Janio
de Freitas, a quem a experiência, apoiada na integridade leva o olhar além da
visão miúda mata a charada do que se passou na Batalha de Itararé do
golpe bolsonarista de Sete de Setembro.
O
que faltou ao golpista foi ter que parar depois de semanas numa campanha de
ataques brutais, depois de concentrar sua tropa de vanguarda, alucinada como
ele, faltou-lhe suporte para consumar a ofensiva. E isso o deixou pendurado no
vazio, sem caminho senão o de chamar para a briga ao tempo em que, de forma
humilhante, se retirava.
A
“Carta de Recuo”, atesta Janio, é uma “saída traiçoeira do desastre”, “não é de
moderação, vista na sempre precipitada interpretação midiática. É de
humilhação.” Bolsonaro, diz ele, “se desfaz como pessoa, pelas mentiras
desavergonhadas, pela covardia, rasteja em fuga como um inseto repugnante.
Vale a pena a leitura, vai ajudar a entender, pelos antecedentes, os dias que estão por vir.
Uma
verdade nos põe ao lado de Bolsonaro: estamos todos na beira do abismo
Janio
de Freitas, na Folha
Uma
intervenção insuspeitada levou Bolsonaro a modificar, quase de última hora, o
pronunciamento destinado a incitar a multidão da av. Paulista, no 7 de
Setembro, com insinuações para insurgência.
A
exibição na manhã de Brasília, com cerimonial de posse em novo poder
presidencial, e, já à tarde, a visão da massa que se aglomerava na avenida
agravaram preocupações militares com o ato paulistano.
Se
a exaltação degenerasse, a PM não bastaria para conter a multidão desatinada e
as Forças Armadas seriam chamadas a agir, com decorrências muito graves para
todos os lados.
Um
exemplo de situação dramática, se a manifestação degenerasse, poderia ser a insurgência
violenta com a condição, para desmobilizar-se, da renúncia de Alexandre de
Moraes no Supremo. Como desejado por Bolsonaro.
Na
fala em São Paulo, evaporaram as ameaças do “creio que chegou a hora, no dia 7,
de nós nos tornarmos independentes pra valer”, “nunca outra oportunidade para o
povo brasileiro foi tão importante quanto esse nosso 7 de setembro”, “agora o
povo vai ter liberdade pra valer”.
O
povo foi devolvido à exclusão histórica. E Bolsonaro mal conseguiu repetir
frases esparsas, com acréscimo só de citações pessoais. Ao que se seguiu o
encerramento abrupto, com a fisionomia aflita por não encontrar outras frases.
Houve até certa demora para a percepção geral do encerramento.
O
recuo primordial de Bolsonaro não foram as negações do que disse, tantas vezes,
contra o Supremo, contra o Tribunal Superior Eleitoral, contra os ministros
Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, com a sobra de um ultimato para
Luiz Fux. O recuo surgiu na fala em São Paulo.
O
que está considerado como o (segundo) recuo é, na verdade, uma saída traiçoeira
do desastre, sob a forma de carta ao país. Michel Temer e o marqueteiro Elsinho
Mouco, seus autores, ou foram perversos ou se comprovaram no limite intelectual
de Bolsonaro.
Antes
que se questionasse a validade da moderação escrita, já no início a carta
ofereceu a resposta: “nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos
Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha (…)”. A mentira é enriquecida
pelo mau texto que confessa a repulsa à harmonia entre os Poderes.
No
mais, a carta não é de moderação, vista na sempre precipitada interpretação
midiática. É de humilhação.
Bolsonaro
se desfaz como pessoa, pelas mentiras desavergonhadas, pela covardia, rasteja
em fuga como um inseto repugnante. Michel Temer levou Bolsonaro para a beira do
abismo, chamado agora de traidor e frustrante por apoiadores de todos os
momentos até então.
E,
com a ideia do telefonema ao ministro Alexandre de Moraes, Temer não atenuou a
indignação no Supremo com os ataques de Bolsonaro. Tornou ainda mais insultuosa
a agressão ao tribunal e seus integrantes. O telefonema foi de pedido de
desculpas a um ministro, mas os ataques, como disse a ministra Cármen Lúcia,
foram a todos. Até por isso, além do protocolo, o telefonema providenciado por
Temer deveria ser a Luiz Fux, presidente do tribunal.
Mas,
traidor por traidor, Bolsonaro-Temer fazem boa dupla. Tal como Rodrigo
Pacheco-Arthur Lira, que usam as cadeiras de presidentes do Senado e da Câmara.
Não viram nem ouviram nenhuma transgressão de Bolsonaro, limitando-se a notas
perfumadas, com corações pressentíveis nas entrelinhas. Faltam mulheres no
Congresso. E faltam homens também.
Mas
nenhuma pusilanimidade excederá a de Augusto Aras. Viu, e o disse ao lado de
Luiz Fux no plenário do Supremo, uma “festa cívica” nos pedidos de fechamento
dos tribunais superiores e do Congresso, de intervenção militar, de prisão de
magistrados e impulsionadores da CPI da Covid, de volta ao sistema eleitoral
fraudulento. Augusto Aras, procurador dos piores meios de alcançar objetivos
pessoais. Como um lugar no Supremo a que também agride com sua festa cínica.
É
preciso registrar que Luiz Fux fez um pronunciamento enfim firme, em defesa da
Constituição e do Judiciário. Mas Luis Roberto Barroso, que brinda as ideias
com um estilo valioso, deu ainda mais do que o devido.
Na
loucura trágica do país, uma verdade nos põe ao lado de Bolsonaro. Falta de
governo, golpismo, aumento da pobreza, corrupção, pandemia, violência: estamos
todos na beira do abismo.
Tijolaço.
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