segunda-feira, 18 de abril de 2022

O DISCURSO DE BOLSONARO: SAIR DA RETA E AMEAÇAR COM FRAUDE. POR FERNANDO BRITO

Não penso que Jair Bolsonaro seja um idiota mal-informado, sem noção da realidade.

Sim, ele é um tipo imbecil, grosseiro, estúpido, desumano e insensível, mas certamente é dono de um tino eleitoral que o levou ao lugar que, desafortunadamente para os brasileiros, ocupa agora.

E é, também com certeza, muito bem alimentado por pesquisas e análises que a máquina de informações militar-palaciana lhe provê.

Por isso, convém prestar atenção nos rumos que toma seu discurso, ainda que tatibitati, recheado de palavrões e metáforas, se é que chegam isso, de cunho sexual.

E há dois pontos que têm sido frequentes em seu discurso – além, claro, da exploração da religião e da ideia de que ele, e só ele, é o ungido por Deus para governar o Brasil.

O primeiro deles é o “tirar o corpo fora” das responsabilidades sobre a crise econômica. Não promete solução, dá-se absolvição pelos preços em alta e o poder aquisitivo em forte baixa. Diz que a culpa é do “pessoal do fica em casa”, da guerra da Ucrânia, “dos governos do PT” (que terminaram há seis anos!) e que a inflação “vai continuar por uma tempo”.

Isto é, procura desvencilhar-se de um quadro que não resolverá e que, calcula, pode até piorar. Tenta absolver-se das culpas sobre isso, que sabe que será o centro do discurso da campanha do PT.

Como qualquer garoto covarde, acha que o “não fui eu” o deixa fora das cobranças por uma situação desastrosa.

O segundo ponto que voltou a ser recorrente nas falas presidenciais é aquilo em que ele insiste em possíveis ameaças de fraude eleitoral e na parcialidade do TSE, mais especificamente dos ministros Alexandre de Morais, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, respectivamente futuro, atual e ex-presidentes da Corte Eleitoral.

E, neste caso, é o movimento de preparação de uma inevitável tentativa de “melar” a eleição, questionando a sua legitimidade e, em consequência, os seus resultados ou, mesmo antes, as suas tendências.

São, ambas, “pregação para convertidos”, discursos voltados apenas para seus seguidores: o primeiro como contra-argumento frente à realidade; o segundo para criar clima de desconfiança e medo.

Foram usados no segundo semestre do ano passado e não se refletiram em melhoria dos seus índices de popularidade. Retomá-los agora é sinal de que sente-se mais ameaçado eleitoralmente.

O que exige da oposição mais cabeça fria e prudência para não lhe dar mais combustível para o ódio e o terror que movimentam sua máquina.

Tijolaço.

domingo, 17 de abril de 2022

DORIA, ‘RIFADO’, DEVE LEVAR “CABEÇAS BRANCAS” DO TUCANATO A APOIAREM LULA. POR FERNANDO BRITO

“Se Doria for rifado, FH e tucanos históricos devem ir com Lula”, diz Guilherme Amado em sua coluna no Metrópoles.

Se for rifado?

Nem mesmo Doria duvida que foi e a esta altura deve estar arrependido em ter – logo ele, um especialista em “não vale o que está escrito” – acreditado na carta do presidente do partido, Bruno Araújo, confirmando o apoio a sua candidatura e dizendo que estava na coordenação da campanha dorista à Presidência apenas para fazer com que o “candidato” não desistisse de deixar o governo e conservasse, assim, o poder dentro do partido.

Sua “candidatura”, agora, só lhe serve para atrapalhar os planos dos seus algozes e ele não tem nenhum interesse em terminar o processo eleitoral com 2 ou 3% dos votos, ou até menos, a seguir a polarização que vai se tornando completa nas eleições.

Fernando Henrique Cardoso – e toda a velha guarda do tucanato – já tem simpatia zero por ele, embora dissessem que seguiriam a “fidelidade partidária”.

Mas não há fidelidade nem a contragosto quando a própria direção do partido trai seu candidato.

Ainda mais com a “porta” Alckmin aberta na chapa de Lula.

Os “cabeças brancas” do tucanato se omitiram em 2018 e isso ajudou a chegar onde chegamos. Têm uma chance, embora tardia, de não repetir o desastre.

Tojolaço.

sábado, 16 de abril de 2022

DORIA, O SUICÍDIO DO PSDB E O PERIGO PARA O PT. POR FERNANDO BRITO

O afastamento do presidente do PSDB, Bruno Araújo, do comando da campanha de João Dória – lugar em que, todos viram, só desempenhava o papel de sabotador – é só mais uma das pás de cal que vai sendo depositada sobre aquele que foi, goste-se ou não, o partido da direita no Brasil desde o início dos anos 90.

O que resta a Dória são os cacos do que fez como governador do Estado – aliás, num desempenho que esteve longe de ser desastroso – mas que mostra que não tem significado político nacional, e que torna o tucanato menos do que sempre foi. Se não passava das fronteiras de São Paulo, apenas atraía com o poder deste estado, agora nem mesmo para dentro das terras paulistas já funciona.

Nem mesmo a candidatura à sua sucessão, um “implante” do DEM no tucanato feito por João Doria, vai bem das pernas: Rodrigo Garcia tem 6% e dá sinais de que esconderá o patrono na campanha.

Entre os adversários de Doria dentro do partido, a situação não é melhor, com Eduardo Leite fazendo reuniões e articulações (?) não se sabe em nome de quem, além dos dirigentes nacionais que sabotam as próprias prévias internas que anunciaram como uma revolução na vida partidária.

Em apenas seis anos, desde que foi candidato a prefeito de São Paulo, Doria adonou-se do berço do tucanato, numa escalada de traições e oportunismo que levou o PSDB a estar perto da dizimação total em seu maior e agora último reduto.

O PSDB em franco declínio leva a eleição em São Paulo, também, para uma ievitável polarização, porque Tarcísio de Freitas já vai se consolidando como o candidato do bolsonarismo, em oposição a Fernando Haddad.

Incrivelmente, Marcio França, inimigo figadal de Dória, teima com sua candidatura de olho no espólio tucano pode deixar Fernando Haddad numa situação perigosa de, em lugar de aliado, parecer rival de Geraldo Alckmin.

Tijolaço.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

MÁ NOTÍCIA PARA BOLSONARO: REJEIÇÃO A LULA ESTÁ EM QUEDA. POR FERNANDO BRITO

Divulgados agora cedo, os dados sobre rejeição da última rodada da pesquisa PoderData mostram que, ao contrário do que parte da imprensa sugeriu, não há evidências de que possa estar havendo alguma erosão da candidatura do ex-presidente Lula, porque, como tenho insistido, a polarização faz com que essa eleição presidencial seja, antes de tudo, uma batalha de rejeições, seja a ele seja a Jair Bolsonaro.

Lula teve 38% de declarações de que “não votaria de jeito nenhum” nele, seis pontos a menos (muito fora da margem de erro) do que o registrado há um mês atrás. Bolsonaro ficou nos mesmos 51% da pesquisa anterior, número que está em linha com o dos que consideram “ruim ou péssimo” o seu governo, 53%.

Nas respostas “é o único em quem votaria” e “poderia votar”, Lula soma 59% (44 e 15%, respectivamente), contra 45% de Bolsonaro (32 e 13%, em cada opção). Os quesitos “poderia votar” e “não votaria”, que aceitam várias respostas, explica o total maior que 100%.

A soma das decisões de voto cristalizadas na expressão “é o único em quem votaria” nos dois principais candidatos, que vai a 76%, considerada uma parcela de outros 10% que não votam válido (nulo, branco ou abstenção eleitoral real, não a “de cartório”, que tem muitas distorções) deixa algo em torno de 14% apenas dos votos flutuando e, pelo grau das rejeições, mais propícios escolher Lula que Bolsonaro.

Os números também ajudam a entender porque a estratégia do atual presidente é apostar na radicalização, no fanatismo e no medo. Ele quer e precisa consolidar sua base fiel, sem a qual não terá um ponto de partida para atrair os que, mesmo dizendo rejeitá-lo, possam recusar a escolha de Lula. Ou não foi assim com parte dos “moristas”?

A Lula, é preciso calma e prudência, para não se deixar alvejar pelo fogo da hipocrisia. Com o perdão pelo cacófato, é só a uma fé disforme o que tem Bolsonaro a agarrar-se, como se Deus fosse seu cabo eleitoral.

Tijolaço.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

MORO E BIVAR ESTÃO ‘COMBINADINHOS’?. POR FERNANDO BRITO

O tipo de métodos usados para atingir um fim costuma identificar qual é a natureza deste objetivo.

Reinaldo Azevedo, no UOL, e Renata Agostini, na CNN (vídeo ao final), levantam a possibilidade que o “lançamento” da “candidatura presidencial” (note-se quantas aspas) de Luciano Bivar, presidente do União Brasil seja, na verdade, um expediente para “guardar lugar” para Sergio Moro numa chapa presidencial, o que Reinaldo chama de “Cavalo de Troia”.

Numa palavra, um espécie de golpe de esperteza sobre os demais partidos e um golpe na dinâmica eleitoral, claro que facilitado, como todo estelionato, pela ambição das próprias vítimas.

Dada a natureza dos personagens envolvidos, não é de se duvidar.

Mas acho que, a esta altura, a “desistência da desistência da desistência” de Moro não tem espaço para nada além de tomar de volta um ou dois “pontinhos” de Bolsonaro, porque a figura do ex-juiz se tornou tão patética que não chegará nem ao pouco que chegou antes.

Ocorre, porém, que Luciano Bivar não é homem de guardar rancores quando se trata de fazer negócios. E nada impede que ele negocie com Bolsonaro – deixo ao leitor a ideia de em troca de quê – justamente o contrário: o não-retorno de Sergio Moro à disputa e que aqueles 2% fiquem para onde já migraram: o atual presidente.

Os integrantes do “Clube dos Candidatos da 3ª Via” – Simone Tebet e Eduardo Leite, sobretudo – não são ingênuos, como autores ou vítimas, em matéria de traição política e, por isso, sabem que a candidatura de Bivar a presidente – é mais sem pé ou cabeça quanto a deles e, portanto, não adianta que ele balance o pote de ouro do Fundo Eleitoral do União Brasil.

Para Bivar prometer que vai sair dali é preciso que ele saiba onde vai entrar verba sem carimbo, ainda que com digitais.

Tijolaço.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

BOLSONARO ‘PROMETE’ INFLAÇÃO ALTA ‘POR LONGO TEMPO AINDA’. POR FERNANDO BRITO

Se o presidente da República anuncia, em solenidade oficial, que “a inflação na questão alimentar terá que ser convivida (sic) por um longo tempo ainda”, será que o Seu Zé, que está pagando 40% a mais no saco de batata e de 10 a 20% a mais na caixa de tomates do que pagava, no atacado, para levar à feira estes produtos, vai moderar o preço no varejo para recuperar o baixo ganho na semana que vem?

Será que o seu Geraldo, precista daquela rede de hortifrútis vai pensar em promoção para as verduras que não baixaram de preço no Ceagesp?

Alface, tomate e batata não têm nada a ver com a Guerra da Ucrânia, que Bolsonaro aponta como causa dos aumentos. Têm a ver, além da chuva e do sol, com a expectativas dos preços internos.

A alta dos preços da cesta básica, que já alcançou níveis absurdos, não vai recuar e a fala presidencial só o confirma.

Nos demais preços, estamos “pendurados” na apreciação do Real que, sabem-mo até as pedras de Wall Street, se sustenta na insignificância dos juros norte-americanos frente à inflação que é alta mas, ao contrário do que diz Bolsonaro, é menor que nossa e, portanto, depreciativa para moeda brasileira.

Bolsonaro aposta em um cenário absolutamente temerário, achando que a situação internacional lhe servirá de álibi para um eventual descontrole de preços maior do que temos hoje.

Difícil contar isso em Nova Iguaçu, Duque de Caxias ou em Osasco.

Tijolaço.

terça-feira, 12 de abril de 2022

MILITAR VIRAR CHACOTA, MAIS UMA OBRA DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Na sua coluna no UOL, o jornalista Tales Faria é preciso no julgamento: “o presidente Jair Bolsonaro não tem conseguido sucesso na gestão da economia ou da saúde da população, mas saiu-se vitorioso na desmoralização dos militares, especialmente do generalato do país”.

Nos três últimos dias as notícias são um prato cheio para a chacota com os dirigentes das Forças Armadas: compra de Viagra, de remédios para a calvície e até de próteses penianas.

Outros governos, que os generais tanto odeiam, compraram-lhes armamentos, caças modernos, submarinos.

As desculpas médicas são deploráveis, porque até os meio-fios caiados dos quartéis sabem que, ainda que eventualmente necessários como terapia, não são para todos os militares, de todas as patentes, mas para a alta oficialidade.

Sigo com Tales:

Bolsonaro conseguiu promover um verdadeiro estrago na imagem dos militares, que vinha se refazendo nesses anos de respeito à democracia pós-ditadura. O presidente começou a desmoralizá-los, primeiro distribuindo cargos aos milhares no governo. Mostrou que, em troca de um acréscimo no soldo, a turma poderia se comportar da mesma forma que aquele grupamento político que tanto criticavam.

Mas é pior, senhores. Trata-se da sua desmoralização perante a tropa, como se fossem aproveitadores daquilo que a ela é negado, mesmo quando necessário.

Os cochichos, as risadas – até sem a sensibilidade devida a quem tem problemas de saúde, o que é perverso – os apelidos jocosos, a esta altura, proliferam nas casernas, ferindo a liderança de quem, como profissional de defesa, deveria ter o respeito e o permanente acatamento de seus subordinados.

É inevitável e péssimo que ocorra, mas quem quis a ribalta que não lhe pertencia tem de aguentar as luzes que se lança sobre quem quer subir ao palco que não lhe pertence.

Tijolaço.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

NÃO HÁ LEI PARA BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

A Advocacia Geral da União, num completo desvio de finalidade da sua função de defender o Estado brasileiro, bem poderia trocar seu nome para “Advocacia Geral do Jair”, fazendo par com o Ministério “Impudico” Federal na tarefa de blindarem o atual Presidente da República de qualquer consequência de seus atos.

Agora, pede o arquivamento da investigação sobre o patrocínio presidencial aos “pastores do MEC”, dizendo haver apenas uma “menção indevida” a Jair Bolsonaro no áudio em que o ex-ministro da Educação, Mílton Ribeiro, diz que atendê-los é um “pedido do Presidente”.

Em outro front, no Congresso, cuida-se de fazer alguns acertos para que senadores retirem suas assinaturas de apoio a uma CPI do MEC, para apurar estes e outros fatos, em troca do que deixo ao leitor imaginar.

A economia com que tratei esta natimorta CPI já era fruto da constatação de que, no Brasil de instituições corrompidas que há hoje, nada é capaz de furar a blindagem de impunidade que se construiu ao redor dele.

Nem mesmo um possível crime de morte encomendada, como sugerem as gravações da família do ex-PM miliciano Adriano da Nóbrega anima promotores e procuradores a investigar.

Nem aquela morte, nem as quase 700 mil outras que restaram da pandemia criminosamente “enfrentada” com Ivermectina, Cloroquina e outras prescrições charlatãs.

Esqueçam qualquer possibilidade de que Jair Bolsonaro venha a ser responsabilizado por estas e quaisquer outras barbaridades.

O sistema de Justiça no Brasil só voltará a existir com a sua saída do poder, isso se não for bem sucedido em continuar nele, mesmo derrotado eleitoralmente.

Tijolaço.

domingo, 10 de abril de 2022

A TERRA PLANA E O LADO ESCURO DA LUA. POR FERNANDO BRITO

É surpresa para ninguém a retirada de duas assinaturas de senadores do Podemos – os ex-moristas Oriovisto Guimarães e Styvenson Valentim – do pedido de instalação de uma PI para apurar a corrupção no MEC.

É que, como diz o chefe do Centrão, Ciro Nogueira, a corrupção, agora, “é virtual”.

E, portanto, como disse Janio de Freitas, “não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro”.

O país que arde na inflação, “está dando certo” com a “dobradinha centrão e militares” segundo o mesmo Nogueira.

Vivemos já nem na Terra Plana, mas no lado escuro da Lua, de onde não se pode ver o que se passa aqui.

Planos para o próximo governo? Deus, pátria e família, além de um presidente que alterna seus compromissos entre motociatas, cavalgadas e leitos hospitalares quando surgem notícias negativas.

Desculpe o leitor dominical, mas desanima tentar analisar o nonsense que, paradoxalmente, faz sentido e deve continuar para algo entre 25 e 30% dos brasileiros.

E ainda mais inacreditável que o bolsonarismo mais insano esteja nas faixas com maior renda e, incrível, com maior formação educacional.

Como tem sido afirmado aqui, não estamos diante de uma eleição normal, mas de uma chance de voltarmos a um grau de civilidade e de racionalidade sem o qual nem mesmo a divergência política pode acontecer sem tornar-se guerra.

Tijolaço.

sábado, 9 de abril de 2022

JANIO DE FREITAS: AS INSTITUIÇÕES ESTÃO DEVASTADAS. POR FERNANDO BRITO

Como no “tá tudo dominado” do funk, o Brasil já não se escandaliza com nada. Congresso e sistema judiciário, ainda que neste último surjam alguns gemidos do Supremo Tribunal Federal, vivem em completa anomia, onde padrões normativos de conduta e de valores enfraqueceram ao ponto de quase desaparecer.

Assistimos a um período onde se aceita do ( e no) governo, as maiores barbaridades, desde o achaque rastaquera de tomar o dinheiro de servidores de gabinete até o envolvimento com o crime organizado e suspeitas de execução de ex-parceiro marginais.

Até mesmo quando a imprensa publica, há quase um aceitar como “pitoresco” e “natural” que as instituições da República não reajam ao absurdo, como se fosse parte da hegemonia política a associação ao crime, inclusive os de morte.

Cumprida a missão de derrubar um governo eleito, o próprio Ministério Público Federal, que se apresentava – não dá trabalho recordar – como a vestal da Lei, intocável e intolerante, aceitou-se em berço esplêndido, no qual bale feito cordeiro.

Numa única frase, Janio de Freitas condensa a situação de nosso país: Não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro ao [que lhe é] devido.

São as entranhas brasileiras

Janio de Freitas, na Folha

Nenhum presidente legítimo, desde o fim da ditadura de Getúlio em 1945 —e passando sem respirar sobre a ditadura militar— deu tantos motivos para ser investigado com rigor, exonerado por impeachment e processado, nem contou com tamanha proteção e tolerância a seus indícios criminais, quanto Jair Bolsonaro. Também na história entre o nascer da República e o da era getulista inexiste algo semelhante à atualidade. Não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro ao devido.

As demonstrações não cessam. Dão a medida da degradação que as instituições, o sistema operativo do país e a sociedade em geral, sem jamais terem chegado a padrões aceitáveis, sofrem nos últimos anos. E aceitam, apesar de muitos momentos dessa queda serem vergonhosos para tudo e todos no país.

Nessa devastação, Bolsonaro infiltrou dois guarda-costas no Supremo Tribunal Federal. Um deles, André Mendonça, que se passa por cristão, na pressa de sua tarefa não respeita nem a vida. Ainda ao início do julgamento, no STF, do pacotaço relativo aos indígenas, Mendonça já iniciou seu empenho em salvá-lo da necessária derrubada.

São projetos destinados a trazer a etapa definitiva ao histórico extermínio dos indígenas. O pedido de vista com que Mendonça interrompeu o julgamento inicial, “para estudar melhor” a questão, é a primeira parte da técnica que impede a decisão do tribunal. Como o STF deixou de exigir prazo para os seus alegados estudiosos, daí resultando paralisações de dezenas de anos, isso tem significado especial no caso anti-indígena: o governo argumentará, para as situações de exploração criminosa de terras indígenas, que a questão está subjudice. E milicianos do garimpo, desmatadores, contrabandistas e fazendeiros invasores continuarão a exterminar os povos originários desta terra.

Muito pouco se fala desse julgamento. Tanto faz, no país sem vitalidade e sem moral para defender-se, exangue e comatoso. Em outro exemplo de indecência vergonhosa, nada aconteceu à Advocacia-Geral da União por sua defesa a uma das mais comprometedoras omissões de Bolsonaro. Aquela em que, avisado por um deputado federal e um servidor público de canalhices financeiras com vacinas no Ministério da Saúde, nem ao menos avisou a polícia. “Denunciar atos ilegais à Polícia Federal não faz parte dos deveres do presidente da República”, é a defesa.

A folha corrida da AGU é imprópria para leitura. Mas, com toda certeza, não contém algo mais descarado e idiota do que a defesa da preservação criminosa de Bolsonaro a saqueadores dos cofres públicos. Era provável que a denúncia nada produzisse, sendo o bando integrado pela máfia de pastores, ex-PMs da milícia e outros marginais, todos do bolsonarismo. Nem por isso o descaso geral com esse assunto se justifica. Como também fora esquecido, não à toa, o fuzilamento de Adriano da Nóbrega, o capitão miliciano ligado a Bolsonaro e família, a Fabrício Queiroz, às “rachadinhas” e funcionários fantasmas de Flávio, de Carlos e do próprio Bolsonaro. E ligado a informações, inclusive, sobre a morte de Marielle Franco.

Silêncio até que o repórter Italo Nogueira trouxesse agora, na Folha, duas revelações: a irmã de Adriano disse, em telefonema gravado, que ele soube de uma conversa no Planalto para assassiná-lo. Trecho que a Polícia Civil do Rio escondeu do relatório de suas, vá lá, investigações. O Ministério Público e o Judiciário estaduais e o Superior Tribunal de Justiça não ficam em melhor posição, nesse caso, do que a polícia. São partes, no episódio de implicações gravíssimas, de uma cumplicidade que mereceria, ela mesma, inquérito e processo criminais. O STJ determinou até a anulação das provas no inquérito das “rachadinhas”, que, entre outros indícios, incluía Adriano da Nóbrega.

Desdobrados nas suas entranhas, os casos aí citados revelariam mais sobre o Brasil nestes tempos militares de Bolsonaro do que tudo o mais já dito a respeito. Mas não se vislumbra quem ou que instituição os estriparia.

Tijolaço.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

GUANALTO OU PLANABARA? QUAL PALÁCIO NEGOCIOU A MORTE DE ADRIANO? POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro comprou a versão de Fabrício Queiroz sobre a gravação em que Daniela Magalhães da Nóbrega diz que se negociaram cargos no Palácio do Planalto pela morte do seu irmão, o ex-PM miliciano Adriano da Nóbrega.

Em sua live, informa a Folha, o presidente disse que “pelo que tomei conhecimento, ela se equivocou, em vez de falar Palácio das Laranjeiras, falou Palácio do Planalto. Se equivocou no tocante a isso”.

A menos que o presidente esteja endossando a versão pelo que viu no Twitter, o presidente está admitindo que o vídeo de Queiroz é prova suficiente para ser assumida como verdade ou que teve contatos com seu ex-auxiliar encrencado para saber detalhes deste suposto aviso recebido por ele de Nóbrega que, é claro, deveria ter dito os motivos para que o ex-governador do Rio teria para “apagá-lo”.

Qual seria o motivo para Wilson Witzel querer Adriano Morto?

As ligações entre Adriano e os Bolsonaro são públicas e materializadas: Jair depôs em seu favor num Tribunal do Júri por homicídio; Flávio o condecorou com a Medalha Tiradentes, já preso, e contratou sua mulher e sua mãe em seu gabinete, como “fantasmas”.

Quais as ligações de Witzel com o miliciano ou com seus desafetos, para querer sua morte?

Onde estão as investigações do Ministério Público e da polícia sobre isso?

A morte suspeita de um homem, criminoso que fosse, vai ser esclarecida por uma “treta” de internet?

Ou alguém acha que a irmã do morto, depois de ter ouvido Queiroz e Bolsonaro dizerem que “ela deve ter se confundido” não vai dizer mesmo que se confundiu? O que você diria se dois personagens dissessem que se confundiu? Claro, “eu me confundi, não foi Planalto, foi Guanabara, foi Itumbiara, foi o Palácio da Juçara…”

Onde está consignado o depoimento à polícia ou à Justiça de Fabrício ou Bolsonaro de que “tomaram conhecimento” de que se tramou o assassinato de um homem que, aliás, era amigo de ambos?

Estas alegações estão públicas há 48 horas e até agora nenhum delegado ou promotor cumpriu o seu dever de mandar abrir uma mísera investigação a respeito.

Porque Fabrício e, agora, Bolsonaro não são chamados a depor para saber como tomaram conhecimento de uma conspiração homicida, que detalhes têm e o que sabem a respeito?

Afinal, fizeram declarações espontâneas, no Faccebook, sobre o planejamento de um homicídio e isso não vai ser investigados?

Tijolaço.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

VEREADOR BANDIDO DO RIO É LIXO DA MARÉ BOLSONARISTA FÉTIDA. POR FERNANDO BRITO

A aversão deste blog pelo chamado “mundo-cão” não pode impedir que se reflita sobre o que é a aparição da imundície da atuação do tal Gabriel Monteiro, a quem a pose de machão-armado-desaforado valeu a eleição como o terceiro vereador mais votado do Rio de Janeiro.

Sei que leitores e leitoras do Tijolaço, até pelo mesmo nojo que me provoca, talvez não atinem com o que é este cidadão.

Gabriel tem origens no MBL, do qual se afastou por considerá-lo “pouco bolsonarista” e uma trajetória de abusos, de “sabe com quem está falando” e exibição de armas.

Sabe-se se agora que tudo em cenas “armadas”, usando seus assessores e armamento das “escolta policial” pagos com dinheiro público.

Valia-se, também, de uma aura de “cidadão do bem”, dizendo-se evangélico, filho de pastor, mas promovia orgias com meninas e mentia como um demônio ao explorar crianças pobres como fachada de seu farisaico perfil de “benfeitor”.

Não se dê a esta pústula, porém, mais responsabilidade do que ela tem.

É um, apenas um, dos detritos que a maré bolsonarista trouxe à vida pública.

Hoje a polícia, finalmente, foi parar em sua porta onde, dizem testemunhas, há dois arsenais: um de armas de todos os grossos calibres, outro de uma suposta coleção de vídeos de suas proezas de garanhão.

Ainda assim, nada do que encontraram significa algo perto da moderação com que a mídia trata as afirmações gravíssimas que foram feitas sobre a execução de um miliciano tramada dentro de um palácio, seja o do Planalto, seja o Guanabara, dependendo de quem o diz.

Gabriel Monteiro é um lixo, que será descartado até mesmo por uma Câmara Municipal abjeta, como é a do Rio.

O que tem de ser detido é o que o trouxe à tona, a ele e a outros, com a transformação da política em um espetáculo de selvageria.

Tijolaço.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

PUXA-SACOS: INDUSTRIAIS APOIARAM ‘DUDU’ PARA EMBAIXADA NOS EUA. POR FERNANDO BRITO

Inacreditável o que revela Jamil Chade, no UOL: um documento da Confederação Nacional da Indústria ao Senado brasileiro fazia coro à possível indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada brasileira em Washington, um dos mais importantes postos do Itamarati e lugar vital para nossas relações comerciais com os EUA.

Como se sabe, “Dudu” apresentou, na ocasião, um currículo espetacular: “já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos“. O interesse, todos sabiam, era fortalecer as ligações com os “chapéus de búfalo” da extrema direita norte-americana e com seu líder Steve Bannon.

Vindo dos Bolsonaro, não espanta, a não ser pela desfaçatez. Mas o empresariado brasileiro mostra, com isto, que não tem nenhuma noção de negócios que não seja movida pelo puxassaquismo e pela ideia de que lobbies junto a governos de plantão.

Que diferença para os Antonio Ermírio de Moraes, para os Cláudio Bardella, para os José Midlin, que hoje chorariam de vergonha ao verem os nossos “capitães de indústria” estarem ao mesmo nível do ex-capitão que nos, infelizmente, preside.

Dá para entender assim porque nossa indústria está minguando, por conta de uma elite empresarial que assistiu, silente, ver acabarem com dois de seus mais destacados ramos: a construção pesada e a naval, e como aplaude a Petrobras que vai se “livrando” da indústria petroquímica e de refino de petróleo, atirando o país da dependência de combustíveis caríssimos.

Tijolaço.

terça-feira, 5 de abril de 2022

GOVERNO CORRE ATRÁS DE FANTOCHE PARA A PETROBRAS. POR FERNANDO BRITO

Como é que se consegue fazer um cargo que, além de pagar R$ 260 mil mensais e bônus anuais, além de projetar nacionalmente qualquer administrador projetar-se nacional e internacionalmente chegar a uma situação em que os executivos estejam fugindo dele?

Pois, Jair Bolsonaro conseguiu.

Malu Gaspar, em O Globo, diz que Caio Paes de Andrade, Secretário de Paulo Guedes não preenche critérios legais para ser presidente da Petrobras, por não ser do setor nem ter os quatro anos na alta administração federal.

Na Folha, Alexa Salomão relata que “executivos com experiência e reconhecimento no setor de óleo e gás sondados para uma eventual indicação estão declinando do convite“. A razão, claro, é terem de aceitar a pressão intervencionista de Bolsonaro e, ainda, assumir um mandato tampão de oito meses à frente de uma empresa gigantesca.

O governo, diz o Estadão, tenta adiar a assembleia de acionistas, marcada para o dia 13, para resolver o embrulho que o chilique de Jair Bolsonaro com o general Joaquim Silva e Luna.

Pode ser que acabe saindo uma solução ‘prata da casa’, com alguém da diretoria que não tenha de passar pela dura triagem do compliance da companhia.

Talvez seja mesmo o melhor, porque facilita a sua tarefa de ser um fantoche bem-comportado do governo.

Pior será que lançar-se mão de algum aventureiro, que queira se mostrar o “salvador da pátria”, mirando agradar o mercado com a dissipação do patrimônio da empresa.

Tijolaço.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

GOVERNO TENTA SALVAR PIRES, MAS NEM MERCADO O QUER NA PETROBRAS. POR FERNANDO BRITO

As manchetes no O Globo e no Valor Econômico prenunciam a tempestade que vai marcar esta segunda-feira, com a pressão para que o lobista Adriano Pires – dono de uma consultoria com grandes petroleiras e empresas de gás na sua carteira de clientes – não tenha confirmada a sua indicação para presidir a Petrobras, já formalizada pela Presidência da República.

Dossiê da Petrobras sobre Landim e Adriano Pires assustou o ministro de Minas e Energia, diz o primeiro; Sucessão na Petrobras sofre uma reviravolta, completa o jornal de economia.

Rodolfo Landim, padrinho da indicação de Pires – ele próprio, que tem relações pessoais com Bolsonaro, e também indicado para presidir o Conselho de Administração da empresa – já desistiu e, é claro, ninguém acredita que é pelas razões que alega, a de que precisa dedicar-se ao Flamengo, clube que preside.

A realidade, porém, é que seu nome, além de receber oposição das empresas que são contratadas pelos acionistas minoritários teria, segundo O Globo, sido vetado pelos comitês internos de compliance da Petrobras, por razões muito semelhantes com as que pesam contra Adriano Pires: ligações com empresas associadas e com concorrentes da petroleira.

A avaliação é que o plano era ter Landim no comando da empresa, mas que o conselho seria menos vulnerável e lhe permitiria continuar a presidir o clube de futebol e, por isso, ele indicou Adriano Pires para figurar como presidente, dadas as ligações profundas entre ambos.

Tilolaço.