Não
se diga que é “esquerdismo”, porque é evidente que estaríamos melhor com
líderes de direita como Donald Trump e Ângela Merkel, sob os quais nunca
tivemos de viver as cenas pavorosas que estamos assistindo.
Vejam
como é doloroso e terrível ter de dizer isso, mas é chocante a incapacidade da
Europa em colocar freios a um governo norte-americano que perdeu todos os
limites à contenção de seus apetites, com movimentos que quase dão saudades da
“Guerra fria” onde, ao menos, os temores de um desastre militar (nuclear,
portanto) ao menos continha o padrão de ameaças entre os EUA e a União
Soviética.
Pior
ainda quando encontrou-se para servir de “bucha de canhão” uma Ucrânia liderada
por um “campeão do marketing” que, agora há pouco, com um mar de tanques russos
à porta de sua capital, é capaz de dizer que, para tomar Kiev será preciso
demolir Kiev.
Nem
quando os lançamentos de mísseis balísticos de longo alcance pela Coreia do
Norte ameaçou o equilíbrio de forças mundial os líderes ocidentais partiram com
tamanha força econômica contra um país e que não se diga que o autoritarismo de
Vladimir Putin é o único: superaliada dos Estados Unidos, a Arábia
Saudita executou só ontem , 81 pessoas acusadas de subversão
contra o regime da família real, por ““lealdade a organizações terroristas
estrangeiras” ou manter “crenças desviantes”.
E
na surdina, nem se sabe como lhes aplicaram a pena de morte que, por lá,
costuma ser executada por decapitação. Não parece que seja algo que mereça ser
desprezado pelo “Ocidente Civilizado”, mas passou praticamente em branco.
Nenhum
sacrifício é demais para impedir o massacre das pessoas que ainda estão em Kiev
e muito menos é legítimo que o presidente ucraniano esteja disposto a imolar
seus cidadãos no seu evidente – e bem sucedido, diga-se – esforço para
agarrar-se a chance de tornar-se um líder europeu, o que é hoje, para o
desespero das lideranças do Velho Continente. E, com qualquer desfecho que haja
nesta crise, vai influir nos resultados eleitorais de cada um dos países do
bloco europeu.
E,
com todas as críticas que se lhe possa fazer pelo fato de ser um personagem sem
história política e, até a guerra, um governante apagado, reconheça-se o fato
de que, nestes tempos do “homem-meme” das redes sociais, tinha e aproveitou
o physique du rôle para interpretá-lo, embora eu tenha lá minhas
desconfianças que, justo por isso, irão descartá-lo logo que se tornar
inservível.
O
Ocidente, muitas vezes de forma ridícula como esta proibição de importar caviar
ou de banir o dirigente do clube Chelsea, não é capaz nem de uma medida larga,
que ofereça uma oportunidade de Putin negociar o recuo de seus exército com o
recuo nas sanções econômicas, como estimula e assiste Zelensky bradar por jatos
militares que jamais terá, porque os líderes do “mundo livre” querem a vitória
sem guerra. Ou melhor, com guerra apenas na Ucrânia.
Tem
razão o filósofo francês Edgar Morin, sob cujos olhos um século de história se
passou:
Podemos
defender a Ucrânia sem ser cegos. Temos que ter cuidado com a histeria ligada à
guerra que nos faz ver apenas um aspecto da realidade, que muitas vezes é mais
complexa.(…)Encontramo-nos numa situação paradoxal: tanto não aceitar a invasão
como não fazer a guerra. Daí o tipo de compromisso que é a guerra econômica,
acompanhada de ajuda em armamentos. Nem a força militar nem a fraqueza são uma
solução. A fraqueza é perigosa porque pode dar liberdade às ambições imperiais
russas. Mas o desejo de dobrar a economia da Rússia é igualmente perigoso e
pode ter consequências que não podemos medir.
Esta
história de que o Exército russo está caindo aos pedaços, descoordenado, sem
combustíveis, infelizmente, cairá por terra quando (já restam poucas esperanças
de que se possa aplicar aí o “se”). Os fatos serão brutais e vão lançar o mundo
numa cisão comparável àquela que vivi em minha juventude. Mesmo que se destrua
a unidade territorial da Rússia, com a derrubada – a médio prazo – de Vladimir
Putin, basta olhar no mapa para ver na mão de quem, economicamente, os pedaços
cairão.
Tijolaço.
0 comments:
Postar um comentário