quinta-feira, 31 de março de 2022

O HIPÓCRITA E O TARTUFO TIVERAM O SEU DIA. POR FERNANDO BRITO

João Doria aproveitou o seu dia.

Montou a “Operação Olha que eu me Mato”, que produziu logo cedo aquela história melodramática de que ia deixar de ser candidato, trancar-se no Palácio dos Bandeirantes e, como um monge recluso, dedicar-se apenas a despachar os papéis do Governo paulista. A candidatura presidencial, que tantos queriam lhe tomar, ele a atiraria como quem joga um manto amado aos cães e vai viver em trapos, ainda que, no caso, os trapos sejam das melhores grifes.

Mas, oh! Chocado com a cena, o povo (o de dentro do Palácio e o das bocas em geral) recolhe o manto, põe-no às costas do desapegado príncipe, para que ele enumere o que fez pelo reino e como é sábio, equilibrado e que, portanto, merece ser rei. A um canto, o perverso Duque do Sul, remói-se: dará mais trabalho a ele e Conde das Alterosas tomarem o lugar do galante Agripino.

Sérgio Moro também fez o seu carpe diem. Largou seu lugar na casa modesta do Podemos, onde a mesada era curta e o dinheiro para investir fazia-se pouco e foi para o suntuoso castelo do Conde de Bivar, onde lhe prometeram farta mesa, embora em aposentos modestos de candidato a deputado federal, mas sempre protegido pelo foro privilegiado, imune ao que diz serem os impiedosos ataques dos inimigos lulistas e dos vingativos bolsonaristas, aos quais tempos atrás servira.

A caricatura é, infelizmente, pouco distante dos fatos.

João Doria ganhou os maiores espaços da mídia para anunciar, solenemente, nada. Tudo ficou como estava na véspera, mas ele criou um clima onde, batendo os lábios, soltou o brado piegas: “Sim, sim, serei candidato à Presidência da República pelo PSDB”.

Moro, o magnânimo, proclama, com ar nobre: “abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor”. Mas todos sabem que ele resolveu, entre outras razões, para não ter de abrir a mão com gastos de campanha, que lhe escasseavam no Podemos.

O hipócrita e o tartufo tiveram seu dia no palco. Agora, voltam para a penumbra.

Não fazem mais parte do enredo essencial.

Tijolaço.

quarta-feira, 30 de março de 2022

FRAUDE A GALOPE? POR FERNANDO BRITO

Por volta das 06h20 da manhã de ontem, Jair Bolsonaro deixou o Hospital das Forças Armadas, depois de ter passado a noite internado com um mal-estar forte.

Hoje de manhã, debaixo de sol forte, galopava um cavalo branco no Rio Grande do Norte, para promover sua candidatura.

Quem quiser que acredite que um homem que não passa três meses sem baixar enfermaria pode, em pouco mais de 24 horas, passar do leito à sela, neste meio tempo ainda “passando o cerol” no Ministro da Educação e no presidente da Petrobras.

É evidente que a internação foi mais uma das fraudes a que Bolsonaro sempre recorre quando quer despertar piedade e, com isso, ocultar-se de suas responsabilidade políticas e administrativas.

Mas isso não foi a pior anomalia de sua viagem eleitoreira.

Voltou a ameaçar o processo eleitoral, dizendo que “não serão dois ou três que definirão como serão contados os votos”:

“Podem ter certeza que, por ocasião das eleições de 2022, os votos serão contados no Brasil. Não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos”, disse, em referência a Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE; Edson Fachin, o atual; e Alexandre de Moraes, que será presidente nas eleições, segundo relata a Folha de S. Paulo.

Quem será que vai contar os votos? Os generais? Os pastores do MEC? O Queiroz?

A verdade é que Jair Bolsonaro vive de fazer bravatas e ameaças num comportamento, tenho cansado de dizer aqui, destes de valentão de porta de botequim.

Depois, quando a coisa aperta vem como um “gente, eu estou passando mal…”

Tijolaço.

terça-feira, 29 de março de 2022

MEC: O PECADO MORTAL FOI A FOTO NA BÍBLIA. POR FERNANDO BRITO

De quinta-feira, quando prometeu “por a cara toda no fogo” pelo Ministro da Educação, Milton Ribeiro, o que mudou para Jair Bolsonaro para “aceitar” sua demissão e estar preocupado em que o pastor-ministro desapareça o mais rápido possível?

A meu ver, como já escrevi aqui ontem cedo, foi o aparecimento da “Bíblia Promocional”, estampando as fotos sorridentes do próprio, do pastor Gilmar e do prefeito que bancou a edição, segundo se informa, de 70 mil exemplares para distribuição farta.

A promoção de figuras políticas na Bíblia, para muitos evangélicos, é uma profanação.

E é destas que nem precisam de explicação para mostrarem a promiscuidade entre política e fé.

É por isso que Silas Malafaia e Marco Feliciano partiram para cima de Ribeiro quando foram publicas as “fotos bíblicas”

“VERGONHA TOTAL ! Ministro da educação em foto como a esposa em Bíblia de pastor lobista do MEC . TEM QUE SER DEMITIDO PARA NUNCA MAIS VOLTAR !”, escreveu Malafaia, seguido por Marco Feliciano: “É de um amadorismo sem tamanho um ministro de Estado, permitir sua foto nas páginas de uma Bíblia, e pior, saber que será distribuída em evento político! ”

É a preocupação que a história se espalhe entre o rebanho.

Conhecendo os personagens, não pode deixar de vir à mente o que está escrito em Mateus, 7 (3-5): “E por que reparas tu no argueiro (cisco) que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? / Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? / Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.”

Tijolaço.

segunda-feira, 28 de março de 2022

MAIS UM: BOLSONARO DEMITIRÁ GENERAL DA PETROBRAS, DIZ FOLHA. FERNANDO BRITO

A repórter Julia Chaib, da Folha, publica que “o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, recebeu nesta segunda-feira (28) a comunicação de que deixará o comando da estatal”.

Não é inesperado, embora deva levar ainda alguns dias, para que o cadáver político do general não se amontoe ao de Milton Ribeiro, o ex-ministro da Educação.

Mas a informação que vem em sua reportagem é de apavorar: “Em seu lugar, deve assumir Adriano Pires, atual diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura”.

Pires é um dos mais ferrenhos inimigos da ideia do controle estatal sobre o petróleo e, há poucos dias, escreveu, no Poder360, que “Solução final para preços dos combustíveis é privatizar a Petrobras.”

Ele é um sujeito reacionaríssimo, participa do malsinado Instituto Millenium e esteve na Agência Nacional do Petróleo no período em que, durante o governo FHC e fez campanha aberta para abolir a lei da partilha do pré-sal e a obrigatoriedade de 30% da participação da empresa brasileira na exploração daquelas jazidas ultraprofundas.

Mesmo apenas por alguns meses, Pires é uma ameaça para a sobrevivência da grande empresa brasileira e para sua recuperação para o povo brasileiro.

Tijolaço.

domingo, 27 de março de 2022

BOLSONARO CONSEGUE UM COMÍCIO PRÓ-LULA NO DIA DE LANÇAR CANDIDATURA. POR FERNANDO BRITO

Fiquei aqui me perguntando se valia comentar o discurso do “bem contra o mal” de Jair Bolsonaro no lançamento de sua candidatura.

O essencial já havia dito antes dela acontecer, porque só o que ele tem a oferecer é ódio e Bolsonaro só o confirmou ao levantar a bandeira do “inimigo interno” que precisa ser exterminado:

“O nosso inimigo não é externo, é interno. Não é luta da esquerda contra a direita, é do bem contra o mal. E nós vamos vencer essa luta, porque estarei sempre na frente de vocês“.

Nada além da ditadura, que ele glorificou na pessoa do torturador Brilhande Ustra, seu “amigo”, e fez insinuações sobre o “seu” exército:

“Se para defender a nossa liberdade e a nossa democracia, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja e a certeza do sucesso, é que eu tenho um exército ao meu lado. Ele é composto por cada um de vocês. Poderemos até perdemos algumas batalhas, mas não perderemos a guerra por falta de lutar. Vocês sabem do que estou falando”.

Mas a irrelevância do discurso presidencial fica a cargo da interpretação da mídia, onde ele perdeu, disparado, para a repercussão da inócua tentativa de proibir manifestações contra ele durante um festival.

Reclamando de um suposto e inexistente “showmício”, seus advogados conseguiram, grátis, um imenso comício pró-Lula, com direito a farta cobertura da mídia nacional.

No dia do “lançamento” da candidatura, apanhou feio para o “Fora Bolsonaro” supostamente proibido, mas que se reproduziu no festival de música que, a pedido de seus advogados, se quis reprimir.

Bolsonaro falou para seus fiéis (interprete como queira a palavra). Seus advogados, além de citarem a empresa errada, o que desconfigura qualquer ilegalidade dos vários “fora bolsonaro” que povoaram a exibição de hoje dos artistas, fizeram que a oposição a ele falasse para o país inteiro.

Cada vez mais, a população entende a violência que terá esta campanha. E vai saber evitá-la.

Tijolaço.

sábado, 26 de março de 2022

BIDEN PREGA DERRUBADA DE PUTIN E ESCALA A GUERRA NA EUROPA. POR FERNANDO BRITO

Na sua escalada verbal contra a Rússia, o presidente dos Estados Unidos passou de qualquer limite a que um chefe de Estado deve se impor e, além de chamar Vladimir Putin de “carniceiro” disse que ele “não pode permanecer no poder”.

Por mais condenável que seja a ação russa, não há possibilidade de que, hoje, o presidente da mais poderosa nação do planeta peça abertamente a derrubada do presidente de outro país, ainda mais outra potência nuclear.

Foi tão desastrada a fala de Biden que, logo depois, segundo o NYTimes, a Casa Branca saiu a dar explicações de que o presidente dos EUA não havia sugerido “uma mudança de regime” na Rússia, mas que o sentido era o de que “Putin não pode exercer poder sobre seus vizinhos ou a região”.

O fato objetivo é o de que não deve haver no mundo pessoa mais feliz com Vladimir Putin que Joe Biden.

Fraco, inexpressivo, enfrentando uma fortíssima queda de popularidade, devastado por uma inflação altíssima (8%) para os padrões de seu país, e uma figura nula perante o mundo – todo o seu suposto empuxo ambientalista do início do mandato tinha se esvaído -, Biden agarrou-se à crise ucraniana e a oportunidade de ir além da retórica belicista da Guerra Fria.

Ajudam-no uma Europa fraca, sem líderes – Boris Johnson metido em escândalos, Olof Scholtz, frágil e inexperiente, e Emmanuel Macron, à beira de uma eleição difícil – e a China mais cautelosa do que sempre é, às voltas com uma nova onda da Covid, fechando cidades e preocupada com a perda do vigor da economia.

Até para as pessoas menos acostumadas aos jogos de palavras da diplomacia está ficando evidente que Biden não tem o menor interesse em uma saída negociada, que pare a guerra e a morte, mas que cinicamente se vale das cenas de morte e horror da Ucrânia para, ainda que com sinais evidentes de decrepitude, surgir como “campeão do mundo livre”.

Ainda que isso o faça forçar os limites de um conflito que pode, com um mero apertar de botão, evoluir para uma guerra mundial, de proporções devastadoras.

A mídia, quase que unanimemente, repete que os russos estão militarmente atolados e que os cidadãos do país estão quase que sublevados contra Putin, que estaria, portanto, à beira de cair. Isso justifica, claro, forçar a barra por uma “vitória final” sobre o regime russo que desconsidera todo o poder que ele tem e que, por mais que nos choquem as cenas de destruição na Ucrânia, não chega nem perto do cenário que o uso de armas nucleares deixaria. Quem duvidar, olhe as fotos de Hiroshima e Nagazaki.

A propósito, ninguém chamou o então presidente dos EUA, Harry Truman, de “carniceiro”.

Tijolaço.

sexta-feira, 25 de março de 2022

PICARETAGEM EMERGENCIAL: MULHER E FILHA DE PASTOR RECEBERAM AUXÍLIO. POR FERNANDO BRITO

Informação publicada por Guilherme Amado no site Metrópoles diz que a mulher do pastor Gilmar Santos, a também pastora Raimunda dos Santos, casada com Gilmar, recebeu R$ 4.650 de auxílio durante a pandemia, de junho de 2020 até outubro do ano passado.

A filha de Gilmar., Quézia dos Santos, recebeu R$ 5,2 mil de auxílio do governo federal, entre abril de 2020 até julho de 2021. Um mês antes do recebimento, Quézia ganhou um cargo de confiança na Câmara dos Deputados, no gabinete do deputado João Campos (Republicanos-GO), onde recebe R$ 4,2 mil mensais.

Se aconteceu, corrupção rastaquera, de quem não pode ver uma nota de real sem querer pegá-la.

Um após outro, os fatos escandalosos vão aparecendo e, com isso, além dos pastores, crescem as possibilidades de que Mílton Ribeiro, o ministro da Educação.

Mantê-lo no cargo, a cada minuto, vai criando uma saia-justa para Bolsonaro.

Porque um escândalo mede-se menos pelos valores e mais pela desfaçatez.

Tijolaço.

quinta-feira, 24 de março de 2022

PRESIDENTE DO SENADO FAZ CARA DE MAU, MAS É UM FROUXO. POR FERNANDO BRITO

Não interprete como severa a determinação do presidente do Senado (e, portanto, do Congresso), Rodrigo Pacheco, de dar dez dias para que todos os parlamentares indiquem quais foram as emendas que propuseram no “Orçamento Secreto” dos anos de 2020 e 2021, para que se atenda, finalmente, a ordem dada pela ministra Rosa Weber de tornar público quem levou, quanto e para onde bilhões do dinheiro público.

Quantos dos 594 deputados e senadores vão, espontaneamente, confessar exatamente o que empurraram, na surdina, para suas bases eleitorais ou para onde os negócios se afiguravam promissores? Ainda mais se a negativa de informar não tiver de ser confrontada ao que, de fato, foi encaminhado pelo relator do Orçamento, ou relatores, no caso: os senadores Domingos Neto (PSB – CE) e Marcio Bittar ((PL-AC), uma vez que eles são os responsáveis pela solicitação dos valores ao Executivo e recebem os pedidos de apoiamento dos parlamentares.

Ambos se recusaram a fornecer as informações do que foi recebido e encaminhado por ele para ser pago.

E Pacheco, em lugar de obrigá-los, com os poderes regimentais que tem, resolveu “democratizar” a responsabilidade: cada um informa o seu.

Em lugar de dois responsáveis, teremos quase 600 irresponsáveis, porque é impossível cotejar o que disserem (ou não disserem) com a realidade.

Pacheco está sendo apenas o que é, um covardão cúmplice, comprometido até a medula com este esquema de distribuição obscura de verbas públicas, até porque ele sucede Davi Alcolumbre, este varão da República, na designação dos relatores e não há de ser lá que se revoga o dito popular de que “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é bobo ou não tem arte”.

Bobo, Pacheco não é. Artes, sim, deve ter feito muitas, como todo cara que posa de santarrão.

Tijolaço.

quarta-feira, 23 de março de 2022

VOTO ACIMA DE TUDO, POR FERNANDO BRITO

Milton Ribeiro vai para o sacrifício, mais dia, menos dia.

Não chega a ser um “cordeiro de Deus”, inocente, que vai ser imolado para purgar o oceano de negócios que se tornou a relação de Jair Bolsonaro com os evangélicos – sejam os que se organizam para o saque nas bancadas governistas do Centrão, seja no submundo da picaretagem de varejo, que exploram, a peso de ouro (literalmente, 1 kg), a traficâncias de prestígio e poder nos ministérios – agora o da Educação e, vimos antes na CPI da Covid, os da Saúde.

Mas resolveu criar uma “apoio evangélico próprio”, usando os pastores com acesso direto ao Planalto e deu-se mal, embora, de boca, ainda esteja recebendo apoio da família presidencial. Que, por sinal, estava satisfeita com ele e franqueava a Ribeiro as portas da intimidade domésticas.

Não será o suficiente, mas não pelo escândalo nacional que se produziu, mas porque a a estrutura chantagista do Centrão – em boa parte formada pela bancada evangélica – não pode ser melindrada justo quando é preciso que os púlpitos estão para ser convertidos em palanques.

Esta é a razão central pela qual a “bancada evangélica” quer se dissociar do episódio e, e possível, mandar Mílton Ribeiro, como ao bode expiatório, para o deserto do esquecimento.

Muitos podem não crer, mas o escândalo que importa é o que se causa entre os fiéis evangélicos que não querem – e não tem razão – para serem castigado pelas maracutaias daqueles e de outros pastores.

É gente, em geral, trabalhadora e humilde, sendo acossada pelo cavaleiro do Apocalipse de nome inflação que, como no livro, faz dizer: “Só um quilo de trigo ou três quilos de cevada por um denário, mas não há azeite de oliva nem vinho”.

O apoio a Bolsonaro por manipulações de pastores, que já enfrenta problemas entre o povão, já minguou e tende a minguar mais, com a crise econômica.

Bolsonaro não pode se dar ao luxo de “bancar” Ribeiro, por mais que D. Michelle lamente.

Entre o pastor do MEC e a chance de salvação, a escolha é certa.

Tijolaço.

terça-feira, 22 de março de 2022

STJ MANDA DELTAN INDENIZAR LULA POR ‘POWERPOINT”. POR FERNANDO BRITO

Por maioria, contra apenas um voto – o da Ministra Isabel Gallotti – o Superior Tribunal de Justiça condenou o ex-produrador Deltan Dallagnoll a indenizar em R$ 75 mil, acrescido de juros de mora desde 2016, por ter exibido o famoso PowerPoint onde o ex-presidente Lula era apontado como o centro de uma organização criminosa, com acusações que sequer constavam da denúncia que estava sendo apresentada ao então juiz Sérgio Moro.

Para o relator do caso, Luís Felipe Salomão, disse que “a espetacularização do episódio” por Deltan, “não é compatível nem com o que foi objeto da denúncia e nem parece compatível com a seriedade que se exige da apuração desses fatos” e propôs indenização de R$ 100 mil, mais correção, juros de mora e honorários da defesa, em 20%. Mas, para compor com ministros que propunham menos, reduziu a pena pecuniária a R$ 75 mil, com os mesmos complementos.

O único voto divergente, da Ministra Gallotti, discordou da ação contra Deltan, achando que ela devia ser discutida sobre o Estado, pelo fato de que ele atuava como procurador. Mas a maioria entendeu que, por se tratar de um ato personalíssimo: usar a ilustração ofensiva em uma entrevista, a responsabilidade era pessoal.

Foi uma enorme vitória de Lula, que pode agora reagir a qualquer reexibição daquele material, porque já reconhecido judicialmente como gerador de dano moral.

Tijolaço.

O DESAFIO DE BOULOS. POR FERNANDO BRITO

Reproduzo, abaixo, o vídeo distribuído por Guilherme Boulos em suas redes sociais, porque considero uma demonstração raríssima de como ainda há, em nosso país, lideranças política com grandeza e visão que vão muito além de seus interesses e ambições pessoais.

É algo, inclusive, que deveria ser assistido por muita gente da esquerda, inclusive do PT, que não hesita em assumir posições que -embora o neguem, afirmando seu apoio pessoal a Lula – prejudicam o esforço de unidade que, sem prejuízo das diferenças, é necessário para enfrentar o grande mal que se abateu sobre o Brasil.

Boulos tinha todas as credenciais para pretender candidatar-se a governador. Seu magnífico desempenho como candidato a prefeito de São Paulo o habilitava a isso. Nem mesmo reciprocidade poderia ser levantar-se como argumento, por o PT manteve seu candidato no primeiro turno daquela disputa.

Demonstrou uma grandeza pessoal e, também, um atilado faro político. Ao desafiar a votação de Eduardo Bolsonaro, não só deu à sua candidatura um sentido de enfrentamento “presidencial” como, por simetria, acentuou sua ligação com Lula.

A rigor, Guilherme Boulos não abriu mão de ser candidato a governar São Paulo, apenas adiou este momento e habilitou-se a ser, em 2024, a ser candidato à prefeito da capital paulista.

Mas, acima de tudo, provou que é um quadro que tem décadas de serviços a prestar ao povo brasileiro, com qualidades que estes tristes tempos tornaram escassas.

Tijolaço.

sexta-feira, 18 de março de 2022

LULA TEM O DOBRO DAS INTENÇÕES DE VOTOS DE BOLSONARO EM MINAS, DIZ PESQUISA

O valor é entre os eleitores de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país; Entenda os números da pesquisa.

Lula. Foto: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem um pouco mais que o dobro das intenções de voto de seu principal opositor, Jair Bolsonaro (PL). O valor é entre os eleitores de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. Esses dados são da pesquisa Quaest/Genial, divulgada nesta sexta (18).

Petista soma 46% das intenções de voto contra 21% de Bolsonaro no primeiro cenário pesquisado. Eles têm ampla vantagem sobre o terceiro colocado, Sergio Moro (Podemos), que tem 6%.

Na sequência vêm Ciro Gomes (PDT), com 5%, André Janones (Avante), 3%, e João Doria, 2%. Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira têm 1% cada. Eduardo Leite (PSDB) e Felipe d’Avila não pontuaram. Brancos e nulos ou não pretende votar são 9%; indecisos, 5%.

DCM

quinta-feira, 17 de março de 2022

FOLHA ‘PAGA MICO’ COM ALCKMIN. POR FERNANDO BRITO

O “mico” pago pela Folha, esta tarde, é daqueles antológicos.

Publica, como manchete do site, a informação de que “Justiça Eleitoral arquiva inquérito contra Alckmin por suspeita de caixa 2“, exatamente na mesma posição em que, ontem, dera a manchete de que uma delação sobre isso teria sido “homologada“.

Poucos minutos depois, a machete “caiu” lá para o pé da homepage, com um “reforço” em que diz que a Justiça teria “aceito”outra acusação, desta vez relativa a supostos repasses da Odebrecht às campanhas do ex-governador.

O caso é uma barafunda, porque o próprio acordo de delação foi “reformado” pelo ministério público porque, segundo publicou o Estadão, no ano passado, o “Conselho Superior do MP de São Paulo anula [anulou] acordo de R$ 700 milhões de Promotoria com Ecovias e arquiva [arquivou] inquérito sobre cartel, caixa 2 e propinas a políticos“.

Sem acesso ao inquérito, que está sob sigilo, é evidente impossível opinar sobre seus fundamentos e afirmar se há indícios suficientes ou tudo repousa apenas na palavra de um delator, o que não é aceito pela Justiça, óbvio.

Daí, porém, a sair catando casos que possam amenizar o seu – sejamos gentis – erro de ontem, a conversa é outra.

Só o fato de um jornal desmentir-se (sem admitir que o está fazendo) de um dia para o outro mostra que a coisa parece ser uma folhice do mesmo tipo da “catação” de críticas de Boulos a Alckmin em campanhas anteriores, dizendo que o líder dos sem-teto “em breve, terá que “balançar a cabeça positivamente para o ex-tucano, pois ambos estarão juntos na aliança em torno da candidatura presidencial de Lula”.

Ora, o fato de que Boulos não pensa igual a Alckmin – e que nenhum dos dois pensa igual a Lula – é o que torna importante a aliança eleitoral dos três na campanha presidencial, evidenciando que não se precisa pensar igual em tudo para considerar que nada é mais importante que barrar o caminho do autoritarismo e tirar o país da situação desastrosa em que está.

Se não houvessem tantas diferenças e por tanto tempo, a aliança não teria importância alguma.

Tijolaço.

quarta-feira, 16 de março de 2022

BANCO CENTRAL “PEGA LEVE”, À ESPERA PARA ELEVAR AINDA MAIS OS JUROS. POR FERNANDO BRITO

Os 11,75% a que o Banco Central elevou hoje a taxa pública de juros não são propriamente uma “pequena alta”, porque – é bom lembrar – há um ano ela era de 2%.

Mas, dadas as circunstâncias, foi uma decisão cautelosa, esperando para ver nos índices de inflação o impacto dos reajustes generalizados que estamos vendo, de um lado e, de outro, qual será a tendência da economia mundial nos próximos meses, como resultado de um provável “esfriamento” da China, da disputa inflação altíssima versus juros em alta progressiva nos EUA e Europa e,claro, se haverá continuidade no aumento dos preços do petróleo.

Como as previsões de inflação brasileira ainda estão abaixo dos 8 – 8,5%, considera-se que o nível de remuneração real do capital será suficiente para manter o fluxo de dinheiro do exterior e assegurar um “bom comportamento” do dólar, talvez com mais duas ou três rodadas de elevação da Selic.

O problema é que é provavelmente falsa a premissa de que parte o BC ao apontar sinais de uma economia ainda em expansão – ” a divulgação do PIB do quarto trimestre de 2021 apontou ritmo de atividade acima do esperado”, diz seu comunicado – quando os sinais de retração já são bastante evidentes e tendem a piorar com a elevação ainda maior dos juros. Também está fora da conta a turbulência eleitoral e os indícios cada vez mais claros de desequilíbrio fiscal e de queda nas expectativas dos agentes econômicos.

É ml menor, contudo, que uma elevação brutal das taxas, como queriam alguns “tubarões do mercadismo, que propunham uma elevação de 1,5%. Pesou também a decisão do Federal Reserve de aplicar uma correção de 0,25% apenas – em lugar do 0,5% que chegou a ser cogitado, nas taxas dos títulos do Tesouro dos EUA, o que continua fazendo do Brasil uma enorme fonte de lucros com a arbitragem – isto é, a troca – da taxa externa com a interna.

Tijolaço.

segunda-feira, 14 de março de 2022

O OCIDENTE QUER UMA SAIDA NEGOCIADA PARA A PAZ? POR FERNANDO BRITO

Embora não tão promissores, os sinais emitidos por Vladimir Putin e Volodimir Zelenskyi de que pode haver algum entendimento para que, ao menos, seja adotado um cessar fogo no conflito Rússia-Ucrânia esbarram em um obstáculo que é intransponível, exceto por uma concessão russa.

Explico: Putin pode mandar parar o avanço de seus tanques e tropas, suspender o lançamento de mísseis e interromper missões de sua aviação em território ucraniano, como é necessário, não há dúvida.

Mas não é crível que a compensação a isso seja mandar parar de jogarem garrafinhas de gasolina nos tanques ou congelar as barricadas ucranianas, porque a contrapartida ao avanço militar russo não é feita com isso, mas com as sanções econômicas ao país.

Portanto, numa negociação diplomática eficaz, a moeda de troca teria de ser essa: parar a escalada de sanções econômicas à Rússia e isso está fora do controle das autoridades ucranianas, ainda que o quisessem e, ao menos nos discursos, não parecem querer.

Esta guerra não é o confronto de egos ente Putin e Zelensky, mas um rearranjo das estruturas mundiais de poder, onde as decisões vão muito além de Kiev e Moscou, estão em Washington e Beijing.

Tanto quanto Moscou não quer ter a Otan no seu quintal, Beijing não quer ter uma Rússia controlada pelo Ocidente.

Basta saber que a fronteira sino-russa tem mais de 4,200 km, maior do que a dos limites sul e norte do Brasil, do Oiapoque ao Chuí.

Enquanto os EUA jogarem com a destruição do atual governo russo – a queda de Putin – e a sua substituição por uma incógnita, porque nas eleições do ano passado só ele, com os 50% do seu partido “Rússia Unida” e o Partido Comunista, com 20%, mostraram ter base suficiente para se apresentarem como forças nacionais e, certamente, não é ao PC que o Ocidente quer entregar o maior território do mundo.

E parecem continuar com isso, com a acusação pública de que estaria havendo um pedido russo de armas chinesas, um despautério, porque se falta algo à Rússia nesta guerra não é arsenal, que tem suficiente para destruir 100 Ucrânias e o próprio planeta.

O cenário da guerra é outro, o da destruição da capacidade ucraniana de defesa, com a anulação de suas bases de defesa aérea – aviação e radares, que já permitiram incursões aéreas como a de hoje, nos limites ocidentais da Ucrânia, sem riscos de interceptação aeronáutica ou por defesas terrestres.

Esta é a questão: o Ocidente quer uma saída negociada para a paz? Reduzir ou mesmo eliminar as sanções à Rússia se ela retirar suas tropas da Ucrânia dariam àquele país as condições de voltar à diplomacia,

Enforcada, ela não recuará.

Tijolaço.