quinta-feira, 17 de março de 2022

FOLHA ‘PAGA MICO’ COM ALCKMIN. POR FERNANDO BRITO

O “mico” pago pela Folha, esta tarde, é daqueles antológicos.

Publica, como manchete do site, a informação de que “Justiça Eleitoral arquiva inquérito contra Alckmin por suspeita de caixa 2“, exatamente na mesma posição em que, ontem, dera a manchete de que uma delação sobre isso teria sido “homologada“.

Poucos minutos depois, a machete “caiu” lá para o pé da homepage, com um “reforço” em que diz que a Justiça teria “aceito”outra acusação, desta vez relativa a supostos repasses da Odebrecht às campanhas do ex-governador.

O caso é uma barafunda, porque o próprio acordo de delação foi “reformado” pelo ministério público porque, segundo publicou o Estadão, no ano passado, o “Conselho Superior do MP de São Paulo anula [anulou] acordo de R$ 700 milhões de Promotoria com Ecovias e arquiva [arquivou] inquérito sobre cartel, caixa 2 e propinas a políticos“.

Sem acesso ao inquérito, que está sob sigilo, é evidente impossível opinar sobre seus fundamentos e afirmar se há indícios suficientes ou tudo repousa apenas na palavra de um delator, o que não é aceito pela Justiça, óbvio.

Daí, porém, a sair catando casos que possam amenizar o seu – sejamos gentis – erro de ontem, a conversa é outra.

Só o fato de um jornal desmentir-se (sem admitir que o está fazendo) de um dia para o outro mostra que a coisa parece ser uma folhice do mesmo tipo da “catação” de críticas de Boulos a Alckmin em campanhas anteriores, dizendo que o líder dos sem-teto “em breve, terá que “balançar a cabeça positivamente para o ex-tucano, pois ambos estarão juntos na aliança em torno da candidatura presidencial de Lula”.

Ora, o fato de que Boulos não pensa igual a Alckmin – e que nenhum dos dois pensa igual a Lula – é o que torna importante a aliança eleitoral dos três na campanha presidencial, evidenciando que não se precisa pensar igual em tudo para considerar que nada é mais importante que barrar o caminho do autoritarismo e tirar o país da situação desastrosa em que está.

Se não houvessem tantas diferenças e por tanto tempo, a aliança não teria importância alguma.

Tijolaço.

quarta-feira, 16 de março de 2022

BANCO CENTRAL “PEGA LEVE”, À ESPERA PARA ELEVAR AINDA MAIS OS JUROS. POR FERNANDO BRITO

Os 11,75% a que o Banco Central elevou hoje a taxa pública de juros não são propriamente uma “pequena alta”, porque – é bom lembrar – há um ano ela era de 2%.

Mas, dadas as circunstâncias, foi uma decisão cautelosa, esperando para ver nos índices de inflação o impacto dos reajustes generalizados que estamos vendo, de um lado e, de outro, qual será a tendência da economia mundial nos próximos meses, como resultado de um provável “esfriamento” da China, da disputa inflação altíssima versus juros em alta progressiva nos EUA e Europa e,claro, se haverá continuidade no aumento dos preços do petróleo.

Como as previsões de inflação brasileira ainda estão abaixo dos 8 – 8,5%, considera-se que o nível de remuneração real do capital será suficiente para manter o fluxo de dinheiro do exterior e assegurar um “bom comportamento” do dólar, talvez com mais duas ou três rodadas de elevação da Selic.

O problema é que é provavelmente falsa a premissa de que parte o BC ao apontar sinais de uma economia ainda em expansão – ” a divulgação do PIB do quarto trimestre de 2021 apontou ritmo de atividade acima do esperado”, diz seu comunicado – quando os sinais de retração já são bastante evidentes e tendem a piorar com a elevação ainda maior dos juros. Também está fora da conta a turbulência eleitoral e os indícios cada vez mais claros de desequilíbrio fiscal e de queda nas expectativas dos agentes econômicos.

É ml menor, contudo, que uma elevação brutal das taxas, como queriam alguns “tubarões do mercadismo, que propunham uma elevação de 1,5%. Pesou também a decisão do Federal Reserve de aplicar uma correção de 0,25% apenas – em lugar do 0,5% que chegou a ser cogitado, nas taxas dos títulos do Tesouro dos EUA, o que continua fazendo do Brasil uma enorme fonte de lucros com a arbitragem – isto é, a troca – da taxa externa com a interna.

Tijolaço.

segunda-feira, 14 de março de 2022

O OCIDENTE QUER UMA SAIDA NEGOCIADA PARA A PAZ? POR FERNANDO BRITO

Embora não tão promissores, os sinais emitidos por Vladimir Putin e Volodimir Zelenskyi de que pode haver algum entendimento para que, ao menos, seja adotado um cessar fogo no conflito Rússia-Ucrânia esbarram em um obstáculo que é intransponível, exceto por uma concessão russa.

Explico: Putin pode mandar parar o avanço de seus tanques e tropas, suspender o lançamento de mísseis e interromper missões de sua aviação em território ucraniano, como é necessário, não há dúvida.

Mas não é crível que a compensação a isso seja mandar parar de jogarem garrafinhas de gasolina nos tanques ou congelar as barricadas ucranianas, porque a contrapartida ao avanço militar russo não é feita com isso, mas com as sanções econômicas ao país.

Portanto, numa negociação diplomática eficaz, a moeda de troca teria de ser essa: parar a escalada de sanções econômicas à Rússia e isso está fora do controle das autoridades ucranianas, ainda que o quisessem e, ao menos nos discursos, não parecem querer.

Esta guerra não é o confronto de egos ente Putin e Zelensky, mas um rearranjo das estruturas mundiais de poder, onde as decisões vão muito além de Kiev e Moscou, estão em Washington e Beijing.

Tanto quanto Moscou não quer ter a Otan no seu quintal, Beijing não quer ter uma Rússia controlada pelo Ocidente.

Basta saber que a fronteira sino-russa tem mais de 4,200 km, maior do que a dos limites sul e norte do Brasil, do Oiapoque ao Chuí.

Enquanto os EUA jogarem com a destruição do atual governo russo – a queda de Putin – e a sua substituição por uma incógnita, porque nas eleições do ano passado só ele, com os 50% do seu partido “Rússia Unida” e o Partido Comunista, com 20%, mostraram ter base suficiente para se apresentarem como forças nacionais e, certamente, não é ao PC que o Ocidente quer entregar o maior território do mundo.

E parecem continuar com isso, com a acusação pública de que estaria havendo um pedido russo de armas chinesas, um despautério, porque se falta algo à Rússia nesta guerra não é arsenal, que tem suficiente para destruir 100 Ucrânias e o próprio planeta.

O cenário da guerra é outro, o da destruição da capacidade ucraniana de defesa, com a anulação de suas bases de defesa aérea – aviação e radares, que já permitiram incursões aéreas como a de hoje, nos limites ocidentais da Ucrânia, sem riscos de interceptação aeronáutica ou por defesas terrestres.

Esta é a questão: o Ocidente quer uma saída negociada para a paz? Reduzir ou mesmo eliminar as sanções à Rússia se ela retirar suas tropas da Ucrânia dariam àquele país as condições de voltar à diplomacia,

Enforcada, ela não recuará.

Tijolaço.

domingo, 13 de março de 2022

MUNDO SEM LÍDERES É MUNDO SEM RUMO. POR FERNANDO BRITO

Não se diga que é “esquerdismo”, porque é evidente que estaríamos melhor com líderes de direita como Donald Trump e Ângela Merkel, sob os quais nunca tivemos de viver as cenas pavorosas que estamos assistindo.

Vejam como é doloroso e terrível ter de dizer isso, mas é chocante a incapacidade da Europa em colocar freios a um governo norte-americano que perdeu todos os limites à contenção de seus apetites, com movimentos que quase dão saudades da “Guerra fria” onde, ao menos, os temores de um desastre militar (nuclear, portanto) ao menos continha o padrão de ameaças entre os EUA e a União Soviética.

Pior ainda quando encontrou-se para servir de “bucha de canhão” uma Ucrânia liderada por um “campeão do marketing” que, agora há pouco, com um mar de tanques russos à porta de sua capital, é capaz de dizer que, para tomar Kiev será preciso demolir Kiev.

Nem quando os lançamentos de mísseis balísticos de longo alcance pela Coreia do Norte ameaçou o equilíbrio de forças mundial os líderes ocidentais partiram com tamanha força econômica contra um país e que não se diga que o autoritarismo de Vladimir Putin é o único: superaliada dos Estados Unidos, a Arábia Saudita executou só ontem , 81 pessoas acusadas de subversão contra o regime da família real, por ““lealdade a organizações terroristas estrangeiras” ou manter “crenças desviantes”.

E na surdina, nem se sabe como lhes aplicaram a pena de morte que, por lá, costuma ser executada por decapitação. Não parece que seja algo que mereça ser desprezado pelo “Ocidente Civilizado”, mas passou praticamente em branco.

Nenhum sacrifício é demais para impedir o massacre das pessoas que ainda estão em Kiev e muito menos é legítimo que o presidente ucraniano esteja disposto a imolar seus cidadãos no seu evidente – e bem sucedido, diga-se – esforço para agarrar-se a chance de tornar-se um líder europeu, o que é hoje, para o desespero das lideranças do Velho Continente. E, com qualquer desfecho que haja nesta crise, vai influir nos resultados eleitorais de cada um dos países do bloco europeu.

E, com todas as críticas que se lhe possa fazer pelo fato de ser um personagem sem história política e, até a guerra, um governante apagado, reconheça-se o fato de que, nestes tempos do “homem-meme” das redes sociais, tinha e aproveitou o physique du rôle para interpretá-lo, embora eu tenha lá minhas desconfianças que, justo por isso, irão descartá-lo logo que se tornar inservível.

O Ocidente, muitas vezes de forma ridícula como esta proibição de importar caviar ou de banir o dirigente do clube Chelsea, não é capaz nem de uma medida larga, que ofereça uma oportunidade de Putin negociar o recuo de seus exército com o recuo nas sanções econômicas, como estimula e assiste Zelensky bradar por jatos militares que jamais terá, porque os líderes do “mundo livre” querem a vitória sem guerra. Ou melhor, com guerra apenas na Ucrânia.

Tem razão o filósofo francês Edgar Morin, sob cujos olhos um século de história se passou:

Podemos defender a Ucrânia sem ser cegos. Temos que ter cuidado com a histeria ligada à guerra que nos faz ver apenas um aspecto da realidade, que muitas vezes é mais complexa.(…)Encontramo-nos numa situação paradoxal: tanto não aceitar a invasão como não fazer a guerra. Daí o tipo de compromisso que é a guerra econômica, acompanhada de ajuda em armamentos. Nem a força militar nem a fraqueza são uma solução. A fraqueza é perigosa porque pode dar liberdade às ambições imperiais russas. Mas o desejo de dobrar a economia da Rússia é igualmente perigoso e pode ter consequências que não podemos medir.

Esta história de que o Exército russo está caindo aos pedaços, descoordenado, sem combustíveis, infelizmente, cairá por terra quando (já restam poucas esperanças de que se possa aplicar aí o “se”). Os fatos serão brutais e vão lançar o mundo numa cisão comparável àquela que vivi em minha juventude. Mesmo que se destrua a unidade territorial da Rússia, com a derrubada – a médio prazo – de Vladimir Putin, basta olhar no mapa para ver na mão de quem, economicamente, os pedaços cairão.

Tijolaço.

sexta-feira, 11 de março de 2022

O AUMENTO DOS COMBUSTÍVEIS E A MARÉ INFLACIONÁRIA, NA TVT. POR FERNANDO BRITO

Reproduzo para os leitores do blog a minha participação do programa Bom para Todos, conduzido pela jornalista Talita Galli, na TVT – do qual, a partir de hoje, farei uma participação quinzenal, sempre às 15 horas, nas sextas-feiras.

Procurei demonstrar que o reajuste dos combustíveis – inevitável ante a elevação do preço internacional – foi desastrosa por conta da tentativa demagógica de conter a inflação pela retenção dos preços de forma absoluta, fazendo que se formasse uma “bomba” sobre a economia, que já está provocando efeitos os mais daninhos.

Trato, também, desta loucura que foi paralisar – em parte, via Lava Jato – a ampliação de nossa capacidade de refino e a política de exportar petróleo bruto, mais rentável no curto prazo, mas nos tornando vulneráveis a eventuais (e nem tão raras) explosão de preços internacionais.

Falo, ainda sobre os “efeitos colaterais” desta bomba de combustíveis, que inevitavelmente vai detonar as expectativas inflacionárias do país.

Prestigie a TVT, um importante canal alternativo de debates e esclarecimento.


Tijolaço.

quinta-feira, 10 de março de 2022

“NÃO TENHO NADA COM ISSO”, DIZ O COVARDE. POR FERNANDO BRITO

A declaração de Jair Bolsonaro após o mega-reajuste do preço dos combustíveis serve – e nem tanto – para os seguidores do “curralzinho”.

O fato objetivo é que, ao retardar as decisões sobre reajustes nos preços dos combustíveis que, há três semanas, eram evidentes, Jair Bolsonaro perdeu a chance de que eles entrassem na conta da guerra no Leste Europeu.

Agora, o aumento brutal decretado de uma só vez vai cobrar um preço muito maior, porque desorganiza completamente os custos de uma série de setores econômicos, com uma adição de custos que não tem como ser absorvida pelas empresas de qualquer setor da economia.

Porque soma ao aumento real de custos uma “liberação geral” de reajustes que cria, para usar uma expressão popular, um “bundalelê” de valores em que tudo entra nesta conta.

Já vivemos isso no segundo semestre do ano passado com o reajuste da energia elétrica, retardado no tempo, que – em taxa muito menor, 8%, contra de agora, 19% na gasolina e de 25% no diesel, empurrou para cima um conjunto de preços com e sem relação com a eletricidade,

Desta vez, porém, o impacto será ainda maior. E mais rápido, porque a conta de energia leva um mês para chegar e o aumento do combustível cai de imediato ou, no máximo, no tempo de reabastecer o veículo.

O “vale-isso”, “vale-aquilo” que o Senado aprovou, ainda irá para a Câmara e depois, depende de uma complicada regulamentação. Mas os preços não esperarão isso e nem se reduzirão se e quando acontecer.

Esta madrugada, milhares de pequenas caminhonetes e caminhões estarão levando produtos para o mercado. Com o novo preço de gasolina e de diesel. Amanhã, o frete de milhões de produtos entregues em domicílio, idem. E os que vão no transporte pesado – produtos industriais e agrícolas – já contratarão o frete ao menos 10% mais caro, senão mais.

Às nove da manhã, todos estarão impactados por uma inflação de fevereiro que estalou para índices maiores que os 0,85 do mesmo mês do ano passado. E as projeções para a de março, agora, ficarão acima de 1%, saltando a acumulada em 12 meses para perto dos 12%.

Por enquanto, porque é preciso esperar o quanto o círculo concêntrico de transmissão deste míssil inflacionário vá expandir suas ondas de choque.

Tijolaço.

quarta-feira, 9 de março de 2022

PACHECO, O ‘CANDIDATO PORCINA”, DESISTE. JÁ FOI TARDE. FERNANDO BRITO

Rodrigo Pacheco, afinal, abdicou de seu posto de candidato Viúva Porcina à presidência, aquele que foi sem nunca ter sido.

Comunicou ao seu novo partido, o PSD (para o qual migrou depois de deixar o finado DEM, que não disputa mais o cargo que nunca disputou o governo da República, mas que fingiu fazer para inflar sua autopercebida fleugma de estadista que não é nem nunca foi ou será.

Seu negócio é tão sujo quanto do de Arthur Lira – continuar na presidência da Casa – mas ele o envolve numa farsa de renúncia a “ambições pessoais”.

Aliás, era mais uma candidatura farsesca, que não correspondia nem a movimentos sociais nem à representação de cortes da sociedade, mas à mediocridade que tomou conta com a vida de boa parte da sociedade brasileira.

Anuncia-se que Eduardo Leite, o governador do Rio Grande do Sul, derrotado no concorrido velório das “prévias” do PSDB, ocupara o seu lugar, sabe-se lá para que, a não ser para produzir uma outra farsa eleitoral.

Que, por sinal, tem pouquíssimas de se sustentar, dividindo por dois o nada de João Doria.

A realidade eleitoral está posta na disputa entre Lula e Jair Bolsonaro e os balangandãs da terceira via, por frágeis e artificiais, vão caindo antes mesmo da campanha tomar fôlego.

A Pacheco, o eleitorado que interessa são os 54 senadores que permanecem com mandato após outubro de 22.

Os outros 214 milhões de brasileiros não têm importância alguma.

É só mais um destes personagens fugazes da vida política que passam sem deixa memória.

Tijolaço.

terça-feira, 8 de março de 2022

BANIR PETRÓLEO RUSSO ESCALA A GUERRA E AMEAÇA A EUROPA. POR FERNANDO BRITO

Veremos, nas próximas horas, se Vladimir Putin retaliará com o corte – ou a redução – do fornecimento de gás à Europa, como ameaçou caso os Estados Unidos banisse o petróleo russo de suas compras.

Os governos europeus duvidam que o presidente russo possa travar a entrega do agora praticamente único produto de exportações que lhe traz divisas internacionais, depois do bloqueio de grande parte de suas reservas internacionais.

Por isso, depois de uma alta assustadora pela manhã, os preços do petróleo reduziram sua alta de quase 10% para “apenas” 3,5% no dia.

Pelo visto, a Europa acha que o governo russo vai ceder e não levaram a sério o pedido feito, por teleconferência, pelo presidente chinês Xi Jinping, para que tivessem “máxima moderação” nas suas atitudes em relação ao embargo econômico à Rússia.

O primeiro dia de cessar fogo oferecido pelos russos – ainda que com um ou outro confronto – poderia ser o início de uma esperança de diálogo para por fim a uma guerra intolerável.

Mas a resposta do ocidente não poderia ser pior e o próprio Joe Biden, ao anunciar a retaliação, destacou que isso se destinava a “infligir mais dor” aos russos. E vangloriar-se que “agora, um rublo vale menos que um penny [centavo de dólar].

Achar que isso terá outro resultado senão a continuidade e a ampliação da resposta que está ao alcance de Putin – a militar – é tão primário que só pode significar que se assumiu, sem disfarces, que o objetivo de enfraquecer e pretender a queda do governo russo é o objetivo central.

A destruição da Ucrânia, para o Ocidente, parece um preço barato demais.

Tijolaço.

segunda-feira, 7 de março de 2022

O BRASIL E A GUERRA NA UCRÂNIA, POR PAULO NOGUEIRA BATISTA

Qual deve ser a posição brasileira diante da guerra na Ucrânia? Em sua maior parte, a mídia corporativa brasileira, seguindo caninamente a mídia ocidental, já escolheu um lado. Vem demonstrando uma parcialidade escancarada, comprometendo a sua obrigação de informar.

É um grave equívoco. Não cabe ao Brasil tomar partido nesse complicado conflito. E não é o que tem feito Brasília. Mesmo os adversários mais renhidos de Bolsonaro, entre os quais me incluo, precisam reconhecer que é correta a posição inicial do governo brasileiro, em especial do Itamaraty. Bolsonaro, como sempre, dá suas derrapadas. Resiste, porém, à pressão dos EUA e da mídia tradicional brasileira para que se alinhe ao lado ocidental. Por enquanto. Como tudo é muito volátil, preciso dizer que estou escrevendo em 4 de março.

Para entender o que está em jogo, é fundamental se dar conta de que o que estamos vendo não é primordialmente uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas sim uma guerra entre a Rússia e os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliança militar comandada pelos Estados Unidos. A Ucrânia, coitada, entrou de gaiato no navio. Está lutando por procuração. Foi levada por lideranças nacionais levianas e incompetentes a uma confrontação com a segunda maior potência militar do planeta.

O Brasil não pode, evidentemente, apoiar a invasão de um país por outro. Precisamos nos ater à nossa posição tradicional de defender a busca de solução diplomática e pacífica para as desavenças entre países.

Mas precisamos, também, entender o lado da Rússia. Como este tem recebido pouca atenção na mídia brasileira, vou tentar explicá-lo brevemente, sem a pretensão de cobrir todos os aspectos de uma questão que é, insisto, de extraordinária complexidade.

Toda a confusão começa com a ampliação da OTAN para o Leste da Europa desde os anos 1990, como vem sendo crescentemente reconhecido no Brasil. Em etapas, aproveitando a fraqueza da Rússia na época, a aliança militar ocidental foi incorporando países antes pertencentes ao bloco soviético (Polônia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária) e até mesmo países que resultaram da dissolução da União Soviética (Lituânia, Letônia e Estônia). Olhem o mapa da Europa e coloquem-se no lugar dos russos.

A crise se aguçou em 2014, quando o governo ucraniano de Viktor Yanukovich, próximo a Moscou, foi derrubado por um golpe de Estado, umas daquelas revoluções coloridas, semelhante à que se organizaria no Brasil e levaria à derrubada de Dilma Rousseff. Muito mais violenta, mas parecida. Não se engane, leitor, sobre o seguinte ponto: houve ativa participação dos EUA (governo Obama) na derrubada de Yanukovich.

A pretensão americana de incorporar a Ucrânia à OTAN foi o passo fatal. Perseguida por Kiev depois do golpe de 2014, essa pretensão não poderia ser aceita por Moscou sem colocar em risco a segurança nacional da Rússia. Olhem de novo o mapa e vejam a distância que separa a fronteira com a Ucrânia da capital russa. Como se não bastasse a Estônia estar praticamente na esquina de São Petersburgo, a segunda maior cidade russa!

Mesmo assim, volto a dizer, o recurso da Rússia à violência e à invasão da Ucrânia é deplorável. Não pode ser coonestado pelo Brasil. Temos que ser solidários ao povo da Ucrânia, que passa por uma experiência terrível.

Pode-se perguntar: o fato de o Brasil não poder apoiar a Rússia e condenar a invasão prejudica os BRICS? Alguns apressados, já decretaram o fim do agrupamento. Isso não tem o menor cabimento. Posso dar o testemunho de alguém que participou do processo de formação dos BRICS desde o início, em 2008: os BRICS nunca foram, nem pretenderam ser, uma aliança política – ponto que explico detidamente no meu livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, especialmente na segunda edição. Os BRICS são um clube ou mecanismo de cooperação com propósitos muito importantes, mas limitados. O grupo avançou mais do que outros grupos semelhantes, tendo chegado a criar o seu próprio banco de desenvolvimento e o seu próprio fundo monetário. Mas é um mecanismo circunscrito primordialmente à área econômico-financeira. A Rússia sabe perfeitamente disso e não espera uma adesão do Brasil a suas posições políticas.

A posição inicial do governo Bolsonaro após a eclosão da guerra tem sido basicamente correta, como disse, mas não se deve esquecer que este governo deu um tremendo passo em falso num tema correlato, passo em falso que não tem sido muito lembrado agora. Refiro-me ao fato de que, em 2019, quando Donald Trump ainda era presidente dos EUA, Bolsonaro celebrou a designação do Brasil como “aliado extra-Otan”. Isso não fazia sentido nenhum na época, e faz menos ainda hoje em face da confrontação Rússia/OTAN.

O Brasil deve ser um país não-alinhado. O que isso significa? Várias coisas. Precisamos, por exemplo, voltar a ser participante ativo dos BRICS, algo que se perdeu nos governos Temer e Bolsonaro. Temos que retomar e fortalecer as nossas relações com a América Latina e África, sem parti-pris ideológico, isto é, sem se preocupar se os governos dos outros países são de esquerda, direita ou centro. No entanto, essa abertura para o chamado Sul político não implica relações hostis com os Estados Unidos, a Europa ou o Japão. Ao contrário, o Brasil deve buscar relações, não digo de amizade, uma vez que, como dizia Charles de Gaulle, as nações têm interesses e não amigos, mas relações positivas e construtivas com todas as nações.

Claro que pouco ou nada disso será possível no governo Bolsonaro, em que pese os esforços do Itamaraty, que melhorou a sua atuação depois da substituição de Ernesto Araújo por Carlos Alberto França. Porém, sob novo comando a partir de janeiro de 2023, o Brasil poderá fazer tudo isso e muito mais. Poderá até desempenhar, se houver interesse das partes, um papel de pacificação do conflito no Leste da Europa, conflito que, infelizmente, não será resolvido tão cedo.

Tijolaço!

domingo, 6 de março de 2022

NO ‘ESTADÃO’, O CLIMA DE VELÓRIO DA CAMPANHA DE MORO. POR FERNANDO BRITO

Gustavo Queiroz e Luiz Vassallo, d’O Estado de S.Paulo, desenham neste domingo o clima fúnebre da campanha do ex-juiz Sergio Moro à Presidência, segundo eles, “marcada nos últimos meses por eventos pouco concorridos e sem a presença de líderes partidários”.

“O ex-juiz tem participado de eventos com público reduzido, nos quais fala, basicamente, para antigos apoiadores e fãs da Lava Jato. E ainda não conseguiu arregimentar apoios relevantes. Moro enfrenta desgastes internos no Podemos. Diante dessa situação, ele se cercou de um grupo de confiança, apartado da cúpula do partido. A exemplo do ex-juiz, alguns dos integrantes desse núcleo são novatos em eleições”.

A preocupação central de Moro, é que o Podemos estaria “rifando” a sua candidatura, para não ter de gastar nela a sua cota do Fundo Eleitoral.

O remédio, então, é fazer uma “caixa privada” de campanha, com uma meta de “arrecadar R$ 25 mil por mês de um universo de aproximadamente 40 empresários. A ideia é ter R$ 1 milhão mensal para a campanha.”.

Como não há (em tese) financiamento privado de campanha, estas doações teriam de ser ao seu partido, o Podemos, para que fossem repassadas à campanha, mas o partido diz que não existe qualquer combinação para isso.

Os repórteres descrevem sua relação com o partido como ‘separação de corpos’, ou seja, apenas a de manter a fachada.

Pior que não ter dinheiro é não ter palanques estaduais, que ajudam a empurrar uma candidatura: segundo levantamento de O Globo, Moro só tem candidato definido no Distrito Federal, José Antônio Reguffe e duas alianças encaminhadas, no Paraná e no Mato Grosso do Sul. Ou seja, 10% dos estados brasileiros.

No mais importante deles, São Paulo, tinha um, ainda que ridículo, mas o “Mamãe Falei” acaba de mergulhar numa lata de lixo.

Moro pode jurar de pés juntos que não troca de candidatura, para senador ou deputado, mas a realidade da política o está empurrando a isso.

Um pena, porque seria mais didático que ele permanecesse candidato, com um ou dois por cento, para ser reduzido ao tamanho que tem.

Tijolaço.

sábado, 5 de março de 2022

NENHUMA TRÉGUA FUNCIONARÁ SEM FIADOR. ISTO É, A CHINA. POR FERNANDO BRITO

O fracasso do cessar-fogo, ainda que localizado e por algumas horas, para evacuação de civis de cidades no sudeste da Ucrânia tem versões diferentes – e inacreditáveis – dos dois lados, ambas estranhas.

Não faz sentido que os russos tenham proposto uma suspensão das hostilidades para continuarem, eles próprios, bombardeando, como não tem lógica que ucranianos possam estar sabotando a retirada de civis de uma área que, todos sabem, está militarmente condenada, como o porto de Mariupol.

Será assim, provavelmente, com qualquer outra mitigação dos danos humanos que possa propor.

Ninguém é fiador destes acordos, por uma simples razão, além do óbvio isolamento a que foi relegada a Rússia: o monolitismo do bloco ocidental e a sua adesão ao “discurso heroico” de Volodimir Zelensky (que não hesita, sequer, em exigir-lhes o engajamento de suas forças aéreas no combate, a pretexto da criação de uma “zona de exclusão aérea” na Ucrânia.

Só há uma força política e econômica com peso para isso, e é a China. De que não se fará da Ucrânia uma ponta de lança da Otan às portas da Rússia, o que não parece difícil, que a Russia concorde em, diante deste compromisso, reduzir a questão com a Ucrânia ao cumprimento dos acordos de Minsk, firmados após a anexação da Criméia.

Se a China é “comunista” demais, que se agregue ao grupo de fiadores a Índia e Israel, dois países “de direita” que não aderiram à histeria anti-Rússia.

Os governos europeus, perdidos no torvelinho belicista em que entraram, talvez não percebam que esta crise vai realimentar o crescimento da extrema-direita em seus países, que parecia ter sido contido, a considerar os resultados das últimas eleições no continente.

Zelensky tornou-se, em 15 dias, o principal líder da Europa, mesmo fora – por enquanto – da União Europeia e da Otan. Não só é um outsider, mas uma pessoa que conseguiu conviver harmonicamente com todas as organizações de extrema-direita do país.

Tijolaço.

sexta-feira, 4 de março de 2022

NASSIF E O “PARTIDO ÚNICO” NO JORNALISMO. POR FERNANDO BRITO

Ontem, escrevi aqui sobre o comportamento histérico da mídia sendo parte de um processo de “saddanização” de Vladimir Putin, contra o qual tudo vale e nem sequer é possível debater as razões geopolíticas de suas atitudes e tudo se reduz ao “bom ucraniano” contra o “russo mau” que ocupa o Kremlin, já não comunista, mas ainda tão detestável quanto se fosse.

E estamos vendo, na principal emissora de jornalismo do país, a Globonews, metida em episódios ridículos em que esta visão de “partido único” se exprime de modo brutal e grosseiro, atropelando e desqualificando quem, ainda que pouco, divirja da “saddanização” reinante.

Ontem, coube ao veterano Carlos Alberto Sardenberg ser o representante do “brucutu” ocidentalista, partindo para cima do comentarista Guga Chacra, que ousou dizer que a Otan não poderia fazer o que fez hoje a Otan: recusar-se ao risco de combates aéreos com os russos nos céus da Ucrânia.

Vale a pena a leitura que faz Luís Nassif, no GGN, sobre o episódio, mas convém lembrar que não é só no jornalismo que isso se dá. Agora há pouco, o novo herói da mídia, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, dirigiu-se da maneira mais arrogante contra a Otan: “Todas as pessoas que morrerem deste dia em diante também morrerão por sua causa, por sua fraqueza, por sua falta de unidade”, disse agora à noite, segundo o The Guardian.

Falta só se comparar a Luke Skywalker, porque o Darth Wader o Ocidente já arranjou para ele. 

SARDENBERG, AS UNANIMIDADES E A SÍNDROME DO DEDO-DURO, POR LUIS NASSIF

A guerra Rússia x Ucrânia está sendo didática para expor como se dá o processo de formação de consensos na mídia nacional e global, impedindo o livre fluxo de opiniões.

Nem se fale de um irresponsável sem noção, como o presidente da Ucrânia, exibindo-se em entrevista coletiva, falando do seu heroísmo: “se não fosse o presidente da República, estaria na linha de frente com meus soldados”. Nada impediria que Volodymyr Zelenskyy fosse cumprir seu destino heróico na linha de frente. Caxias era comandante e foi para a linha de frente.

Mas ele joga o mundo em uma guerra sem futuro, destrói seu país, aumenta a pobreza mundial, pelos efeitos indiretos do conflito, para se apresentar como “herói” nos salões mundanos da mídia.

E expõe a mídia brasileira ao ridículo.

O vídeo abaixo mostra um episódio grosseiro, de Carlos Alberto Sardenberg “patrulhando” Guga Chacra, ambos comentaristas da Globonews.

Sardenberg é um defensor da autodeterminação dos povos, sem um pingo de sofisticação. Cada país é dono do seu nariz, independentemente das consequências de sua decisão sobre os vizinhos. Convenhamos: é um conceito tosco, que foi exaustivamente explorado na pandemia: uma pessoa tem o direito de não se vacinar, se pode afetar a saúde de outra? Ou seja, é um desafio intelectual acessível até ao senso comum.

Guga Chacra indagou o óbvio: quais as consequências quando a decisão individual de um país afeta os interesses (ou a segurança) de outro país e, no caso, o outro é um país militarmente mais forte? É o caso concreto da reação da Rússia à tentativa da Ucrânia de se filiar à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Daria uma bela discussão, inclusive sobre a necessidade de fortalecimento do multilateralismo. Mas foi imediatamente interrompido por Sardenberg, “acusado” de estar defendendo a Rússia.

O episódio, em questão, é ridículo. Mas repete didaticamente o clima que acometeu o país na ditadura militar e repetiu-se na ditadura civil imposta pela mídia nos últimos anos. É quando qualquer opinião contrária implica em risco para quem ousa ficar contra a unanimidade e se cria a síndrome do dedo-duro, o sujeito que se considera empoderado para delatar fraquezas políticas dos colegas.

No período da Lava Jato, imagine qualquer jornalista dos grandes veículos meramente colocando em dúvida a legalidade da operação. Seria “dedurado” implacavelmente, como foi Guga Chacra, e condenado ao desemprego.

Mas o caso transcende esse episódio ridículo.

Tome-se outro bom tema de discussão: o Itamaraty fez bem ou não em condenar a invasão, mas ser contra a aplicação de sanções econômicas mais severas contra a Rússia?

Tem-se, de um lado, a maioria absoluta dos países condenando a invasão e impondo guerra sem quartel à Rússia. Na outra ponta, dois países – a China e o Brasil do Itamaraty – condenando a invasão, mas deixando a porta aberta para futuras negociações. Como será possível resolver essa guerra sem uma mediação diplomática, sendo que o país agressor não pode ser simplesmente derrotado por ser a maior potência atômica do planeta?

É evidente que terá que haver uma mediação no final. E, havendo, quem serão os países mediadores? É tema para uma discussão rica, mais ainda se forem incluídas peças que faltam nas análises pedestres da mídia – o papel da China e de sua moeda, a rota da seda, a nova divisão geopolítica mundial etc. Por aí se percebe a complexidade do tema e a posição do Itamaraty, coerente com a tradição diplomática brasileira.

No entanto, há uma uniformização da discussão mesmo em outros canais, como a CNN, não submetidos ao patrulhamento primário de Sardenberg (o “patrulhador” da CNN é Boris Casoy, que se apresenta só de manhã). O jornalista que ousar fugir do pensamento binário estará perdido.

No início da discussão, há argumentos explicando a posição do Itamaraty. No final do dia, as opiniões estão uniformizadas.

Cria-se um clima generalizado de emburrecimento em todas as frentes. Não se pode criticar Zelensky para não parecer defesa de Putin. Na ponta esquerda, não se pode criticar Putin, para não fazer o jogo do “imperialismo”.

A maior vítima da guerra, então, é o jornalismo.

Tijolaço.

quinta-feira, 3 de março de 2022

HISTERIA COM A RÚSSIA VAI AO RIDÍCULO E IMPÕE ‘SANÇÃO A GATOS’. POR FERNANDO BRITO

A onda de histeria, que garante lugar de “herói da mídia” a qualquer um que adira a irracional campanha de punição aos russos , importe ou não a evitar o avanço da guerra na Ucrânia ganhou um marco do ridículo na notícia publicada à tarde pela rede de televisão NBC, norte-americana: a proibição da inscrição de qualquer gato russo nos livros da Fédération Internationale Féline, na França.

Os gatos azuis da Rússia são um dos tipos preferidos de criadores mas, ao que se saiba, não são um item relevante na pauta de exportações russas, nem têm orientações ideológicas pró ou anti-Putin.

Como é ridículo o boicote às vodcas que se iniciou nos Estados Unidos. Segundo a Folha, “para as autoridades e empresas americanas e canadenses, retirar as marcas russas das prateleiras e dos cardápios é um símbolo valioso de apoio à Ucrânia e uma forma visível de rejeição internacional a Moscou pela invasão”, atendendo a “apelos” de políticos demagogos.

Outras notícias, claramente propaganda de guerra, são transmitidas com foros de verdade, como esta de que a Ucrânia está convidando mães russas a irem ao país buscarem filhos prisioneiros. Imaginem só as senhorinhas viajando milhares de quilômetros, atravessando fronteiras altamente vigiadas, chegando a Kiev, pegando o rebento e fazendo a viagem de volta, de novo passando em dúzias de barreiras e ponto de controle militares dos dois países…

Bem, mas sempre dá para pedir à produção para arranjar uma velhinha simpática, com direito a cenas de choro e “ai, ai, ai”, se aproveitando do drama humano que é cair prisioneiro de um inimigo de guerra.

Logo poderemos parar de falar em fake news, porque fake e news serão pleonasmo…

Tijolaço.

quarta-feira, 2 de março de 2022

PICARETAGEM ATÉ COM GUERRA? POR FERNANDO BRITO

O candidato de Sergio Moro ao governo de São Paulo, o tal “Mamãe Falei” e o coordenador do MBL um certo Renan Santos, estão protagonizando cenas inacreditáveis.

Depois de terem anunciado uma ida à Ucrânia, postam, na maior cara de pau, fotos de 2016, apelando para a simpatia com crianças, como se fossem destes dias infelizes de agora e abriram um “Pix” para recolher supostas doações para imaginários suprimentos para refugiados e, pasmem, para depositar na conta do “exército ucraniano”.

E dizem ter arrecadado, em poucas horas, R$ 180 mil.

É claro que ninguém tem acesso à existência dos recursos, a sua origem e a seu destino. Quem sabe o Ministério Público se anime a apurar os indícios de um estelionato.

Ah, mas eles são Moroboys e aí vale o mesmo critério da bufunfa paga ao ex-juiz: é só dizer que é “tudo direitinho”.

E aí, Dr. Moro, funciona para o senhor aquele famoso “diga-me com quem andas”?

Francamente, até desta gente abjeta, usar o sofrimento dos refugiados de guerra para arrecadar dinheiro obscuro é mais do que qualquer um poderia esperar.

Tijolaço.

terça-feira, 1 de março de 2022

QUARTA-FEIRA DE BRASAS PARA A ECONOMIA. FERNANDO BRITO

Mercados fechados ou fechando no exterior, já é possível ver a impacto que teremos, amanhã, no mercado financeiro brasileiro e nos preços das commodities que, se dão mais dinheiro aos exportadores, refletem-se impiedosamente nos nossos preços internos.

O petróleo subiu cerca de 10% no exterior. Quando a Petrobras fez seu último reajuste, o barril do tipo Brent custava 85 dólares. Está, agora, a 107, quase 26% de aumento.

Ainda que o dólar permanecesse a R$ 5,15 – e não vai permanecer -, um pelo outro, significa um desnível de 17,8%.

Trigo, soja e milho, entre outras mercadorias, tiveram aumentos expressivos, que vão influir nos preços ao consumidor brasileiro.

Este, porém, é o melhor cenário, por agora.

Pode piorar, se houver de fato a grande ofensiva russa esperada para as próximas horas. Pode sofrer um alívio se a entrada da China na mediação entre Rússia e Ucrânia, embora isso não pareça próximo, ainda que seja a melhor chance que tem, agora, a pacificação.

Mas é preciso reconhecer que estas chances não são grandes, porque é muito difícil que se possam fazer os recuos necessários – retirar as sanções à Russia e dar garantias de que a Ucrânia não se incorporará ao cerco atômico da Otan ao país – sejam mais difíceis do que as tropas deem passos atrás.

Tijolaço.