Durante 50 anos, eu vi crianças morrerem de inanição, vi lideranças de sindicatos rurais amordaçadas, humilhadas, torturadas, assassinadas. Vi gente em pedaços nas filas de hospitais, escolas caindo, analfabetos votando e chorei.
Chorei quando expulsaram lavradores, quando as mulheres pariram nos taxis e nas vans, quando o Maranhão foi vendido à especulação imobiliária, quando líderes do PT foram presos e perseguidos, quando o êxodo rural inchou as cidades, eu também chorei.
Durante quase 50 anos eu vi ladrões de gravatas freqüentando teatros, vi o dinheiro do povo perdido nos cassinos de Las Vegas, vi a juventude prostituída, drogada, abandonada, sem esperanças e chorei.
Chorei quando o Estado se apropriou da cultura popular e transformou em curral eleitoral, quando compraram as associações de moradores e corromperam os movimentos sociais, quando faltou emprego para os pais de família, eu também chorei.
Durante quase 50 anos eu vi o nome da corrupção inscrito nas instituições públicas, vi o dinheiro do povo transformado em mansões, vi operários transformados em assaltantes deles mesmos. Vi filhos e filhas do Maranhão não tendo meios de sobreviver. Eu vi, e vendo, chorei.
Chorei quando compraram os partidos políticos, quando invadiram as igrejas e os terreiros de umbanda, quando corromperam santos e demônios com cargos, títulos e dinheiro público. Quando compraram lideranças da oposição, eu também chorei.
Durante quase 50 anos eu vi instituições públicas sendo avacalhadas, vi a Justiça decidindo a favor de crimes contra o patrimônio público, o Poder Legislativo acocorado, assediado, acovardado. Vi professores mal pagos, tribunais aprovando contas e descontos, vi votando gente que não tem onde morar, nem onde trabalhar. Eu vi e, vendo, chorei.
Chorei quando tive consciência da primeira fraude eleitoral, quando soube da segunda e da terceira, quando tomaram na marra o primeiro mandato de um governador eleito pela oposição, quando “venderam” o Banco do Estado para cobrir rombos, “venderam” a Cemar e o povo passou a pagar a conta de energia elétrica mais cara do mundo, eu também chorei. Principalmente quando vi aquelas cédulas todas no escritório da Lunus e o dinheiro público sendo desovado no Convento das Mercês e nas rodas de Pif, eu chorei.
Durante quase 50 anos eu ouvi promessas de muitos empregos, muitos hospitais, muitas escolas, de uma vida melhor que nunca veio e também chorei.
Chorei, presidente Lula, quando vi Vossa Excelência intervir na decisão do PT para beneficiar a monarquia Sarney. Quando, presidente, Vossa Excelência pediu votos para presidiários no Amapá, foragidos da Justiça no Tocantins e procurados pela polícia no Maranhão, eu não chorei mais. Pois vi que era hora de pegar em “armas”, lutar em defesa do meu Estado e salvar da corrupção o meu país.
Por JM Cunha Santos/JP
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