÁ PERDIDA, AINDA QUE “VENÇA”, FERNANDO BRITO

Como bom “mau militar”, Jair Bolsonaro desconhece regras básicas de combate também na política, porque militares definem muito bem qual é o objetivo de cada missão, comprometem seus homens com esta conquista cuidam de rotas para refluir se as coisas não correrem como se imagina.

Ao armar um ataque com todas as suas forças no Sete de Setembro, caiu na armadilha do “vencer ou vencer” uma batalha impossível de ser ganha.

O que ele espera, que Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso saiam, de mãos erguidas, do prédio do Supremo e prometam fazer tudo o que seu Mito mandar? Que Rodrigo Pacheco surja à rampa do Congresso e anuncie que os vai “impixar”? Que os donos dos postos dee gasolina baixem o preço do litro para 3 reais e os supermercados anunciem feijão a este preço?

Ou que desça uma coluna de tanques – com ou sem fumaça – apontando seus canos contra os prédios do Legislativo e do Judiciário?

Nem os chifres daquele maluco que invadiu o Capitólio poderiam alcançar tais nuvens de delírio.

Mas é assim: 5 mil, 100 mil ou duzentas mil pessoas, na Esplanada ou na Paulista não mudarão a realidade, a menos que isso desborde em violência e, neste caso, para pior.

Mesmo dois bocós como Luiz Fux e Rodrigo Pacheco terão de reagir a vidraças quebradas se isso é resultado de um ato patrocinado, como é, pelo Presidente da República. Às Forças Armadas, basta a imobilidade para frustrar uma aventura, com um eloquente silêncio.

Exceto os mais obturados, a maioria dos oficiais generais sabe que dar ou sustentar golpes de Estado dependem de conjunturas, de apoio da opinião pública, da imprensa, de forças políticas civis organizadas, de apoio parlamentar, de sustentação no Judiciário e de simpatias estrangeiras, e que tudo isso falta, hoje, a Jair Bolsonaro.

O resto é coisa de maluco, feito aquele tenente-coronel Antonio Tejero, que invadiu o parlamento espanhol em 1981 com 200 guardas-civis e saiu dali para a cadeia no dia seguinte.

Jair Bolsonaro, ao convocar um ato com cara de “ultimato” ao Judiciário, teria de atingir seu objetivo de alcançar poderes absolutos e isso não ocorrerá.

Daí o dilema em que está: longe demais para recuar, está sem saída.

A não ser que apele, como está na moda, para um atestado médico. E de médico não psiquiatra.

Tijolaço.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

MOARES ‘PAGA PRA VER’ E MANDA PRENDER PROVOCADORES BOLSONARISTAS, POR FERNANDO BRITO

Às vésperas dos atos autoritários de 7 de Setembro e no mesmo dia em que Jair Bolsonaro anuncia um “ultimato” a ele e a Luiz Roberto Barroso, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal mostra que as ameaças presidenciais não estão surtindo o efeito de intimidar o STF. Mandou prender um certo Wellington Macedo, agitador de redes sociais, e Marcos Antônio Pereira Gomes, mais conhecido como “o caminhoneiro Zé Trovão”, este ainda foragido.

Verdade que a prisão ocorre a pedido da Procuradoria Geral da República, assinada pela braço direito de Augusto Aras, mas isso não elide o fato de que Moraes não titubeou em decretá-la.

Mas a atitude de Moraes mostrou que não apenas ele, mas o Supremo, estão “pagando para ver” o blefe do bolsonarismo.

Acha que vai fazer barulho e nada mais.

Até porque a estratégia de Bolsonaro é um erro crasso.

Não há preocupação nas ruas, apenas nos currais do eleitorado bolsonarista-raiz, sobre uma suposta “liberdade de expressão” de incitadores do golpe e da ilegalidade.

Caixinhas, rachadinhas e indiscrições sobre a vida íntima dos Bolsonaro escalam os trend topics das redes sociais e se tornam muito mais relevantes como informação.

E as ameaças bolsonaristas passam a ser mais de um golpe pela impunidade da família do que “pelas liberdades” de propor golpes que dizem estar ameaçadas.

Tijolaço.

VIDA DOS BOLSONARO VIROU ‘BARRACO’ NA MÍDIA, POR FERNANDO BRITO

Não é a praia deste blog, mas se tornou público e, portanto, vira relevante para a política.

E tudo vai tomando velocidade, porque os grandes jornais estão repercutindo as denúncias do ex-funcionário dos gabinetes dos filhos de Jair Bolsonaro de que 80% dos seus vencimentos eram apropriados pela família e, agora, com questões escabrosas envolvendo disputa por bens, com lances rocambolescos de furtos de cofres e outras, ainda mais baixas.

Tudo com o glacê do bolo: o envolvimento pessoal da primeira-família com lobistas que praticaram ou tentaram praticar no Ministério da Saúde.

Mais importante que as notas, na maioria discretas, que a grande imprensa publica, é o quanto isso virou “treta” no território predileto do presidente, as redes sociais.

Nelas, enquanto o “ultimato” presidencial aos ministros Alexandre de Moares e Luiz Roberto Barroso tem pouco efeito, rachadinhas, desvios conjugais e até a “vingança” de João Doria contra as baixarias de Jair chamando-o de “calcinha apertada”, executada pela boca de seu agora Secretário Rodrigo Maia, duvidando da heterossexualidade de Bolsonaro.

Absolutamente irrelevante, mas vejam o nível da “nova política” e da família que se tornou dona do poder no Brasil para “moralizar” o país.

O “barraco” bolsonarista, pelo qual não se pode culpar a mídia, porque não são histórias anônimas, mas declarações de quem privou, durante anos, com a intimidade da família, atinge em cheio sua a imagem.

O mundo cão que eles viviam apontando estava também no espelho, como ocorre, quase sempre, com os moralistas.

Quando se transforma moral do comportamento privado em argumento político, ela vira uma bumerangue.

Tijolaço.