O
Estadão publicou nesta terça (3) uma reportagem sobre a "fórmula
matemática que ajudou a Lava Jato a identificar a propina em apartamento usado
por Lula", com direito à reprodução de um diagrama construído pelos
investigadores, que ressuscita o espírito do PowePoint apresentado pela turma
de Deltan Dallagnol no caso triplex.
O
diagrama mostra de maneira clara que a única conexão direta com o que a Lava
Jato chama de propina da Odebrecht e Lula é o apartamento 121 do edifícil Hill
House, alugado para a família do ex-presidente por Glaucos da Costamaques.
O
ponto central para começar a descontruir esse diagrama é que, não fosse por
um(a) vizinho(a) que deu com as linguas nos dentes no dia da busca e apreensão
na casa de Lula, em março de 2016, o ex-presidente não teria seu nome inserido
na arte.
A
"fórmula matemática" que a Lava Jato vende como o caminho do dinheiro
até Lula não tem, originalmente, o valor usado na compra do apartamento por
Glaucos, os R$ 504 mil.
Ou
seja, todo o trecho circulado de vermelho, abaixo, só está no diagrama porque
algum morador do mesmo prédio onde Lula reside há anos informou aos
investigadores que o ex-presidente também alugava uma unidade contígua.
No
dia da busca e apreensão na casa de Lula, a Lava Jato sequer tinha mandato para
entrar na unidade de Glaucos. Conseguiu autorização na hora, dada por Marisa
Letícia, que é a responsável por assinar o contrato de aluguel.
Para
entender o diagrama:
Vamos
entender o caso:
1 - A FÓRMULA
Diz
a Lava Jato que encontrou nos arquivos do setor de pagamentos de propina da
Odebrecht a versão integral do documento associado à "planilha
italiano". A fórmula ((3* 1057)+ 8217 + 1034) = 12.422 foi isolada em 3
partes pelos investigadores no diagrama, na tentativa de desenhar um elo entre
a Odebrecht e os dois objetos da ação penal contra Lula: a compra de um imóvel
em São Paulo, que serviria de sede para o Instituto Lula, e a compra do
apartamento em São Bernardo do campo.
Como
se vê na fórmula e no diagrama, os R$ 504 mil que Glaucos usou para comprar o
apartamento não existe. Esse trecho, a Lava Jato martelou na denúncia.
O
que está na fórmula é explicado pela Polícia Federal da seguinte maneira:
1
- "(3* 1057) = 3.171” diz respeito ao valor de R$ 3,1 milhões, que seria
um saque em espécie feito a partir das contas da Odebrecht. Na visão dos
procuradores de Curitiba, os recursos foram usados para pagar "despesas
por fora” das operações que beneficiaram Lula. Estadão não aprofunda que
despesas foram essa e não há no diagrama, portanto, uma ligação direta com
Lula.
2
- O “8217” seria os R$ 8,2 milhões gastos pela DAG Construtora, do amigo de
Marcelo Odebrecht, para comprar um prédio que foi ofertado ao Instituto Lula,
mas nunca utilizado pela instituição.
A
DAG, na prática, comprou os direitos de propriedade do imóvel de Glaucos da
Costamarques. Este havia adquirido o bem no papel, por cerca de R$ 6 milhões.
Depois, vendeu os direitos para a DAG por valor superior. Com isso, recebeu
cerca de R$ 800 mil. O advogado Roberto Teixeira, que assessorou Glaucos na
compra e revenda, recebeu cerca e R$ 234 mil em honorários.
3
- A soma do lucro de Glaucos com a compra e revenda (R$ 800 mil) e a comissão
de Teixeira representa o “1.034” na planilha em posse da Lava Jato.
Somente
após tomar conhecimento do apartamento 121 do Hill House é que a Lava Jato
passou a explorar as "coincidências": Glaucos, a pedido de seu primo
José Carlos Bumlai, teria feito a compra do imóvel nunca usado pelo Instituto
Lula. E, mais ou menos na mesma época, teria feito a compra do apartamento
vizinho ao de Lula, que vinha sendo alugado para a família do petista desde
2003.
No
diagrama e no relatório da PF, é possível notar que a despeito da teoria criada
pelo procuradores, Glaucos comprou o apartamento em agosto de 2010. O lucro que
teve na transação do imóvel do Instituto Lula só caiu em sua conta quatro meses
depois. Mas a Lava Jato afirma que os R$ 800 mil que recebeu da DAG
"cobriu" as despesas do 121 Hill House.
Em
seu depoimento, Glaucos não disse em nenhum momento que os negócios tinham
conexão. Ao contrário disso, explicou os detalhes da compra do imóvel que
depois foi ofertado ao IL, passando a ideia de que a operação ocorreu
totalmente dentro da lei.
O
que Glaucos entregou de brinde para a Lava Jato foi a versão de que não recebeu
aluguel de Lula entre fevereiro de 2011 e novembro de 2015. Mas os comprovantes
de pagamento apresentados pela defesa de Lula contrariou essa narrativa.
Fica
nítido, pelo diagrama, que os procuradores contam com esse suposto elo
irregular entre Lula e o apartamento de Glaucos para sustentar a denúncia.
O
problema é que, na visão da defesa de Lula, nada disso justifica a ação penal,
já que a Lava Jato não tem provas de que dinheiro sujo da relação entre
Odebrecht e Petrobras financiou, de fato, os "presentes" que a empreiteira
teria destinado a Lula.
Do
GGN
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