João
Doria aproveitou o seu dia.
Montou
a “Operação Olha que eu me Mato”, que produziu logo cedo aquela história
melodramática de que ia deixar de ser candidato, trancar-se no Palácio dos
Bandeirantes e, como um monge recluso, dedicar-se apenas a despachar os papéis
do Governo paulista. A candidatura presidencial, que tantos queriam lhe tomar,
ele a atiraria como quem joga um manto amado aos cães e vai viver em trapos,
ainda que, no caso, os trapos sejam das melhores grifes.
Mas,
oh! Chocado com a cena, o povo (o de dentro do Palácio e o das bocas em geral)
recolhe o manto, põe-no às costas do desapegado príncipe, para que ele enumere
o que fez pelo reino e como é sábio, equilibrado e que, portanto, merece ser
rei. A um canto, o perverso Duque do Sul, remói-se: dará mais trabalho a ele e
Conde das Alterosas tomarem o lugar do galante Agripino.
Sérgio
Moro também fez o seu carpe diem. Largou seu lugar na casa modesta do
Podemos, onde a mesada era curta e o dinheiro para investir fazia-se pouco e
foi para o suntuoso castelo do Conde de Bivar, onde lhe prometeram farta mesa,
embora em aposentos modestos de candidato a deputado federal, mas sempre
protegido pelo foro privilegiado, imune ao que diz serem os impiedosos ataques
dos inimigos lulistas e dos vingativos bolsonaristas, aos quais tempos atrás
servira.
A
caricatura é, infelizmente, pouco distante dos fatos.
João
Doria ganhou os maiores espaços da mídia para anunciar, solenemente, nada. Tudo
ficou como estava na véspera, mas ele criou um clima onde, batendo os lábios,
soltou o brado piegas: “Sim, sim, serei candidato à Presidência da República
pelo PSDB”.
Moro,
o magnânimo, proclama, com ar nobre: “abro mão, nesse momento, da pré-candidatura
presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um
Brasil melhor”. Mas todos sabem que ele resolveu, entre outras razões, para não
ter de abrir a mão com gastos de campanha, que lhe escasseavam no Podemos.
O
hipócrita e o tartufo tiveram seu dia no palco. Agora, voltam para a penumbra.
Não
fazem mais parte do enredo essencial.
Tijolaço.
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