domingo, 22 de maio de 2022

DORIA MORRE SÓ E NO DESERTO. POR FERNANDO BRITO

João Doria recebe, nesta segunda-feira, os “papa-defuntos” de sua candidatura, já há tempos em rigor mortis, a rigidez cadavérica que tomou conta de sua pretensão presidencial.

A última luz que conseguirá, o homem dos holofotes, já é fraca como a de uma vela.

Tê-lo como vice de Tebet não interessa a ninguém: nem a ele, reduzido a uma condição humilhante, nem a ela e aos algozes do tucano, que, segundo o próprio argumento que usam, terão de carregar-lhe a rejeição, não apenas na chapa presidencial mas, sobretudo, na fraca esperança de que Rodrigo Garcia decole da lama em que está sua candidatura a governador.

Doria já não serve a ninguém.

Tebet serve ao PMDB e ao PSDB como ficção e, também, como “contabilidade”: os poucos gastos de sua campanha servirão para cumprir a cota obrigatória dos 30% do Fundo Eleitoral que devem ser gastos com candidaturas femininas, desobrigando de uma “caça às laranjas” incômoda a seus caciques.

Do ex-governador paulista, não se sabe se tenta faturar o papel de vítima ou se, de fato, isto o absorveu, porque já não se acredita – porque não se vê – que ele reaja ou vá reagir à escancarada armadilha a que foi levado.

Está sendo abatido por Jair Bolsonaro e insiste em fazer do antilulismo o sua mais constante discurso e de si mesmo um Kim Kataguiri do high-society, o que o fez perder o justo protagonismo que conseguiu com as vacinas.

Seu governo em São paulo tem três vezes mais aprovação que ele próprio. Não é o João Governador que o joga tão fundo no desprezo público, é seu comportamento político.

Morre sem ter quem o chore: nem políticos, nem empresários, nem partido, num deserto em que nem abutres o vem rondar, pois nem mesmo carniça lhes pode dar.

 Tijolaço. 

sábado, 21 de maio de 2022

MILIONÁRIOS, VISIONÁRIOS E OTÁRIOS. POR FERNANDO BRITO

Milionários visionários interessados na Amazônia estão longe de ser novidade.

Henry Ford, com a Fordlândia, de onde ia sair, sangrando as seringueiras, a borracha dos pneus de seus milhões de automóveis; o empregado da RandCorporation. O fascistão Herman Khan, que – creiam os mais jovens – pretendia inundar a floresta para ligar o Atlântico ao Pacífico; o bilionário self made man Daniel Ludwig e seu Projeto Jari, com o qual pretendia inundar, metaforicamente, o mundo de papel da celulose de árvores exóticas plantadas no lugar da nossa floresta são só alguns exemplos.

Nem é preciso dizer que todos deram com os burros n’água. A natureza defendeu-se, na falta de brasileiros que a defendessem.

O olho de Elon Musk sobre a Amazônica – ainda não se sabe bem exatamente o que tanto o atrai ali, mas certamente não é levar o Twitter aos indiozinhos de aldeias remotas – não é o primeiro, nem é o único.

Tem uma diferença, porém: tende a controlar a região sem por o pé nela, pelo domínio da informação de sensoriamento remoto, há 30 anos, desde o Sivam, eixo das preocupações nacionais (sobretudo militares) com aquela imensa área do Brasil.

Sem boots on the ground, como diz a expressão cara aos militares norte-americano: dominar pelo poderio tecnológico, sem tropas.

Ou, quem sabe, as nossas próprias.

Na Folha, Janio de Freitas, como sempre, põe o dedo na ferida que se faz sobre nossa soberania. Assim, no grito, bastando um “pulinho” ao Brasil e uma foto de campanha:

“Acordo de boca para empresas de Musk devassarem, por satélite e por meios terrenos, o maior patrimônio natural do território, sobretudo a sua riqueza mineral, de importância decisiva para o amanhã do país. Acordo de boca, de pessoa a pessoa, sem interveniência de qualquer das instituições oficiais ao menos como consulta. Acordo de boca para interesses estrangeiros fazerem na e da Amazônia o que quiserem, como se o território deixasse de ser brasileiro, passando ao domínio de fato de poderes externos, situação de território ocupado. As empresas americanas no exterior estão sob o compromisso, compulsório, de sujeitar-se ao alegado interesse nacional dos Estados Unidos.
Tal acordo é ato de lesa-pátria. Implica violação de exigências constitucionais, contraria os interesses nacionais permanentes (expressão da linguagem militar) e configura violação da soberania sobre parte do território. É a transformação, do hipotético à realidade pretendida, da visão que por mais de meio século, foi geradora do chamado pensamento geopolítico das Forças Armadas. Até a quinta, 19 de maio. Desde de aí, as Forças Armadas estão em contradição, entre sua premissa orientadora e, de outra parte, a tolerância, ou apoio, ou comprometimento com ação oposta, cometida pelo ex-capitão com o qual se identificam”.

Apoiar e sustentar as ambições continuístas de Jair Bolsonaro, de agora em diante, mais que o pendor autoritário, significa para as Forças Armadas um crime de traição à Pátria. Assim, escancarado, aberto, desqualificante. A uns poucos, talvez, reste a atenuante de serem apenas ignorantes e otários, em lugar de acanalhados.

Esta é a diferença perigosa: Ford, Khan e Ludwig não tinham a cumplicidade da maioria do Exército Brasileiro e mosquitos e onças deram cabo dos seus negócios. A Musk, que leva no grito e no mito, nem podem picar ou morder, a 500 km de altitude, em pleno espaço.

Tijolaço.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

O BRASIL DE TANGA CHAMA MUSK DE “BUANA”. POR FERNANDO BRITO

Quando eu era garoto e o “politicamente correto” não existia, os nativos, nos filmes passados na África, tratavam os colonizadores como Buana (na Ásia, eram Sahib).

Livremente traduzido, era Patrão.

Nas cinco horas que passou no Brasil – chegou às 10h e decolou logo após dar 15h – Elon Musk foi, aqui, Buana e Sahib.

Acreditem, é o bastante para que haja gente que acredite que ele vai colocar centenas de satélites sobre a Amazônia e conectar todos os caboclos e índios, das terras mais remotas, à Internet e proteger a floresta dos desmatadores e garimpeiros que a destroem.

Uma plateia de empresários – entre eles o indefectível Luciano Hang – e a nata da República postou-se a sua frente para ouvir ele dizer – o que é que ele disse, mesmo? – coisa alguma e ouvir, do presidente que ele estava ali começando um namoro que ia dar em casamento.

Nem um programa, nem um contrato, nem mesmo um protocolo de intenções, nada.

Apenas um troféu para Bolsonaro exibir, pespegando-lhe no pescoço uma comenda de cavaleiro da Ordem de Não-Sei-o-Quê.

Todos servis e corteses: Buana, Buana, Buana.

Nada contra fazermos negócios com o homem mais rico do mundo. Seria antes um dever e uma oportunidade, mas qual é o negócio e o que ganhamos com isso?

Tivemos apenas uma exibição de vassalagem, do viralatismo rodrigueano clássico a um sujeito que sequer foi ver a região da qual se pretende benemérito.

Nunca senti tanta vergonha de meu país, ao ver a nossa classe dirigente abando o rabo, como um cão, e oferecendo a área mais rica e preservada do planeta a uma bisbilhotice sem disfarces.

Tijolaço.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

RECALQUE NÃO DÁ VOTO. SÓ DOS ‘ODIOLÓGICOS’. FERNANDO BRITO

Sinto informar aos bolsonaristas que estão levando água ao moinho de Lula.

As ameaças de golpe, agora diárias – hoje ele disse que o TSE não pode jogar “no lixo” os palpites do Exército sobre o processo eleitoral e que paira uma “sombra da suspeição” sobre as eleições de outubro – não dão ao sr. Bolsonaro um voto sequer além dos que já tem. Ao mesmo tempo, desobrigam o candidato do PT de atacá-lo por isso, porque a sua ofensiva é tão virulenta e grosseira que obriga os integrantes do Tribunal – e do STF – o façam.

Traz para a cena eleitoral, portanto, quem deveria estar fora dela e, pior, exibe-se como golpista, para agitar e radicalizar seus adeptos, que se sabem ser minoria, embora barulhenta.

Poderia estar, por exemplo, surfando na onda da sanção da lei que tornou permanente o abono do Auxílio Brasil de R$ 400, de fato algo importante e com repercussão – pelo valor e pelo alcance -, mas isso desaparece som o som dos latidos e rosnados que solta contra as eleições.

Sua bancada na Câmara, construída à base de bilhões do Orçamento secreto, com dúzias de questões relevantes a tratar, empenha-se na aprovação do tal homeschooling – o que o cidadão comum nem sequer se dará ao trabalho de entender, porque não tem nem vontade e nem dinheiro para substituir a escola dos filhos por “professores particulares” – que interessa apenas a maníacos endinheirados, decididos a fazer dos filhos gente alienada de qualquer convívio social, devidamente enjaulada em gaiolas de ouro.

E seus apoiadores, nas redes, não fazem outra coisa senão atacar Lula, inclusive e sobretudo, pelo seu casamento. Estão sangrando na veia da saúde, porque qualquer pesquisinha básica mostra que, em especial no eleitorado feminino (o que lhe é mais hostil), amores de outono comovem até as pedras.

Propaganda negativa só atrai recalcados e setores odiológicos, que fazem deles, ao contrário da categoria a que gostam tanto de apelar, “gente do mal”.

Tijolaço.

terça-feira, 17 de maio de 2022

TUCANOS DEIXAM DORIA DECIDIR: SUICÍDIO OU FUZILAMENTO? POR FERNANDO BRITO

A “decisão” da cúpula do PSDB de chamar João Doria para uma reunião, amanhã, na qual ou renuncia à candidatura presidencial conquistada nas prévias tucanas promete, de um jeito ou de outro, ser uma das cenas mais deprimentes da já tão deprimente política brasileira.

É claro que a inviabilidade eleitoral de Doria não está sendo trocada por uma outra candidatura que possa servir de alavanca para candidaturas estaduais de candidatos dos partidos. Simone Tebet não tem, em lugar nenhum, expressão eleitoral que possa servir a isso.

Serve a eles apenas como “fachada” para não assumir o que farão, quase todos, de fato: apoiar Jair Bolsonaro.

Muito especialmente em São Paulo, Minas e nos estados do Sul.

Mas não sem prejuízos, porque serão bolsonaristas de segunda categoria, sem o fanatismo dos “Bolsonaro raiz“.

É impossível prever por onde e como vazará o caldo de ódio que ferve, neste momento, em Dória e em alguns de seu grupo.

Sua ida a Brasília, amanhã, caso ele decida ir, é um convite a transbordamentos. Sua volta a São Paulo, a tentação de sabotar Rodrigo Garcia, a quem – como um dia fez Geraldo Alckmin a ele próprio, Doria – trouxe para o partido prometendo a candidatura.

É provável que, já neste final de semana, o mesmo Alckmin que Doria apunhalou sair a recolher as penas tucanas que voam ao vento no interior de São Paulo.

E que logo Fernando Henrique Cardoso, vendo o que julgou ser o “seu” partido atirado nesta pocilga, acabe por sinalizar mais fortemente o voto em Lula que já disse dar no segundo turno.

Os aprendizes de feiticeiro da 3ª Via, afinal, não tinham a fórmula para criar um candidato, mas acertaram a mão em fazer um veneno que matou vários.

Tijolaço.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

JAIR BOLSONARO VOMITA FÚRIA. POR FERNANDO BRITO

Quem acompanha futebol sabe que o maior sinal de que um time está apavorado com a derrota é distribuir botinadas.

E é o que faz, cada vez com mais desequilíbrio o sr. Jair Bolsonaro, como acaba de mostrar num evento da Associação Brasileira de Supermercados – aliás, um antro de reacionários faz décadas.

“Bolsonaro discursa aos gritos, usa palavrões e diz a empresários que eleição pode ser conturbada“, diz a chamada da Folha.

Pode ser conturbada? Será que ele acha que não está sendo, com um presidente que chama o Ministro da Defesa e as Forças Armadas a se arrogarem “fiscais” do processo eleitoral e até sugerir que militares façam a apuração dos votos?

Lamentou-se de que ‘“em mais da metade do meu tempo, eu me viro contra processos.” No que resta, claro, dedica-se a andar de a jet sky , de moto, a cavalo, visitar cultos e formaturas militares.

Diz que “Deus que está no céu” não vai permitir que seja preso, o que sugere ser a intenção de Lula:

“Eu vi o ‘nine’ [referência aos 9 dedos de Lula] falando que eu vou perder a eleição e vou perder minha família. Está achando que vai me intimidar, pô? Dando recado…”

O fantasma de ser preso não devia afligir um homem à prova de qualquer suspeita como ele, não é?

Despejando palavrões como perdigotos, Bolsonaro disse aos empresários que, mesmo não sendo “o fodão”, já mostrou que tem pulso firme para dirigir o país, sem esclarecer para onde.

Não devem ter sido poucos os presentes a sentirem no ar o cheiro do medo, em geral a raiz profunda da fúria.

Tijolaço.

domingo, 15 de maio de 2022

A PETROBRAS COM A POLÍTICA DO “EU DEMITO” COBRA SEMPRE MAIS DEMISSÕES. POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro disse hoje que uma possível demissão do presidente da Petrobras – algo que aparece, desde sexta-feira, em notas de muitos jornais e que foi assunto aqui já no início da semana passada – é assunto que deve ser “perguntado lá pro Sachsida”, o novo ministro das Minas e Energia.

Como José Mauro Coelho está no cargo há um mês, é claro que – mesmo querendo – fica mais difícil atropelá-lo, mas acontece também que sua cabeça passa a ser objeto das pressões altistas que, na insana política de “paridade internacional de preços” a que, desde Michel Temer, a empresa está amarrada.

O dólar, mesmo com a queda da sexta-feira, está mais alto que no dia 11 de março, quando foi feito o último reajuste da gasolina. E o combustível, no mercado internacional, como você vê acima no gráfico da bolsa Nasdaq, de Nova York subiu e não foi pouco.

A pressão do mercado de importadores de combustíveis – que controlam perto de 20% do mercado – por um novo aumento está se tornando irresistível e a orientação mercadista da empresa já está para lá do limite que os faz parar a importação e levar o sistema a desabastecimento, como estava acontecendo com o diesel antes do aumento da semana passada.

Administração na base do “cortem-lhe a cabeça” tem este problema: como não se ataca a origem do problema e prefere-se demitir o gestor, as demissões tendem a se suceder.

E a Petrobras é uma boca riquíssima, da qual muita gente se aproveita para ganhar fortunas e, desta forma atual, “legitimamente”, através de lucros extraordinários e da intermediação de produtos.

A batata do novo e já quase ex-presidente da Petrobras está sendo, de novo, assada em praça pública.

Tijolaço.

sábado, 14 de maio de 2022

NEM NA BOLÍVIA, GENERAIS… TANTO EM GOLPE. POR FERNANDO BRITO

Quando eu era jovem, havia uma piada em que, numa recepção diplomática, um brasileiro ria do fato de que a Bolívia tivesse um Ministério da Marinha sem ter mar (e tem mesmo, vi as suas embarcações no Lago Titicaca) e outro diplomata respondia: “ora, mas você no Brasil não têm um Ministério da Justiça?”.

Eram os anos 70 e Bolívia era quase sinônimo de golpe militar, porque tiveram três, de 1964 a 1982.

Será que temos algum oficial general tão obtuso que, na segunda década do século 21, ache possível que caiba um país do tamanho do Brasil tenha um governo instituído pelos militares?

General gosta de olhar mapa e é só procurar num deles a diferença entre nó, Togo ou Mianmar, antiga Birmânia.

E ainda mais com um ex-capitão maroto a fazer o papel do sargento cubano Fulgêncio Batista, autonomeado coronel depois do golpe que o levou ao poder?

Teremos o “Marechal Jair”? E quem sabe o “general” Daniel Silveira a comandar a Divisão dos “Bombados e Armados”, as milícias civis que pouparão as tropas regulares do “mico” de exibirem armas e blindados para conter a escumalha civil , as tais forças desarmadas que deveriam cuidar das eleições?

Mandaria a prudência recuarem, enquanto há volta, antes que cheguem ao ponto no qual, talvez, já nem consigam conter seus comandados que, como o brucutu Silveira, viram que não haverá punição a nada, nem mesmo a transgressões sérias de oficiais que resolvam tornar concretas as ameaças ainda abstratas de seus, cada vez mais “em tese”, comandantes.

Não é nada lisonjeira a hipótese levantada pelo jornalista e escrito Cesar Calejon, no UOL, na qual ninguém, nem ele, quer crer:

(…)vale a reflexão a cerca de onde estariam os almirantes de Esquadra da Marinha do Brasil, os outros generais do próprio Exército e os tenentes-brigadeiros da Aeronáutica. Seriam todos os líderes das Forças Armadas submissos ou coniventes às intenções golpistas do bolsonarismo? Caso a resposta para esta questão seja afirmativa, as Forças Armadas do Brasil perderam a sua função constitucional conforme preconizada pela Carta Magna e se tornaram um grupo armado que defende interesses de um clã político por meio da força, da violência e da intimidação, método que caracteriza a atuação das milícias.

Diz-se que Lula despachou o ex-ministro Nelson Jobim para reconstruir suas pontes com os militares.

Talvez devesse dizer-lhes que estão conseguindo colocar as Forças Armadas numa situação de perigo que jamais viveram, nem mesmo nos estertores da ditadura, nos anos 80. Não precisa de análises tão aprofundadas, basta ainda lembrar da boa e velha 3ª Lei de Newton, aquela de que ‘a toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto’.

Tijolaço.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

DORIA TRANSFERE VOTOS A TEBET? IMPROVÁVEL. POR FERNANDO BRITO

O que sobrou do PSDB está armando um brete para conduzir João Doria ser vice de Simone Tebet ou desistir de sua candidatura presidencial, o que não é o mesmo, mas é igual.

Em ambos os casos, Doria sai minúsculo do que contava ser sua escalada vitoriosa a ser um líder nacional.

Doria, segundo a pesquisa Quaest divulgada ontem, tem 4% das intenções de voto para presidente em São Paulo, o que é pouquíssimo para quem exercia o governo do Estado, mas representa preciosos votos: 1,5 milhão, aproximadamente.

É o voto da máquina do governo paulista, ainda que sem que Rodrigo Garcia se interesse em fazê-la funcionar em favor do seu agora abandonado padrinho.

Dificilmente este voto vai se transferir para a senadora do MS, que não consegue deixar uma falta de expressão eleitoral maior até do que a de Doria.

O resultado é que a improvável união das duas candidaturas, se ocorrer, talvez venha a ser aquilo que os gaúchos chamam de “crescer como cola (cauda) de cavalo”: para baixo.

Os “medalhões” tucanos, pela porta aberta por Geraldo Alckmin, sinalizam cada vez mais um migração para Lula. O eleitor que resta ao PSDB, certamente, vai migrar, quase todo, para um dos polos da campanha: Lula ou Bolsonaro.

O mesmo tende a acontecer com o eleitor de Ciro, caso este se mantenha, como até agora, estacionado em apenas um dígito nas pesquisas e, neste caso, com uma tendência de migração pró-Lula.

Tudo o que reduz o número de candidatos no primeiro turno, agora, é benéfico a Lula, porque ele está, segundo quase todas as pesquisas, a um ou dois pontos de consolidar uma vitória na rodada inicial.

O tiro da 3ª Via, com muito barulho e pouco chumbo, corre o risco de ainda sair pela culatra.

Tijolaço.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

BOLSONARO E A ‘MÃO AMARELA’ DO GOLPISMO. FERNANDO BRITO

Nos tempos de criança, havia a brincadeira de estar “com a mão amarela”, o que “entregava” logo o autor da fedorenta proeza, quando ele imediatamente estendia a mão dizendo “não fui eu”.

Na sua live de hoje, Jair Bolsonaro saiu-se do mesmo jeito, ao reagir à declaração de Edson Fachin de que são as “forças desarmadas” e não os militares que devem dirigir as eleições e dizer que não sabe de onde o presidente do TSE “está tirando esse fantasma que as Forças Armadas querem interferir na Justiça Eleitoral”.

Correndo, como faria o guri bobo.

A mão amarela de Jair Bolsonaro está, há meses, metida no processo eleitoral: tanques na Esplanada, declarações sobre uma “apuração militar paralela”, uso ostensivo do Ministro da Defesa para “mandar recados” ao Tribunal Superior Eleitoral e outras emanações íleas que enchem de miasmas o ar político.

Mas se engana quem achar que Bolsonaro recuou e resolveu aceitar que a voz das urnas seja ouvida a dar-lhe um passa-fora.

O passo atrás é apenas o ensaio de uma nova investida, o que só cessará quando os comandos militares fizerem o que fez o general Edson Leal Pujol na primeira vez que a vivandeira foi berrar num ato golpista, na porta do QG do Exército, em Brasília: portão fechado, política é aí fora.

Mas talvez haja alguma verdade no que diz Bolsonaro quando diz que as Forças Armadas não querem interferir na Justiça Eleitoral.

Quem quer usá-las para isso é ele e usa o seu provável vice, Walter Braga Netto, como correia de transmissão sobre os generais.

 Tijolaço.

LULA FALA EM ‘FIM DO TETO’. QUE TETO? POR FERNANDO BRITO

Surpreende que alguns jornais deem destaque à declaração de Lula de que “não haverá teto de gastos” se obtiver um eventual novo mandato presidencial.

Primeiro, porque há um ano ele vem dizendo que um novo governo terá de fazer investimentos tanto para recuperar um nível mínimo de serviços públicos essenciais quanto para fazer o país reengrenar a economia.

Segundo, porque em oito anos de mandato, Lula sempre entregou superávit fiscal, isto é, arrecadação maior que a despesa.

E, por último, e mais importante, porque o Brasil, faz tempo, não tem teto de gastos (e nem superávit fiscal).

Bolsonaro tirou dele, no campo das despesas, os precatórios, o Auxílio Brasil e uma série de bondades. No da receita, estamos vendo diariamente impostos sendo cortados: nos combustíveis, nos produtos industriais e, agora, na importação de produtos cuja produção sobra aqui, como cortes de carne bovina e de frango, para, sem nenhuma chance de sucesso, criar uma concorrência que rebaixe preços.

O governo Lula foi frequentemente desmerecido por gente que dizia que o sucesso econômico vinha apenas do “boom” das commodities agrícolas. Estamos em um momento muito mais favorável a elas e só vemos estagnação.

Por uma simples razão: não há um foco no desenvolvimento econômico e social do país e, quando não existe esta meta tanto o que se ganha e o que se gasta se esvaem.

Tijolaço.

terça-feira, 10 de maio de 2022

GENERAIS DE BOLSONARO EMBOLSAM ATÉ R$ 350 MIL ALÉM DO TETO. POR FERNANDO BRITO

A Folha acertou hoje um míssil devastador para a imagem dos militares brasileiros que, em sua imensa maioria, não estão na “boca rica” do cercadinho militar do Palácio do Planalto.

Revelou a soma recebida a mais, no último ano, pela dúzia de generais que estão ocupando ministérios e funções de confiança, nomeados por Jair Bolsolaro e beneficiados por uma portaria, assinada em 30 de março de 2021, que lhes permitiu ganhar até o dobro do teto constitucional de remuneração igual da de um ministro do STF (R$ 39.3 mil).

A lista: Luiz Carlos Ramos, o general secretário de Governo, levou R$ 350 mil além do teto; o soturno general Augusto Heleno, um “extra-teto” de R$ 342 mil, O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em terceiro, embolsou R$ 318 mil a mais em um ano, mesmo tendo dito que a benesse era “imoral”. Em quarto, vem o ínclito general Walter Braga Neto, com “apenas” R$ 312 mil de bônus, porque teve de deixar o ministério para ficar com uma “boquinha” menor de assessor especial, para poder ser o candidato a vice do “Mito”.

Os quatro passaram a uma remuneração anual de perto de R$ 900 mil, sem contar os “atrasados”, porque a portaria “dobra o teto” vale a partir de janeiro passado.

O grupo de privilegiados, claro, é restrito e nele até que Jair Bolsonaro é dos mais modestos, porque recebeu apenas R$ 26 mil de “extras”.

Mas o dano à imagem dos oficiais-generais é imenso.

Se algum deles duvidar, que vá ler a enxurrada de comentários que, poucas horas depois de publicada, a notícia provocou.

E, como diz um dos que comenta, não ser diga que se quer desmoralizar os militares.

Alguns de seus próprios generais se encarregam disso.

Tijolaço.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

TSE FAZ GENERAL “PAGAR MICO” COM SEU ULTIMATO. POR FERNANDO BRITO

Com todo o protocolo, mas sem nenhum esparramo de gentilezas, o ofício do Tribunal Superior Eleitoral foi uma resposta correta – não digo à altura, pois seria rebaixar-se – à nova intromissão indevida feita hoje pelo Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira, “avocando” para si as comunicações entre o TSE e o representante das Forças Armadas na malsinada Comissão de Transparência Eleitoral, da qual se serviu Jair Bolsonaro para colocar uma cunha na Justiça Eleitoral.

Publicar os questionamentos dos militares e suas respostas através de uma circular pública, para todas as entidades que participam da Comissão, foi uma forma – nada sutil, aliás – de dizer ao Ministro da Defesa que ele extrapolou, inaceitavelmente, as suas atribuições e as atribuições da consultoria que as Forças Armadas foram chamadas a dar na discussão do processo de apuração e totalização das urnas.

A íntegra da circular está aqui e se pode claramente ver que alguns dos questionamentos são pueris, simplesmente desconhecendo o que existe, e o “mico” supremo é a da questão sobre a tal “sala secreta” que Bolsonaro vive dizendo haver, onde um grupo de funcionários soma os votos como quiser.

“Não existem salas secretas, tampouco a menor possibilidade de alteração de votos no percurso, dado que qualquer desvio numérico seria facilmente identificado, visto que não é possível alterar o resultado de uma somatória sem alterar as parcelas da soma”

Isto é, como a totalização é feita por estados e enviada ao TSE, para alterar o resultado final seria necessário alterar as parcelas enviadas pelos tribunais eleitorais, o que, evidentemente, seria uma fraude grosseira, detectável até com um lápis que marcasse quais são os valores das parcelas.

Portanto, a “sala paralela” controlada por militares é uma absoluta tolice, porque se trata de um somatório de parcelas conhecidas e públicas, vindas dos Estados, que até com uma máquina de somar daquelas antigas, de alavanca, é possível conferir.

Existem riscos em urnas eletrônicas? Sim, poderia, em tese, haver contaminações nos programas das urnas, mas jamais nos sistemas de totalização, porque estes seriam facilmente rastreáveis pelos totais das zonas eleitorais e até por cada uma das urnas.

Mas a contaminação que ameaça o processo eleitoral brasileiro é a já abertamente usurpadora que o Ministério da Defesa, agindo em nome do Presidente da República, tem feito das atribuições que não lhe competem – não existem, simplesmente, nas leis que a definem – de interferir sobre o poder judiciário eleitoral.

E, no parágrafo final, Edson Fachin o diz, sem muitos rodeios, para que até um general entenda:

Sem prejuízo da transparência, segurança e do diálogo com as instituições nacionais, impende ressaltar que o Tribunal Superior Eleitoral – no exercício das funções que lhes são atribuídas pela Constituição -, é, de fato e de direito, o administrador e garantidor de todo o processo eleitoral brasileiro, cabendo-lhe a gestão e decisão dos avanços e aprimoramentos a serem nele implementados, os quais sempre terão como objetivo assegurar a integridade, a segurança, transparência e normalidade das eleições.

General, o senhor está sobrando nesta história.

Tijolaço.

domingo, 8 de maio de 2022

MERVAL, CONTRA LULA, SUGERE ATÉ ‘MÉNAGE A TROIS’ NO 2° TURNO. POR FERNANDO BRITO

O ódio de Merval Pereira a Lula é algo tão patético que, em sua coluna de hoje, em O Globo, ele lança uma proposta – apesar de reconhecê-la inviável, a esta altura – para que se crie um ménage a trois com um “segundo turno com três candidatos”, escolhendo para isso os que tivessem um percentual “X” de votos ou mais.

Vejam o delírio que tomou conta da cabeça do homem atormentado até com as coxas de Lula (ele falou “bilau”, mas vamos tomar isso como licença poética do literato da ABL):

“A possibilidade de ter três disputando o segundo turno, de qualquer maneira, seria uma maneira (maneira maneira? Que maneiro, meu literato!) de quebrar a polarização, dar chance a que uma terceira via se apresentasse ao eleitor em situação de competitividade em uma nova eleição.”

Neste caso, na criativa argumentação merválica, “deixaríamos de escolher o “menos ruim”, como fazemos há tempos, para escolher ‘o melhor’ dos três”.

Curiosa definição para o “melhor”, mas é melhor a do dicionário, logo na primeira acepção que lhe dá o Houaiss:”[aquele] que, por sua qualidade, caráter, valor, importância, é superior ao que lhe é comparado.”

Não é preciso muito argumentar sobre o desvario de Merval.

Isso tudo é uma arenga para evitar ir diretamente ao ponto: apelar para que o voto antibolsonaro migre no primeiro turno para Lula.

“Antecipar o voto útil para o primeiro turno, como querem muitos petistas, para erradicar de vez a ameaça bolsonarista, é dar ao ex-presidente Lula um cheque em branco que ele não necessariamente merece para boa parte dos que, a esta altura, dizem que votarão nele.”

Não sei de onde se tira esta conclusão, pois não vejo como vencer com 51% no primeiro turno autoriza mais o eleito do que vencer com 60 ou 65% no segundo.

Mas nem ele resiste e diz que se não houvesse a ameaça de que o “mais ruim” vencesse, poder-se-ia considerar (ai, Camões!) o voto nulo “uma opção válida”. Havendo, como a há, até o príncipe global aceita que não há outro jeito, num segundo turno “a dois”, é o correto a fazer:

No segundo turno, se o candidato “menos ruim” tiver risco de perder para o que você considera “o pior”, vote no menos ruim.

E eu vou viver para ver Merval “lular”…Tijolaço!

sábado, 7 de maio de 2022

QUE A CAMPANHA DEIXE LULA SER LULA. DIZ FERNANDO BRITO

Esta bobagem hipócrita de que a campanha eleitoral só começa dois meses antes do dia da votação – e que não existe em parte alguma do mundo, inclusive no paradigma liberal de democracia, os EUA – não é capaz de anular a verdade real de que, sim, já estamos em campanha e é isso o que orienta hoje a vida política, econômica e administrativa do país.

Sugere-se, a quem duvidar, que examine os atos do presidente da República, do alto de seu poder cada vez mais imperial, inclusive usando as Forças Armadas como guarda pretoriana para submeter a Justiça Eleitoral ao resultado que deseja.

Portanto, a campanha já começou e é assim que se deve observar a tal “pré-candidatura” de Lula, a ser lançada daqui a pouquinho, em São Paulo: agora é hora, acima de tudo, de ganhar votos, que produzam e legitimem a mudança de rumos do país.

Há limites de validade no raciocínio liberal de que isso se faz movendo a campanha mais para “a esquerda”, ao “centro” ou “à direita”. Até certo ponto, sim, é verdade, pois se trata de fixar balizas diante da população quanto a radicalismos, segurança jurídico-constitucional, relacionamento com partidos e instituições.

Como vimos, porém, na eleição passada, definições ideológicas pesam pouco na escolha eleitoral porque, neste caso, Jair Bolsonaro não teria 55% dos votos dos brasileiros.

O que de fato importa na campanha, quando se trata de estabelecer objetivos e métodos para ganhar votos é saber como manter as simpatias que se possui e conquistar as que ainda não se tem.

Tudo se resume, afinal, em como obter o sentimento de identidade (e o de admiração) entre eleitor e candidato. Quase sempre é isso que define eleições: estar próximo o suficiente para criar empatia e alto o bastante para ser visto como líder capaz de levar ao governo estes sentimentos e metas que partilham.

E a razão é bem simples: quem faz a campanha eleitoral não é o candidato, é o eleitor.

A propaganda, em si, é algo fácil, com técnicas e criatividade que, hoje, a marquetagem oferece de forma ampla, geral e quase irrestrita. E não resolve, se a linha sobre a qual se assentar não tiver sintonia com o sentimento da sociedade e dos grupos que a formam, até porque o povão, em parte, descolou-se dos meios convencionais de comunicação – TV aberta, jornais, revistas, rádio, tudo ainda importa muito, mas não é o único que importa.

O foco da campanha (real, embora não oficial) não deve ser estar nos focos de resistência a Lula, porque ali houve uma fanatização que argumentação racional não dissolve. É tempo e energia gastos à toa e, pior, uma exposição a discussões negativas e, daí, potencialmente violentas, clima em que o bolsonarismo aposta.

É na pobreza, na periferia, no Nordeste, na juventude, entre as mulheres (que muito mais que nós, homens, sabem da dificuldade de alimentar, vestir e fazer estudar os filhos), é ali que está o Lula e são eles os vetores que o transportarão à vitória e, de novo, à Presidência do Brasil. Quem ganha votos é o povo, que é o lugar onde somos muitos sem deixarmos de ser nós mesmos.

Os arrogantes querem moldar um Lula “certinho”, porque acham que é preciso passar no “vestibular da submissão” para ser bem aceito nos salões, como se um líder mundialmente reconhecido precisasse de sua indulgência.

Deixem Lula ser Lula, porque foi isso que deu certo e faz da memória popular a fonte da decisão.

Tijolaço.