sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

“BOLSONARO NUNCA MAIS!”: MULHERES TOMAM AS RUAS DO PAÍS NESTE SÁBADO (4)

Ato é convocado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e pela Campanha Fora Bolsonaro.

Mulheres puxam novo dia nacional de luta pelo impeachment de Bolsonaro - Alexandre Schneider / AFP.

Movimentos e coletivos feministas, centrais sindicais e partidos de esquerda realizam, neste sábado (4), mobilizações em todo o Brasil pelo impeachment de Jair Bolsonaro, contra a fome, a miséria, o machismo, o desemprego e a violência.

A palavra de ordem é “Bolsonaro Nunca Mais!”. Razões para isso todas as mulheres têm de sobra. A organização dos protestos afirma que além de ser um péssimo gestor, que colocou a economia do país no buraco, com altas taxas de desemprego e inflação, aumento da fome e da miséria, Bolsonaro é o presidente mais machista da história do Brasil.

Inspirada na campanha #EleNão, que realizou massivos atos feministas contra Bolsonaro no período eleitoral em 2018, a mobilização atual realizou, como processo preparatório, uma plenária online no dia 23 de novembro. Houve a participação de 470 pessoas de diferentes partes do país.

"É importante a gente tirar o Bolsonaro, nem que seja um dia antes dele terminar o governo dele”, afirma Sonia Coelho, militante da Sempreviva Organização Feminista e da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Ela destaca que “é impossível continuar convivendo com um governo que destrói vidas e direitos todos os dias”.

A luta contra a fome e a miséria são centrais, urgentes e inadiáveis e pressupõem a saída de Bolsonaro da presidência da República. "Nós, mulheres da classe trabalhadora, mulheres cutistas, mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres trans, estaremos mais uma vez nas ruas no dia 4 de dezembro, as quais sempre ocupamos para dizer – Ele Não e Fora Bolsonaro – e pedir impeachment já, afirma a secretária-geral da CUT-RS, Vitalina Gonçalves.

No Rio Grande do Sul, pelo menos oito cidades já confirmaram a realização de protestos. Em Porto Alegre, a concentração para o ato será realizada às 16h, na Praça do Tambor, próxima à Usina do Gasômetro. Bagé, Cachoeirinha, Caxias do Sul, Encruzilhada do Sul, Pelotas, Osório e Santa Maria também tem atos confirmados.

Em BH

Movimentos feministas de Belo Horizonte organizam, para sábado (4), uma manifestação contra o governo de Jair Bolsonaro. A ação na capital mineira, agendada para as 14h, na Praça da Liberdade, faz parte da jornada nacional “Bolsonaro nunca mais”, convocada pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e pela Campanha Fora Bolsonaro. 

Para Bruna Camilo, militante da Marcha Mundial das Mulheres e secretária geral do PT de BH, a manifestação tem o intuito de dar visibilidade às indignações das mulheres e continuar as ações unitárias iniciadas em 2018 com os atos “Ele não”. 

Apesar das denúncias, a ideia é que o ato seja alegre e colorido, com bandeiras e música / Joyce Fonseca.

“Se não fossem as mulheres organizadas, Bolsonaro poderia ter tido uma vitória no primeiro turno. Nunca podemos nos esquecer da importância das mulheres na política, nos movimentos populares. Está chegando o último ano do governo federal, que teve uma gestão cheia de retrocessos, com mais mulheres mortas, violentadas e empobrecidas. E nosso ato vai ter esse tom de denúncia”, comenta.

A manifestação também pretende se posicionar contra Romeu Zema (Novo), pois, segundo Bruna, há um alinhamento do governo estadual à política do presidente. “Zema é irmão siamês de Bolsonaro. Com a falta de apoio do governo estadual, as mulheres mineiras têm passado por muito sofrimento e muita violência. No sábado também seremos ‘fora Zema’”, afirma.

Apesar das denúncias, a ideia, segundo Bruna, é que o ato seja alegre e colorido, com bandeiras e música. Haverá bateria aberta para mulheres que quiserem tocar seus instrumentos e uma ala destinada às ciclistas. 

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

OS GENERAIS DO OZÔNIO. POR FERNANDO BRITO

Perdoem-me os senhores oficiais reformados, mas o comportamento do Clube Militar está virando chacota.

Lauro Jardim, em O Globo, faz-nos saber que se prepara uma palestra antivacina na sede do Clube, para o dia 9, na qual uma senhora, a médica Maria Emilia Gadelha Serra, falará sobre “Passaporte Sanitário – eventos adversos das vacinas contra COVID-19 e os riscos para a segurança nacional..

Hein? Efeitos adversos – pelo que se sabe raríssimos e pontuais, ainda mais em se tratando de vacinas que estão sendo aplicadas há um ano e aos bilhões – até vá lá, em nome da ciência, embora isso seja assunto para pesquisas e estudos e não para apresentações com tudo para serem alarmistas.

Mas seus “riscos para a segurança nacional”, pelo amor de Deus, quais seriam? A transformação de milhares de brasileiros em jacarés comunistas? Os chips da Huawei chinesa injetado nos braços inocentes da população? Algum efeito hormonal estranho, que faça crescer barbas às mulheres, como sugeriu o Presidente da República?

A doutora Gadelha foi apontada pelo Projeto Comprova, consórcio de 28 órgãos de imprensa, como espalhadora de boatos mais perversos, como o de que a vacina provocaria grande número de abortos e que seria perigoso viajar de avião, pois pilotos vacinados estariam tendo AVC durante a pilotagem das aeronaves por terem recebido a vacina. E outras barbaridades, como a de que, em alguns estados dos EUA, aplicaria-se hidrólise alcalina para decompor cadáveres e fazer desaparecer mortos pela vacina, alem de mentir sobre o uso de fetos abortados na confecção de imunizantes.

É tão bizarra a situação que suplico ao leitor que visite os links para certificar-se que, infelizmente, é tudo verdade. Ou mentira, a depender do que é dito por estes abilolados.

Ela é presidente de uma certa Sociedade de Ozonioterapia – que ganhou o noticiário pelas experiências e administração retal do gás – que é, segundo a FDA norteamericana ” um gás tóxico sem nenhuma aplicação médica útil conhecida em terapia específica, adjuvante ou preventiva”.

A Anvisa brasileira – aliás presidida por um vice-almirante – também diz que o ozônio não tem nenhuma finalidade medica comprovável, e que não há ” evidências científicas que comprovem a eficácia do uso do ozônio como desinfetante contra o SarsCoV-2“.

Só escapou de entrar na farmacopeia presidencial pela sua, digamos, original forma de ser administrado.

Não é possível querer que nossos provectos militares tenham esta razão, para, no convite da palestra, “convocar a todos sócios e convidados para adentrarem nas portas do conhecimento”. Eu, hein? Este tal do ozônio é que parece ser risco à “segurança nacional”, meus generais.

Tijolaço.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

EM 3 MESES, BOLSONARO VAI DE ‘IMBROXÁVEL’ A ‘NOIVA DO VALDEMAR’, FERNANDO BRITO

 

Durante quase três anos – de sua vitória eleitoral ao último Sete de Setembro, há algo que não se pode negar a Jair Bolsonaro: o papel do ‘machão’ institucional da República, que dava de ombros para as dificuldades da pandemia – “e daí?” – , chamando de “maricas” quem queria se isolar, “peitando” as instituições da República – “acabou, porra!” – e evocando o fantasma de um golpe militar diante de uma multidão, mandando “enquadrar” o STF.

O que resta, a esta altura, do “Macho Man” valentão?

O que ele próprio diz: que “chora no banheiro”, que “está de saco cheio”, como se alguém acreditasse que pode largar tudo e “fechar a baiúca” eleitoral.

Mentira, claro.

Mas o fato real é que o fanatismo bolsonarista, alimentado a hormônios do ódio minguou e foi trocado por um pragmatismo eleitoreiro: o auxilio emergencial, ainda na base do “quem sabe” (e por isso, sem efeito eleitoral mensurável) e um discurso de extrema direita desabrido que seu predador eleitoral, Sérgio Moro, não pode fazer sob pena de perder – não lembro quem disse isso nas redes sociais – sua assessoria de comunicação da grande mídia.

Aí se compreende o que está em discussão e não é, de forma alguma, uma “Terceira Via”: será a disputa feroz dos votos de extrema direita, entre Bolsonaro e Moro.

Mas não é a única.

Se o ex-juiz e o presidente disputam a classe “A” – Moro vence entre os mais ricos (renda acima de R$ 10 mil), com 30%, bem mais que os 22% de Bolsonaro, o queridinho da direita tem um desempenho pífio entre os pobres (7%, segundo a pesquisa Atlas Politico)– quem disputa com o “Mito” a classe média baixa é Lula, e um pouco mais ali é muito mais no total do leitorado.

É neste segmento que o “Crepúsculo do Macho” (desculpa aí, Gabeira) bolsonariano oferece perigo ao ex-capitão.

É ali que ele construiu a sua imagem de negação da política fisiológica, aquela à qual se integrou de cabeça.

Aí está o problema: Moro não pode radicalizar para ser Bolsonaro – embora queira os bolsonaristas – e Bolsonaro, de olho na mídia, não pode aparecer em sua natureza mais radical e grosseira.

É por isso que se submete a aparecer como “noiva” do PL de Valdemar Costa Neto. e do PP de Arthur Lira, para representar alguma coisa a mais que seus minguantes áulicos.

Não o fará.

Todas as suas fichas estão no Auxílio Brasil e em cua manipulação para obter votos da pobreza. Na classe média, Bolsonaro está perdido e muito pouco dela conservará em votos.

Tijolaço.

BOLSONARO E ARISTIDES: BUMERANGUE DO ‘KIT GAY’. FERNANDO BRITO

Este blog, seus leitores devem ter reparado, foge de “tretas” como o diabo da cruz.

Mas nunca se esquece do verso de Geraldo Vandré sobre a “volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.

A atitude de Jair Bolsonaro de mandar deter uma mulher que lhe mandou o sonoro palavrão que estava pedindo ao mandar interditar meia pista (e são só duas) da rodovia Rio-São Paulo para ser saudado pelos passantes é, por si, uma destas histórias do famoso “pediu para apanhar”.

Mas, por seu histórico de referências sexuais, machismos e homofobias, acabou descambando para a história do “noivinha de Aristides”, que tomou conta das redes sociais e, reconheça-se, “colou” na sua figura.

A mulher detida por sua ordem, na Polícia Federal, declarou ter se irritado com a retenção no trânsito e soltado-lhe um sonoro fdp. É provável. porque não teria porque conhecer os detalhes extra-tatami do jovem cadete, se haviam.

Bolsonaro, o criador do kit gay, conseguiu produzir algo semelhante contra si mesmo, como um bumerangue do que fez.

Não importa se tenha havido um sargento Aristides, ou que nem tudo não tenha passado de inocentes wazaris e ippons, a chacota bem ao gosto presidencial ficou.

Se houver carnaval, vai virar fantasia de sucesso, se houver aglomeração, haverá um gaiato a gritar Aristides!, se houver manifestação será inevitável o boneco de quimono rosa-choque.

Virou chacota nos “trending tops” da redes sociais, território por ele controlado e ele próprio sabe, pelo que ele próprio fez, que ali ali estaa coisas pegam, tenham ou não verdades a sustentá-las. O aquela “mamadeira” tinha?

A ‘zoação’, da qual Bolsonaro tanto parece gostar com suas piadas de mau-gosto, supõe que o zoador também possa ser zoado.

Como diz a gíria moderna, “quem não sabe brincar, não desce pro play”.

Tijolaço.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

BRASIL NA LONA: FAMÍLIAS TÊM ENDIVIDAMENTO RECORDE, DIZ CNC. POR FERNANDO BRITO

Os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor divulgada hoje pela Confederação Nacional do Comércio, não deixam nenhuma dúvida do que se tem sentido na prática em relação às dificuldades dos brasileiros. O percentual de famílias endividadas no cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnê de loja, prestação de carro ou de casa, alcançou, em média, dois em cada três lares no país (75,6%).

A coisa é pior entre as família de menor renda mas é também preocupante para os que ganham mais, porque a elevação das taxas de juros acaba por tornar as dívidas impagáveis.

O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso alcançou o maior nível desde setembro do ano passado, atingiu 26,1% do total de famílias, 0,5 ponto maior do que o nível de outubro e 0,4 ponto acima do apurado em novembro de 2020. Para meses de novembro, trata-se da maior proporção observada na série histórica do indicador, diz a CNC. E o efeito disso autoalimenta a inadimplência, que é “compensada” no aumento das taxas de juros.

E 85% dos que devem têm débitos no cartão de crédito, uma armadilha da qual é muito difícil livrar-se. As dividas, em média, correspondem a 30,3% da renda familiar, mas 22% entre os que ganham menos de 10 salários mínimos têm compromissos superiores a 50% de sua renda.

O endividamento cresceu pelo 12º mês consecutivo, e os dados do Banco Central registram que os juros médios do crédito às pessoas físicas nas linhas que englobam as principais modalidades de dívidas, chegaram a 41,3% em setembro, cinco vezes mais que a taxa oficial praticada pelo Banco Central.

Tijolaço.

domingo, 28 de novembro de 2021

PODE “ADORAR” E NÃO PODE XINGAR? POR FERNANDO BRITO

A detenção pela Polícia Rodoviária Federal, de uma mulher que teria xingado Jair Bolsonaro quando este procurava aplausos na beira da rodovia Rio – São Paulo, antes da 10392ª cerimônia de formatura militar em que está. Há anos, fazendo politicagem com tropas militares, é bem o retrato da absurda alteração de ânimos a que este país foi levado nos últimos anos, com a diferença é que um dos lados tem, para reagir ao outro, o ânimo destas e das polícias em geral (não só a Federal) em transformar protestos em crimes.

Se soltar algumas imprecações sobre o presidente for motivo para conduzir alguém à Polícia Federal, para “assinar” um flagrante de injúria, corre-se o risco de ter de transferir as delgacias da PF para estádios de futebol, quando se trata de um presidente com rejeição entre 55 e 69%, como temos. Ainda mais quando este, ostensivamente, à beira de uma rodovia movimentada, provoca uma exposição mais do que propícia a isso.

Amanhã terão de fazer isso em estádios de futebol, desfiles de carnaval ou praças públicas.

Curioso é que Bolsonaro trata como “atos ditatoriais” deter pessoas que desafiavam as medidas legais restritivas na pandemia, dizendo que era um absurdo “deter uma senhora” só porque recusava as ordens de usar uma máscara ou evitar uma aglomeração, mas não acha que seja isso uma passante dizer um desaforo ao cruzar com ele numa rodovia.

Aliás, não apenas cruzar, mas encontrar uma sessão de exibição pública em que ele passou quase uma hora, com o tráfego cortado para meia-via, à espera de aplausos e saudações de quem chegou a ver que era ele, ali, num cata-aplauso digno de sua pequenez e de sua desocupação presidencial.

Poderia ter gasto o tempo visitando os inúmeros funcionários fantasmas que receberam por anos nos gabinetes dos seus filhos para trabalhar no Rio morando lá, em Resende, a 150 km de distância e agradecer todas as contribuições que deram à família.

Tijolaço.

sábado, 27 de novembro de 2021

O ‘ESPALHA’ DO GARIMPO COMEÇA, COM A CUMPLICIDADE OFICIAL. POR FERNANDO BRITO


As balsas ilegais de mineração no Rio Madeira – nem se pode chamar de clandestinas, depois de exibirem-se às centenas – começaram a dispersar-se hoje e já não há as “barricadas” que se viam até ontem.

Nenhuma surpresa, zero.

Foi a “ordem” do governo, expressa no inacreditável “estamos preparando uma operação”, em lugar de, simplesmente, fazê-la.

Ontem se disse claramente que era isso o que estava acontecendo: “Governo não tirará garimpeiros, fará só um “espalha”. escreveu-se.

O “espalha” foi feito e não se apreenderão as centenas de dragas que praticavam a mineração ilegal e, com isso, dar um golpe necessário e profundo nas práticas de devastação dos rios amazônicos.

E não foi por acaso que se “desfez o flagrante”. Não há explicação em se juntarem ali, às centenas, a apenas 150 km de Manaus, onde existem lanchas da Polícia Federal e do Ibama, barcos-patrulha da Marinha, helicópteros do Exército e da Aeronáutica.

Todos sabiam, há vários dias, o que estava acontecendo.

Não agiram porque não quiseram agir, porque não só há elementos nestas instituições ligados ao garimpo ilegal como, também, sabem que se trata de um grupo que conta com a proteção e a simpatia do Presidente da República.

Tijolaço.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

CONGRESSO ‘PEITA’ WEBER E ESCONDERÁ BENEFICIADOS POR EMENDAS, POR FERNANDO BRITO

A notícia de que o Senado Federal e a Câmara dos Deputados expedirão amanhã um ato conjunto, estabelecendo para a identificação das chamadas “emendas do relator do Orçamento” mas, ao mesmo tempo, recusando-se a dizer quem foram os beneficiários dos milhões até agora distribuídos vai abrir um confronto grave entre Legislativo e Judiciário, pelo descumprimento da ordem dada em liminar pela ministra Rosa Weber e confirmada pelo plenário do STF por 9 votos (oito integrais e um, de Gilmar Mendes, contra a suspensão mas a favor da publicização).

O ato deverá ser votado amanhã, em sessão extraordinária do Congresso e vai alegar que, como não havia determinação que o obrigasse, o congresso não tem condições de rastrear os autores e os detalhes das “emendas secretas” liberadas antes da liminar de Weber.

Se for como publicado, alegando que há ““impossibilidade fática de se estabelecer retroativamente um procedimento para registro das demandas recebidas pelo relator-geral com sugestão de alocação de recursos”, o que “torna a impossível o registro dos nomes”, trata-se, evidentemente, de uma mentira deslavada, porque admitir que se liberem verbas sem um processo que instrua seu uso e registre sua propositura é algo que qualquer um que tenha trabalhado meia hora no serviço público sabe.

O Estadão diz que o dinheiro”é distribuído pelas cúpulas da Câmara e do Senado, que acompanham em planilhas secretas o fluxo de liberação dos recursos e de parlamentares atendidos”.

E que a ministra Rosa Weber não teria engolido a patranha:

“Como assim não conseguem resgatar estes dados? Nem os presidentes das casas, nem a secretaria de governo, nem os ministérios e nem os beneficiários sabem informar? Cabe então ao relator-geral prestar estas informações, afinal ele é o autor oficial das emendas. O que não pode acontecer é continuarmos no escuro”

É um canhonaço que, é claro, vai abrir um imenso tumulto no parlamento, a depender do que aconteça na sessão de amanhã. E, sendo confirmada a encrenca, criar problemas ainda maiores para a votação da PEC dos Precatórios, que já anda meio adernada.

Tijolaço.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

MORO SÓ CONSEGUE ‘MATAR’ CIRO E NÃO SE APROXIMA DE BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

Primeira pesquisa de empresa conhecida – e vista com muitas reservas, frise-se – o levantamento divulgado hoje pela Paraná Pesquisas, indicando que Sergio Moro teria entre 10,7% e 11,2% das intenções de voto, em perguntas estimuladas ficou aquém, e bem aquém, do que esperavam os que cultuam a ideia de que o ex-juiz pudesse ter, ainda, o papel de justiceiro que lhe deram mídia, conservadorismo e o grande capital.

Moro ficou pouco mais além do que sempre pontuou e isso quer dizer que teve pouco mais de um terço das declarações de voto dadas ao seu ex-chefe, Jair Bolsonaro, que segue em segundo, atrás de Lula, mesmo sendo a Paraná Pesquisa a que dá resultados mais modestos, sempre, ao ex-presidente, bem como maiores índices de rejeição.

Quem sentiu o baque foi Ciro Gomes, que perdeu o “estrelato” da 3ª Via para o ex-juiz e amargou perto de seis pontos, metade do que teve na disputa de 2018. Ao que parece, é candidato a Marina Silva.

A pesquisa, como outras da Paraná, é dirigida para fortalecer a ideia de que haveria uma tendência forte entre os eleitores por um voto “nem Lula, nem Bolsonaro”. Mas nem isso consegue sustentar, registrando que apenas 17,1% dos entrevistados optariam por isto.

Numa redução ao que sugere o Sr. Moro, este seria seu teto de votos num primeiro turno.

Parece certo que, em dias bem próximos, teremos pesquisas com maior grau de confiabilidade a mostrar que Moro não é nem mesmo uma Space-X capaz de decolar rapidamente para grandes altitudes, ainda que para um vôo curto.

Resultados assim estão longe de ser um triunfo para Moro e não lhe abrem as portas de um sucesso eleitoral.

Afinal, ao contrário do que foi Bolsonaro-2018, ele não é uma surpresa, mas um velho conhecido.

Tijolaço.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

GUERRA SEM REGRAS, SEM FIM E SEM VITÓRIA. POR FERNANDO BRITO

Há mais de meio século glorificam-se as ações policiais de vingança contra bandidos.

A morte do detetive Milton Le Coq que levou a execução do seu suposto assassino, Manoel Moreira, o “Cara de Cavalo”, alvejado por mais de 100 tiros de revolveres, metralhadoras e espingardas, teve, afinal, a mesma mecânica que o fuzilamento de oito anônimos na comunidade de Salguerio, num mangue às margens da Baía da Guanabara, em São Gonçalo.

De outubro de 1964 até ontem, passaram-se quase 60 anos e a fuzilaria de então à de domingo, manteve-se a brutal inutilidade deste tipo de ação.

Apenas podemos mudar o nome do que se criou então – o “Esquadrão da Morte” – para o se se tem hoje: os “Batalhões da Morte”.

Repete-se, no mais, o que vimos em Vigário Geral, em Manguinhos, e em tantos outros aos quais se acrescenta agora o Salgueiro: mata-se um policial, morrem cinco, oito, 15, 20 outros.

Quem eram, pouco importa, se eram diretamente culpados, muito menos. São pobres, são pardos, são pretos, é o que basta para serem mais que suspeitos, serem condenados à pena de morte.

Não foi ao pelotão de fuzilamento que se condenou o músico Evaldo Rosa, pelo fato de ser negro e ter um carro da mesma cor de outro que teria sido roubado?

As milícias estão por aí, as quadrilhas de traficantes também seguirão, como os milicianos, imperando nas comunidades pobres.

E, alimentados pela mídia “mundo cão”, seguirão sendo aos milhares os que gritam: “é isso mesmo, tem de sentar o dedo”.

A classe média acha bonito o Black Lives Matter, mas não se traduzido em português.

Tijolaço.

domingo, 21 de novembro de 2021

TUCANO VIROU MICO, POR FERNANDO BRITO

E o tucano virou mico nas prévias – “pausadas” ou adiada, vai-se lá saber – high tech do PSDB.

O problema tecnológico, se houve, é indesculpável num processo que teve meses de preparação e nem sequer envolvia números de milhão, nem de centenas de milhares: eram apenas 40 mil votos remotos, ou , se quisermos comparar, os de uma cidade de 100 mil habitantes.

Mas não é o essencial: é que se trava uma guerra pelas ruínas do tucanato em São Paulo, pois fora dali não há o que justifique um conflito de vida ou morte como o que se travou.

É lá, como em nenhum outro lugar, que se imaginou que se poderia ter um Brasil rico e moderno ainda que em quase todas as outras partes do Brasil as estruturas arcaicas fossem o suficiente para sustentar as elites que que se alimentam de um modelo excludente e as classe médias que bicam, vorazes, seus farelos.

Ao longo desta semana, seja lá como for, o a Batalha de Itararé do Aplicativo terá uma solução e tudo indica que terá de ver a “vitória” de João Dória porque, sendo posto como “perdedor”, as confusões do processo eleitoral já lha dão a condição de recusar um resultado adverso e, como no capitalismo atual, buscar uma fusão ou incorporação – destas, com “acordo de acionistas” – com outra força política, possivelmente Sergio Moro, com quem afetos pregressos não foram raros.

O outro lado tenderá para Bolsonaro, a depender de Aécio Neves e, ao que parece, é de Aécio de quem dependerá, pois Eduardo Leite não tem apoio próprio que lhe permita manter seu lado unido.

Ao partido – ou ex-partido partido – nem sequer resta um posicionamento firme de seus “pais fundadores” ainda vivos: FHC e Serra escafederam-se do processo.

Como na letra do carioquíssimo Noel Rosa, o paulistíssimo PSDB morre hoje “morre hoje sem foguete/Sem retrato e sem bilhete/Sem luar, sem violão”.

Tijolaço.

sábado, 20 de novembro de 2021

A CONFISSÃO DA COMPRA DE VOTOS, POR FERNANDO BRITO

Tivesse o Brasil um Ministério Público, estaríamos diante de um escândalo centenas de vezes maior do que o do “Mensalão”, até hoje presente nas acusações que se faz a Lula. E que revela que o Poder Legislativo se tornou uma casa de chantagem e de venda de votos muito, muitíssimo maior do que sempre foi, desde a aprovação da reeleição no governo Fernando Henrique Cardoso.

Numa entrevista sem papas na língua ao The Intercept, o ex-líder do PSL, deputado Delegado Waldir (aquele do coldre de pistola na cinta), agora desafeto de Bolsonaro e, segundo ele próprio, “muito fã do Moro“, diz que o voto favorável à reforma da previdência foi comprado com R$ 20 milhões em emendas para cada deputado, como também foi comprada a eleição de Arthur Lira à presidência da Câmara, na qual ele distribui os mimos, ao ponto de ser “quem manda no Governo, não o Bolsonaro”.

Corrupção, é bom lembrar, é “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”. Uma emenda orçamentária é, claramente, uma vantagem e, em troca de voto, definitivamente indevida.

A entrevista não é escandalosa porque não se sabia que isso estava acontecendo, mas porque um dos seus negociadores e beneficiários o admite com todas as letras.

É uma confissão. Aberta, direta, não uma versão.

“Aconteceu na Reforma da Previdência, na eleição do Lira [para a presidência da Câmara] e em mais uma [votação] que não me lembro”, disse Waldir. “R$ 10 milhões [por voto em Lira]. E na [reforma da] Previdência, R$ 20 milhões por parlamentar.”

Precisa mais?

Entretanto, o assunto mal repercute na mídia, à exceção de uma replicação na Folha de S. Paulo.

Há um processo aberto no Supremo Tribunal Federal sobre o uso de “emendas secretas”, que é exatamente o que o Delegado Waldir descreve:

O [Arthur] Lira e o [Rodrigo] Pacheco têm o controle dos recursos. “Dei R$ 10 milhões para você, R$ 20 milhões para o Fernando, R$ 30 milhões para o Waldir”. Quem tem esse controle é o assessor de orçamento, o Lira e o Pacheco. Ninguém mais tem.

O Brasil não vai sair disso sem partidos, porque é exatamente este “varejo” de parlamentares que não têm vínculo senão com sua própria eleição que transformam o Congresso em uma mixórdia que, embora assim, rouba todo o poder para si.

Tijolaço.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A PEC DO TETO SUBIU NO TELHADO, POR FERNANDO BRITO

Se os ataques de Jair Bolsonaro ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, precisassem de explicação, esta está dada pelo levantamento feito por O Globo na tendência dos votos dos senadores na PEC dos Precatórios: ainda que todos os votos dos que se declaram indecisos ou não responderam à pergunta sobre se aceitariam o texto tal como veio da Câmara dos Deputados – isto é, como deseja o governo – a proposta não reuniria os 49 votos necessários à sua aprovação.

Com 34 senadores que já exibem seu voto “não”, o máximo possível seriam 47. Ou 46, porque o presidente do Senado, tradicionalmente não vota, exceto quando está interessado em mostrar seu alinhamento total ao governo, como fez Arthur Lira, na Câmara, para conseguir os magros 312 votos que deu à PEC no primeiro turno da votação na Câmara. Como entre os que estão em silêncio e os indecisos certamente haverá votos contrários, a derrota seria acachapante. E, pior, definitiva.

Na prática isso é dizer adeus à votação já na semana que vem, a menos que o governo faça um acordo para apenas abolir o teto para o valor dos precatórios, o que não atende os desejos do Executivo de ter mais dinheiro para “pacotes de bondades” nem o de Arthur Lira, de ter mais dinheiro à disposição do deputados. Os “seus”, naturalmente.

A questão está em que o texto aprovado na Câmara, ao transferir para dezembro o cálculo do “teto”, abre um espaço entre 4 e 5% nos gastos públicos, porque o orçamento foi proposto com uma estimativa inflacionária de 6,2% e a desvalorização da moeda deverá ficar acima de 10% ao final de dezembro.

É este “saldo” com o qual conta Bolsonaro para distribuir agrados eleitoreiros, muito além do “Auxílio Brasil”.

O resultado prático do impasse será o retardamento da votação para o início (ou nem tanto) de dezembro, e a certeza de que o texto aprovado – sim, haverá aprovação do rompimento do teto,até porque quase não há quem se oponha ao pagamento do auxílio, inclusive em caráter permanente – e as dificuldades de uma votação natalina na Câmara dos Deputados.

O que leva a aprovação final da PEC para fevereiro.

E garante a incerteza fiscal empurrando para baixo o mercado financeiro e para cima o câmbio que, só nos delírios de Paulo Guedes, “ajuda o Brasil”.

Tijolaço.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

O BRASIL VOLTOU AO MUNDO E A GLOBO TEVE DE VER, POR FERNANDO BRITO

A noite de ontem, nas telas mais importantes da Globo – o Jornal Nacional e a Globonews – foi uma prova que a verdade, por mais que a desprezem, surge a partir de fatos reais com uma força avassaladora, capaz mesmo de dobrar o ódio da emissora ao ex-presidente Lula.

Quase escondida no noticiário até ontem, a visita de Lula à Europa ganhou um inimaginável espaço com a recepção que teve do presidente francês Emmanoel Macron, com honras de chefe de Estado, na sede do governo da França, com direito até a exibição da Guarda Republicana.

Não deu para segurar, embora tenham havido algumas tentativas de reduzir o ato a uma “treta” de Macron contra Jair Bolsonaro, o que era apenas a cereja do bolo para o presidente francês.

O que não é, pois, a essência, porque a agenda de Lula teve outros pontos altos (a conversa com futuro premier alemão, Olaf Scholz, um discurso no Parlamento Europeu e, hoje, uma reunião com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, entre outros), todos correspondentes ao que seria um roteiro presidencial).

O fato teve tão estrondosa força, capaz de romper as fronteiras da Sibéria onde a Globo colocou Lula, não exatamente porque ele é candidato – e o favorito – à presidência brasileira.

Porque, nele, viu-se o Brasil voltar ao mundo com a importância que já teve e que tem de ter, não como uma republiqueta de governantes exóticos e babujantes, aparvalhados por estarem pisando em palácios, ao ponto de esquecerem o que são e o que representam.

Nem, também, como simples intermediários de negócios, chamando os estrangeiros para se aproveitarem das delícias brasileiras, mas dizendo que queremos ter voz nos problemas mundiais e desejamos exercer a nossa parte no poder global, nos defendendo e defendendo aqueles que sofrem do mesmos males que nos recaem.

E fazendo isso como fazem os estadistas: serena e convincentemente, com uma visão que atrai porque é original e simples, sincera e irretorquível.

Isso, porém, parte de um patamar que muitos brasileiros – e mais ainda nas nossas elites – não conseguem compreender: somos um país importante, pelo tamanho, pela população e pela riqueza, em boa parte ainda potencial, que nos torna uma das fronteiras do desenvolvimento que se quer em novas bases, humanas e ambientais.

Lula encarna este desejo e é por isso que pode falar de igual para igual com as lideranças europeias e deixar os comentaristas globais babando de inveja e, mesmo puxando pelo “folclórico”, tendo de reconhecer que não estava ali um primitivo. a deslumbrar-se com um hotel de luxo em Dubai ou um passeio de moto em Doha, no Catar.

O mundo não é uma Disneylândia 0800 para alguém que fala em nome deste imenso país.

Tijolaço.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

UM LÍDER NA EUROPA, UM PATETA NO DESERTO. FERNANDO BRITO

Nem a crise hídrica explica que haja tão pouca luz na cabeça dos empresários brasileiros que, além de tudo o mais que representa internamente (elevação de renda e do consumo), Luís Inácio Lula da Silva é um bom negócio para as raquíticas incursões das empresas brasileiras nos mercados mundiais?

Bolsonaro, com todo o poder e protocolos que reúne como presidente, passou como um anão pela mesma Europa onde, todo dia, o ex-presidente Lula dá demonstrações seguidas de prestígio e relacionamento, mesmo tendo deixado o cargo há 11 anos e sido alvejado por uma intensa campanha judicial de acusações.

Conversou durante uma hora com o futuro chanceler alemão, Olaf Scholz, que Bolsonaro ignorou ao encontrar no G-20 porque, simplesmente, nem sabia quem era.

Foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, enquanto Bolsonaro era deixado de lado pelos líderes europeus reunidos em Roma,

Hoje, terá audiência com Emmanuel Macron, presidente da França; amanhã, com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, conversar sobre os empecilhos aos acordos econômicos com a União Europeia.

Enquanto isso o outro se move, visivelmente apatetado, nos salões dos emires e sultões e, na falta de assuntos concretos para comentar, vai anunciando aumentos não se sabe de quando e não se sabe para quando.

É o que se escreveu aqui sobre “fazer diferença”.

Mas a nossa classe dirigente parece preferir vender o país no sentido literal, mesmo.

Tijolaço.