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Dallagnol criticou, sem saber, negociação de delação da PGR com JBS. Moro
também defendeu que Ministério Público seja "mais duro" em acordos.
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Reprodução
O
juiz da Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, e coordenador da força-tarefa do
Paraná, Deltan Dallagnol, foram participantes estrelas de um Seminário
produzido pelo Estadão, chamado "O legado da Mãos Limpas e o futuro da
Lava Jato", nesta terça (24). No evento, falaram sobre corrupção,
defenderam a prisão preventiva, Moro opinou sobre política e Dallagnol criticou
a delação da JBS.
Tentando
contrariar a maior parte das repercussões de suas decisões, o juiz da primeira
instância do Paraná afirmou que faz tudo subordinado à lei, "sem jeitinhos
ou caminhos alternativos". "Nunca torça meu entendimento para chegar
a alguma outra verdade", completou.
Imediatamente
depois, contrariando a si mesmo, tentou justificar que certas decisões são
consequências de liberdades possíveis de uma ação penal: "Nós temos aí
nossas liberdades, e as liberdades dentro do processo penal são
importantes". Ainda assim, voltou a afirmar que não existem "caminhos
fora da lei".
Aproveitou
o espaço para defender as prisões preventivas, mas enfatizou o juízo de valor
que ela adota sobre investigados, considerando que as detenções ainda na fase
de apurações são necessárias por se tratarem de "conduta criminal",
"crimes de corrução".
"Nós
não estamos falando de altura de minissaia, estamos falando de crimes de
corrupção. Estamos falando de fenômenos jurídicos muito claros. Não queremos
pautar condutas éticas das pessoas", disse. De forma generalizada,
comparou o caso de Geddel Vieira Lima, ex-ministro e ex-assessor de Michel Temer,
com outros condenados por ele na primeira instância que teriam "conduta
reiterada de prática de corrupção".
Disse
que poderia palpitar por não se tratar de um julgamento que está em suas mãos.
"Um caso atualmente que ganhou fama é de um agente político relacionado a
um apartamento no qual foram encontrados dezenas de milhões de reais",
exemplificou, sem citar diretamente o nome de Geddel.
"Se
nós formos estudar um pouco a história desse indivíduo temos o envolvimento
dessa pessoa em práticas criminosas que datam do início da década de 1990. Será
que se as instituições não tivessem dado resposta naquela época não teríamos
eliminado esse apartamento de R$ 51 milhões?", concluiu, em sua lógica,
como se a corrupção relacionada ao ex-ministro fosse padrão em todos os seus
condenados, ignorando a singularidade dos milhões encontrados no apartamento.
Além
de defender as prisões preventivas, que se tornaram marcas polêmicas de seus
despachos, Moro defendeu os acordos de delação premiada e palpitou sobre
política. Para ele, o suposto combate à corrupção que seria feito pela Lava
Jato precisa de respostas no campo político.
"Acho
que existem situações que precisam ser enfrentadas não só por processos
judiciais. Processos judiciais dão uma resposta limitada à corrupção e nós
temos que pensar em mudanças em nossas práticas políticas",
defendeu.
Ainda,
defendeu que em acordos de delações premiadas com investigados, o Ministério
Público seja "mais duro". Eu acredito que, tanto quanto possível, o
Ministério Público (MP) deve ser mais duro. O problema é que muitas vezes se
trabalha num contexto de impunidade, no qual é muito mais difícil fazer esses
acordos".
Também
sobre isso se manifestou o procurador da República Deltan Dallagnol, dizendo
que o esquema de corrupção por criminosos ocorrem em "áreas de menor
pressão". "[Corruptos] vão buscar outros mecanismos de lavagem de
dinheiro alternativos. Embora alguns tenham sido presos, muitos operadores
ainda estão soltos".
Dallagnol
opinou sobre o acordo fechado pela JBS com a Procuradoria-Geral da República
(PGR), como se fossem instituições distintas. Criticou as falhas da negociação,
ainda admitindo que não conhece detalhes do acordo.
"Quando
olho a mesa de negociação com a JBS, vejo que os empresários estavam muito
confortáveis. Não tinham buscas e apreensões contra eles, eram investigados mas
não estavam indiciados, não tinham pressa e colocaram seu preço na negociação,
que era a imunidade", manifestou.
GGN
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