A
linguagem é cifrada, mas o sentido da mensagem – e a escolha da mensageira,
Miriam Leitão – não poderiam ser mais evidentes.
O
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse a ela que “diminuiu temor do mercado com vitória de Lula“, porque a
perspectiva de vitória do ex-presidente não está criando pavor na cotação dos
ativos financeiros.
As
palavras são do estilo “não me comprometa”, mas dizem claramente que não há
“efeito Lula” entre a turma do dinheiro:
“Nos
preços de mercado, o que tem acontecido mais recentemente é uma eliminação de
vários preços que mostram o risco da passagem de um governo para outro. Mais
recentemente, a gente vê, quando olha esses preços, que eles atenuaram. Caíram
um pouco. Significa que o mercado passou a ser menos receoso da passagem de um
governo para o outro. “
Nada
de estranho nisso, porque a “turma da bufunfa” tem uma década de experiência
com os governos petistas ganhando muito dinheiro. Uns 80% desta turma não tem
ideia do que foram os anos 80 e 90. Lula nunca foi-lhes um desastre e, se não
fossem tão medíocres, veiram que ganha-se mais num país próspero do que num
arruinado.
Mas
há outra razão: Campos Neto ficará na presidência até 31 de dezembro de 2024 e
é de todo prudente que ele sinalize ao provável sucessor de Bolsonaro que está
disposto a ter uma relação respeitosa.
A
ver se esta postura perdura, o que é conveniente para Lula, até porque teria de
achar um “moderadíssimo” para colocar no BC, como teve de fazer em 2003, no seu
primeiro mandato, com Henrique Meirelles.
Da
parte dele não parece ser seu plano o “entrar de sola” nas políticas do Banco
Central, a menos que este não chegue a janeiro de 2023 comandando uma
trajetória de baixa na taxa de juros. Também isso está no radar do “mercado” e
o ex-presidente certamente não fará o erro de forçar uma baixa abrupta, se ela
estiver acontecendo em ritmo gradual.
O
foco da baixa dos juros será pela via dos praticados pelos bancos públicos nas
operações reais de financiamento, sempre muito acima da remuneração do dinheiro
via Selic. E o primeiro biênio – que corresponde ao mandato de Campos Neto –
certamente não será de pé no acelerador monetário.
A
economia em ruínas que Lula herdará não enseja estas velocidades. Na segunda
parte do mandato, sim, será hora de pisar no acelerador com a “casa arrumada”.
Tijolaço.