segunda-feira, 16 de maio de 2022

JAIR BOLSONARO VOMITA FÚRIA. POR FERNANDO BRITO

Quem acompanha futebol sabe que o maior sinal de que um time está apavorado com a derrota é distribuir botinadas.

E é o que faz, cada vez com mais desequilíbrio o sr. Jair Bolsonaro, como acaba de mostrar num evento da Associação Brasileira de Supermercados – aliás, um antro de reacionários faz décadas.

“Bolsonaro discursa aos gritos, usa palavrões e diz a empresários que eleição pode ser conturbada“, diz a chamada da Folha.

Pode ser conturbada? Será que ele acha que não está sendo, com um presidente que chama o Ministro da Defesa e as Forças Armadas a se arrogarem “fiscais” do processo eleitoral e até sugerir que militares façam a apuração dos votos?

Lamentou-se de que ‘“em mais da metade do meu tempo, eu me viro contra processos.” No que resta, claro, dedica-se a andar de a jet sky , de moto, a cavalo, visitar cultos e formaturas militares.

Diz que “Deus que está no céu” não vai permitir que seja preso, o que sugere ser a intenção de Lula:

“Eu vi o ‘nine’ [referência aos 9 dedos de Lula] falando que eu vou perder a eleição e vou perder minha família. Está achando que vai me intimidar, pô? Dando recado…”

O fantasma de ser preso não devia afligir um homem à prova de qualquer suspeita como ele, não é?

Despejando palavrões como perdigotos, Bolsonaro disse aos empresários que, mesmo não sendo “o fodão”, já mostrou que tem pulso firme para dirigir o país, sem esclarecer para onde.

Não devem ter sido poucos os presentes a sentirem no ar o cheiro do medo, em geral a raiz profunda da fúria.

Tijolaço.

domingo, 15 de maio de 2022

A PETROBRAS COM A POLÍTICA DO “EU DEMITO” COBRA SEMPRE MAIS DEMISSÕES. POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro disse hoje que uma possível demissão do presidente da Petrobras – algo que aparece, desde sexta-feira, em notas de muitos jornais e que foi assunto aqui já no início da semana passada – é assunto que deve ser “perguntado lá pro Sachsida”, o novo ministro das Minas e Energia.

Como José Mauro Coelho está no cargo há um mês, é claro que – mesmo querendo – fica mais difícil atropelá-lo, mas acontece também que sua cabeça passa a ser objeto das pressões altistas que, na insana política de “paridade internacional de preços” a que, desde Michel Temer, a empresa está amarrada.

O dólar, mesmo com a queda da sexta-feira, está mais alto que no dia 11 de março, quando foi feito o último reajuste da gasolina. E o combustível, no mercado internacional, como você vê acima no gráfico da bolsa Nasdaq, de Nova York subiu e não foi pouco.

A pressão do mercado de importadores de combustíveis – que controlam perto de 20% do mercado – por um novo aumento está se tornando irresistível e a orientação mercadista da empresa já está para lá do limite que os faz parar a importação e levar o sistema a desabastecimento, como estava acontecendo com o diesel antes do aumento da semana passada.

Administração na base do “cortem-lhe a cabeça” tem este problema: como não se ataca a origem do problema e prefere-se demitir o gestor, as demissões tendem a se suceder.

E a Petrobras é uma boca riquíssima, da qual muita gente se aproveita para ganhar fortunas e, desta forma atual, “legitimamente”, através de lucros extraordinários e da intermediação de produtos.

A batata do novo e já quase ex-presidente da Petrobras está sendo, de novo, assada em praça pública.

Tijolaço.

sábado, 14 de maio de 2022

NEM NA BOLÍVIA, GENERAIS… TANTO EM GOLPE. POR FERNANDO BRITO

Quando eu era jovem, havia uma piada em que, numa recepção diplomática, um brasileiro ria do fato de que a Bolívia tivesse um Ministério da Marinha sem ter mar (e tem mesmo, vi as suas embarcações no Lago Titicaca) e outro diplomata respondia: “ora, mas você no Brasil não têm um Ministério da Justiça?”.

Eram os anos 70 e Bolívia era quase sinônimo de golpe militar, porque tiveram três, de 1964 a 1982.

Será que temos algum oficial general tão obtuso que, na segunda década do século 21, ache possível que caiba um país do tamanho do Brasil tenha um governo instituído pelos militares?

General gosta de olhar mapa e é só procurar num deles a diferença entre nó, Togo ou Mianmar, antiga Birmânia.

E ainda mais com um ex-capitão maroto a fazer o papel do sargento cubano Fulgêncio Batista, autonomeado coronel depois do golpe que o levou ao poder?

Teremos o “Marechal Jair”? E quem sabe o “general” Daniel Silveira a comandar a Divisão dos “Bombados e Armados”, as milícias civis que pouparão as tropas regulares do “mico” de exibirem armas e blindados para conter a escumalha civil , as tais forças desarmadas que deveriam cuidar das eleições?

Mandaria a prudência recuarem, enquanto há volta, antes que cheguem ao ponto no qual, talvez, já nem consigam conter seus comandados que, como o brucutu Silveira, viram que não haverá punição a nada, nem mesmo a transgressões sérias de oficiais que resolvam tornar concretas as ameaças ainda abstratas de seus, cada vez mais “em tese”, comandantes.

Não é nada lisonjeira a hipótese levantada pelo jornalista e escrito Cesar Calejon, no UOL, na qual ninguém, nem ele, quer crer:

(…)vale a reflexão a cerca de onde estariam os almirantes de Esquadra da Marinha do Brasil, os outros generais do próprio Exército e os tenentes-brigadeiros da Aeronáutica. Seriam todos os líderes das Forças Armadas submissos ou coniventes às intenções golpistas do bolsonarismo? Caso a resposta para esta questão seja afirmativa, as Forças Armadas do Brasil perderam a sua função constitucional conforme preconizada pela Carta Magna e se tornaram um grupo armado que defende interesses de um clã político por meio da força, da violência e da intimidação, método que caracteriza a atuação das milícias.

Diz-se que Lula despachou o ex-ministro Nelson Jobim para reconstruir suas pontes com os militares.

Talvez devesse dizer-lhes que estão conseguindo colocar as Forças Armadas numa situação de perigo que jamais viveram, nem mesmo nos estertores da ditadura, nos anos 80. Não precisa de análises tão aprofundadas, basta ainda lembrar da boa e velha 3ª Lei de Newton, aquela de que ‘a toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto’.

Tijolaço.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

DORIA TRANSFERE VOTOS A TEBET? IMPROVÁVEL. POR FERNANDO BRITO

O que sobrou do PSDB está armando um brete para conduzir João Doria ser vice de Simone Tebet ou desistir de sua candidatura presidencial, o que não é o mesmo, mas é igual.

Em ambos os casos, Doria sai minúsculo do que contava ser sua escalada vitoriosa a ser um líder nacional.

Doria, segundo a pesquisa Quaest divulgada ontem, tem 4% das intenções de voto para presidente em São Paulo, o que é pouquíssimo para quem exercia o governo do Estado, mas representa preciosos votos: 1,5 milhão, aproximadamente.

É o voto da máquina do governo paulista, ainda que sem que Rodrigo Garcia se interesse em fazê-la funcionar em favor do seu agora abandonado padrinho.

Dificilmente este voto vai se transferir para a senadora do MS, que não consegue deixar uma falta de expressão eleitoral maior até do que a de Doria.

O resultado é que a improvável união das duas candidaturas, se ocorrer, talvez venha a ser aquilo que os gaúchos chamam de “crescer como cola (cauda) de cavalo”: para baixo.

Os “medalhões” tucanos, pela porta aberta por Geraldo Alckmin, sinalizam cada vez mais um migração para Lula. O eleitor que resta ao PSDB, certamente, vai migrar, quase todo, para um dos polos da campanha: Lula ou Bolsonaro.

O mesmo tende a acontecer com o eleitor de Ciro, caso este se mantenha, como até agora, estacionado em apenas um dígito nas pesquisas e, neste caso, com uma tendência de migração pró-Lula.

Tudo o que reduz o número de candidatos no primeiro turno, agora, é benéfico a Lula, porque ele está, segundo quase todas as pesquisas, a um ou dois pontos de consolidar uma vitória na rodada inicial.

O tiro da 3ª Via, com muito barulho e pouco chumbo, corre o risco de ainda sair pela culatra.

Tijolaço.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

BOLSONARO E A ‘MÃO AMARELA’ DO GOLPISMO. FERNANDO BRITO

Nos tempos de criança, havia a brincadeira de estar “com a mão amarela”, o que “entregava” logo o autor da fedorenta proeza, quando ele imediatamente estendia a mão dizendo “não fui eu”.

Na sua live de hoje, Jair Bolsonaro saiu-se do mesmo jeito, ao reagir à declaração de Edson Fachin de que são as “forças desarmadas” e não os militares que devem dirigir as eleições e dizer que não sabe de onde o presidente do TSE “está tirando esse fantasma que as Forças Armadas querem interferir na Justiça Eleitoral”.

Correndo, como faria o guri bobo.

A mão amarela de Jair Bolsonaro está, há meses, metida no processo eleitoral: tanques na Esplanada, declarações sobre uma “apuração militar paralela”, uso ostensivo do Ministro da Defesa para “mandar recados” ao Tribunal Superior Eleitoral e outras emanações íleas que enchem de miasmas o ar político.

Mas se engana quem achar que Bolsonaro recuou e resolveu aceitar que a voz das urnas seja ouvida a dar-lhe um passa-fora.

O passo atrás é apenas o ensaio de uma nova investida, o que só cessará quando os comandos militares fizerem o que fez o general Edson Leal Pujol na primeira vez que a vivandeira foi berrar num ato golpista, na porta do QG do Exército, em Brasília: portão fechado, política é aí fora.

Mas talvez haja alguma verdade no que diz Bolsonaro quando diz que as Forças Armadas não querem interferir na Justiça Eleitoral.

Quem quer usá-las para isso é ele e usa o seu provável vice, Walter Braga Netto, como correia de transmissão sobre os generais.

 Tijolaço.

LULA FALA EM ‘FIM DO TETO’. QUE TETO? POR FERNANDO BRITO

Surpreende que alguns jornais deem destaque à declaração de Lula de que “não haverá teto de gastos” se obtiver um eventual novo mandato presidencial.

Primeiro, porque há um ano ele vem dizendo que um novo governo terá de fazer investimentos tanto para recuperar um nível mínimo de serviços públicos essenciais quanto para fazer o país reengrenar a economia.

Segundo, porque em oito anos de mandato, Lula sempre entregou superávit fiscal, isto é, arrecadação maior que a despesa.

E, por último, e mais importante, porque o Brasil, faz tempo, não tem teto de gastos (e nem superávit fiscal).

Bolsonaro tirou dele, no campo das despesas, os precatórios, o Auxílio Brasil e uma série de bondades. No da receita, estamos vendo diariamente impostos sendo cortados: nos combustíveis, nos produtos industriais e, agora, na importação de produtos cuja produção sobra aqui, como cortes de carne bovina e de frango, para, sem nenhuma chance de sucesso, criar uma concorrência que rebaixe preços.

O governo Lula foi frequentemente desmerecido por gente que dizia que o sucesso econômico vinha apenas do “boom” das commodities agrícolas. Estamos em um momento muito mais favorável a elas e só vemos estagnação.

Por uma simples razão: não há um foco no desenvolvimento econômico e social do país e, quando não existe esta meta tanto o que se ganha e o que se gasta se esvaem.

Tijolaço.

terça-feira, 10 de maio de 2022

GENERAIS DE BOLSONARO EMBOLSAM ATÉ R$ 350 MIL ALÉM DO TETO. POR FERNANDO BRITO

A Folha acertou hoje um míssil devastador para a imagem dos militares brasileiros que, em sua imensa maioria, não estão na “boca rica” do cercadinho militar do Palácio do Planalto.

Revelou a soma recebida a mais, no último ano, pela dúzia de generais que estão ocupando ministérios e funções de confiança, nomeados por Jair Bolsolaro e beneficiados por uma portaria, assinada em 30 de março de 2021, que lhes permitiu ganhar até o dobro do teto constitucional de remuneração igual da de um ministro do STF (R$ 39.3 mil).

A lista: Luiz Carlos Ramos, o general secretário de Governo, levou R$ 350 mil além do teto; o soturno general Augusto Heleno, um “extra-teto” de R$ 342 mil, O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em terceiro, embolsou R$ 318 mil a mais em um ano, mesmo tendo dito que a benesse era “imoral”. Em quarto, vem o ínclito general Walter Braga Neto, com “apenas” R$ 312 mil de bônus, porque teve de deixar o ministério para ficar com uma “boquinha” menor de assessor especial, para poder ser o candidato a vice do “Mito”.

Os quatro passaram a uma remuneração anual de perto de R$ 900 mil, sem contar os “atrasados”, porque a portaria “dobra o teto” vale a partir de janeiro passado.

O grupo de privilegiados, claro, é restrito e nele até que Jair Bolsonaro é dos mais modestos, porque recebeu apenas R$ 26 mil de “extras”.

Mas o dano à imagem dos oficiais-generais é imenso.

Se algum deles duvidar, que vá ler a enxurrada de comentários que, poucas horas depois de publicada, a notícia provocou.

E, como diz um dos que comenta, não ser diga que se quer desmoralizar os militares.

Alguns de seus próprios generais se encarregam disso.

Tijolaço.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

TSE FAZ GENERAL “PAGAR MICO” COM SEU ULTIMATO. POR FERNANDO BRITO

Com todo o protocolo, mas sem nenhum esparramo de gentilezas, o ofício do Tribunal Superior Eleitoral foi uma resposta correta – não digo à altura, pois seria rebaixar-se – à nova intromissão indevida feita hoje pelo Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira, “avocando” para si as comunicações entre o TSE e o representante das Forças Armadas na malsinada Comissão de Transparência Eleitoral, da qual se serviu Jair Bolsonaro para colocar uma cunha na Justiça Eleitoral.

Publicar os questionamentos dos militares e suas respostas através de uma circular pública, para todas as entidades que participam da Comissão, foi uma forma – nada sutil, aliás – de dizer ao Ministro da Defesa que ele extrapolou, inaceitavelmente, as suas atribuições e as atribuições da consultoria que as Forças Armadas foram chamadas a dar na discussão do processo de apuração e totalização das urnas.

A íntegra da circular está aqui e se pode claramente ver que alguns dos questionamentos são pueris, simplesmente desconhecendo o que existe, e o “mico” supremo é a da questão sobre a tal “sala secreta” que Bolsonaro vive dizendo haver, onde um grupo de funcionários soma os votos como quiser.

“Não existem salas secretas, tampouco a menor possibilidade de alteração de votos no percurso, dado que qualquer desvio numérico seria facilmente identificado, visto que não é possível alterar o resultado de uma somatória sem alterar as parcelas da soma”

Isto é, como a totalização é feita por estados e enviada ao TSE, para alterar o resultado final seria necessário alterar as parcelas enviadas pelos tribunais eleitorais, o que, evidentemente, seria uma fraude grosseira, detectável até com um lápis que marcasse quais são os valores das parcelas.

Portanto, a “sala paralela” controlada por militares é uma absoluta tolice, porque se trata de um somatório de parcelas conhecidas e públicas, vindas dos Estados, que até com uma máquina de somar daquelas antigas, de alavanca, é possível conferir.

Existem riscos em urnas eletrônicas? Sim, poderia, em tese, haver contaminações nos programas das urnas, mas jamais nos sistemas de totalização, porque estes seriam facilmente rastreáveis pelos totais das zonas eleitorais e até por cada uma das urnas.

Mas a contaminação que ameaça o processo eleitoral brasileiro é a já abertamente usurpadora que o Ministério da Defesa, agindo em nome do Presidente da República, tem feito das atribuições que não lhe competem – não existem, simplesmente, nas leis que a definem – de interferir sobre o poder judiciário eleitoral.

E, no parágrafo final, Edson Fachin o diz, sem muitos rodeios, para que até um general entenda:

Sem prejuízo da transparência, segurança e do diálogo com as instituições nacionais, impende ressaltar que o Tribunal Superior Eleitoral – no exercício das funções que lhes são atribuídas pela Constituição -, é, de fato e de direito, o administrador e garantidor de todo o processo eleitoral brasileiro, cabendo-lhe a gestão e decisão dos avanços e aprimoramentos a serem nele implementados, os quais sempre terão como objetivo assegurar a integridade, a segurança, transparência e normalidade das eleições.

General, o senhor está sobrando nesta história.

Tijolaço.

domingo, 8 de maio de 2022

MERVAL, CONTRA LULA, SUGERE ATÉ ‘MÉNAGE A TROIS’ NO 2° TURNO. POR FERNANDO BRITO

O ódio de Merval Pereira a Lula é algo tão patético que, em sua coluna de hoje, em O Globo, ele lança uma proposta – apesar de reconhecê-la inviável, a esta altura – para que se crie um ménage a trois com um “segundo turno com três candidatos”, escolhendo para isso os que tivessem um percentual “X” de votos ou mais.

Vejam o delírio que tomou conta da cabeça do homem atormentado até com as coxas de Lula (ele falou “bilau”, mas vamos tomar isso como licença poética do literato da ABL):

“A possibilidade de ter três disputando o segundo turno, de qualquer maneira, seria uma maneira (maneira maneira? Que maneiro, meu literato!) de quebrar a polarização, dar chance a que uma terceira via se apresentasse ao eleitor em situação de competitividade em uma nova eleição.”

Neste caso, na criativa argumentação merválica, “deixaríamos de escolher o “menos ruim”, como fazemos há tempos, para escolher ‘o melhor’ dos três”.

Curiosa definição para o “melhor”, mas é melhor a do dicionário, logo na primeira acepção que lhe dá o Houaiss:”[aquele] que, por sua qualidade, caráter, valor, importância, é superior ao que lhe é comparado.”

Não é preciso muito argumentar sobre o desvario de Merval.

Isso tudo é uma arenga para evitar ir diretamente ao ponto: apelar para que o voto antibolsonaro migre no primeiro turno para Lula.

“Antecipar o voto útil para o primeiro turno, como querem muitos petistas, para erradicar de vez a ameaça bolsonarista, é dar ao ex-presidente Lula um cheque em branco que ele não necessariamente merece para boa parte dos que, a esta altura, dizem que votarão nele.”

Não sei de onde se tira esta conclusão, pois não vejo como vencer com 51% no primeiro turno autoriza mais o eleito do que vencer com 60 ou 65% no segundo.

Mas nem ele resiste e diz que se não houvesse a ameaça de que o “mais ruim” vencesse, poder-se-ia considerar (ai, Camões!) o voto nulo “uma opção válida”. Havendo, como a há, até o príncipe global aceita que não há outro jeito, num segundo turno “a dois”, é o correto a fazer:

No segundo turno, se o candidato “menos ruim” tiver risco de perder para o que você considera “o pior”, vote no menos ruim.

E eu vou viver para ver Merval “lular”…Tijolaço!

sábado, 7 de maio de 2022

QUE A CAMPANHA DEIXE LULA SER LULA. DIZ FERNANDO BRITO

Esta bobagem hipócrita de que a campanha eleitoral só começa dois meses antes do dia da votação – e que não existe em parte alguma do mundo, inclusive no paradigma liberal de democracia, os EUA – não é capaz de anular a verdade real de que, sim, já estamos em campanha e é isso o que orienta hoje a vida política, econômica e administrativa do país.

Sugere-se, a quem duvidar, que examine os atos do presidente da República, do alto de seu poder cada vez mais imperial, inclusive usando as Forças Armadas como guarda pretoriana para submeter a Justiça Eleitoral ao resultado que deseja.

Portanto, a campanha já começou e é assim que se deve observar a tal “pré-candidatura” de Lula, a ser lançada daqui a pouquinho, em São Paulo: agora é hora, acima de tudo, de ganhar votos, que produzam e legitimem a mudança de rumos do país.

Há limites de validade no raciocínio liberal de que isso se faz movendo a campanha mais para “a esquerda”, ao “centro” ou “à direita”. Até certo ponto, sim, é verdade, pois se trata de fixar balizas diante da população quanto a radicalismos, segurança jurídico-constitucional, relacionamento com partidos e instituições.

Como vimos, porém, na eleição passada, definições ideológicas pesam pouco na escolha eleitoral porque, neste caso, Jair Bolsonaro não teria 55% dos votos dos brasileiros.

O que de fato importa na campanha, quando se trata de estabelecer objetivos e métodos para ganhar votos é saber como manter as simpatias que se possui e conquistar as que ainda não se tem.

Tudo se resume, afinal, em como obter o sentimento de identidade (e o de admiração) entre eleitor e candidato. Quase sempre é isso que define eleições: estar próximo o suficiente para criar empatia e alto o bastante para ser visto como líder capaz de levar ao governo estes sentimentos e metas que partilham.

E a razão é bem simples: quem faz a campanha eleitoral não é o candidato, é o eleitor.

A propaganda, em si, é algo fácil, com técnicas e criatividade que, hoje, a marquetagem oferece de forma ampla, geral e quase irrestrita. E não resolve, se a linha sobre a qual se assentar não tiver sintonia com o sentimento da sociedade e dos grupos que a formam, até porque o povão, em parte, descolou-se dos meios convencionais de comunicação – TV aberta, jornais, revistas, rádio, tudo ainda importa muito, mas não é o único que importa.

O foco da campanha (real, embora não oficial) não deve ser estar nos focos de resistência a Lula, porque ali houve uma fanatização que argumentação racional não dissolve. É tempo e energia gastos à toa e, pior, uma exposição a discussões negativas e, daí, potencialmente violentas, clima em que o bolsonarismo aposta.

É na pobreza, na periferia, no Nordeste, na juventude, entre as mulheres (que muito mais que nós, homens, sabem da dificuldade de alimentar, vestir e fazer estudar os filhos), é ali que está o Lula e são eles os vetores que o transportarão à vitória e, de novo, à Presidência do Brasil. Quem ganha votos é o povo, que é o lugar onde somos muitos sem deixarmos de ser nós mesmos.

Os arrogantes querem moldar um Lula “certinho”, porque acham que é preciso passar no “vestibular da submissão” para ser bem aceito nos salões, como se um líder mundialmente reconhecido precisasse de sua indulgência.

Deixem Lula ser Lula, porque foi isso que deu certo e faz da memória popular a fonte da decisão.

Tijolaço.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

PETROBRAS TEVE LUCRO RECORDE COM 20 DIAS DE AUMENTO? FERNANDO BRITO

Deu-se como razão para o aumento brutal dos combustíveis o fato de que a Petrobras estaria operando em prejuízo, com os preços altos do petróleo no mercado internacional e a desvalorização cambial.

Só que o reajuste aconteceu no dia 11 de março e, portanto, dos 90 dias do primeiro trimestre de 2022, em nada menos que 70 dias a empresas estaria trabalhando com prços alegadamente baixos, cuja a correção era forçosa e urgente.

Mas a Petrobras divulgou hoje que, nos 90 dias do primeiro trimestre – 70 ‘ruins’ e 20 ‘bons’ – lucrou nada menos que R$ 44,5 bilhões, o 3° maior para ganhos trimestrais de toda a história.

Simplesmente, não bate: os preços eram mais que compensatórios, porque seria impossível ter todos este lucro no trimestre em 20 dias, tendo amargado 70 outros de prejuízo.

Ou melhor, o que não bate é a justificativa da tal paridade de preços internacionais.

É só olhar o gráfico aí de cima para que se veja que os preços já vinham altos ao longo de todo 2021, início de 2022 e seguem altos agora, não houve uma reversão súbita.

80% dos derivados consumidos no país são produzidos aqui, com custo, portanto, em reais e que não foram afetados pelo salto dos valores do barril no mercado mundial.

A administração da Petrobras, uma empresa estatal e com responsabilidade com o país é que se julgou – e julga – no direito de beneficiar-se integralmente – e até mais um pouco – dos momentos de crise, para produzir lucros estratosféricos que serão, como agora mesmo, distribuídos livres de impostos a seus acionistas, dois terços deles, quase, privados.

Bolsonaro gritou que isso era “um estupro” – ele só pensa naquilo – porque quer retardar o novo reajuste que a empresa já planeja e sair dele, outra vez, com cara de mártir.

Tijolaço.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

QUEM NASCEU PARA ‘VEJA’ NUNCA VAI SER ‘TIME’. POR FERNANDO BRITO

Não foi só o bolsonarismo que se roeu de ódio pelo fato de que a Time deu uma capa e uma cobertura simpática ao ex-presidente Lula.

A grande imprensa brasileira, também bufou.

Tanto que foi buscar em uma ou duas declarações isoladas motivos para criticá-la e menosprezar a importância que ela revela da possibilidade de sua volta ao governo e o que ela significa para o nosso país no mundo.

A primeira – e mais usada – foi a de que o presidente ucraniano Volodimyr Zelensky tem tanta responsabilidade por chegar a uma situação de guerra com a Rússia quanto a que tem Vladimir Putin.

Se Lula dissesse que Zelensky declarou guerra, estaria errado, certamente. Se dissesse que Zelenky queria a guerra, provavelmente estaria errado. Mas está absolutamente certo quando diz que o presidente ucraniano flertou com a possibilidade de guerra ao perceber que Estados Unidos e Otan pretendiam colocar o seu país como uma ferramenta contra o regime russo e viu nisso uma oportunidade política, para ele e para a Ucrânia.

Era a chance de, oferecendo o país para abrigar tropas e mísseis apontados para Moscou, a menos de 600 km de distância, virar a noiva cobiçada do Ocidente, tendo como “dote” exatamente suas possibilidades bélicas.

Nove entre dez analistas políticos da imprensa internacional viram e registraram isso: Zelensky tornou-se, ao menos na Europa, um celebridade instantânea.

Resume-se a isso o comentário de Lula, o resto é a sua postura em relação à diplomacia e a conflitos: negociar, negociar e, quando parecer impossível continuar negociando, negociar com ainda mais empenho.

A segunda questão é ainda pior. É o fato de Lula dizer que, em relação a suas diretrizes econômicas, basta olhar seus oito anos de governo. Quanto a dar detalhes das suas ações, sim, não deve mesmo fazer, porque seria absurdo se um candidatos com chances reais de vitória começasse a dizer que vai taxar tal atividade, isentar outra. O que queriam, mesmo, é que Lula indicasse um “guru econômico” que começasse a fazer farol e a autopromover-se.

As duas questões foram usadas, o dia inteiro, para desqualificar o que realmente havia de importante: Lula tem a importância de um estadista – e por isso a capa e a entrevista destacada na maior revista do mundo – e tem o preparo para sê-lo, porque si do lugar comum do “correto, mas inócuo” paraapontar atitudes que podem fazer diferença.

Enganam-se os que acham que seria melhor para Lula fazer um midia training destes que se compra por R$ 10 mil em qualquer assessoria e dar respostas qie caberiam no programa da finada Hebe Camargo, com uma ou outra frase programada para arrancar suspiros.

Poderia ter feito drama da sua detenção – agora reconhecida aqui e lá fora como ilegal – para promover seu martírio, mas pensa para a frente, e não para trás, porque é assim que deve agir um líder.

No fundo, a nossa imprensa queima de vergonha por não ter feito, até agora, uma entrevista que repusesse em seu lugar quem ela própria pintou como um monstro e escarneceu de sua perseguição.

Quem nasceu para Veja nunca vai ser Time.

PS. A propósito da postura da mídia brasileira, leia o demolidor artigo de Kennedy Alencar, no UOL. Irretocável.

Tijolaço.

terça-feira, 3 de maio de 2022

VETO A OBSERVADORES DA UE É TIRO NO PÉ DO GOVERNO. POR FERNANDO BRITO

Sob o aspecto da segurança dos resultados, não nos fará muita diferença a presença ou não de observadores eleitorais da União Europeia, “desconvidados” pelo Tribunal Superior Eleitoral por pressão do governo Jair Bolsonaro, até porque as ameaças às nossas eleições não estão nos sistemas de captação e totalização dos votos que, tecnicamente, aqueles enviados verificariam.

A garantia do nosso processo eleitoral depende muito menos de missões de especialistas que de uma postura diplomática de nível mundial sobre a não aceitação de influência de força armada – milícias, polícias e militares – na escolha soberana do povo brasileiro.

Já há, semeada pelo próprio presidente, evidência flagrante de ameaças que justifiquem o acompanhamento do processo eleitoral bem antes que este chegue a apuração.

A diplomacia global sabe pode emitir sinais claramente compreensíveis de advertência sobre como o mundo reagirá a uma violação dos princípios democráticos e o que resta de inteligência nas elites militares, políticas e empresariais saberão entendê-los e recuar diante de situações que levariam nosso país a uma condição de exclusão internacional.

Neste sentido, a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU, condenado os abusos e ilegalidades cometidos contra Lula, inclusive e sobretudo no cerceamento de seus direitos políticos em 2018 já seria razão para que a comunidade internacional estivesse de olho no que se passa com as eleições brasileiras.

A pressão de Bolsonaro para “desconvidar” a União Europeia só serve para ampliar este nível de alerta.

Afinal, se foram mais de 200, em 75 países do mundo, por que será que no Brasil “não pode”?

Tijolaço.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

PENDURADOS NO DÓLAR. POR FERNANDO BRITO

As próximas 48 horas, agitadas no mercado financeiro – o dólar chegou a bater R$ 5,08 hoje, estabilizando-se perto dos R$ 5,07 – enquanto se espera o quanto serão as altas de juros do Federal Reserve e do nosso Banco Central, a serem decididas na quarta-feira vão bater em gente que não está nem lendo as cotações diárias.

A Confederação Nacional do Comércio publicou sua Pesquisa de Endividamento e Inadimplência mensal e os brasileiros atingiram a maior taxa de endividamento desde que o índice passou a ser apurado, em 2010, segundo informa a Agência Brasil.

Nada menos que 77% das famílias tem dívidas, muito acima dos 67% que carregavam prestações em abril do ano passado.

O número dos que têm pagamentos em atraso – a taxa de inadimplência – subiu a 28,6% das famílias, 4,4% maior que há um ano.

Deveria ter havido uma redução, com o crescimento, ainda que pífio, das taxas de emprego, mas a queda na renda e a disparada da inflação, tornando mais difícil a manutenção das despesas básicas, provocou o efeito inverso.

É sobre este quadro que vai se despejar uma decisão de aumentar mais os juros públicos, mesmo diante da evidência de que nossa inflação não decorre de um superaquecimento da economia, decisão que se “fundamenta” na necessidade de continuar segurando o dólar pela diferença generosa do que pagamos sobre as taxas internacionais.

Em dez dias, porém, a valorização da moeda norte-americana acumula 10% e, a seguir subindo, trará os seus inevitáveis impactos inflacionários.

Tijolaço.

domingo, 1 de maio de 2022

A AMEAÇA E A REALIDADE. POR FERNANDO BRITO

Em dois parágrafos curtos, Elio Gaspari, na Folha, resume o estado de coisas político do país:

“O Brasil corre o risco de viver sua maior crise institucional desde o dia 13 de dezembro de 1968, quando o marechal Costa e Silva baixou o Ato Institucional nº 5. Ela tem data e hora marcadas: a noite de 2 de outubro, quando se conhecerá o resultado da eleição.
O cenário é previsível: fecham-se as urnas, totalizam-se os votos e, caso Jair Bolsonaro seja derrotado, ele anuncia que não aceita o resultado.”

Em menos que isso, Eliane Cantanhêde, no Estadão, resume o resultado de um ano de atenção simpática da mídia, de articulações e de vaidades vazias de quem se pretendia o desejo de uma alternativa à polarização:

“A terceira via agoniza, com o União Brasil fora, o PSDB se autodestruindo, o MDB revirando suas velhas agonias e o Cidadania impotente, enquanto a “opção única” vai deslizando do improvável para o patético e nem se sabe mais se haverá anúncio de qualquer coisa em 18 de maio, à espera de um milagre. Desfecho melancólico.”

Colunistas sem o menor viés de lulismo, Gaspari e Cantanhede observam o que está evidente e independe do desejo de que seja assim: a eleição está absolutamente polarizada e a direita mais autoritária percebeu isso, transferindo de Sergio Moro para Jair Bolsonaro os pontinhos que tinha o ex-juiz.

Verdade que, para estes, o caminho é mais “fácil”, porque lubrificado pelo ódio que têm em comum pela política, pelo diálogo e pelo viés autoritário, pouco afeito a aceitar as diferenças própria de uma sociedade que é diversa, e que é bom que seja assim.

Mas para pessoas que acreditam na convivência democrática, embora com mais resistências, vai ficando claro que a opção não é exatamente por Lula, mas pela continuidade dos mecanismos do Estado de Direito e da soberania popular exercida pelo voto.

Ele próprio o sinalizou pela escolha do vice, Geraldo Alckmin, alguém a anos-luz do petismo. Bolsonaro, à sua maneira, emitiu sinal igual e contrário, ao escolher um sombrio general, Walter Braga Neto, como seu segundo.

Não importa que os elitistas relutem em entender que não são Lula e o PT que estão criando a polarização. É a realidade que nos colocou diante de uma escolha nada difícil, entre democracia e ditadura.

Tijolaço.